Lost Memories escrita por LethFersil


Capítulo 6
Boulevard of broken hearts


Notas iniciais do capítulo

Demorei... Demorei muito... Eu sei disso e peço que me perdoem.
Fui vítima de um bloqueio criativo terrível! Pensei que nunca conseguiria recuperar minha criatividade novamente, mas com os estímulos musicais certos eu consegui!
Boa leitura!



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As estrelas giravam naquele pequeno céu no meu quarto, nossos dedos entrelaçados, olhávamos para elas como se estivéssemos diante da maior maravilha no mundo. Deitados ali apenas admirando aqueles pequenos feixes de luz que formavam estrelas, nunca percebi o quão artificial era aquilo, não até Lys comentar:

— O seu céu é sem dúvida lindo.

— Agradeça ao meu pai. Foi dele a ideia de comprar esse abajur por causa do meu medo do escuro.

— Pode deixar – sorriu – vou agradecer.

— Isso sempre tornou minhas noites mais tranquilas.

— Entendo... Mas você já parou para olhar as estrelas de verdade?

— Já tentei, mas a poluição da cidade deixa o céu tão nebuloso.

— Então eu proponho um acampamento. Eu, você, Rosa e Leigh. O céu é sempre limpo no campo e é possível ver as estrelas naturais.

— Se meus pais concordarem eu vou... Nem sei se já fui liberada do castigo.

— Que castigo – Lys disse se sentando na cama rapidamente – o que você fez?

Sentei-me também e expliquei a história:

— Eu menti para os meus sobre estar doente para não ir com eles visitar a minha tia e depois eu sai de casa escondida para encontrar você e a Rosa. Meu pai nos viu quando você me trouxe em casa e fez um escândalo.

— Com razão... Deve ter sido uma situação constrangedora e desconcertante. Vamos descer para a sala? Depois disso acho que seria completamente inadequado seu pai me ver aqui no seu quarto.

— Pensando bem, você está certo. Vamos lá para baixo.

Descemos as escadas juntos até a sala onde a Rosa estava conversando com a minha mãe. As duas estavam empolgadíssimas e seguravam algumas revistas de moda, quando perceberam a nossa presença as duas sorriram e a minha mãe logo começou:

— Pensei que você tivesse ido embora com os outros garotos – se referia ao Lys- Ainda bem que estamos apenas nós quatro aqui, se o Philippe pega vocês dois sozinhos no quarto a situação não seria das melhores.

— Por isso descemos mãe.

Andei até o sofá onde a Rosalya estava sentada e me sentei ao lado dela, Lys se sentou ao meu lado e ficamos observando minha mãe e Rosalya conversarem sobre absolutamente tudo que se pode imaginar de moda, inclusive, até descobri o que existe um tipo de renda chamado chantilly... Porque dar nome de comida a roupas? Vai saber... Enfim, quando meu pai chegou e viu a sala com tantas visitas ele até estranhou:

— Olá pessoal, são todos visitas da Kimberlee?

— Sim, pai. Tinha mais pessoas só que eles foram embora mais cedo.

— Eu imaginava já que seu celular não parava de tocar um minuto – observou o ambiente – a garota eu não conhecia, mas você garoto...

Rosalya se levantou e foi cumprimentar meu pai, Lys a seguiu:

— Prazer, meu nome é Rosalya.

— Prazer, Rosalya. Meu nome é Philippe.

Lys se aproximou e eu conseguia ver o quanto ele estava nervoso:

— Prazer, eu sou o Lysandre.

— Eu já te conheço – disse enquanto encarava Lysandre – Você é o garoto que saiu com a Kimberlee naquele sábado, eu fui tão rude com vocês dois. Inclusive até comentei com a Kimb que eu me excedi. Pretendia até pedir desculpas pela forma como falei com você, mas houve aquele acidente horrível. Então, peço desculpa pelo sábado.

— Tudo bem, senhor. Eu entendo perfeitamente o porquê do seu nervosismo.

Os dois riram e eu fiquei extremamente aliviada com tudo aquilo, no fim nem foi tão ruim.

Meu pai nem tinha reparado direito em mim, mas quando o fez começo a rir:

— Você está tão... Fofa hoje filha.

