Lost Memories escrita por LethFersil


Capítulo 8
Just look to stars


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas saiu ♥



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Flores e estrelas... Quase tudo que eu amo estava comigo no meu quarto... Exceto uma pessoa. Exceto o mais importante. Ainda estava feliz com essa surpresa e por causa dela minha noite não seria tão longa e também não precisaria chorar no banho.

Coloquei as flores em um vaso em cima da minha escrivaninha e depois de jantar e tomar banho finalmente adormeci tranquilamente em meio aquelas almofadas de estrelas.

No dia seguinte acordei com a minha mãe batendo na porta:

— Kimberlee já é quase meio dia! Acorda menina!

— Não tem aula hoje mãe. – respondi sonolenta – Acho que posso dormir um pouco mais.

— Tem alguém no telefone querendo falar com você.

— Quem é?

— Começa com Lys e termina com Andre.

Pulei da cama imediatamente e corri até a porta para pegar o telefone:

— Obrigada mãe. – peguei o telefone e voltei para o quarto – Muito obrigada.

— De nada – sorriu -  Duas vezes

Joguei-me na cama feliz da vida e comecei:

— Lys!

— Bom dia Kimb, pedi para sua mãe que não te acordasse, mas ela disse que você estava dormindo demais.

— Ela fez o certo, eu odiaria acordar e saber que você ligou e eu não atendi porque estava dormindo. Como foi a viagem?

— Foi cansativa, mas já tive tempo demais para dormir. Você se lembra do Cuddles?

— Ah, sim! Me lembro! Ele era tão fofinho e curioso! Fui com você no pet shop quando decidiu ter um bichinho de estimação. Como ele está?

— Grande... Coelhos crescem rápido. Foi incrível como me lembrei dele... Foi só dar uma cenoura e tentou roer a manga da minha camisa, lembrei também porque o escolhi e não os outros.

— Naquele dia você me disse que escolheu o Cuddles porque ele era curioso e mais lindo que todos os outros.

— Na verdade eu queria dizer sutilmente que ele me faz lembrar você.

Sorri totalmente boba depois de ouvir e isso e fiquei sem palavras, Lys deu continuidade na conversa:

— Gostou da surpresa?

— Amei... Dormi no meio das estrelas olhando para as minhas flores.

— Eu dormi pensando em você.

— Sábado vou levar algo que te faça sentir um pouco menos de saudade de mim.

— Vou esperar ansioso.

— Te amo.

— Também te amo.

— Como está o dia ai na cidade?

— Vou olhar – levantei da cama, andei até a janela e abri as cortinas – O clima está ensolarado e parece que sem possibilidade de chuva. E na fazenda?

— Também ensolarado, mas provavelmente vai chover à tarde. É sempre assim.

— Como você sabe que vai chover?

— Minha mãe disse e ela nunca erra.

— Para que serviço de meteorologia se temos a Dona Josie? – sorri – A melhor garota do tempo.

— Verdade... Minha mãe é melhor que muito serviço de meteorologia.

— Quero que sábado chegue logo.

— Também quero, mas já é mais de meio dia em um sábado ensolarado e você está enfornada em um quarto falando ao telefone. Por favor, vá se divertir.

— Eu não sei... Lys... Tudo parece tão sem graça sem você.

— Você tem tantos amigos. Algum deles vai saber de algum passeio legal para você ir.

— Você tem razão.

— Então... Até logo?

— Até logo.

Lys desligou o telefone e eu desci para comer um café da manhã/almoço e depois subi para me vestir, mesmo que tivesse que sair sozinha eu iria para algum lugar.

Pensei em comprar o presente do Lys, mas não sabia exatamente o que comprar então liguei para a Rosa, ela não atendeu deveria estar ocupada, então liguei para o Alexy já que lembrei que ele estava em casa sem o Armin:

— Alexy?

— Oi, Kimberlee. Tudo bem?

— Tudo sim.

— Fiquei sabendo que o Lysandre foi para a fazenda.

— Sim ele foi, mas semana que vem vou até lá fazer uma visita e queria comprar um presente para ele. Algo que o fizesse lembrar de mim. Adoraria ter a sua ajuda.

— Eu também adoraria te ajudar, mas meus pais não confiam no Armin com cartão de crédito e um estande cheio de jogos, então vou ter que ir com ele e o Kentin.

— Nossa... Pensei que você fosse o filho que dá prejuízo.

— No shopping sim, não em feiras de games e animes.

— Ah... Que pena.

— Pena mesmo – ouvi gritos do outro lado da linha – espera um pouco Kimb, meu irmão não entende que não se deve gritar quando as pessoas falam ao telefone.

Pareceu que Alexy abafou o som dos gritos, porque a partir desse momento não ouvi nada além de sussurros indecifráveis.

Esperei por alguns segundos até o Armin falar:

— Oi Kimberlee!

— Armin?

— Sim.

— O que houve com o Alexy?

— Digamos que está neutralizado agora.

— Ah... Sei – por alguns segundos jurei que ouvi gritos abafados – ele me disse que ia com vocês no evento hoje.

— Ele vai sim e se você quiser pode ir junto.

— Sério Armin?

— Sim, podemos nos encontrar na porta do evento?

— Claro, só me passa o endereço.

