Minha amada stalker escrita por Rainha dos Fantasmas


Capítulo 54
Faço uma chegada não tão triunfal


Notas iniciais do capítulo

E aí meus súditos? Tudo bom? Faltam dois minutos para meia noite mas eu cheguei e vou cumprir meu papel! Tô com pressa então fiquem com o capitulo! Nós nos vemos lá embaixo!



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Pulei para fora da garupa da moto da minha irmã. Eu já estava mais do que arrependida da minha estupida decisão. Voltar pra escola? Onde eu estava com a cabeça? O que eu pensei que uma coisa dessas  fosse ajudar? Foi uma coisa do momento, um impulso idiota! E claro que não dava nem pra voltar atrás dessa decisão, eu tinha esperneado e pedido tanto para os meus pais me deixarem voltar que não dava simplesmente pra chegar neles e dizer “Ah quer saber? Quero mais não, valeu.” E, além disso, eles já tinham comunicado à escola que eu ia voltar para lá. Tivemos que arrumar várias coisinhas e foi realmente muito chato ter que fazer as provas e testes que meus amigos já tinham feito sozinha, eu gastei muito tempo para tentar chegar a acompanhar o nível escolar deles e a burocracia para tal foi um inferno.

É não dá pra voltar atrás agora... Assim que eu colocar os pés dentro dessa escola todos os olhos vão estar voltados pra mim... Já estou até vendo! “Ah, olha lá a coitadinha da Marinette! Quase morreu, mas sabe o que é pior? Logo depois o namorado começou a chifrar ela! Não esperou nem o corpo esfriar!”. Alya, Chloé e Nino me disseram pra relaxar, que ninguém estava com pena de mim, mas eu não cairia nessa, é claro que eles iam dizer isso! São meus amigos!

— Marinette? O sinal acabou de tocar, você não vai entrar? Quer se atrasar no primeiro dia de aula? – Minha irmã disse me cutucando na costela.

— Aí! – Ela riu da minha reclamação. - Não, não eu já tô indo, tchau!

— Mari, se quiser não precisa ir! Eu te levo pra uma cafeteria maravilhosa que eu conheço e a gente mata aula lá! Ninguém nunca vai descobrir! – Ela disse ainda rindo. Imagino eu ela estivesse mais nervosa com a minha situação do que achando graça, mas fazia isso para tentar me fazer relaxar.

— É uma oferta tentadora Srta. Péssimo Exemplo, mas eu vou ter que negar. Sabe como é, eu quero me formar e tal. – Era ótimo ter diálogos aleatórios com a minha querida irmã, enquanto fingia que as coisas estavam normais. Nada melhor do que fingir que os problemas não existem e rezar para que eles sumam!  

— Certo, mas qualquer coisa você liga pra mim! Qualquer coisa mesmo! – Ela se inclinou e eu imaginei que ela ia beijar a minha bochecha, mas ela na verdade me deu um beliscão ali. –Tchau. – Ela deu um sorriso para mim, colocou o capacete e saiu como um relâmpago pela rua.

Eu não conseguia nem acreditar que aquela criatura peculiar estava grávida, mas isso aquecia o meu coração. Pelo menos uma coisa boa nesse oceano de confusão.  

Virei para frente e meu sorriso morreu. Respirei fundo e corri, pelo visto certas coisas nunca mudavam mesmo: apesar de o mundo todo ter virado de ponta-cabeça eu ia sempre continuar a me atrasar para a aula. Sinceramente isso até que não foi tão ruim. Os corredores da escola estavam vazios, então não tive que surtar por receber atenção desnecessária, isso só aconteceu quando eu abri a porta e logo de cara recebi um abraço de urso inesperado.

— MARINETTE! – Ouvi o que era claramente a Professora Alice Olivier gritando meu nome feito louca. – Como você está? – Ela me soltou permitindo que eu recuperasse o meu fôlego depois daquilo. – Eu sinto muito mesmo por não poder te visitar agora que acordou! Eu estava cheia de provas pra corrigir e outras dessas merdas!

