Lost Memories escrita por LethFersil


Capítulo 3
Tales about Alice


Notas iniciais do capítulo

Oiie! Demorei para postar, mas aí está o capítulo 3.
Boa leitura ♥



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Nós estávamos ali abraçados no meio do quarto e por alguns instantes eu podia jurar que o Lysandre me olhava como se lembrasse de tudo, era um momento perfeito, porém depois de alguns minutos Lys ficou corado e até um pouco constrangido por causa daquela situação, a princípio compreendi e me afastei um pouco, assim, sem dizer nada, olhei no relógio e percebi que já estava tarde, era quase seis horas da tarde e ele precisava descansar:

— Lys... É... Já está tarde e eu preciso ir para casa.

Ele me olhou com certo descontentamento, mas sorriu compreensivo dizendo:

— Tudo bem, tenha um excelente fim de noite e – ficou pensativo – se puder vir aqui amanhã... Eu adoraria te mostrar alguns dos “contos sobre a Alice” que eu tenho escrito em meu bloco de notas.

— Sim, eu venho. – tive uma idéia que me pareceu boa, ir ao hospital no dia seguinte vestida de Alice com a roupa da peça, mas preferi não comentar - Então até amanhã.

Lysandre me olhou como se estivesse com dúvida, ele parecia querer me perguntar algo e aquilo realmente me incomodou, andei até a porta de saída do quarto e foi neste momento que ele me indagou:

— Kimberlee...

— Algum problema?

— Bem, a lembrança que eu tive foi relacionada ao Castiel - ele parecia envergonhado - Eu queria saber se você e ele têm algum tipo de relacionamento...

Eu não consegui conter a minha gargalhada. Aquilo foi muito engraçado, ele estava pensando que eu e Castiel éramos um casal!? Lys estava confuso com a lembrança e aquilo era totalmente compreensível, mas eu e o Castiel não tínhamos nada incomum e por mais que às vezes eu tentasse ajudá-lo era mais por conta do Lys. Foi difícil parar de rir eu já estava até vermelha de tanto dar risada, mas o Lys permanecia sério e aquilo me intimidou:

— Isso pareceu engraçado para você? – Lys me questionou sério.

— Não... É que – respondi me recompondo – é tão absurdo que soou engraçado. Eu e o Castiel convivemos civilizadamente e boa parte desse civilizadamente se deve a você. Eu o ajudei com a história da Debrah porque você ficou arrasado pensando que ela o tiraria da banda de vocês. Então eu fui ajudá-lo, mas como amiga. Eu e Castiel somos o casal mais improvável que você poderia imaginar.

— Entendi, então até amanhã.

— Até manhã.

Lys parecia aliviado depois de ouvir minha resposta e isso para mim foi de bom tamanho, aos poucos ele estava se lembrando.

Deixei o quarto e procurei por Rosalya pelos corredores, mas encontrei com mãe do Lys a senhora Josiane, ela parecia meio perdida:

— Senhora Josiane?

— Olá! Você é a amiga do Lysandre?

— Sim, sou eu.

— Estava procurando pela Rosa, mas não a encontro em lugar nenhum.

— Acho que podemos encontrá-la juntas, também preciso falar com ela. Talvez ela esteja na lanchonete aqui do hospital.

— Tudo bem, vamos até lá... Kimberlee é o seu nome?

— Isso! – sim eu fiquei muito feliz por ela lembrar meu nome – Que bom que você lembrou meu nome.

— É que é só disso que o meu Lysandre fala. É Kimberlee, Kimberlee e quando não é o seu nome é uma tal de Alice.

Nós duas rimos e continuamos procurando a Rosalya pelo hospital. Como eu disse antes, ela estava na lanchonete, está para nascer alguém que ame comer mais do que a Rosa. Eu pensei assim, mas o comentário indiscreto veio por parte da senhora Josiane:

— Rosa você não se cansa de comer?

— Dona Josie! É só a segunda vez que venho aqui hoje.

— Não sei para onde vai tanta comida.

Foi involuntário, mas eu ri e as duas me olharam como se quisessem me devorar, parei imediatamente:

— Me desculpa. Bom, eu tenho que ir está ficando tarde. Você vai também Rosa?

— Não, vou esperar o Leigh. Ele foi falar com a polícia, parece que eles têm novidades sobre o motorista que atropelou o Lys.

— Espero mesmo que a polícia pegue essa pessoa e que ela fique presa por um bom tempo.