Armin me passou o endereço e ficamos de nos encontrar em uma hora. Ao fim da ligação eu pensei ter ouvido o Alexy ameaçar contar algo que o Armin fez.

Troquei de roupas, peguei minha bolsa e desci para a sala, quando meu pai me viu saindo sem pedir autorização sorriu e questionou:

— Aonde vamos?

— Ah! Desculpa, esqueci de avisar. – sorri – Vou com uns amigos em uma feira de jogos e animes.

— Não volte muito tarde sua tia Agatha vem jantar conosco hoje.

— Não me lembrava disso.

— Ela avisou hoje cedo que vinha.

— Ah... Entendi – em outras palavras ela se convidou – então até mais tarde.

— Até.

Sai de casa ansiosa e pensando nos possíveis presentes que eu poderia dar para o Lys, pensei tanto que quase perdi o ponto que eu deveria descer para chegar ao evento.

Quando cheguei pude avistar os meninos de longe, Alexy e Kentin conversavam perto do portão e Armin que estava fazendo cosplay de Link do jogo Zelda estava na bilheteria.

Me aproximei de Alexy e Kentin e tentei parecer o mais animada possível:

— Cheguei! Demorei muito?

— Não, nós que chegamos cedo. – disse Kentin – Me faz um favor Kimberlee?

— Que favor?

— Fala para o Armin que amou a fantasia de Zelda dele.

— Mas o nome do personagem é Link.

— Nós sabemos. – disse Alexy – Faz esse favor! Nunca te pedi nada!

— Tudo bem... Se vocês insistem.

— Ele está vindo. 

Armin se aproximou sorridente e disse:

— Comprei seu ingresso, Kimberlee, já que foi eu que te convidei.

— Ah... Obrigada pela gentileza.

— O que achou do meu cosplay?

Olhei para os meninos um pouco constrangida e comentei:

— Adorei sua fantasia de Zelda.

Armin me olhou dos pés a cabeça e depois encarou os meninos:

— Vocês obrigaram a Kimberlee a dizer isso não foi?

— Você perdeu Kentin- disse Alexy estendendo a mão para Kentin - me dá os 20 reais que apostou comigo.

Kentin deu o dinheiro para Alexy resmungando:

— Foi sorte.

— Não foi não. – disse Alexy – Armin sabe que a Kimberlee entende de jogos.

— Vocês apostaram se eu ia perceber que a Kimberlee estava sendo influenciada por vocês?

— Mereço metade do dinheiro Alexy. – respondi rindo – Sem saber te ajudei a ganhar os vinte.

— Depois te pago um sorvete.

Armin ficou nos olhando pasmo, mas depois sorriu dizendo:

— Vamos entrar logo.

Alexy colocou o braço nos meus ombros e me guiando para o portão disse em alto e bom som:

— Pensei que você faria cosplay de panda.

— Verdade – concordou Armin enquanto se aproximava – nunca vi ninguém ficar tão bem de panda.

— Parem de me zoar –dei um soco de leve em Armin – Zelda.

— Por que só eu apanho?

— Porque Alexy está em uma posição estratégica que pode me neutralizar se eu fizer qualquer movimento brusco.

— Se ela se mexer – disse Alexy rindo – dou uma chave de braço do pescoço dela.

Kentin nos olhou e riu sem dizer nada até ser provocado por Alexy:

— Que foi Kentinho? Quer uma chave de braço também?

— Chama isso de chave de braço? Vou te mostrar o que é uma chave de braço.

Kentin correu até Alexy e passou seu braço pelo pescoço dele, segurou com firmeza até que Alexy disse:

— Tudo bem, eu desisto! Já pode me soltar!

— Desistiu rápido demais – respondeu Kentin enquanto soltava Alexy – nem apertei o suficiente.

Peguei Alexy pelo pulso e puxei-o para perto de mim dizendo:

— Chega de usar técnicas militares no Alexy! Preciso dele para algo importante.

— Vamos ver alguns jogos, Kentin. Alexy achou uma protetora.

— Dá para fazer isso com ela também.

Armin e Kentin estavam nos olhando com uma expressão assustadora e percebi que era o momento de correr dali.

Novamente segurei o pulso de Alexy e sussurrei:

— Esse é o momento que devemos correr.

— Concordo.

Alexy e eu nos separamos de Armin e Kentin e combinamos de nos encontrar na praça de alimentação no horário de almoço. Durante o passeio pude conversar mais tranquilamente com Alexy e acabei contando tudo o que aconteceu até a ligação de hoje de manhã:

— Kimberlee... Se eu soubesse que você precisava tanto sair teria te chamado mais cedo.

— Agora preciso achar alguma coisa para dar ao Lys de presente.

— Podia dar um macacão de panda igual ao seu... Ele achou fofo.

— Não – respondi rindo – ele achou fofo me ver vestida no macacão de panda, mas isso não quer dizer que ele quer um para ele também.

— Faz sentido.

— Panda não... Mas talvez um coelho...

— Não Kimberlee – disse Alexy me olhando fixamente - Pense em algo que tem mais significado para vocês.

— São tantas coisas... Músicas, estrelas, coelhos, pandas, flores... Não consigo focar em nada especifico.

— Podemos passear aqui pelos estandes e vai que você vê algo que ele goste?

— Vai ser difícil – sorri – É muita modernidade para o Lys.

— Vamos achar algo aqui. Não é possível que não tenha nada.