— Tudo bem, eu estou bem. – Eu sorri. – Eu amei o CD que você me deu, é bem diferente do que eu esperava.

— Eu sei! Eu coloquei algumas das minhas músicas preferidas lá! E as mais inusitadas também, isso é lógico! Aproveite bem aquela obra de arte. – Ela falou orgulhosa do próprio trabalho. – Você já está com o livro que eu passei?

— Sim, eu terminei ele. – Eu a informei.

— Oh! Excelente! Nós aqui terminamos a leitura dele na ultima aula, eu acabei de passar um questionário sobre ele. Faça enquanto eu dou uma olhada no seu caderno, ok? – Ela me entregou algumas folhas e eu a entreguei meu caderno, indo me sentar em seguida.

Assim que me virei vi que a classe tinha parado de responder seus questionários para me observar. Pude ver pelas suas caras que todos estavam muito preocupados, exceto por certa italiana no fundo que me olhava com um misto de curiosidade e repulsa, como se dissesse “Como ousa estar viva e ainda vir estudar comigo?”... O loiro sentado ao lado dela encarava a parede com tédio. Adrien sequer se virou um pouquinho pra me ver, não demonstrava raiva, tristeza, nada. Parecia que para ele eu nem estava ali. Eu balancei a cabeça antes que deixasse a raiva me consumir como antes, pois se isso me acontecesse não conseguiria conter o tapa que eu queria tanto dar naquele desgraçado. Era inacreditável que eles estivesse mesmo fazendo aquilo, mas eu não podia dar um deslize sequer na frente dele! Não daria esse gosto de vitória para ninguém!   

Olhei para quem realmente se importava comigo e o nó que estava no meu estomago pareceu afrouxar um pouco. Eu sorri. Vi que Alya e Nino estavam sentados nos lugares de sempre, mas agora estavam sozinhos. Sentei-me ao lado de Alya me perguntando por que aqueles dois não estavam sentando juntos, ao invés de ficar guardando lugar pra mim. Não precisavam fazer isso! Era pelo menos um casal fofo que realmente funcionava e que eu queria que ficassem juntos. Iria falar disso depois com eles, não é porque eu acabei de sair de um relacionamento infeliz que eles precisavam me imitar ou qualquer coisa assim.

— Oi. – Sussurrei para Alya e me virei um pouquinho e acenei para Nino. Os dois sorriram como se eu fosse a melhor coisa que já viram na vida.

Me virei novamente, dessa vez para o meu questionário e assim que acabei de terminar de assinar o meu nome nele eu escutei alguém levantando bruscamente no fim da sala. Por um segundo me peguei pensando, ou melhor, esperando ansiosamente de um jeito idiota e desesperado, que fosse Adrien, mas a voz que ecoou pelo ambiente não foi a dele.

— Já chega! – Todos se viraram para ver a pequena e adorável Rose em um estado de raiva que ninguém nunca viu antes. – Professora eu sei que esse questionário é avaliativo e é muito importante, mas eu acho um absurdo que nós não possamos dar boas vindas descentes para a nossa amada amiga Marinette! Por favor, deixa a gente abraçar ela pelo menos! Ela merece depois de ficar tanto tempo fora!

A classe se virou na direção de Alice.

— Eu nunca disse que não poderiam fazer isso, por favor, é mais que justo já que eu já dei o meu abraço. Que as verdadeiras e merecidas boas-vindas sejam dadas à nossa saudosa colega Marinette Dupain Cheng!  

Dito isso Rose agradeceu rapidamente, correu na minha direção e me abraçou com uma força que eu nunca imaginei que ela teria. Abracei ela de volta estando eufórica e embaraçada pelo seu adorável gesto.

— Sentimos muito a sua falta, não nos dê outro susto desses nunca mais! – Rose disse, mas nenhuma bronca parecia ser séria vinda dela, e ela mesma parecendo notar e aceitar isso só sorriu mais ainda para mim e me disse – Seja bem-vinda de volta Mari!

Eu fiquei tão feliz de ouvir isso que abri um sorriso tão largo que os cantos da minha boca chegaram a doer. Depois disso os meus colegas vieram em uma espécie de fila improvisada me abraçar e desejar boas vindas para mim assim como Rose e me dando uma leve bronca por me jogar na frente de um carro, mesmo que fosse para salvar vidas. Aquele carinho todo que eles tinham por mim acalmou um pouco os meus nervos, pelo menos eles não estavam com pena de mim, na verdade estavam felizes por mim, e eu tinha a obrigação de mostrar pra eles o quanto eu estava feliz de voltar também. “Eu não vou preocupar eles mais” pensei “A partir de agora não vou deixar ninguém saber o quanto eu estou sofrendo, nem que pra isso eu tenha que mentir pra eles e me forçar a sorrir todos os dias. Meus amigos já se preocuparam demais comigo.”.

Depois da agitação inicial a professora Alice teve que fazer todos voltarem aos seus lugares. Apesar de quase nunca demonstrar ela era mesmo uma professora e tinha que se forçar a fazer coisas que não gostava para manter essa pose.

— Sinto muito gente, mas eu tenho que enviar as notas desse questionário para o sistema até hoje à noite! Vocês tem que terminar isso nessa aula! Vamos lá! – Foi o que ela disse. – Vocês conseguem!

Então voltamos para os nossos questionários. Como sempre a maioria das respostas eram “letra A” de “Alice”, mas em minha opinião poderiam muito bem ser “letra E” de egocêntrica, pois ambas combinavam muito bem com nossa amada professora.  

*

O apito do professor foi soprado, causando um barulho estridente e dando início à aula de educação física, ouvindo ele os alunos que estavam conversando se calaram e todos nós nos levantamos da arquibancada e formamos um semicírculo ao redor do professor. Ele começou a explicar a tarefa de hoje, algo que já havíamos feito muito em suas aulas: uma corrida, seis voltas ao redor da quadra, pequenos obstáculos no caminho. Ouvi alguns burburinhos de reclamação, nem todo mundo gostava muito da ideia de correr às sete e quarenta e cinco da manhã. O professor amentou a quantidade para dez voltas e ameaçou aumentar ainda mais se todos não se calassem e se posicionassem em seus lugares, o que foi imediatamente feito. Eu estava ansiosa, fiquei empolgada porque eu costumava ser realmente boa em corridas, por estar sempre chegando atrasada eu tive que aprender na marra a correr muito rápido, e não me importava muito com o horário, afinal eu já estava lá mesmo, não dava pra voltar a dormir mesmo que a tarefa da aula fosse outra- por mais tentador que isso seja-, mas claro que eu não me saia tão bem quanto aos obstáculos espalhados na pista improvisada, já que eu era tão desastrada que poderia cair até mesmo se uma folha estivesse no meu caminho, mas o fato de serem barras pequenas poderia facilitar o meu trabalho... De qualquer forma eu estava ansiosa pelo desafio que estava por vir, fiquei tempo demais longe da escola e agora eu queria participar de tudo que pudesse ali. Enquanto eu me distraía com a minha empolgação Kim e Alix discutiam sobre quem iria ganhar, e eu fiquei orgulhosa de mim mesma porque não sabia qual deles ia ganhar, mas queria muito o terceiro lugar, e fala sério, aqueles dois eram rápidos demais então eu simplesmente não os contava como desafio, pra mim o meu terceiro era o primeiro lugar- pelo menos o mais perto que qualquer outro aluno conseguiria chegar era o terceiro. Alya estava falando disso comigo, empolgada falando só de brincadeira que dessa vez ela iria roubar a minha coroa de louros, quando o professor pareceu notar minha presença ali entre os outros alunos e ergueu as sobrancelhas como se isso o deixasse levemente incomodado.

— Senhorita Dupain-Cheng, o que pensa que está fazendo aí? – Ele questionou vindo na minha direção.

— Ahh, me preparando para a corrida senhor, como você nos disse para fazer.- Eu respondi, me perguntando se tinha feito alguma coisa errada.

— Sinto muito, não vai participar hoje. – Ele me informou com um tom de voz que dava a entender que eu simplesmente já deveria saber disso.

Eu arregalei os olhos, porque ao contrario do que ele parecia pensar eu nem imaginava que não poderia estar ali. Tentei conversar com o professor sobre essa situação inesperada, convencer ele à voltar atrás nessa decisão com argumentos muito plausíveis (Mas professor! Por favor!), mas de acordo com ele isso era impossível, eu não estava em condições físicas de me esforçar daquele jeito e essa decisão nem mesmo viera dele e sim dos meus pais que o informaram antecipadamente de que eu não participaria das aulas por enquanto.

Não tive escolha senão andar de cabeça baixa até a arquibancada, me sentar e observar dali meus amigos correrem, contando vantagem, chamando uns aos outros de lerdos e coisas do tipo. Eu estava perdendo toda a diversão, mas como eu ainda era uma estudante que precisava ser avaliada tanto quanto os outros alunos capacitados de correr o professor pediu que eu o ajudasse anotando as posições dos meus colegas em uma prancheta, ele disse que eu precisava fazer alguma atividade para que ele pudesse me dar pontos. Como não tinha muito o quê fazer em relação a isso eu concordei e me coloquei a observar atentamente meus colegas. Pelo jeito que as coisas estavam indo Kim ficaria em primeiro lugar daquela vez, e Alix em segundo por muito pouco se não se apressasse mais. Meu precioso terceiro lugar certamente iria para Rose, que era pequena e veloz, e não para Alya que ficou tão decepcionada com a corrida depois de saber que eu não poderia participar que estava em sexto lugar. Adrien e Lila claramente ficariam com a última posição, e eu já esperava que Lila ficasse nessa nela, como sempre fazia, porque ela não gostava de se esforçar demais na Educação Física porque se o fizesse acabaria soando muito e ela detestava usar os banheiros da escola, pelo menos era o que eu sabia. Agora eu também descobri que Adrien- o antigo quarto ou quinto lugar- andava lado a lado com ela literalmente o tempo todo, mesmo que pra isso tivesse que caminhar como uma tartaruga na quadra.

Isso me deixou irritada.

Vi ele se virar pra Lila, ainda em movimento- se é que aquela andadinha devagar-quase-parando estúpida deles poderia mesmo contar como movimento de verdade- comentando algo que fez a italiana rir e dar um tapinha amigável em seu ombro. Ele riu de volta e devolveu o tapinha.

Isso me irritou mais ainda.

Eles deram as mãos e essa foi a gota d’água para mim...

— Eu acho que vou vomitar!

Lembra quando você aprendeu quando era criancinha que a palavra mágica para pedir para sair da sala de aula é “Por favor”? Essa é simplesmente a maior mentira que já inventaram. A palavra certa para esse momento é “vomitar”, sério, diga isso e seu professor, seja quem for, do mais legal até o mais implicante, vai praticamente te expulsar da aula, é algo mais do que perfeito. Foi exatamente o que aconteceu ali comigo, eu fui liberada para ir ao banheiro na hora e quando percebi estava encarando meu reflexo no espelho do banheiro feminino que milagrosamente se encontrava vazio. Eu estava com o meu rosto vermelho de tanta raiva, não podia acreditar que aqueles dois cretinos simplesmente esbanjavam esse relacionamento feliz e absurdo pra todo mundo ver assim, no meio da aula de Educação Física! Isso me fez perceber que por mais difícil que tenha sido descobrir que Adrien estava com Lila existia algo mil vezes pior e isso era ter que ver os dois j u n t o s. Ter que enxergar aquilo com os meus próprios olhos era tão doloroso, tão ruim que apertava meu coração de um jeito que a tristeza virava raiva muito depressa. E só pra constar eu não estava mentindo quando falei que ia vomitar, isso era algo muito provável já que aqueles dois faziam meu estômago se revirar.

“Eu tenho que me conter” eu pensei respirando fundo “Tenho que me segurar, tenho certeza que todo mundo notou esse deslize e se continuar assim eles vão começar a perguntar como eu estou me sentindo e se me perguntarem eu não vou aguentar, vou começar a chorar e a ultima coisa que quero fazer é derrubar lágrimas na frente de todo mundo!”.