— Quero que seja feita a justiça – disse Josiane – uma pessoa como essa não pode ficar livre.

A conversa se estendeu e eu tive que deixá-las. Acabou que eu nem falei para Rosa sobre a minha idéia de ir visitar Lys vestida com as roupas da peça, mas enfim, segui para minha casa, com sorte eu ainda chegaria a tempo para jantar com a minha família.

Já na esquina da minha casa eu encontrei com Castiel, passei por ele e percebi que sua concentração olhando para o celular era tão grande que ele não me viu, parecia uma conversa importante, tentei imaginar quem seria a pessoa que merecia tanta atenção assim, mas enfim, entrei em casa e deu tempo de jogar um pouco de vídeo game com meu pai antes do jantar.

Durante o jantar nada além do normal aconteceu, tentei agir o mais normal possível para não ser interrogada pela minha mãe e já garanti a minha saída no dia seguinte.

Antes de dormir eu pensei em ligar para a Rosalya, seria importante saber o que ela achava da idéia. Foi exatamente isso que eu fiz:

— Rosa?

— Sim, sou eu Kimberlee.

— Te liguei porque eu tive uma idéia hoje mais cedo, mas nós não tivemos tempo de conversar a sós.

— Olha, Kimb... A situação está complicada.

— Complicada como, Rosa? – perguntei preocupada.

— Uma câmera de um prédio perto da escola conseguiu fotografar o carro do monstro que atropelou o Lys.

— Você conhece essa pessoa, Rosa?

— De vista, mas você conhece essa pessoa muito mais. Até dormiu na casa dela.

— Não me diga que...

— O carro está registrado como sendo do pai do Nathaniel, só que a câmera não pegou o rosto dele então ele pode alegar qualquer coisa.

— Inclusive que o carro foi roubado.

— O Leigh está com a mãe na delegacia e eu tive que vir para casa. Estou esperando notícias deles.

— E eu aqui querendo te preocupar com coisas menos importantes...

— Não, Kimb. Pode perguntar o que ia me perguntar.

— Eu pensei em ir ao hospital amanhã vestida com a fantasia de Alice, para ver se o Lys consegue se lembrar ao menos da peça.

— É uma boa idéia, mas leva a roupa na bolsa e se troca no hospital. As pessoas podem estranhar.

— Ah... Isso é óbvio, Rosa.

— Alguém anda cheia de atitude, estou gostando de ver. Você devia ter se visto apavorando a Ambre hoje cedo, acho que nem precisava ter dado o número do Castiel ela já estava quase sujando as calças de medo.

— Putz! – acabei por me lembrar da cena que vi a poucos instantes do lado de fora da minha casa e comecei a rir de nervoso – não creio.

— O que houve Kimb?

— Eu acabei de ver o Castiel na rua e ele passou por mim como se eu não existisse. – disse me recompondo – Ele parecia muito empolgado com umas mensagens, me pergunto se não era com a Ambre que ele estava conversando.

Rosalya estava rindo enlouquecida, rindo tão alto que eu conseguia ouvir até quando o telefone estava distante do meu ouvido:

— Rosa? Rosa? Você está bem?

— Ai... Ai... Meu deus! Imagina Kimb. Ambre e Castiel juntos!

— Eu estou imaginando como vai ser minha morte quando o Castiel descobrir que eu dei o numero dele para ela.

— Não exagera! Castiel é meio bruto, mas nunca mataria ninguém. Muito menos a namorada do melhor amigo dele. Se você disser os seus motivos talvez ele compreenda.

— Castiel é imprevisível e ele não sabe que eu namoro o Lys... Piorou agora que nem o próprio Lys sabe que está namorando comigo.

— É, uma situação difícil.

— Você acredita que o Lys se lembrou do episódio com a Debrah e pensou na possibilidade de eu e Castiel sermos um casal? Quando ele me perguntou isso eu só consegui dar risada.

— Acredito que você tenha rido sim, você é a rainha dos risos em momentos inapropriados. Fico pensando o que levou o Lys a chegar nessa conclusão.

— Eu também.

— O Lys nunca viu vocês dois em alguma situação comprometedora?

— O que você quer dizer com isso?

— Deve ter uma razão, pense um pouco nisso.

— Eu vou pensar, boa noite.

— Boa noite.

Não preciso dizer que dormi super mal essa noite pensando no que o Lys poderia ter visto, tentei imaginar e nada veio na minha mente. O pior é que existia outra preocupação e essa muito maior do que a primeira, se o pai do Nath realmente atropelou o Lys, muito mais gente que o previsto seria prejudicada com essa história.

Na manhã seguinte fui à escola com meus pensamentos dominando a minha mente, totalmente distraída e justamente por causa disso acabei esbarrando no Castiel, o esbarrão foi tão forte que ambos caímos no chão:

— Caramba! Você não olha por onde anda não? Disse Castiel nervoso.

— E você muito menos! – percebi que o celular dele estava no chão perto de mim, peguei e entreguei para ele – Tenta prestar atenção no ambiente ao invés de ficar no celular. De distraída aqui já basta eu.

— Obrigado – disse pegando o celular da minha mão de forma brusca.

— De nada – eu respondi caçoando – Não vamos levantar não, vamos ficar aqui pelo chão mesmo?

Encaramos-nos por alguns instantes depois nos levantamos do chão, felizmente ninguém se machucou e nós acabamos seguindo para a sala de aula juntos e conversando:

— Com quem você tanto troca mensagens?

— Não é da sua conta.

— Ontem você passou do meu lado na rua da minha casa e não me viu.

— Como tem tanta certeza de que eu não te vi? Posso ter te ignorado de propósito.

— Você é grosso, antissocial, rude e adora fazer comentários irônicos e sarcásticos sobre mim, mas não é mal educado, disso eu tenho certeza. Pelo menos uma saudação sarcástica você faria se tivesse me visto.

— Nossa... Não sabia que você tinha essa visão de mim.

— Ah... Para. Eu sei que você não ficou chateado de verdade.

— Com certeza, não me importo com o que você ou qualquer pessoa aqui pensa de mim.

Chegamos à sala de aula e andamos direto para as mesas do fundo, Castiel sentou-se no canto da parede, eu deixei meus materiais perto da mesa do Alexy e me aproximei do Castiel:

— Não vai me dizer mesmo com quem está falando?

— Como você é insistente – disse irritado – ela me pediu para chamá-la de Aurora, me mandou mensagem por engano, mas é uma garota legal. Gosta das mesmas coisas que eu e não me chama de grosso.

— Eu não acredito que você realmente ficou magoado com o que eu disse.

— Nem eu.

Outra aula se iniciou e eu não prestei muita atenção, fiquei flutuando em meus pensamentos até o término da aula. Quando o sinal tocou e todos saíram percebi que a Ambre havia faltado e que o Nath parecia nervoso, provavelmente já haviam avisado o pai dele de que ele era suspeito do atropelamento de Lys.

O nervosismo do Nath estava tão grande que enquanto arrumava os materiais para ir à sala da próxima aula que ele acabou esquecendo seu celular desbloqueado sobre a cadeira da sala de aula, eu peguei minha mochila e antes de sair da sala peguei o celular de Nath. Juro que não foi por vontade minha, o aplicativo de mensagens instantâneas do Nath já estava aberto na conversa dele com a mãe e eu acabei lendo o que não devia. Para ser mais especifica, a Adelaide, a mãe do Nath relatou a ele todo o problema com o atropelamento, contou para ele que o Francis estava nervoso e admitiu que foi irresponsável a atitude de não prestar socorro, mas o que me deixou horrorizada foi o pedido que ela fez cheio de chantagem emocional... Ela pediu que o Nath assumisse a culpa e contasse à polícia que ele pegou o carro escondido do pai. Fechei a tela da conversa imediatamente e procurei o Nath pelos corredores para devolver o celular, corri praticamente a escola inteira para encontrá-lo no vestiário, não sabia exatamente o que ele faria ali já que a próxima aula seria em quinze minutos no laboratório de ciências, mas ele estava lá deitado em um banco do mesmo jeito que eu costumo ficar quando estou triste e vou ao vestiário para pensar, me deitei no banco ao lado sem que ele percebesse e iniciei a conversa:

— Parece que não sou só eu que venho aqui para pensar.

— Kimberlee! – disse assustado depois de levantar abruptamente – O que veio fazer aqui?

— Vim te devolver isso – entreguei o celular e me sentei no banco de frente para ele – O dia deve estar bem tumultuado para você fazer cosplay de Lysandre.

— Cosplay de Lysandre?

— Sim – respondi rindo – ele que costuma esquecer as coisas dele pela escola e por alguma razão eu sempre acabo encontrando.

— Você já foi visitá-lo? – Nathaniel parecia preocupado.

— Sim, ele esta bem e não corre nenhum risco. Só não se lembra de alguns acontecimentos recentes, mas eu e a Rosa estamos ajudando ele a se lembrar.

— Isso é bom. Você parece gostar bastante dele.

— Gosto sim.

— O que você pensa da pessoa que o atropelou.

— Então... Foi uma irresponsabilidade sem tamanho. Me pergunto se essa pessoa não tem filhos, família, se ela não se importa com a dor dos outros? – percebi que o Nathaniel ficou meio sem graça e tentei com indiretas fazê-lo não obedecer à mãe – Deve ser uma pessoa totalmente egoísta e desprovida de sentimentos, aposto que se tiver filhos essas crianças devem sofrer demais com as atitudes dele. Deve ser o tipo de pessoa que obriga os filhos a omitir coisas erradas que ele faz. Quero muito que ele seja pego e pague pelo que fez ao Lys.

Nathaniel me olhou assustado, pareceu por um segundo que ele havia percebido o que eu queria dizer e que a minha indireta não foi tão indireta assim:

— Concordo com você, Kimberlee.

Olhei no relógio e percebi que já era hora da aula da professora Delanay:

— Já temos que ir Nath, deu o horário. O pior é que eu nem faço idéia de onde está a minha dupla.

— A Rosalya vai entrar agora no segundo período, ela ligou mais cedo para avisar.

— Menos, mal. Vamos Nath!

— Pode ir. Eu vou depois.

— Tudo bem.

Andei até a porta de saída do vestiário até que Nath disse:

— Kimberlee...

— O que houve?

— O que você faria se descobrisse que quem atropelou o Lysandre foi algum amigo seu?

Chegamos ao ponto de check, Nath me fez essa pergunta como alguém pede um conselho, eu deveria pensar muito antes de dar a resposta e fiz o possível para fazê-lo desistir dessa idéia:

— Isso não teria cabimento lógico... Todos eles estavam dentro da escola quando houve o acidente, eu vi. A não ser que vocês tenham arrumado alguma forma de aparecer em dois lugares ao mesmo tempo.

Nathaniel ficou surpreso, parecia não esperar aquela resposta de mim, mas enfim, ele sorriu e disse:

— Faz sentido.

— Até logo, Nath.

— Até logo, Kimb.

Fui até o laboratório ainda tensa por causa da conversa com o Nathaniel. Rosa já estava na sala, mas eu evitei falar sobre isso naquele momento. Depois do fim da aula quando eu e Rosa estávamos indo para o hospital, decidi tocar no assunto:

— Rosa, eu vi uma coisa muito preocupante hoje.

— Tem relação com a Ambre e o Castiel?

— Não... Ele parece feliz falando com a Aurora dele.

— Calma aí, me conta essa história direito! – a empolgação de Rosalya me assustou.

— Depois, Rosa. O que me preocupa é o Nathaniel.

— Por quê?

— Hoje no fim da aula o Nath esqueceu o celular na sala de aula. A tela estava desbloqueada e aberta em uma conversa dele com a mãe. O que eu li me deixou horrorizada.

— E o que você leu?

— A mãe do Nath estava pedindo para que ele assumisse a culpa do pai! Ela confessou tudo na conversa e ainda fez uma chantagem emocional ridícula dizendo que se ele não fizesse isso a família estaria arruinada, ela e Ambre não teriam onde morar e ficariam a mercê da sorte.

— Não acredito! Acho que já sabemos quem ganhou o troféu de piores pais do ano.

— Não brinca Rosa. Ele parecia aflito e até me perguntou o que eu faria se descobrisse que a pessoa que atropelou o Lysandre é um amigo meu!

— O que você disse para ele?

— Eu disse que sabia que não tinha sido nenhum dos meus amigos porque eu vi todos dentro da escola antes do acidente. Assim se ele for à polícia e disser que foi ele que atropelou o Lys eu meio que poderia testemunhar desmentindo, na verdade todos nós poderíamos.

— Entendo... Situação complicada essa.

— Espero que ele não ceda à pressão dos pais.

— Eu também.

Quando chegamos ao hospital Rosa saiu à procura de Leigh e eu corri para o banheiro e vesti a bendita roupa de Alice. Depois fui até o quarto de Lys e bati na porta, ele permitiu que eu entrasse e de inicio encarou a roupa com estranheza:

— Kimberlee... Eu me lembro dessa roupa...

Andei até ele rapidamente e olhei em seus olhos e disse:

— