Lost Memories escrita por LethFersil


Capítulo 7
See You Later


Notas iniciais do capítulo

Oiiee :)
Me desculpem novamente por demorar a atualizar a fic, mas as coisas ficaram meio complicadas e acabei ficando sem tempo para postar.
Este é o penúltimo capítulo da fic, sim ela vai ficar curta, mas se eu prolongar ainda mais vai acabar ficando sem graça, além de que pretendo terminar de escrever antes do lançamento do episódio 32 (só falta eles liberarem o episódio hoje só porque eu disse isso hahaha).
Boa leitura ♥



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Olhei aquela mensagem com certo espanto e cogitei a ideia de que fosse o Castiel na janela da Ambre... Seria uma cena muito fofa e romântica, mas se tratando do Castiel eu duvidava muito que seria real.  Castiel não faz o tipo romântico e não consigo imaginar ele agindo assim, dá até uma vergonha alheia.

No dia seguinte fiquei muito animada para ir à aula logo e saber o que tinha acontecido, tomei banho e depois fiz um lanche bem rápido, peguei minha mochila e sai de casa ainda um pouco distraída, não olhei nada ao meu redor e segui andando até o ponto de ônibus quando ouvi risos que eu conhecia bem, olhei para trás e vi o Lys me seguindo:

— Porque não me chamou? – perguntei me aproximando – Sou totalmente distraída esse horário.

— É... Que... – respondeu me abraçando – eu achei fofo. Não queria atrapalhar sua rotina. Acordei mais cedo que o esperado hoje e pensei que seria uma boa ideia te fazer uma surpresa.

— Não poderia ter tido ideia melhor – fiquei na ponta dos pés para beijá-lo– você é alto.

Ele riu e segurou minha mão, seguimos juntos até o ponto de ônibus, no meio do trajeto percebi que a Rosa não estava com o Lys e resolvi perguntar:

— A Rosa não te acompanhou hoje por quê?

— Ela e o Leigh me deixaram na sua porta e foram para a loja.

— Ela vai faltar hoje?

— Ela me disse algo, mas eu esqueci.

— Depois você lembra – disse sorrindo – talvez não seja nem tão importante assim.

— Assim espero.

Quando chegamos à escola tudo parecia tranquilo, fiquei tentando encontrar a Ambre e o Castiel, mas não consegui.

Ainda estava cedo então me sentei com Lys em um banco do pátio e ficamos conversando até o Nathaniel vir falar conosco:

— Bom dia, pessoal. Vocês viram a Kim.

— Bom dia, Nath e não... Não vimos a Kim hoje.

— Ela disse que ia me esperar aqui no pátio.

— Não querendo ser curiosa, mas já sendo. Vocês ainda estão estudando matemática?

— Sim, mas ela ia me mostrar umas músicas que tem no celular. Ontem depois de quase três meses na academia descobri que a Kim também faz aula lá, olha que estranho, nunca tinha encontrado com ela lá.

— Você faz aula de quê Nath?

— Já fazia musculação lá há três meses, mas ontem entrei na turma de Jiu Jitsu e encontrei com a Kim lá.

— Legal que vocês acharam algo em comum.

A conversa fluía normalmente até a Kim chegar e bagunçar o cabelo do Nath enquanto ria:

— Te achei guri! Finalmente, agora vem que vou te mostrar as músicas.

Nathaniel parecia irritado pelo que a Kim fez e após arrumar o cabelo disse:

— Isso não é legal, Kim.

— Larga de manha, guri! Teu cabelo é muito macio, vem sentir isso aqui Kimberlee – chamou Kim – vai entender o que eu estou falando.

Olhei para Nathaniel envergonhada já que ele parecia desconfortável com a situação e hesitei muito até que ele me autorizasse:

— Vai Kimberlee... Pode tocar no meu cabelo sei que você está curiosa.

Encarei o Lys contendo o riso e depois fui até o Nath tocar no cabelo dele:

— Nossa... É macio mesmo.

— Pronto, agora chega – disse Nath se afastando de nós duas – Deixem o meu cabelo em paz.