Balancei a cabeça.

—Não! – Falei em voz alta, de forma firme. -Não vou quebrar a minha promessa! A promessa que fiz para mim mesma. – Eu olhei determinadamente para o meu reflexo e apontei com o indicador para o espelho. – Você senhorita Marinette Dupain Cheng não vai chorar mais nenhuma lágrima por ele! Alguém que fez o que ele fez simplesmente não merece essas lágrimas!

Dito isso eu joguei água no rosto, o sequei e saí do banheiro, caminhando de peito estufado e nariz em pé, demonstrando uma confiança que eu não tinha, mas que seria o meu escudo por enquanto. Assim que cheguei na quadra o professor perguntou como eu estava e quis saber se era necessário que ele ligasse para os meus pais.

— Eu estou bem, foi um alarme falso, sério. – Eu respondi, com um leve sorriso forçado. Lila e Adrien ainda estava de mãos dadas na corrida, mas eu não ia falar para o professor o quanto aquilo era absurdo. Só para deixar registrado nem ele e nem ela sequer olharam na minha direção quando eu cheguei e nem quando eu saí, parecia que eu era invisível para eles como um fantasma.

— Tudo bem, mas se precisar de qualquer coisa- O professor começou a falar, mas eu não queria deixar aquilo se estender por mais tempo senão era bem capaz de eu dizer que o que me deixava doente era certo casal ali presente.

— Eu te aviso se precisar de qualquer coisa professor.

— Certo. – Aquilo pareceu tranquilizar ele o bastante para ele se virar na direção dos outros estudantes e observar como a corrida se seguia.

E assim a aula continuou. Alix conseguiu virar o jogo de ultima hora, na ultima volta da corrida e ficou no primeiro lugar, o pessoal fez o pagamento das apostas- sim, nós costumávamos fazer apostávamos em qual dos dois ia pegar o primeiro lugar, pagávamos em balas e eu consegui cinco com a minha aposta em Alix. Adrien cedeu o penúltimo lugar para Lila como um bom namorado deveria fazer e eu imaginei que ele fizesse isso em todas as aulas. Ignorei a cena tão doce que chegava a ser enjoativa e empurrei o incômodo que ela me causou para um cantinho distante e escuro do meu coração. Não ia pensar nisso, não quando meus amigos estavam ao meu redor trocando balas e me observando pelo canto dos olhos, como se estivessem sendo totalmente discretos ao esperar que eu desse algum ataque, chilique ou sei lá o que. Fingi que não percebi isso e também fingi que não estava com vontade de dar um ataque, um chilique ou um não sei o que, e comecei a chupar uma bala de menta.

*

O recreio não serviu para me dar um descanso. Muito pelo contrario, foi sufocante. Muitos colegas das outras salas me viram no corredor e me abordaram para perguntar como eu estava, e eu não conhecia muitos deles, então aquela situação não podia ter sido mais estranha. Alguns eram educados e queriam saber do meu estado de saúde e a esses eu respondia, já outros pareciam me encarar como uma espécie de celebridade da escola e queriam saber do meu suposto rompimento com Adrien- que sequer chegou a acontecer oficialmente! Alya, que estava como sempre grudada em mim, viu que aquela intromissão toda estava me deixando sem graça e nervosa e enxotou todo mundo para longe de mim, como quem enxota pombos ou coisa assim. Eu não podia ter ficado mais agradecida.

— Vamos, vamos Mari! – Ela disse. – Vamos para a nossa mesa da cantina! Espero que os outros tenham conseguido pegar a mesa perto do bebedouro dessa vez, no caso de eu ter que espantar esses urubus curiosos com água.   

Corremos antes de eu ser abordada por mais urubus, mas pude perceber o olhar deles para mim nos corredores, o que era tão ruim quanto às perguntas. Conseguia captar rapidamente os sussurros que surgiam quando eu passava: “Olha a coitadinha, lá vai a menina que sofreu um acidente!”, “Ih, não é a ex do Adrien Agreste ali? Coitadinha”, “Ah, a nova namorada do Adrien Agreste é bem mais bonitinha... Mas ele não podia ter feito isso com essa né? Ela sofreu um acidente!”, “É verdade que ela sofreu um acidente e o cara já trocou ela? Nem esperou a mina acordar, coitada.”, “Pobrezinha, ele não merecia ela.”, “Bom, eu também trocaria, a nova namorada é bem mais bonita.”, “Coitada, o que ele fez foi tão errado!”...

De repente todo mundo parecia querer julgar a minha vida, saber se o que aconteceu era certo ou errado, dar sua opinião, falar da minha desgraça, mostrar como sentiam dó de mim ou me comparar com Lila. Eu quis parar ali mesmo no meio do corredor e gritar que a minha vida não era a porra de um Reality Show e mandar todos eles para um lugar bem desagradável e ofensivo para a mãe deles, mas me contive. Marchei orgulhosamente, como se fosse uma guerreira inatingível, e Alya permaneceu ao meu lado jogando olhares afiados e assassinos para todos os lados. Nesse pique conseguimos chegar à cantina, onde três figuras bem distintas acenavam para nós de uma mesa qualquer no canto do ambiente: Sabrina, Nino e Nath, que pareciam estar conversando sobre alguma coisa muito interessante que definitivamente não era a minha vida (Imagina! Claro que não era!) e rapidamente se calaram quando me viram. Novamente fingi não notar e me sentei. Perguntei onde Chloé estava, pois eu esperava ver ela ali junta de todos, e me disseram que ela tinha ido ao banheiro retocar o batom ou coisa assim, eu assenti em resposta. Quando eu percebi nós todos simplesmente já tínhamos começado a conversar como se tudo ainda estivesse normal, como se eu nunca tivesse sofrido um acidente e todas as coisas ruins fossem um mero pesadelo infame que não deveria ser citado na minha presença, e era exatamente isso que eu queria. Naquele breve momento eu pude fingir que tudo estava normal, que aquele não passasse de mais um dia comum na escola e que a maior novidade fosse as três figuras novas que de repente surgiram no meu ciclo de amizade. Eu estava muito agradecida por ter um momento simples de alegria como aquele, estava tão feliz que não cheguei nem a reclamar quando tirei o menor palitinho no nosso sorteio e tive que ir pegar refrigerantes na maquina do corredor para todos, porque a da cantina já estava vazia. Segui o caminho sussurrando a melodia de uma das músicas do CD de Alice, algumas vezes tentava cantar, mas a música brasileira soava tão estranha com o meu sotaque francês que eu preferia não o fazer para não estragar a beleza da música. Sorri ainda assim, observando que não tinha pessoa nenhuma esperando para pegar refrigerantes- Sem fila!- e na verdade não havia pessoa nenhuma naquele corredor inteiro, imagino que fosse porque a merenda estava mesmo muito boa e ninguém quisesse perder, portanto a cantina estava lotada, o que me fez me sentir um pouco menos presa aos olhares de todos. Coloquei a mão no bolso e saquei de lá as moedas que tinha recebido dos meus amigos para pagar os refrigerantes, mas assim que cheguei à frente daquela grande caixa prateada ouvi um som alto e claro de algo batendo contra a superfície metálica do lateral da maquina e o que vi fez um arrepio gélido percorrer minha espinha: Chloé estava bem ali, segurando os ombros de duas garotas mais novas que ela acabara de empurrar contra a maquina. As meninas estavam assustadíssimas, e pelo jeito que a loira as encarava e gritava furiosamente elas tinham motivo para tal.   

— Escutem aqui, seus abutres nojentos obcecados pela vida alheia, é melhor para a saúde de vocês que parem de falar da minha amiga como se ela fosse inferior á essa piranha aí que todo mundo sabe que é só uma versão menos carismática de mim! Pelo menos Marinette nunca precisou se conter em roubar os restos dos outros desse jeito! Agora façam o favor de voltarem para a merda de vidinha simplória que vocês levam! Passar bem. – Ela terminou a frase de um jeito congelante e soltou os ombros das meninas, que correram até o fim do corredor indo para longe do meu campo de visão.