— Eu já pedi para ela tirar esse pijama de panda, Philippe, mas essa garota não me ouve.

O que aconteceu depois disso foi uma correção em coro por parte de meu pai, Lys e eu:

— Não é pijama é um macacão!

Rosa e minha mãe se encararam enquanto nós três riamos da coincidência.

— Isso é um motim? – questionou minha mãe – Estão todos contra nós Rosa.

— Rosa? – perguntei – Já estão íntimas assim?

— Está com ciúmes da mamãe! – respondeu minha mãe – Que fofa!

— Claro que não! A mãe é nossa Rosa!

Sentei-me perto de Rosa e de minha mãe enquanto meu pai conversava com o Lys, tudo estava seguindo tão bem, parecia que os dois eram amigos de anos. Cheguei a pensar que uma amizade entre os dois seria improvável, mas havia esquecido o fato de que o Lys é uma pessoa extremamente madura e ligada aos livros e as artes, ele o meu pai se dariam bem com toda a certeza. Mesmo em outra conversa, consegui perceber que os dois falavam de livros e realmente estava contente que os dois tivessem outros assuntos que não fossem relacionados a mim para conversar.

Minha mãe acabou saindo da sala para fazer o jantar e meu pai acabou juntando os grupos para a conversa:

— Kimberlee, porque não me disse que o seu amigo curte a era vitoriana... Eu já devia ter percebido pela forma como ele se veste. Nunca havia conhecido alguém que fosse tão apaixonado por essa era.

— Existem muitas coisas pelas quais eu sou apaixonado, senhor Philippe.

Gelei naquele exato momento, não acreditei que o Lys iria contar ao meu pai sobre nós tão abruptamente assim.

Meu pai já nos encarava com estranheza e toda aquela situação estava ficando desconfortável até que minha mãe voltou à sala sorridente:

— Kimberlee, eu tive uma ideia boa. Porque não convida os seus amigos para jantar conosco?

— É pessoal – eu disse – fiquem para o jantar.

Rosa e Lys se entreolharam e então Rosa disse:

— Acho que podemos sim, não é Lys?

— Sim, podemos.

A descontração da minha mãe trouxe alivio apenas para mim, depois que minha mãe voltou para a cozinha meu pai começou a nos confrontar:

— Então Lysandre, acho que você pode voltar a falar das coisas pelas quais você é apaixonado.

Lys me olhou e eu olhei de volta, meu pai não era idiota com certeza ele já tinha percebido que existia algo entre nós e o silêncio que provocamos naquele instante só piorou a situação. Parecia que tudo iria dar errado e aquela tensão só parecia aumentar até o momento que meu pai começou a gargalhar e todos nós ficamos sem entender:

— Pai? – eu disse – Porque você está rindo?

— Já sei de onde vem a sua mania de rir do nada em momentos inoportunos – Rosa cochichou no meu ouvido – está na genética.

Lys colocou a mão sobre o ombro do meu pai e perguntou:

— Você está bem senhor Philippe?

— Sim, está tudo bem.  – respondeu meu pai se recompondo – Por favor, me digam logo que estão namorando.

— Você já tinha percebido pai?

— Vocês não sabem disfarçar e os seus delírios te entregaram, Kimb. Queria muito saber o que tanto te perturbava durante o período que você ficou inconsciente.  

Rosa ficou de boca aberta sem entender nada, bom, eu e Lys também.

— Vamos pessoal, ficaram em silêncio por que não esperavam que eu fosse tão esperto? – disse meu pai – Posso não conhecer o Lysandre direito, mas a Kimberlee é minha filha.

— Pai... Eu só não esperava uma reação tão amistosa... Esperava no mínimo gritos e coisas voando pela casa.

— Não, isso não vai acontecer, mas eu espero que esse namoro de vocês seja bem ao modo vitoriano.

Lys riu depois de ouvir isso, mas eu e Rosa nos entreolhamos e ficamos sem entender:

— Namoro vitoriano? – questionei - Tipo... Como o pessoal namorava em 1832?

— Então não vai ter acampamento – disse Lys desapontado – e nem visita ao sítio.

— Vocês estavam planejando viajar? – questionou meu pai – Tenho que te lembrar de que você é menor de idade Kimberlee?

— Na verdade – intercedeu Rosalya – eu e o Lys pensamos em fazer um acampamento na fazenda dos pais do Lys. Assim ele já apresentaria a Kimb para os pais dele, mas se não for uma boa ideia e você não permitir, senhor Philippe, tudo bem.

Papai ficou pensativo, e perguntou:

— Quando isso vai acontecer?

— Em duas semanas.

— Você ouviu isso, Lúcia – gritou meu pai para a minha na cozinha.

— Sim – ela respondeu – o que você acha?

— Vou pensar um pouco no caso, tudo vai depender do seu bom comportamento nos próximos dias Kimberlee. 

Fiquei extremamente feliz depois de ouvir isso, primeiramente porque quando meu pai não gosta de uma ideia ele sempre nega de imediato, mas dessa vez ele prometeu pensar.

Tudo que aconteceu neste dia parecia ser um sonho, meu pai e o Lys se dando tão bem, a Rosa e a minha mãe pareciam amigas de infância, tudo foi perfeito do inicio ao fim. Depois do jantar me despedi da Rosalya e do Lys na porta de casa, com meu pai olhando pela janela e pensando que eu não tinha percebido com certeza ele estava querendo checar se esse namoro seria mesmo “vitoriano”.

Lys me abraçou e sussurrou no meu ouvido:

— Ele está nos olhando, não é?

— Sim.

— Você acha que ele vai te deixar ir?

— Se ele não fosse deixar, negaria na hora. Temos chances já que ele prometeu pensar.

Lys se afastou suavemente e beijou minha testa:

— Modo vitoriano.

Foi impossível não rir como uma boba enquanto Lys e Rosalya seguiam para suas casas. Fiquei ali parada como uma boba, até que meu pai me chamou:

— Já pode entrar Kimb.

— Já vou pai.

Enfim, voltei para o meu quarto quase flutuando, era muita felicidade para uma mera mortal, por alguns instantes parecia não existir problemas.

Deitei na minha cama ainda olhando para as estrelas girando e pensando em tudo de bom que tinha acontecido e principalmente nas coisas improváveis como a ajuda da Ambre, sério, aquilo foi uma surpresa inacreditável... Só que depois de analisar a situação percebi que a ajuda dela foi extremamente essencial e não parecia muito lógico já que eu não me lembrava de ter dito para ela que perdi o primeiro período das aulas tentando ajudar o irmão dela... Ela poderia ter ajudado por remorso pelo que aconteceu ao Lys ou amor ao irmão, mas a não ser que alguém tivesse contado que eu faltei às aulas, ela não teria como saber que eu estava tentando inocentar o Nath. A questão era saber quem contou a ela? Apenas duas pessoas sabiam que eu e a Rosa perdemos o primeiro período para ajudar o Nath e essas pessoas eram Alexy e Castiel. Não podia ser o Castiel porque ele odeia fofoca, mas o Alexy me prometeu que não diria a ninguém.

De qualquer forma eu resolveria essa história na escola, estava muito tarde e eu precisava dormir, estava sem medo de pesadelos malucos como os que foram causados pela febre, finalmente conseguiria dormir em paz.

A noite foi tranquila, dormi tão bem que acordei até antes do despertador. Depois de me vestir e tomar café da manhã fui para a escola a pé, quem sabe eu não encontraria algum amigo pelo caminho? Isso não aconteceu.

Cheguei à escola e encontrei Castiel sentado no chão do pátio com o celular, parecia frustrado, andei até lá e me sentei ao lado dele:

— Oi!

— Acabou a minha paz! Pensei que você não voltaria tão cedo.

— Também fiquei feliz em te ver. O que está acontecendo? Você parece estar tão frustrado.

— Não é nada – disse guardando o celular – e você já está melhor?

— 100% - sorri – têm a ver com a Aurora?

— Você não vai desistir até saber, não é?

— Com certeza.

Castiel sorriu de forma estranha e pegou o celular e ficou encarando enquanto dizia:

— Há dois dias ela não me responde e não visualiza minhas mensagens.

— Você acha que tem algum problema com ela?

— Ela estava com problemas com a família e me disse que se ela fizesse algo para ajudar provavelmente iria se dar mal.

— Você acha que ela se deu mal.

— Eu pedi que ela fizesse algo – disse Castiel agora me encarando – ela disse que alguém que ela ama muito seria prejudicado e eu disse para ela ajudar. Usei até o caso do... – hesitou – Disse que seria o certo a fazer.

Nem precisei de muita informação, agora eu já sabia por que Ambre havia me ajudado. Só para acabar com as dúvidas fiz uma última pergunta:

— Castiel, você disse para a Aurora que eu a Rosa perdemos o primeiro período para ajudar o Nathaniel?

Castiel me olhou com se não entendesse a minha pergunta e falou:

— O que isso tem a ver com a Aurora ter problemas?

Sempre soube que um dia esse momento ia chegar, mas enfim, era o momento de dizer ao Castiel o que eu fiz, claro que eu temia muito pela minha vida, mas como a vida estava me surpreendendo positivamente constantemente resolvi contar e esperar por um milagre:

— Castiel... Primeiro eu quero que você me escute com calma e não surte. Não me mate, por favor, o que eu fiz foi para ajudar o Lys e em momento nenhum eu quis te chatear.

— Fala logo! – disse impaciente – Já está conseguindo me irritar.

— Aurora é a Ambre.

— O QUE?? – disse alterado – Isso só pode ser piada! Ambre não é a Aurora! A Aurora é uma garota tão legal, que gosta de rock e entende piadas sarcásticas, adora música e não pensa tanto em aparência e não é egoísta! De onde você tirou isso, Kimberlee?

— Me escuta, Castiel! Eu precisava de um vídeo do show que só a Ambre tinha e em troca do vídeo ela me pediu o seu número de telefone. Eu nem pensei direito e me arrependi. Depois percebi que você se dava tão bem com essa Aurora. Você sabe que é a Ambre, vai me diz! Alguma vez você já viu alguma foto ou mesmo encontrou a Aurora pessoalmente?

— Não, nunca a vi – disse pensativo – e ela também sempre inventou desculpas para não me ver pessoalmente e não mandar fotos.

— Você disse para ela sobre eu e a Rosa, não disse?

— Comentei com ela sim e depois ela resolveu ajudar essa pessoa que ela ama. Agora tudo faz sentido, com certeza ela ajudou o Nathaniel e agora está encrencada com os pais.

— O que deve ter acontecido com ela?

— Não sei, mas a Ambre saiu antes do fim do segundo período ontem. Nathaniel também.

— Estou preocupada, vou tentar falar com o Nathaniel.

— Boa sorte.

Castiel se levantou, pegou a mochila e saiu em direção ao portão de saída da escola, eu o segui gritando:

— Aonde você vai?

— Cabular a aula de hoje, não estou em clima.

— É tão ruim assim para você saber que a Ambre é a Aurora?

— Se é tão ruim assim saber que eu estava sendo enganado de novo? Claro que não, Imagina!

— Castiel! – corri atrás dele – Ambre pode ser uma pestinha às vezes, mas ela não pensou em si mesma para ajudar o irmão. Talvez ela tenha te mostrado um lado que ela tem e nunca mostrou a ninguém. Talvez Aurora seja quem a Ambre é de verdade. 

— O que aconteceu com você, Kimberlee? – disse se virando para mim – a febre fritou seus miolos? Você percebeu que está defendendo a Ambre?

Neste momento peguei meu celular, abri na mensagem que a Ambre havia me enviado e mostrei para o Castiel:

— A Ambre pestinha e egoísta que conhecemos faria isso?

Castiel pegou o celular da minha mão e leu a mensagem como senão acreditasse no que estava escrito e depois me encarou:

— Ela te mandou a mensagem no dia que você e a Rosa perderam a aula.

— Eu achei que ela poderia ter feito isso por remorso devido ao estado do Lys ou até mesmo por amor ao irmão, mas agora que você disse isso... Pode ter sido porque você também ajudou.

— Ela te pediu dizendo por favor.  

— Sim e nem parecia ser ela.

— Mas era porque este é o número da Aurora. Eu não consigo acreditar... Ela deve estar fazendo o que agora? Rindo de mim com as amigas?

— Eu acho que ela gosta de você de verdade.

— E eu acho que você ainda não está sã ou virou advogada do diabo! Me faz um favor, vai ao médico depois da aula.

Castiel deu as costas para mim e saiu andando, fiquei com raiva e falei sem pensar:

— Castiel nem todas as garotas são como a Debrah.

Nem preciso dizer que me arrependi depois de dizer essa frase, mas Castiel saiu andando normalmente como se não tivesse escutado e eu fiquei parada ali o vendo partir. Percebi algo latente que nunca havia percebido no Castiel, ele tinha medo de se machucar de novo e eu fui uma estúpida que forçou a barra.

Voltei para a escola e entrei no prédio para ficar vagando pelos corredores, no meio da minha peregrinação encontrei com o Nathaniel:

— Bom dia, Kimberlee.

— Bom dia, Nathaniel.

— Está tudo bem?

— Estou ótima, nem estou mais doente.

— Isso é uma coisa boa.

— Com certeza, mas e você... O assunto do atropelamento...

— Um homem foi até a delegacia e disse que viu meu pai no volante, os guardas averiguaram e como não havia mais nenhuma prova eles decidiram investigar mais caso. E foi nessa hora que a minha irmã fez uma besteira.

— O que a Ambre fez?

— Ela disse que foi meu pai e que seria testemunha. Que não seria omissa dessa vez.

— Não acredito!

— Minha mãe sabia que isso iria acontecer porque a Ambre ficou apavorada com o atropelamento. E depois que ela soube que eu ia assumir a culpa ela implorou que eu não fizesse isso. Até que enfim ela disse aos policiais a verdade.

— O que isso custou para ela?

— Ela está sem celular, sem mesada e de castigo.

— Seus pais são engraçados... Quando a Ambre finalmente faz algo certo ela é punida. Assim nunca mais ela vai querer agir corretamente.

—Não seja irônica, Kimberlee.

— Não estou sendo. Ela vai vir para a aula hoje?

— Sim, mas vai vir de ônibus. Meu pai esta realmente bravo com ela.

— Ele não foi preso?

— Ainda não, mas vai para julgamento. A pena é de seis meses a um ano ou pagamento de multa. Por sorte meu pai não perdeu o emprego com tudo isso.

—Você está me dizendo isso para que eu fique feliz pelo pai ou para que eu fique revoltada com a legislação desse país?

— Pensei que quisesse saber que a justiça está sendo feita. E que minha irmã não é a pestinha que você pensa.

— Ah! Nathaniel, não foi isso que pareceu. Já ia te deixar falando sozinho novamente.

— Aquilo foi constrangedor.

— Era isso ou te dar uns tapas.

— Então acho que foi uma boa decisão. – disse sorrindo – Agora me diga por que você parece tão preocupada.

— Acho que eu fiz uma besteira – suspirei – e vou consertá-la de qualquer jeito.

— Vai se meter em confusão?

— Na verdade eu precisava falar com a Ambre.

— Por quê?

— Ela me ajudou em algo e eu queria ajudar ela também.

— Desde quando você e a minha irmã são amigas?

— Desde nunca, mas é algo importante para ela.

— Vou ligar lá na casa dos meus pais e pedir para ela te ligar.

— Obrigada!

— Eu queria que você soubesse que eu me preocupei com o Lysandre e não concordo com a atitude do meu pai. Tudo que eu fiz, mesmo sendo errado, foi pela minha mãe e pela minha irmã.

— Eu entendo Nath. Agora está tudo bem.

Virei-me para continuar meu tour pela escola, até que o Nath me chamou:

— Kimb...

— Sim – me virei- algum problema?

— Eu não pude evitar ver você e o Castiel discutindo lá fora... Aconteceu alguma coisa?

— A verdade... Foi isso que aconteceu.

— Não entendi.

— E se eu explicar o Castiel me mata. Então... Tenha um bom dia. Preciso esperar alguém chegar.

— Ok.

Andei até o pátio onde esperei ansiosamente a chegada do Lysandre, parecia que não nos víamos há séculos, todo mundo chegava menos ele.

Kim e Violette vieram conversar comigo e logo perceberam a minha agitação:

— Guria, porque você está tão nervosa? – disse Kim – Está esperando alguém?

— Estou sim.

— Nós... Estamos atrapalhando? – perguntou Violette – Vamos embora se estivermos.

— Não estão, podem ficar.

— De qualquer jeito, tenho que ver umas coisas de trigonometria com o Nath, então, até mais Kimberlee!

Kim me deixou sozinha com Violette e nós continuamos conversando até Armin, Kentin e Alexy chegarem, Kentin parecia não estar muito contente, ele apenas acenou para nós duas e foi embora, já Alexy e Armin pararam para conversar e não pude deixar passar despercebido o comportamento do Kentin:

— Oi, pessoal! Sabem o que deu no Kentin?

Armin e Alexy se entre olharam e depois de me cumprimentar, Armin colocou o braço sobre os ombros de Violette e disse:

— Vih, tenho uma coisa muito legal para te mostrar no meu caderno.

— O- gaguejou – que?

— Me aventurei no mundo dos desenhos e queria te mostrar no que deu. Já que você é a pessoa mais talentosa que conheço.

— Tudo bem.

— Até logo, pessoal! E parabéns pelo namoro Kimberlee!

Armin saiu com Violette e eu percebi o motivo da tristeza do Kentin. Olhei para o Alexy e ele me confirmou:

— É isso mesmo que você está pensando. Eu estava comentando sobre isso com a Rosalya no telefone ontem e o Armin ouviu e hoje cedo ele comentou com o Kentin.

— Nossa... – suspirei – você sabe que o Kentin gostava muito de mim no passado, não é?  

— Eu acho que ele ainda gosta, pelo jeito que ele reagiu.

— Isso está errado, Alexy! Quando ele foi embora eu fiquei muito triste, triste de verdade, ele quase meu melhor amigo, mas quando ele voltou estava todo estranho e agindo como se imitasse o Castiel, ele até beijou a Ambre! Com toda a certeza, esse Kentin não gosta de mim.

— Negar é pior você não sabe?

— Ele foi grosseiro várias vezes comigo desde que chegou e eu nunca fui má com ele, muito pelo contrário!

— Talvez ele tivesse feito isso para se proteger.

— Não quero perder a amizade do Kentin, Alexy. E eu não gosto dele da mesma forma que ele gosta de mim. Eu amo o Lys.

— Eu sei que ama, mas seria bom se você conversasse com o Kentin.

— O que eu vou dizer? – eu já estava com os olhos marejados, não queria que ninguém sofresse por mim – O que eu digo Alexy?

— Eu não sei... Acho que você deveria apenas fazer com que ele perceba que você se importa com os sentimentos dele.

— Isso não seria dar falsas esperanças para ele?

— Você não vai dizer que o ama. Vai dizer que se importa com ele.

As lágrimas já rolavam pelo meu rosto quando duas mãos cobriram os meus olhos, coloquei as minhas mãos sobre aquelas tentando identificar quem era até adivinhar:

— Lys?

— Você adivinhou rápido demais – Lys disse me abraçando por trás – vou ter que melhorar.

— Vai mesmo – sequei meus olhos rapidamente e me virei para ele – você demorou.

— A Rosalya se atrasou... Porque você estava chorando?

— Nada – desconversei – só entrou poeira no meu olho.

— Você também parece triste...

Rosalya chegou e disse rindo:

— Eis aqui o meu destino... Ficar de vela durante as aulas.

Alexy pegou a Rosa pelo braço e saiu arrastando ela enquanto dizia:

— Vem comigo, tenho uns croquis maravilhosos para te mostrar na sala.

— Mas... Eu... Não me arrasta Alexy!

Lys observou aquela cena curiosa e comentou:

— Ele não percebeu que a mochila dele está nas costas?

— Na verdade ele só queria tirar a Rosalya daqui para ficarmos sós.

— Entendi, agora que estamos sozinhos, você pode me contar porque está triste?

— É complicado...

Lys se sentou em um banco do pátio e me convidou para sentar também:

— Estou aqui para ouvir qualquer coisa de você.

Eu sorri olhando para ele, sentei-me ao seu lado e contei todo o acontecido e no fim de toda a história Lys segurou minha mão firme e disse:

— Tenho orgulho de ter você como minha namorada. Você é inteligente e se importa com os seus amigos. Realmente acho que você deve conversar com o Kentin se acha que isso vai fazer com que ele fique bem e principalmente... – disse beijando a minha testa – se acha que isso vai te fazer ficar melhor. O amor é uma coisa complicada que às vezes nos da conforto e também pode nos machucar. São coisas da vida. O importante é pegar os nossos cacos e seguir em frente, somos jovens e temos uma longa estrada diante de nós.

— Você está certo – sorri secando as novas lágrimas que surgiram – nossa aula vai começar e temos que ir.

Lys se levantou do banco e me deu o braço para que eu o acompanhasse, enlacei meu braço ao dele e juntos entramos na escola, um sentimento totalmente novo me invadiu... Uma sensação de “finalmente” acompanhada de “não pode ser real”, toda essa sensação foi incrível, me sentia segura perto do Lys, um sentimento incomparável de poder dizer qualquer coisa e ser compreendida, não havia dúvidas de que eu amava o Lysandre, nunca houve, nós sempre tivemos aquela química de que “era para ser”, podem chamar de destino, carma, escrito nas estrelas, imagine qualquer coisa, mas isso sempre foi amor. Muitos alunos nos olhavam, mas nós ignorávamos, era como se naquele lugar só existisse eu e ele, chegamos à sala e sentamos lado a lado.

Juro que tentei prestar atenção nas aulas, mas não consegui, tinha o Lysandre maravilhoso ao meu lado me distraindo e ainda por cima a conversa que eu queria ter com a Kentin bagunçando a minha mente.

Cabeça cheia de pensamentos e coisas que eu tinha que resolver, cheguei ao ponto de não planejar nada para falar com o Kentin, no intervalo das aulas eu sai junto com Lys e a Rosa, tentei achar o Kentin para conversar, mas ele sumiu do meu campo de visão. Mais tarde, no fim das aulas, Lys me deixou em casa e depois que eu tomei banho e fiz um lanche, decidi ir dar uma volta sozinha no parque, andei sem rumo por alguns minutos até que ao longe vi o Kentin sentado na grama e encostado em uma árvore, jogando uma bolinha para o seu cachorro desanimadamente, aquilo me partiu o coração, andei devagar e hesitante até ele e quando estava perto o suficiente para iniciar uma conversa ele se manifestou:

— O Alexy te mandou vir falar comigo? Não precisa Kimberlee. Vai ser feliz.

— Eu não posso – disse me sentando ao lado dele – não posso simplesmente ser feliz com você nesse estado por minha causa. Eu me preocupo com você e não quero te ver infeliz.

— O meu consolo é que pelo menos não foi pelo Castiel que você se apaixonou – disse com um riso melancólico – pelo menos eu sei que o Lysandre é um cara legal.

— Eu sinto muito, Kentin. Sinto muito por não te amar do jeito que você me ama.

— Você não tem pelo que sentir. Ninguém escolhe por quem vai se apaixonar e eu realmente torço pela sua felicidade.

— Não quero te ver triste ou chorando por mim – retruquei com lágrimas nos olhos - Nunca vou conseguir ser feliz sabendo que você está triste por minha causa.

— Como eu te disse depois que voltei da escola militar, nunca vou esquecer de como você foi minha amiga, da sua gentileza e de como me deu apoio quando eu sofria bullying. Você me viu com bons olhos quando eu não tinha nada para oferecer, então, você não tem a obrigação de me dar satisfação nenhuma, mas eu admiro que tenha se importado com meus sentimentos. Você não pode evitar amar o Lysandre e não a mim, então só desejo que você seja muito feliz com ele... Não é isso que quem ama de verdade tem que desejar? Só peço que me deixe sentir essa tristeza de agora, ela não vai durar muito tempo. Preciso sentir essa dor da perda, afinal eu perdi um amor e não uma bala. Agora vá ser feliz com quem você ama... Eu vou ficar bem.

— Você me promete? – perguntei secando minhas lágrimas – Promete que vai ficar bem?

— Eu prometo – respondeu tristonho – só que não hoje... Talvez amanhã porque amanhã será um dia diferente. Pode dormir tranquila e ser feliz.

— Então amanhã eu vou cobrar.

— Tudo bem... Agora está ficando tarde, acho que você deveria ir para casa.

— Eu estou indo... Então até amanhã.

— Até amanhã.

Fui para casa sem saber direito como me sentia. Preferi ficar no meu quarto com meu abajur de estrelas ligado. Olhava para as estrelas projetadas no teto e suspirava até que minha mãe bateu na porta do quarto:

— Já está dormindo, Kimberlee?

— Não mãe, pode entrar.

Minha mãe entrou com o telefone na mão e disse:

— É uma ligação para você.

— Quem é?

— Uma amiga sua o nome dela é Ambre.

Minha mãe me deu o telefone e saiu do quarto:

— Ambre?

— Sim, sou eu. O que tanto você quer falar comigo?

— Castiel já sabe que você é a Aurora.

— Como? Quem contou?

— Castiel não é burro e em parte eu ajudei.

— Eu vou te matar Kimberlee!

— Não, você não vai! Eu estava falando com ele e acho que ele está pensando que você o engana para rir com suas amigas.

— Isso não é verdade!

— Eu disse isso para ele, mas ele não acreditou e me chamou de doente e de advogada do diabo.

— Isso é tudo culpa sua.

— Não, não é. E você sabe disso. Fica espalhando essa sua fama de pestinha pela escola e agora ninguém acredita que você seja uma boa pessoa. Eu tentei te ajudar, mas agora é por sua conta.

— Ele não vai querer falar comigo.

— Não vai te fazer mal se você tirar essa máscara que você usa de vez enquanto. Sei que você não é uma pessoa ruim. As coisas que o Castiel me disse sobre a Aurora... Que ela gostava de rock e era uma garota legal, os olhos dele chegavam a brilhar. Se sua verdadeira eu for assim vou ficar muito feliz em te ajudar a ficar com o Castiel, mas se você mentiu para ele e o estava enganando fingindo ser algo que não é eu vou até a sua casa te bater. O Castiel já se feriu bastante com a Debrah e eu não vou deixar ninguém ferir meu amigo de novo!

— Talvez eu deva desistir mesmo. Castiel não me suporta e já deixa isso claro. Tive que ser outra pessoa para que ele aceitasse conversar comigo. Isso não vale a pena.

— Você ama o Castiel, Ambre?

— Por que está me perguntando isso?

— Porque se você o ama vale a pena sim fazer tudo isso.

Ambre ficou em silêncio no telefone. Eu só conseguia ouvir uma respiração lenta e descompassada, ela parecia estar chorando ou prestes a chorar e aquilo me deixava triste também.

Foi quando de repente meu celular vibrou e eu o peguei para olhar, havia uma mensagem do Castiel, antes que eu pudesse ler, ouvi uns sons estranhos na ligação com a Ambre e perguntei:

— O que está acontecendo ai?

— Alguém esta jogando pedrinhas na minha janela. Vou tentar olhar.

— Qualquer coisa chama polícia.

— Não precisa – disse com uma voz risonha – eu sei quem é.

Ambre desligou a ligação na minha cara e nem preciso dizer que não fiquei surpresa, então novamente dei atenção ao meu celular e resolvi ler a mensagem do Castiel:

Castiel: Nem todas as garotas são como a Debrah... Tomara que esteja certa tábua.


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Notas finais do capítulo

Referências:
Episódio 1:Uma nova escola
Episódio 2: Conheça os clubes
Episódio 3: O cãozinho sumiu!
Episódio 13: Aumente o volume!
Episódio 15: Um pulo no tempo
Episódio 16: A máscara perfeita
Episódio 17: A máscara caiu
Episódio 28: Um jantar quase perfeito

Músicas que inspiraram o capítulo e me tiraram do bloqueio criativo:
Last Time - Taylor Swift e Gary Lightbody
Tomorrow - Avril Lavigne
I will be - Avril Lavigne

O capítulo ia ter imagem, mas não consegui enviar o link do Tumblr... :(
Quem quiser ver a imagem é só acessar meu tumblr: http://lethfersil.tumblr.com/image/150737800070



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