— Isso é o que vamos ver.

Andamos por todos os estandes daquele lugar e não achamos absolutamente nada que fizesse o estilo do Lys, mas achei uns lenços e chapéus bem legais que faziam o estilo dos pais do Lys, acabei comprando, pois pensei que não faria sentido levar presente apenas para o Lys.

Quando a hora combinada para o encontro na praça de alimentação chegou eu e Alexy encontramos com Armin e Kentin. Em minha face estava estampada a frustração... Não achei nada para dar ao Lys... Nada...

Ficou combinado que Alexy e Kentin iriam buscar os lanches no fast food ali perto. Enquanto isso eu fiquei sentada ao lado de Armin esperando que os dois chegassem. Minha frustração estava tão aparente que até Armin percebeu e me questionou:

— O que houve? Está com cara de que alguém roubou seu lanche.

— Queria comprar um presente para o Lys, mas não acho nada que tenha o estilo dele aqui.

— Acho que não tem nada aqui para ele. Lysandre não é gamer.

— Verdade.

— Alexy não te deu nenhuma ideia boa?

— Também não ia adiantar estávamos procurando nos lugares errados.

— Você sabe das coisas que ele gosta?

— Ele gosta de moda vitoriana, rock, livros, coelhos... Muita coisa.

— Aqui perto tem uma livraria só com livros antigos... Deve ter algum livro vitoriano que ele goste.

— Ele gosta de Shakespeare... Nem precisa ser tão vitoriano assim.

— Depois que eu visitar o estande de League of Legends nós vamos à livraria.

— Obrigada, Armin.

— Agora acho que já dá para desfazer essa cara de quem teve o lanche roubado?

Sorri para Armin quase que involuntariamente e tive a certeza de que eu tenho os melhores amigos do universo.

Depois do almoço e visitamos o estande de League of Legends, foi bem rápido graças ao Alexy que deixou Armin pegar apenas o que ele disse que ia comprar para a mãe deles.

Na saída do evento eu e Alexy estávamos animados, Kentin cansado e Armin frustrado porque não pode comprar tudo que queria. O legal do Armin é que mesmo frustrado ele me levou até a livraria e enquanto eu escolhia o livro ele até se divertiu por lá.

Na montanha de livros antigos avistei um que chamou minha atenção. Entre tantos livros meus olhos focaram nele como metal se atrai com imã, O sonho de uma noite de verão, Shakespeare, para alguém que gostou de uma história trágica como Romeu e Julieta, um romance teatral cheio de desencontros e com um final feliz seria uma coisa agradável. Não pensei em nenhuma outra opção depois dessa, apenas peguei o livro e paguei no caixa.

A tarde foi sem dúvida agradável, me despedi dos garotos na porta da minha casa e quando entrei tia Agatha já estava colocando a mesa do jantar, papai me olhou do sofá e disse:

— Quase que não chega a tempo do jantar.

— Me empolguei um pouco – sorri constrangida – estava divertido.

— Entendo, agora vá tomar banho e se trocar antes que sua mãe chegue e perceba que você chegou há pouco tempo.

Acabei obedecendo meu pai e bem rápido, já que eu não tinha cumprido com a parte de chegar cedo. O jantar seguiu normal com a tia Agatha perguntando quase tudo da minha vida desde a escola até os namoradinhos. Fiquei admirada com a minha calma para responder cada pergunta.

Depois que a tia Agatha foi embora pude descansar daquele dia cheio e fazer uma lista das coisas que eu precisaria levar para a fazenda na semana que viria, decidi que compraria tudo no domingo e depois veria com o Lys se precisava comprar algo mais.

De uma forma surreal a noite terminou de forma tranquila, andar o dia inteiro ajudou bastante já que depois de fazer a lista adormeci com o bloco de notas na cama e a caneta na mão, domingo se passou tranquilamente, peguei até a lista com os medicamentos e horários dos remédios com do senhor George com o Leigh e passei quase duas horas com o Lys no telefone.

Quando amanheceu na segunda feira senti como se o tempo propositalmente estivesse se alongando, os minutos, as horas, tudo passava muito devagar e por mais que eu estivesse com a Rosa ou o Alexy, qualquer um dos meus amigos nada parecia ser o suficiente porque quem eu queria que estivesse perto de mim não estava lá, a noite de segunda feira já não foi tão tranquila assim, fiquei me revirando a noite toda sem achar um jeito certo de dormir.

Terça fui à aula com sono e quase cheguei atrasada na aula da professora Delanay.

Minha cara de sono era visível, mas tive que me concentrar ou causaria um novo acidente e quando vi que não conseguiria mais me manter concentrada apenas parei de tocar em tudo que fosse perigoso e tentei conversar com a Rosa:

— Estou morrendo de sono Rosa, conversa comigo.

— Se a Delanay nos vê conversando algo que não seja relacionado à aula vamos receber uma bronca daquelas.

— Tudo bem – fiz silêncio por alguns segundos e depois continuei – Lys nunca me fala sobre como está sendo cuidar do pai na fazenda. Só diz que o clima lá está maravilhoso e que não preciso me preocupar.

— Você quer mesmo tomar bronca Kimberlee – disse Rosalya sorrindo – Ele quer te poupar de tanta dor de cabeça.

— Entendi... Não dormi a noite passada pensando nisso.