Chloé passou as mãos pelo casaco amarelo que nem estava amarrotado para arruma-lo, levantou o queixo e então virou para a minha direção finalmente notando a minha presença.

— Há quanto tempo está aí? – Ela perguntou enquanto as bochechas adquiriam um tom avermelhado.

 - Desde que você empurrou aquelas garotas como se fosse uma valentona de filme ou coisa assim. - Eu a contei, sem saber exatamente o que pensar da cena, eu estava atônita por ver Chloé daquele jeito. – Porque estava brigando com elas e o que a minha vida tem a ver com aquelas meninas?  

— Bom, é claro que você ia chegar logo no momento em que eu pareço uma vilã! Não que eu não seja, mas dessa vez tive meus motivos! Aquelas pirralhas malditas estavam falando de você como se você fosse lixo, sendo que claro, só eu posso fazer coisas assim. Ela estava te comparando aquela Lila Rossi, falando o quanto Adrien deve ter tido pena de você pra ficar com uma pessoa assim e-

— Uau, espera! Você estava me defendendo de gente que estava falando de mim exatamente do mesmo jeito que você costumava falar? ...Que irônico não? – Eu dei uma risadinha, pensando em como aquela situação era inusitada.

— “Costumava” não é o termo certo minha querida, eu ainda falo mal de você, mas eu posso porque atualmente tenho um status de amizade elevado com você, mas não é como se umas prepotentes aleatórias pudessem fazer isso, sair falando da sua vida como se fosse novela das nove! Eu estava passando e aquelazinhas estavam de papinho furado de que “Adrien finalmente abriu os olhos e começou a pegar alguém decente, do nível dele”, falando mal de você e não sei mais o que! Ah, faça-me um favor! Como se a italiana de quinta fosse decente e outra, como se Adrien fosse decente! Não consigo acreditar que meu melhor amigo virou um ser desprezível, com todo esse reinado de terror ao lado de sua rainha do mal na escola! Aquelas garotas patéticas mereciam mais do que um empurrãozinho de nada por ficarem se rastejando aos pés daqueles dois. Ridículo! Simplesmente ridículo!     

Eu estava de boca aberta, sem palavras para aquela ação. Um misto de sentimentos se passava dentro de mim: confusão, por ainda não entender como Chloé virara minha amiga ao ponto de me defender com garras e dentes, um pouco de felicidade por saber que ela gostava de mim aquele ponto,ressentimento por saber que Chloé, e provavelmente todos os meus outros amigos, andavam se metendo em encrenca para defender o meu nome e também muita amargura por novamente ter que ver gente que nem me conhecia falando tão mal de mim pelas costas. Não conseguindo expressar isso tudo de uma vez o que eu falei foi:

— Você vai se meter em problemas se você continuar a brigar nos corredores desse jeito.

Clhoé ergueu uma sobrancelha como se o que eu disse tivesse saído em outra língua.          

— Marinette você bateu a cabeça no caminho para a escola? Se esqueceu de quem eu sou? Meu pai é o dono desse lugar, eu não tenho que me preocupar com sermão do diretor! As pessoas podem não enxergar isso, mas eu continuo sendo a abelha rainha desse colégio.

— É, certamente Lila não consegue te vencer em prepotência.

— Escuta aqui sua maldita, já tô me arrependendo de te defender.

Não consegui segurar o riso, ela também não.

— Mas Chloé, escute aqui, por favor. – Eu chamei ao fim das gargalhadas.

— Sim?

— Eu não quero que você, nem nenhum dos outros, faça essas coisas por mim.

— Hein?

— Estou falando de vocês saírem me defendendo por aí desse jeito! Eu não sou nenhuma invalida, se precisasse mesmo disso estaria xingando eles eu mesma, mas não quero arrumar mais confusão do que já está tendo na minha vida. Quero deixar as coisas fluírem e se acalmarem por si só ok?                                                                                                                                                            

— Certo, eu achei que um aspecto importante da amizade era ajudar os amigos, mas parece que aprendi tudo errado! Tenho que recomeçar minhas lições de convívio social com ralé do início... – Ela respondeu com toda a ironia possível.

— Eu estou falando sério Chloé! – Eu a repreendi.

— Eu também! – Ela parou na minha frente e segurou minhas mãos cheias de moedas. – Você vive ajudando todo mundo, fazendo tudo por todos! Porque não deixa seus amigos cuidarem dos seus problemas de vez enquanto?

— Porque uma boa amiga não iria querer que os outros se envolvessem em brigas de corredor por ela! Vocês passaram esse mês inteiro fazendo coisas desse tipo para não deixar os outros desonrarem o meu nome e a minha imagem ou coisa assim? – Questionei.

— Exatamente! E não vamos parar, porque você já ajudou todo mundo demais e agora precisa de ajuda! – Ela resmungou soltando minha mão. – Você entendeu? – Perguntou devagar e firme, como se eu fosse uma criança birrenta.

— Você fica repetindo essa frase... Isso de ajudar os outros e tals, isso é coisa da Alya não é? – Eu balancei minha cabeça.

— É sim, como é que vo-

— Essa coisa de justiça sem pé nem cabeça é a cara dela. Ela enfiou essa coisa na cabeça de vocês e na dela, então imagino que agora vai ser impossível tirar e vou ter que viver com guarda-costas por toda parte. – Eu resmunguei, vendo claramente isso.

— Só até pararem de falar de você, garanto que vai acabar em uma ou duas semanas. – Ela não negou, apenas reforçou o quanto eu estava sufocada pelo instinto protetor de todo mundo por toda parte eu duvidava muito que seria só por algumas semanas. – As coisas vão melhorar.

— Chloé, agora que você é minha amiga tudo que você disser para me reconfortar não conta, você só está dizendo pela amizade.

— Mas vale a pena tentar?

— Vale sim, obrigada.

— De nada. Vai comprar esses refrigerantes ou não? Estou morrendo de sede!

— Aí vem a verdadeira imagem da rainha do colégio!

— Ah, cala a boca e me paga uma Coca diet!

— Certamente que não madame, pague você mesma.

— Essa amizade não é muito lucrativa. – Ela resmungou pescado algumas moedas do bolso. – Eu brigo por você e você não me paga uma maldita lata de refrigerante!

— É assim mesmo que funciona a amizade.

— Eu não devia ter entrado na sua onda.

— Tarde demais para desistir, somos amigas agora.

*

Eu tenho que admitir, esperava coisa pior desse retorno. Tanto tempo fora me fez remoer mil e uma situações horríveis que poderiam acontecer na minha mente, mas no momento tudo não passava da minha zona imaginaria de “Realmente Ruim”, nem chegando perto do “Pesadelo Putrefato”, que era a pior categoria.

Ou era o que eu imaginava antes do maldito trabalho de Química.

 Quando a Senhora Mendeleiev sorteou grupos para um estúpido trabalho sobre a história da Tabela Periódica e começou a nos dizer os integrantes do meu grupo eu não imaginei que nada demais pudesse acontecer... Estava indo tudo bem! Max... Muito inteligente e ótimo em todas as matérias, Nath... Muito dedicado e ótimo com tudo que se pode ser moldado artisticamente- certamente deixaríamos qualquer tipo de trabalho manual envolvendo estética com ele- e eu, que claro, sou uma parte menos talentosa do grupo, sempre chego atrasada em reuniões, mas me esforço muito. Não achei que pudesse estar mais feliz, afinal grupos de trabalho sorteados costumam ser terrivelmente desvantajosos, até que percebi um pequeno detalhe: a professora disse que um aluno sobrou no sorteio e que ia precisar encaixar ele em algum outro, e assim que o fez- por meio de outro sorteio entediante- meu grupo ficou encarregado do tal aluno que sobrara... Ele era ninguém mais ninguém menos que Adrien Agreste.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam curtindo e sofrendo com essas altas emoções, acreditem eu estou! Menos que saiba o que vai acontecer é angustiante para mim também!
Enfim, algum erro nesse capitulo? Sem tempo para revisar então me avisem! Beijinhos e ~fui~ ♥



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