Olhei para Kim e nós duas rimos, depois os dois seguiram para dentro da escola e eu me sentei novamente ao lado do Lys rindo e fiz uma observação:

— Esses dois têm mais em comum do que pensam.

— Não entendi porque você teve que tocar no cabelo dele.

Encarei o Lys e percebi que ele estava sério demais:

— Você está com ciúmes?

— Não... Só não entendi porque você teve que pegar no cabelo dele.

— A Kim pediu e era macio. Ah... Não. Sorria para mim!

— Não.

— Você vai sorrir sim – comecei a fazer cócegas – Vai! Ri pra mim!

— Que tipo de tortura é essa – disse Lysandre enquanto ria – para!

— Sei lá, não é vitoriana?

— Com certeza não.

Ficamos brincando de fazer cócegas um no outro ali no banco do pátio até o momento que olhei para portão de entrada do pátio e vi o Castiel entrar acompanhado da Ambre, os dois conversavam como se fossem melhores amigos e eu realmente fiquei assustada:

— Olha aquilo ali, Lys.

Lys olhou a cena e mudou sua expressão drasticamente de um sorriso para a seriedade:

— Esta é sem dúvida uma cena curiosa.

— Ele foi lá mesmo, não estou crendo.

— Lá onde Kimberlee?

— Ele vai nos contar apenas espere ele chegar aqui... Não creio...

Castiel se despediu da Ambre ali mesmo e veio até nós sorrindo estranhamente, eu não pude evitar comentar:

— Não acredito que você foi até a casa dela ontem.

— Como você sabe?

— Estava falando com ela no telefone e ela comentou alguém tacando pedrinhas na janela dela.

— Nossa como você cuida da vida alheia!

— Nunca imaginei você fazendo algo assim... Senti até uma vergonha alheia agora.

— Vergonha alheia... Vindo da garota que se esconde em armário de vestiário masculino só pra ver tatuagem de homem parece até ironia. Você é a cara da vergonha alheia garota!

Olhei atônita para o Lys e perguntei:

— Você contou para ele?

— Só comentei quando li no bloco de notas. – respondeu Lys sério – Vocês realmente vão brigar por causa disso.

— Não. – disse Castiel - Não vou brigar com a tampinha.

— Também não vou brigar com o Cassie.

— O que você disse? – gritou Castiel – Não me irrita não!

— Parem de se provocar! – disse Lys – Castiel não tive tempo de te contar que a Kimberlee é minha namorada.

— Jesus... Não tinha ninguém melhor não, Lysandre?

Olhei para o Castiel como se quisesse matá-lo e ele ria de forma sarcástica, respirei fundo e voltei a olhar para o Lys.

— Brincadeira – disse Castiel – a tampinha é uma pessoa legal. Felicidade para vocês, mas... – me olhou com dúvida – você se lembrou dela?

— Algumas coisas importantes que eu não deveria ter esquecido, mas acho que perdi alguma memória sobre você. Não lembrava essa sua relação com Ambre.

— Longa história e depois eu te conto. Não estamos namorando, estamos nos conhecendo melhor e não está sendo uma coisa ruim.

Desta vez eu o olhei com estranheza e acabei esboçando um sorriso que não passou despercebido pelo Castiel:

— Advogada do diabo não sorria! – Castiel disse enquanto seguia para o prédio - Você ainda não venceu a guerra!

— Sobre o que ele está falando, Kimberlee?

— Não faço a mínima ideia – menti – vamos à aula. Hoje a primeira aula é com a professora Delaney e ela vai surtar se chegarmos atrasados.

— Quem é a professora Delaney?

— Te conto no caminho.

Levantei-me do banco, segurei firme a mão do Lys e juntos seguimos para a sala de aula.

Todas as duplas estavam formadas e eu tive que ficar no meu canto sem a Rosa e ver o Lys todo confuso com a chata da Bia. O pior era ver os risinhos dela quando olhava para trás e me via sozinha, garota insuportável.

Quando a professora Delaney entrou na sala fui direto falar com ela:

— Professora Delaney, bom dia.

— Bom dia – respondeu me medindo dos pés a cabeça – o que faz longe da sua dupla?

— Era justamente sobre isso que vim falar com a senhora. Parece que a minha amiga a Rosalya não vai chegar no primeiro período, posso me juntar a alguma dupla até que ela chegue?

— Se ela chegar atrasada não vai entrar na minha aula – disse em tom áspero – Forme um trio com alguma dupla hoje.

— Tudo bem, obrigada professora.

— Vai logo.

Andei até a mesa do Lysandre com a Bia e disse aos dois:

— Lys, parece que a Rosa não vai chegar a tempo para essa aula, então a professora me autorizou a fazer um trio com alguma dupla e eu escolhi vocês. Posso me juntar?

— Claro Kimberlee.

Bia apenas suspirou frustrada e voltou a anotar o nome dos materiais que seriam usados na aula, eu comecei a anotar os procedimentos da experiência que iríamos fazer e Lys olhava todos os objetos que estavam em cima da mesa atenciosamente, às vezes eu desviava o olhar do caderno e olhava para ele, fiz isso muitas vezes durante aquela aula, inclusive na última Castiel jogou um papelzinho em mim que dizia:

“ALERTA! ALERTA! VOCÊ ESTÁ FAZENDO CARA DE BOBA HAHAHA”.

Tive que olhar para o Castiel e mostrar língua. Não existe nada no mundo mais infantil que isso, eu sei, mas tive que fazer. Ninguém percebeu e a aula seguiu normalmente.

Quando o sinal para o intervalo tocou fiquei preocupada com a Rosa já que ela nunca foi de faltar sem avisar e na última vez que ela fez isso tivemos uma má notícia.

Lys se ofereceu com o Castiel e Armin para ajudar a guardar os materiais da aula e eu aproveitei para sair da sala e ver se a Rosa havia me enviado alguma mensagem.

Peguei meu celular e vi que não havia mensagens ou ligações da Rosalya isso completou minha preocupação. Tentei ligar para ela, mas ela não atendeu. Suspirei e foi nesse momento que o Alexy colocou sua mão no meu ombro e disse:

— Cadê a Rosa, Kimb?

— Era isso que eu queria saber. Ela levou o Lys lá em casa hoje cedo com o Leigh e depois disso não tive mais notícias... Na verdade nem cheguei a vê-la hoje.

— Tentou ligar para ela?

— Ninguém atende.

—  Ela deve ter desligado o celular.

— Estou preocupada, Alexy. Também não vi o Kentin hoje.

— O Kentinho foi levar o Cookie no veterinário e  vai entrar no segundo período.

— O que houve com o Cookie?

— Ele tem que tomar umas vacinas.

— Ah... Menos mal. E o Kentin... Ele está melhor?

— Ele parecia animado hoje cedo. Você conversou com ele?

— Sim, espero que ele esteja bem.

— Armim o convidou para um evento de games e animes no final de semana e ele aceitou super animado.

— Legal! Você vai também?

— Prefiro shopping.

— Ah! – respondi sorrindo – verdade.

Neste momento meu celular tocou e eu atendi sem olhar quem era:

— Alô?

— Kimberlee? – a voz era da Rosa – Tudo bem ai?

— Rosa?

— Sim sou eu. O Lys não te avisou que eu ia faltar hoje?

— Não, mas acho que essa era a coisa importante que ele esqueceu hoje de manhã. Onde você está?

— Eu e o Leigh estamos na fazenda arrumando as coisas para o acampamento e ajudando o pai deles a se instalar melhor. Os médicos dizem que ele se recuperou o suficiente para ser cuidado em casa.

— Isso é realmente uma boa ideia? Por que... A Dona Josie é tão distraída. Ela vai lembrar de dar os remédios na hora certa?

— Eu e Leigh pensamos nisso. Colocamos vários lembretes pela casa com os horários e nomes dos medicamentos. Além de que Leigh vai ligar para a mãe todos os dias para ajudá-la a lembrar.

— Se é assim então tudo bem.

— Não se esqueça que faltam apenas 9 dias para o nosso acampamento. Quando estivermos aqui vai ser mais fácil.

— Assim espero. Vocês voltam quando?

— Ainda hoje. Tenta levar o Lys para passear ou para a sua casa e segurá-lo lá até às oito da noite.

— Vocês ainda não contaram para ele?

— Por enquanto não.

— Nós vamos chegar lá no dia do acampamento e ele vai simplesmente se deparar com o pai doente? Isso não parece certo.

— É o melhor a se fazer. Nós vamos contar, mas não agora. Vou desligar, Até mais tarde.

— Até mais tarde.

Guardei o celular no bolso e suspirei, Alexy tinha ouvido a conversa toda e logo veio me questionar:

— O pai de quem está doente?

— Do Lys e, por favor, não conte a ninguém.

— Tudo bem, eu não conto.

— Vou precisar passear com o Lys até às oito da noite. Tenho que avisar a minha mãe.

— Tudo bem, Kimberlee. Vamos até o pátio.

Alexy me acompanhava até o pátio enquanto eu falava sobre essa situação com a minha mãe. Fiquei feliz por minha mãe ter entendido a história e aceitado sem problemas, mas essa situação ainda me incomodava.

Fiquei com Alexy no pátio esperando os garotos descerem até que o Kentin apareceu:

— Olá pessoal? O que houve com a dupla dinâmica?

— Dupla dinâmica? – eu disse sem entender – Quem é a dupla dinâmica?

Alexy sorriu e retrucou:

— Dupla dinâmica é você e o Armin, Kentin! Eu e o Armin somos os super gêmeos.

De repente entendi de qual dupla dinâmica eles estava falando:

— Batman e Robin?

— Acertou em cheio, Kimb! – disse Kentin – Mas eu sou o Batman então.

— Armin é o Robin! – disse Alexy rindo - Deixa ele ficar sabendo disso.

A conversa continuou e eu percebi que o Kentin de hoje estava muito mais feliz que o Kentin de ontem e isso me alegrou de uma forma indescritível, mas eu precisava ouvir da boca dele que estava tudo bem.

Armin chegou e levou os dois do pátio e eu fiquei lá sentada em um banco observando a partida deles e quando pensei que estava sozinha Kentin retornou e disse:

— Ontem eu disse amanhã não foi?

— Sim.

Ele sorriu e bagunçou meu cabelo dizendo:

— Não costumo voltar atrás com a minha palavra.

— Fico feliz em saber.

Kentin correu ao encontro dos garotos enquanto eu fiquei ali tomando sol no pátio esperando o Lys chegar e isso demorou bastante, demorou todo o intervalo e eu tive que ir procurá-lo.

Não o encontrei então fui direto para a sala de aula, me sentei no meu lugar e esperei que ele aparecesse. Depois de o professor Faraize entrar na sala, Castiel e Lys entraram, não preciso dizer que eu estava meio chateada com isso, mas enfim, pensei que ele tivesse se perdido em algum lugar:

— Onde você estava? Te procurei em todos os lugares!

— Não procurou na sala dos professores.

— Estava trancada.

— Era lá que eu estava. Peguei alguns trabalhos para compensar minhas ausências.

— Podemos fazê-los hoje à tarde na minha casa e eu te ajudo. Não aceito um não como resposta.

— Preciso avisar ao Leigh... Ele vai ficar preocupado.

— Ele não está em casa... Saiu com a Rosa e foi isso que você esqueceu de me falar hoje cedo.

— Ah! Era isso... – sorriu - Então tudo bem. Ela disse onde os dois estavam?

— Foram resolver algumas coisas da loja.

— Se é isso então tudo bem. Vamos para sua casa depois da aula.

Juro que me senti culpada por mentir para ele e sei que nenhum relacionamento deve começar assim, tentei acredita que estava fazendo aquilo pelo bem dele, mas estava bem difícil acreditar. Depois do fim das aulas, seguimos para a minha casa, o caminho todo eu fiquei em silêncio, e Lys falava de tantas e tantas coisas, mas eu não prestei atenção em nada.

Imaginava que a minha distração passaria despercebida, até que tentei abrir a porta da minha casa com a chave da garagem, Lys percebeu que tinha algo de errado:

— Você está bem?

— Eu? – gaguejei – Estou ótima!

— Não, não está. Passou o caminho todo em silêncio e concordando com tudo que eu dizia.

Abri a porta e nós entramos enquanto conversávamos:

— É porque eu concordo com você Lys.

— Eu perguntei se você gostava de andar pisando em brasas e você disse que sim.

— O que tem de mal em andar pisando em brasas? – questionei rindo – Me desculpa... Eu estava realmente em outro mundo.

— Tem algo que queira me contar?

— É... – tive que pensar rápido em uma desculpa – meu pai ainda não disse se vai me deixar ir ou não ao acampamento e eu não faço ideia do que fazer para ele me autorizar logo e acabar com a minha ansiedade.

— Entendo. Fique calma, vai dar tudo certo.

Lys se sentou no sofá e eu fui fazer um lanche para nós, até o momento tudo estava tranquilo e eu estava comemorando internamente. Depois do lanche começamos a fazer os trabalhos do Lys, o da professora Delanay era o mais difícil, lógico, ela não facilitaria para ninguém.

Quando já estávamos cansados de tanto escrever, resolvemos ver algum filme na TV, ali no sofá mesmo, e enquanto assistíamos percebi que minha mãe não estava em casa, realmente, eu estava muito desligada mesmo:

— Não tem ninguém em casa.

— Sua mãe deixou um bilhete avisando que chegaria sete da noite hoje. Você não viu o bilhete Kimberlee?

— Estava distraída.

— Percebi e acho que você está me escondendo algo.

— Não... Não estou...

— Kimberlee – disse sério e me olhando nos olhos – você não sabe mentir. O que você está escondendo de mim?

— Lys não fica bravo...

Lysandre se levantou do sofá, pegou sua mochila e começou a guardar seus objetos que estavam espalhados pela sala, parecia estar ansioso e chateado comigo. Não sabia como agir naquele momento e dizer a verdade seria a pior coisa que eu poderia fazer, mas também seria a única coisa que o faria ficar, então eu me aproximei dele e segurei sua mochila, o que fez com que ele parasse de guardar seus objetos e me olhasse:

— Vai me dizer a verdade?

Respirei fundo e olhei nos olhos dele dizendo:

— A Rosa e o Leigh não foram resolver nada da loja.

— Onde eles foram?

— Foram para a fazenda resolver alguns problemas do acampamento...

— Kimberlee... Eu tive um sonho que eu não sei se foi mesmo um sonho e nele minha mãe ligava em casa para avisar que meu pai estava muito doente. Agora me responda uma coisa – disse em tom grave – você sabe me dizer se isso foi um sonho ou uma lembrança?

Suspirei e já comecei a chorar... É eu não lido bem com pressão:

— Não foi um sonho. Não sei dizer direito se foi desse jeito que aconteceu, mas seu pai está realmente doente. Ninguém te contou porque não queríamos prejudicar sua recuperação.

— Isso não foi justo! – Lys estava alterado e falava mais alto que o de costume – Você sabia disso o tempo todo?

— Só fiquei sabendo quando liguei para a Rosa no intervalo – respondi afoita – Ela me disse para não te contar!

Lysandre se sentou no sofá e colocou a mochila no chão e suspirou, ficou ali parado por alguns segundos até que eu me sentasse ao lado dele. Coloquei minha mão nas costas dele e me abaixei tentando olhar o rosto dele e foi quando eu percebi que ele estava chorando. Foi impossível continuar com as minhas lágrimas enquanto Lys tinha mais motivos para chorar do que eu. Sabe aquela força repentina que você sente quando alguém que você ama está ferido? Aquela que te deixa em prontidão para proteger a qualquer custo? Acabei invocando esta força naquele momento, puxei Lys para perto de mim e o abracei forte, uma atitude que foi uma surpresa para nós dois já que eu não imaginava ter essa força e ele me olhava com se não estivesse entendendo nada:

— Me desculpa, nunca mais vou mentir ou omitir nada para você. Isso é uma promessa.

Lys permaneceu em silêncio e eu não sabia se aquilo era ou não um bom sinal. Tentei melhorar as coisas do jeito que eu podia, mas estava difícil:

— A Rosa me disse que ela e o Leigh estavam ajudando o seu pai a se instalar melhor da fazenda, que ele já podia ser cuidado em casa.

— Isso não é uma boa ideia... Minha mãe não vai lembrar-se de dar os medicamentos.

— Eu disse a mesma coisa para a Rosa e ela me respondeu dizendo que vão ligar para que a sua mãe lembre.

— Não acho que isso seja seguro.

— Eu também, mas o que nós podemos fazer Lys?

— Você não pode fazer nada quanto a isso Kimberlee, mas eu posso e vou.

Gelei. Algo veio em minha mente e de imediato eu já sabia o que Lysandre pretendia.

Lys se soltou devagar de mim e segurou minhas mãos dizendo:

— Sei que você não é uma garota mesquinha e vai entender a minha decisão. Eles precisam de mim e... Nada vai funcionar bem enquanto eu estiver aqui sabendo que eles estão lá precisando de mim. Eu preciso ficar na fazenda ajudando meus pais nem que seja por alguns dias.

Era isso que eu temia, suspirei e sem perceber acabei apertando um pouco as mãos dele, como quem é espetado por uma agulha e aperta firme algum objeto para não gritar. Aquele não era o momento de ser egoísta e por mais que eu o quisesse perto de mim sabia que era melhor para ele ser útil cuidando dos pais. Lys não seria feliz ficando aqui comigo e sabendo do sofrimento dos pais na fazenda. Vê-lo triste por causa do meu egoísmo seria o pior de tudo.

Fiquei em silêncio digerindo essa situação por tanto tempo que ele precisou chamar minha atenção duas vezes:

— Você está bem, Kimberlee? – me sacudiu de leve – Kimberlee?

— Sim... Está tudo bem.

— A sua reação para o que eu disse foi diferente do que eu imaginei.

— Eu acho que você tem que ir cuidar dos seus pais. Você está certo pensando assim e eles precisam muito de você – segurei firme o choro – e se você precisar de alguém que te lembre dos medicamentos, pode contar comigo já que eu tenho tempo suficiente para te ligar e ajudar e...

Antes que eu pudesse continuar o meu falatório, Lys me calou colocando dois dedos sobre os meus lábios enquanto dizia:

— Você sempre fica silenciosa demais ou falante demais quando quer chorar. Eu sei que você está triste e que não está nada bem. Não precisa esconder isso de mim.

Suspirei ainda tentando não chorar, mas dessa vez não deu certo, as lágrimas começaram a cair e neste momento Lys me abraçou forte e disse:

— Essa foi uma ideia impulsiva... Talvez eu nem vá. Me desculpe por ter feito você chorar.

Afastei-me devagar e falei com firmeza:

— Você tem que ir. Não vou ficar feliz se ver você aqui frustrado porque não pôde ir cuidar dos seus pais. Eu posso esperar Lys! Os seus pais não. Eles precisam de você agora.

Mais uma vez Lys me olhou com espanto. Com certeza não esperava que eu fosse reafirmar o que disse antes, então, ele sorriu e secou as minhas lágrimas com as mãos dele e me beijou.

Não esperava que ele fosse me beijar naquela hora e acabei me desequilibrando do sofá, isso fez com que eu segurasse firme no pescoço dele e nós dois caíssemos no chão, sob o tapete da minha mãe. A queda em si foi engraçada, acabei ficando deitada em cima dele no chão enquanto riamos, Lys me perguntou:

— Você não vai sair de cima de mim?

— Não, pelo menos agora você não vai a lugar nenhum.

Ficamos ali no tapete nos beijando até meus pais chegarem, por sorte não fomos pegos.

Depois do jantar levei o Lys até a porta da minha casa onde o Leigh e a Rosa o esperavam, tentei me despedir da forma mais calma possível:

— Então a noite chegou.

— Sim. – Lys me respondeu calmo – Vou ter uma conversa calma com o Leigh sobre a minha ida para a fazenda. Provavelmente eu vá nessa sexta.

— Mas sexta é amanhã, Lys...

—Sim, o melhor é ir o mais rápido possível. Talvez eu nem vá para a aula amanhã. Não tem problema você ir com o Leigh e a Rosa no próximo sábado ou tem?

— Não, nenhum.

— Estou indo ficar um pouco com os meus pais e não terminando com você.

— Sim eu sei. É um até logo, não um adeus.

— Gostei dessa frase – sorriu enquanto tocava no meu rosto – é um até logo, não um adeus.

— Vou repetir isso todos os dias como se fosse um mantra.

— Você não precisa repetir o tempo todo se simplesmente acreditar.

Tentei sorrir para que ele acreditasse que estava tudo bem e disse:

— Vou te ligar todos os dias para saber com vão as coisas.

— Vou esperar ansiosamente as suas ligações. Vou levar um violão e talvez escrever músicas novas.

— E eu vou ficar ansiosa para ler e ouvir todas elas.

— Então até logo.

— Até logo.

Lys andou até Leigh e Rosa e eu acenei para eles de longe, não consegui pensar em nada para dizer sem que minha garganta arranhasse e meus olhos marejassem.

A certeza desse momento não ser um adeus não apagava a dor de uma despedida e pude aprender infelizmente que um até logo pode doer tanto quanto um adeus.

Entrei em casa e me tranquei no banheiro para tomar banho. Estávamos de volta ao início, testa tocando o azulejo frio e um choro silenciado pelo som do chuveiro. Sabia que essa seria uma longa noite.

Passei a noite olhando para as estrelas projetadas pelo abajur e tentando aceitar toda aquela situação, quando digo aceitar não digo apenas apoiar a ida dele para a fazenda, mas fazer isso sem ter que me trancar no banheiro para desidratar de tanto chorar depois.

Dormi vencida pelo cansaço e acordei no dia seguinte com relutância, tive que tomar um banho frio para despertar. Sai de casa meio confusa e resolvi andar um pouco pelo parque para espairecer.

No meu celular havia diversas mensagens da Rosa, li algumas e praticamente eram broncas por eu ter contado a verdade para o Lys, ignorei, era o melhor a se fazer.

Cheguei à sala de aula quase atrasada, com uma cara horrível (para a minha “sorte” aula da professora Delaney) e pior seria ter que ficar ao lado da Rosa recebendo broncas.

Pela primeira vez no ano letivo eu cheguei sem falar com ninguém e sentei no meu lugar. Rosa me olhou e comentou:

— Eu ia te dar uma bronca terrível, mas você está muito mal. Parece que chorou a noite inteira.

— Antes só parecesse.

— Ele contou que te colocou contra a parede.

— E no fim eu apoiei a decisão dele ir viajar.

— Ele acabou ficando em casa para arrumar as malas, vai viajar à tarde. Teremos tempo o suficiente para fazer uma despedida.

— Não sei se estou pronta para isso.

— Você disse que o apoiava então se ele partir sem se despedir de você vai ficar muito triste.

— Não sei o que dizer para ele Rosa.

— Podemos fazer um ensaio do que você pode dizer sem chorar.

— Parece uma boa ideia.

— Sim e sábado que vem ainda tem o acampamento.

— Verdade – disse com um pouco de ânimo - Ainda vamos acampar no próximo sábado!

— Sim e podemos ir para a fazenda todo o final de semana se você quiser ou o Leigh vai para a fazenda nos finais de semana e o Lys vem para ficar com você. Na fazenda tem telefone, chegou a pouco tempo, mas funciona super bem.

— Isso já é um alívio – lembrei-me de algo que havia prometido ao Lys – preciso da lista de horários e medicamentos do senhor George, prometi ao Lys que ia ajudá-lo a lembrar.

— Três pessoas mais os lembretes... Pelo visto ninguém vai esquecer.

— Eu espero.

Rosa segurou a minha mão com firmeza e disse:

— Se você ficar triste e precisar conversar saiba estarei sempre disponível e acordada para você.

Olhei para Rosa e sorri... Acho que depois do que aconteceu ontem esse foi o meu primeiro sorriso sincero em horas.

Depois que acabou a aula eu e Rosa fomos até a rodoviária encontrar com o Lys e o Leigh. Conversei bastante com a Rosa até chegar lá, me preparei psicologicamente para aquele momento, mas uma coisa é treinar palavras bonitas com sua melhor amiga, estar diante do seu namorado desejando boa viagem mesmo que você não queira que ele vá são coisas muito diferentes.

A despedida de Leigh e Rosa foi simples, abraços e palavras de boa viagem, fiquei esperando até que eles se afastassem para que eu pudesse ficar a vontade e quando isso finalmente aconteceu, andei com passos apressados até Lysandre e o beijei enquanto o abraçava firme, ele me abraçava com a mesma firmeza.

Parei de beijá-lo quando lembrei que esse não era o combinado com a Rosa, mas também não tentei seguir nenhum tipo de roteiro:

— Está levando tudo que precisa?

— Sim, algumas roupas, sapatos, bloco de notas, violão e os trabalhos para finalizar. Tenho muitas coisas lá então não preciso levar tudo que tenho aqui.

— Não se esqueça de me ligar quando eu não ligar e cuide bem dos seus pais.

— Não se esqueça de me ligar também. Semana que vem vamos nos ver.

— Sim, até a semana que vem.

— Até a semana que vem.

Os passageiros do ônibus começaram a entrar e Lys teve que acompanhar a fila ficando cada vez mais distante de mim, por alguns instantes pensei que ia chorar, mas respirei fundo e olhei todos os passageiros entrarem e depois de alguns minutos o ônibus se foi.

Na volta para casa fiquei recitando o mantra que criei para aceitar essa partida “Isso não é um adeus, é um até logo”, recitei o máximo que pude e quando cheguei em casa, meu pai lia jornal ao lado da minha mãe... Já pensei em mil desculpas por não ter avisado que iria à rodoviária:

— Mãe e Pai me desculpem eu precisei me despedir do Lys porque ele foi cuidar do pai doente na fazenda.

Minha mãe sorriu e respondeu:

— Ele veio aqui mais cedo e nos contou a história, disse que talvez você se esqueceria de pedir autorização para sair. Seu namorado é realmente um garoto de ouro.

Suspirei e disse:

— Acho que ele adivinhou.

— Conversei com a sua mãe hoje cedo – disse meu pai me olhando sob os óculos - sobre o acampamento e chegamos à conclusão que vai ser bom para você passar o final de semana na fazenda.

— Sério pai!

— Sim.

— Obrigada!

Fiquei tão feliz que pulei em cima os meus pais no sofá e abracei os dois:

— Kimberlee, minha filha – disse minha mãe rindo – se acalme!

— Isso é porque ela nem viu o que tem esperando ela no quarto – disse meu pai rindo.

— O que tem no meu quarto?

— Vai lá ver.

Subi as escadas correndo e abri a porta, quando entrei e olhei para a minha cama minhas pernas ficaram bambas, vou citar exatamente o que vi:

Um buquê de flores exatamente igual ao que levei para o Lys no hospital.

Sete almofadas em formato de estrelas, cada uma com uma letra e elas formavam a frase: “A-T-É—L-O-G-O”

Fiquei sorrindo como uma boba... “Até Logo”... Porque era realmente disso que se tratava a nossa despedida, olhar para aquilo foi como destruir minhas inseguranças com um só tiro... Ali naquelas estrelas estava escrito apenas a verdade sobre eu e Lys e essa verdade eu repeti para mim mesma em alto e bom som:

— Isso não é um adeus é um até logo.


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Notas finais do capítulo

Referências:
Episódio 25: Reações químicas.
Episódio 27: Montanha russa sentimental

Músicas:
Mais um capítulo inspirado em algumas músicas e são elas:
The only exception – Paramore
I’m with you – Avril Lavigne
Two is better than one – Boys Like Girls
Só os loucos sabem – Charlie Brow Jr.
Wildest dreams – Taylor Swift
Million reasons – Lady Gaga

Até a próxima :)



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