— O intuito dele era o contrário.

— Agora que sei disso posso dormir tranquila.

— Espere o fim das aulas.

— Vou dormir durante o intervalo mesmo. Uns quinze minutos devem me deixar melhor para a aula do Savin.

— Vai dormir onde?

— Em qualquer lugar tranquilo que eu me encostar.

Rosa sorriu enquanto manipulava o experimento e eu fingi que estava fazendo alguma coisa porque a Delanay estava se aproximando.

O sinal do intervalo tocou e eu corri para o porão por sorte não havia ninguém lá e como já havia dito à Rosalya, me sentei no chão e dormi encostada na parede e em um descuido esqueci de colocar o meu celular para despertar. Por sorte acordei com o som do sinal do fim do intervalo, mas meu susto com aquele som repentino me fez acordar assustada e olhando para todos os lados, foi quando percebi que um casaco que não era meu estava me cobrindo e ao fundo ouvi uma risada no escuro:

— Quem está ai? – questionei me levantando rapidamente – Vai responde!

— Alice acordou – disse Castiel enquanto acendia a luz – Temos aula agora, ainda bem que não precisei te acordar.

— O que você está fazendo aqui?

— Essa é a minha área – respondeu me mostrando a chave do porão – a pergunta certa é por que veio dormir aqui?

— Foi o lugar mais tranquilo que achei.

— Vamos para aula ou vai cabular aqui tampinha?

— Vamos para a aula.

Andei até a escada quando Castiel forçou uma leve tosse:

— O que houve Castiel?

— Não vai devolver meu casaco?

Desci os poucos degraus que havia subido e entreguei o casaco nas mãos dele:

— Obrigada – disse com estranheza – porque fez isso?

— Um cara não pode mais ser um gentleman?

Olhei para ele fixamente rindo e depois subi os degraus do porão rumo à sala de aula.

Durante a aula fiquei esperando Castiel parecer, mas ele não apareceu. Estranhei muito o que aconteceu no porão e fui para casa pensando nisso. Talvez a convivência com a Ambre tenha tornado Castiel um gentleman? Realmente isso deu um nó na minha cabeça porque nos últimos dias nem vi o Castiel circulando muito ao lado da Ambre. Isso me preocupou, então eu resolvi mandar umas mensagens para ele:

Kimberlee: Heey Cassie!

Castiel: O que você quer pouca sombra.

Kimberlee: Está tudo bem?

Castiel: Tudo normal.

Kimberlee: Vou ser direta... O que motivou aquela cena no porão?

Castiel: Lysandre me implorando para cuidar de você. Não sei por que ele pediu para mim... A espécie humana não é bem minha especialidade.

Kimberlee: E você com a Ambre... Ainda estão se conhecendo?

Castiel: Não é da sua conta tampinha :D

 

A conversa terminou por ai, ele não respondeu mais nenhuma mensagem que eu mandei e fiquei aliviada com isso sinceramente.

Antes do jantar conversei com o Lys sobre tudo que eu tinha comprado e descobri que tinha comprado coisas até demais, tive que perguntar se ele realmente pediu que o Castiel cuidasse de mim e ele confirmou. Só fiquei mais calma depois disso.

A semana passou devagar quase como se nunca fosse terminar até que finalmente chegou sexta feira depois da aula. Minha mala já estava pronta e com tudo que eu precisava, me ocupei a semana inteira com isso e a ansiedade quase me consumia por dentro.

Combinei que me encontraria com a Rosa e Leigh na rodoviária e meus pais me levaram até lá depois que eu peguei minhas malas, me despedi deles na porta do ônibus. Meu pai parecia apreensivo... Ele nunca quis admitir que um dia eu teria um namorado e me olhava como se estivesse perdendo sua princesinha. Sério... Eu me sentia mal quando ele me olhava assim:

— Pai...

— O que foi Kimb?

— Ainda sou sua princesa?

— Sempre. – respondeu me abraçando – Nunca vai deixar de ser.

— Eu volto domingo à noite e nós vamos poder jogar videogame até de madrugada.

— Fala baixo – disse me soltando devagar – se sua mãe ouvir ela vai nos sabotar.

— Vou mesmo – respondeu minha mãe sorrindo – ela tem aula na segunda.

— Só uma vez! – olhei para minha mãe – só uma!

— Tudo bem.

Minha mãe foi bem mais firme do que o meu pai. Imaginei que ele conseguiria segurar bem o emocional, mas não foi isso que aconteceu quando entrei no ônibus e fiquei vendo meus pais pela janela percebi que ele estava bem triste, talvez até chorando... O ônibus saiu do terminal e eu mal pude observá-los com clareza.

Rosa sentou-se ao lado de Leigh e às vezes se olhavam de um jeito muito lindo era impossível não observar aquilo sem rir como uma boba, ao meu lado estava um completo estranho, fiquei em silêncio a viagem inteira, o tédio estava tão grande que dormi e esse foi o melhor sono da minha vida, acordei com a Rosa me chamando, já havíamos chegado:

— Acorda Kimberlee! Já chegamos.

— Nossa... Tão rápido.

— Passamos mais de duas horas no ônibus. Você não viu porque entrou em coma ai no banco.

— Não exagera Rosa. – disse me sentando direito no banco – Mal vejo a hora de encontrar o Lys.

— Não precisa esperar muito.

— Claro que não, já chegamos.

— Olhe pela janela.

Cocei meus olhos e olhei pela janela do ônibus, Leigh estava com as nossas malas ao lado de Lys e os dois conversavam. Sai do ônibus e fui o mais rápido possível para perto do Lys, corri na direção dele e o abracei forte, acho que nunca tinha abraçado alguém assim:

— Eu senti tanto a sua falta.

Lys me abraçou da mesma forma e me beijou. Ficamos em silêncio e aquilo me assustou, imediatamente tive que perguntar:

— O que está acontecendo?

— Você finalmente está aqui.

— E isso não é bom?

— Isso é maravilhoso – ele me beijou apaixonadamente e depois disse – Esperei por esse dia durante muito tempo. E talvez eu tenha boas notícias.

— Como assim talvez?

— Meu pai está bem melhor e minha mãe já está quase me expulsando da fazenda. Ela quer que eu vá estudar.

— Isso não é uma coisa boa?

— Com certeza... É que você finalmente está aqui e eu estou realmente feliz. Você não entende o quanto.

— Sim... Eu entendo.

Lys estava corado e eu o entendi perfeitamente quando vi que todos na rodoviária nos olhavam, fiquei envergonhada e me afastei devagar dele e sorri desconversando:

— Vou ajudar a Rosa com as malas...

— Eu também...

O trajeto para a fazenda foi bem tranquilo e a rodoviária era muito perto da fazenda, perto de tal forma que fizemos o trajeto andando e olhando para o céu que carregava uma forte neblina.

Leigh carregava a mala da Rosa e eu nem me dei ao trabalho de deixar o Lys fazer isso por mim, fiquei com a minha mochila nas costas mesmo e nem estava tão pesada assim.

Andávamos em silêncio e tudo que eu conseguia fazer era olhar para o céu procurando as estrela, Lys percebeu e começou o assunto:

— Vai chover em poucos minutos.

— Como você sabe disso?

— O céu está nublado e isso só acontece na fazenda quando vai chover.

— Conhecimentos da senhora Josie passando através das gerações.

Lys sorriu olhando para o céu e disse:

— Tomara que amanhã o céu esteja mais limpo, planejei um passeio na floresta e na planície que tem no topo da montanha onde vamos acampar e vai ser muito frustrante se der algo errado.

— Se chover podemos passar o dia todo lendo o seu presente.

— Que presente?

— O que eu vou te dar quando chegarmos à fazenda.

— Não precisava se incomodar...

— É um livro... Um livro nunca é de mais.

— Gostei do seu ponto de vista – disse olhando para o céu – precisamos correr se não quisermos nos molhar... Acho que senti uma gota de chuva...

Parei de andar imediatamente tentando sentir o mesmo e logo senti as gotas frias tocarem o meu rosto, olhei para Lys e ele segurou firme a minha mão, sem palavras, apenas corremos o mais rápido possível para a fazenda, enquanto a chuva se intensificava... Chegamos bem rápido e nem percebemos que Rosa e Leigh ficaram para trás.

A corrida foi tão intensa que sentamos na varanda de entrada da casa ofegantes para descansar, de lá podíamos ver a Rosalya e o Leigh de guarda chuva andando tranquilamente até o local onde estávamos.

— Acha que a Rosa vai ficar muito brava por que nós saímos na frente? – perguntei sorrindo.

— Não tem um motivo para isso já que ela está acompanhada pelo Leigh.

— Olha a cara dela, Lys... Ainda bem que ela não tem olhos de raio laser.

As risadas foram incontroláveis depois disso e só pioravam conforme Rosa e Leigh se aproximavam, não percebemos o quão alto estávamos rindo até que ouvimos uma voz calma e tranquila vinda de dentro da casa:

— Entrem logo ou vão se molhar ai fora.

— Tarde demais, pai.

Sorri imediatamente... Senhor George estava realmente bem e fiquei ainda mais feliz quando olhei para ele, estava em pé andando sozinho e com uma aparência saudável. Depois que ele pediu, nós entramos e esperamos a Rosa e o Leigh do sofá, não tínhamos nos molhado muito na chuva.

A senhora Josie estava sentada no sofá ao nosso lado e ao me ver ela se lembrou de mim, juro que fiquei feliz com isso e fiquei mais feliz ainda porque ela não me confundiu com a Rosalya:

— Ah... Você é a menina que gosta do Lysandre! Seu nome é... Kimberlee!

— Sim, a senhora acertou!

— Senhora não, por favor, me chame só de Josie.

— Tudo bem, Josie.

Enquanto conversávamos, Leigh e Rosa entraram na sala e como eu já esperava ela estava muito brava, mas não disse nada.  

Agora que estávamos todos reunidos na sala, Lys me olhou e depois de um tempo sussurrou no meu ouvido:

— Vou contar para eles.

— Agora?

— Estão todos aqui.

— Então... Acho que podemos fazer isso agora.

Lys esperou até que seu pai também se sentasse no sofá e começou:

— Mãe... Você já conhece a Kimberlee e pai essa é a Kimberlee e ela é a minha namorada.

— Eu sempre soube! – disse Josie – Ela ficava tanto tempo lá no hospital conversando com você!

É... Fiquei vermelha durante toda a conversa... Quase não falei nada e o melhor da noite foi saber que não errei nos presentes que comprei para os pais do Lys.

O fim daquela noite foi bem tranquilo, dormi no quarto do Leigh com a Rosa e o Leigh dormiu no quarto do Lys, ordens da senhora Josie!

O dia seria longo e como eu já estava com muito sono nem demorei muito para dormir, aquela foi a melhor noite de sono nos últimos sete dias e na manhã seguinte quando acordei ao som do canto do galo nem me incomodei.

Me levantei e olhei pela janela, o sol estava nascendo e aquele cheiro de terra molhada era tão bom, fiquei parada ali enquanto a Rosa cobria a cabeça com o travesseiro, acabei deitando ao lado dela para tentar animá-la:
— Acorda Rosa... O dia está lindo!

— Que horas são?

— Não sei – olhei para o relógio – seis horas.

— Me deixa aqui eu não dormi a viagem toda.

— Assim você não vai aproveitar o passeio todo! Ainda vamos subir a montanha e acampar na floresta!

— Boa sorte na sua caminhada.

— Você vai com a gente!

— Não! – gritou Rosalya enquanto sentava na cama – Nem pensar!

O grito da Rosa me assustou e acho que a casa inteira, porque Leigh e Lysandre vieram para o quarto onde estávamos rapidamente:

— Está tudo bem por aqui? – perguntou Leigh.

— Eu não vou acampar Leigh! – gritou Rosa - Não gosto de ficar muito tempo na floresta!

— Não precisa gritar Rosa – tentei acalmá-la – Eu queria que você fosse conosco, mas não vou te obrigar. Pode voltar a dormir.

Lys parecia bem confuso e me olhava como se estivesse pedindo uma explicação e eu sai rapidamente do quarto e deixei o Leigh com a Rosa lá. Lys me levou para a sala e lá nós conversamos sobre o acontecido:

— O que aconteceu no quarto?

— Eu acordei com o canto do galo muito animada para o dia de hoje e achei que a Rosa também estava animada com a viagem... Acho que me enganei.

— É a primeira vez que ela vem aqui para passar o fim de semana e você já percebeu que a Rosa é mais ligada à cidade.

— Sim... Eu só pensei que se desligar da cidade e ficar conectada com o campo fosse um sentimento que dominaria todos nós aqui.

— Talvez o Leigh, com certeza eu e você, mas a Rosa vai demorar um pouco.

— Temos só até domingo de manhã.

— Podemos aproveitar o melhor que tem na fazenda e deixar que eles entrem na nossa sintonia.

— Então tudo bem.

Sorri e depois disso percebi que ninguém mais estava acordado além de nós:

— Todos estão dormindo?

— Sim... Acho que podemos trocar de roupa e fazer o café da manhã para o pessoal.

— É uma ótima ideia!

— Então vamos lá.

Voltei para o quarto tentando não fazer barulho e vi que tudo estava muito escuro lá então peguei minha mochila e troquei de roupa no banheiro.

Sai pela fazenda com Lys, ele me levou até o celeiro e me mostrou onde o Cuddles estava e ele tinha crescido tanto.

Depois ele me levou até as vacas e me ensinou a fazer algo que eu nunca imaginei fazer na minha vida! Nunca me imaginei ordenhando vacas e por mais que tivesse sido estranho no inicio, foi uma experiência bacana. Logo após isso também pegamos ovos das galinhas e essa experiência sim foi assustadora, uma correu atrás de mim por uns cem metros e o Lys correndo atrás dela a perfeição da obra, quando percebemos a galinha nem estava mais me seguindo e nós dois corríamos em círculos como dois bobos no meio do mato.

Não pensei que fosse me divertir tanto na fazenda e isso foi uma surpresa boa.

Voltamos para a cozinha e ninguém tinha levantado ainda e isso foi ótimo, novas ideias surgiram em nossa mente:

— O que vamos fazer para o café da manhã?

— Eu só sei fazer muffin.

— E são ótimos muffins, mas aqui não tem forma de muffins.

— Podemos fazer um bolo então... Não deve ser difícil é só um muffin gigante.

— Ontem comprei umas coisas para fazermos o lanche do acampamento... Já podemos adiantar.

— Então mãos à obra!

Responsabilizei-me pelo bolo enquanto Lys preparava o lanche do acampamento, nós riamos e conversávamos tão alto que me surpreendi por ninguém acordar, só depois me lembrei que o pai do Lys não ouvia muito bem e que por cuidar tanto do senhor George, a senhora Josie poderia estar bem cansada.

Depois que coloquei o bolo no forno, fui ajudar o Lys com os lanches do acampamento, ele tinha feito muita comida e foi difícil guardar tudo, neste momento a senhora Josie entrou na cozinha:

— Jesus! – disse impressionada – Que bagunça vocês fizeram na minha cozinha!

— Não se preocupe mãe – acalmou Lys – nós vamos arrumar tudo.

— O que estão fazendo?

— O café da manhã – respondi – e o lanche do acampamento.

— Não precisavam se preocupar com isso!

— Nós acordamos cedo então decidimos ajudar – continuei – e vamos limpar a bagunça.

— Vocês dois... – senhora Josie sorriu – Me lembram tanto eu e o George. Tão unidos...

Fiquei sem palavras depois de ouvir e perceber o quanto as palavras da senhora Josie pareciam sinceras, ela estava dizendo aquilo de todo o coração e eu realmente fiquei tocada.

Lys andou até um bilhete grudado na porta da geladeira por um imã e disse para a senhora Josie:

— Mãe está no horário do medicamento do papai.

— Tudo bem, Lysandre... Estou indo lá.

A senhora Josie saiu e eu e Lys começamos a arrumar a cozinha para o café da manhã, entre mais risos e brincadeira Lys fez um comentário sobre o que aconteceu e acabou deixando bem claro algo que eu não tinha percebido:

— Aquele foi o jeito que minha mãe encontrou para dizer que gostou de você.

— Você acha?

— Sim.

Fiquei sorrindo feito boba enquanto o encarava até que Rosa e Leigh entraram na cozinha:

— Que cheiro bom! – disse Rosa – Vocês cozinharam?

Afastei-me levemente do Lys e respondi:

— Sim... Tentamos fazer um muffin gigante.

— Se ficar igual ao do parque não vai sobrar nada – comentou Lys.

— Ficou feinho, mas estava gostoso.

— Vou ver se já está pronto.

Lys andou até o forno enquanto eu falava com a Rosa, pelo menos agora ela parecia mais calma:

— Então vocês não vão conosco?

— Acho melhor não... É um momento de vocês e nós só vamos atrapalhar. – disse sorrindo – Desculpa-me por hoje cedo eu exagerei.

— Tudo bem, não foi legal a forma como eu te acordei.

— Sim, mas está tudo bem.

— Vou amassar sua roupa de novo.

— Não ligo se você passar ela depois.

Nós duas rimos e eu a abracei.

O bolo já estava pronto e depois que esfriou um pouco nós comemos, este ficou melhor do que o que eu fiz para o parque e mais bonito.

Aquela manhã até a tarde foi bem tranquila, não choveu e não havia nem sinal de chuva, passei o dia arrumando tudo o que era necessário para o acampamento e no fim da tarde eu e Lys saímos pelas colinas e seguimos em direção à floresta.  

Segundo o que o Lys me disse o local mais alto para ver as estrelas na fazenda era uma planície no alto de uma montanha depois de uma floresta cheia de trilhas, ele passava horas correndo e brincando lá desde que era criança, lá seria o nosso lugar perfeito de acampamento, tentei me vestir da forma mais confortável possível, mas o Lys me aconselhou a usar alguma calça de malha folgada e botas se possível, havia chovido na noite anterior então a terra ainda devia estar molhada, blusa de manga cumprida por causa dos pernilongos e levar repelente e protetor solar, por sorte eu tinha tudo isso e depois de prepararmos tudo, seguimos para a entrada da floresta na base da montanha.

Subimos a montanha admirando a paisagem, era tudo tão lindo, as flores, pássaros, esquilos... Mesmo que eu já tivesse visitado uma floresta na excursão da escola, aquela floresta na montanha não era a mesma coisa, não sei se foi a chuva que caiu na noite anterior, mas na floresta da excursão não tinha o cheiro de terra molhada e folhas úmidas como aqui na montanha, na montanha também não tem tanto lixo espalhado, há borboletas voando por todos os lugares, simplesmente o cenário de um sonho. Devo ter sido picada por dois ou três pernilongos e nem percebi. Queria chegar logo no topo da montanha.

Lys nos guiava perfeitamente, aquele caminho era para ele como ir para casa, conhecia cada árvore e olhava toda aquela beleza com a mesma admiração que eu, não sei como descrever, mas parecia que nós dois fazíamos parte daquele lugar.

Impossível não ficar admirada com toda aquela beleza e Lys percebeu a minha admiração:

— É muito diferente da floresta na cidade, não é?

— Muito... É muito melhor.

— Essa não é nem a parte mais bonita da montanha – disse enquanto seguia subindo – o topo é muito melhor.

— Então vamos chegar lá logo! – respondi enérgica e sai na frente como se soubesse o caminho – Vamos!

Lys sorriu e apressou o passo para me alcançar e segurou minha mão com firmeza enquanto dizia:

— Não corra... A terra esta muito escorregadia e não quero que você se machuque.

— Tudo bem – andei mais devagar – acha que vamos demorar muito até chegar lá? Já estamos andando há bastante tempo.

— Feche seus olhos.

Fechei meus olhos sem questionar e Lys me guiou por uns metros até que disse:

— Pode abrir os olhos.

Quando abri meus olhos vi a imensidão azul do céu e as infindáveis árvores que preenchiam as colinas. O topo da montanha era realmente como uma leve planície com algumas flores coloridas, andei até a beirada da planície e vi o quão alto estávamos, podia ver muito mais árvores dali, uma paisagem surreal, não... Essa não é a palavra certa... Perfeição é a palavra certa para descrever todo aquele lugar, fiquei boquiaberta e sem palavras, Lys teve que me incentivar a dizer algo ou eu ficaria ali calada olhando para o infinito:

— O que você achou? É lindo não é?

— É perfeito... Simplesmente perfeito.

— Vamos acampar aqui e precisamos montar a barraca e acender as lamparinas quando anoitecer, porque não podemos acender fogueiras aqui.

— Risco de incêndio?

— Sim.

— Então vamos começar está quase anoitecendo.

Nós dois começamos a montar a barraca e não foi algo difícil graças ao manual, esperamos o pôr do sol para começar a acender as lamparinas, segundo Lys tínhamos combustível para mantê-las acesas até às seis da manhã do outro dia.

Com tudo organizado só nos restou forrar o chão e comer enquanto o sol terminava de se pôr, já estava escuro e era possível ver algumas estrelas no meio daquele céu róseo com alguns nuances de violeta, nunca havia visto nada parecido e me dei conta de algo assustador que tive que relatar ao Lys:

— Você acredita que eu nunca parei para ver o pôr do sol na minha vida?

— Acredito – disse Lys me olhando fixamente – muitas vezes demoramos a apreciar as coisas mais simples da vida.

— Isso não parece simples... Parece algo mágico.

— Talvez seja, ou não, nunca saberemos. E eu fico feliz de estar com você neste momento mágico.

— Talvez se você não estivesse aqui não fosse tão mágico.

Coloquei minha mão sobre a dele e suspirei olhando para o pôr do sol, lembrei-me que não dei o presente dele:

— Nossa! – gritei – Não acredito que esqueci!

— Esqueceu-se do que? – Lys perguntou assustado – É algo sério?

— Não te dei o seu presente! Espera um pouco, vou pegar na mochila.

— Já disse que não precisava se preocupar.

— E não é preocupação.

Corri até a barraca, peguei o presente de dentro da mochila e voltei correndo até ele:

— Pronto, aqui está!

Lys pegou o embrulho e abriu com cuidado, esboçou um sorriso quando viu o título e disse:

— O sonho de uma noite de verão, Shakespeare. Não poderia ter me dado presente melhor.

— Demorei muito para pensar em algo e quando olhei para esse livro lembrei-me de quando você disse que gostava de Shakespeare.

— Sempre quis esse livro, mas nunca me lembrava de comprar.

— Podemos ler então – disse enquanto me aproximava dele – nunca li esse livro.

— Posso ler para você.

— Que ótimo! – deitei sobre o lençol e apoiei minha cabeça nas pernas de Lys – Pode começar.

— Não durma – disse enquanto abria o livro – ou vai perder as estrelas.

— Não vou dormir.

Lys iniciou a leitura e entre uma página e outra conferia se eu estava dormindo, lutei bravamente, mas quando ele começou a fazer cafuné e mexer no meu cabelo foi impossível não dormir.

Não sei ao certo quanto tempo demorou, mas acordei com Lys me chamando suavemente:

— Kimb... Acorde! Você precisa ver isso.

Abri os olhos vagarosamente e a primeira coisa que vi foi o rosto do Lys bem próximo ao meu, ele estava sorrindo para mim e acabei retribuindo o sorriso, já era noite e as lamparinas iluminavam nosso acampamento, já estava muito escuro. Olhar o rosto do Lys assim tão de perto atiçou a minha natureza impulsiva, o abracei e beijei, Lys acabou se assustando e caiu por cima de mim dizendo:

— É... Não esperava por isso.

— Foi ruim?

— Foi ótimo.

— Você disse que eu precisava muito ver algo. 

— Parece que as estrelas trouxeram companhia.

Lys saiu de cima de mim e me ajudou a levantar. De imediato olhei todo o ambiente e em meio às flores vi pequenos pontos de luz esverdeados voando por cima delas, eram vagalumes, muitos deles, em uma visão indescritível de pura beleza. O céu estava limpo e cheio de estrelas, a lua estava enorme e clareando quase tudo ao nosso redor.

Andei até a beirada da planície e fiquei parada lá admirando a floresta sendo iluminada pelas estrelas e a lua, se tudo aquilo já era perfeito durante o dia, durante a noite parecia simplesmente o paraíso.

Lys se aproximou e me abraçou por trás dizendo:

— Gostou da paisagem?

— A paisagem, esse lugar e você comigo... Acho que é isso que chamam de paraíso... Todas as coisas que amamos juntas.

— E tudo vai ser assim de agora em diante. – ele beijou meu pescoço e continuou dizendo – Meus pais não precisam mais de mim aqui e vou voltar com vocês.

— Isso é maravilhoso. – respondi sorrindo – E quanto ao nosso paraíso? Podemos voltar aqui mais vezes?

— Quantas vezes você quiser.

Ficamos em silêncio por alguns instantes olhando a paisagem, instantes que me fizeram entender o quanto momentos assim são únicos, principalmente depois que tudo que passamos. Somos tão jovens e temos toda a nossa vida pela frente, talvez o melhor não fosse pensar no amanhã e sim aproveitar o agora em nosso paraíso.

Suspirei e fiz uma pergunta ao Lys:

— Esse é o nosso paraíso, não é?

— Parece que sim.

— Então vamos aproveitar este momento, porque não vamos ficar aqui para sempre...

— Este momento merece uma música... – disse Lys pensativo – O que dizer sobre um lugar que se parece com o céu?

— Acho que não tem o que dizer... Devemos apenas olhar para as estrelas.

Ficamos parados ali olhando as estrelas por muito tempo... Um tempo que não parecia ser suficiente, poderia ficar ali a minha vida inteira.


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Notas finais do capítulo

Acabou pessoal... Esse é o último capítulo e vou postar um epílogo também para falar sobre algumas tramas que eu comecei e não falei mais.
Obrigada por terem lido até o fim e pela paciência com a minha demora para postar os capítulos, vocês são demais :)



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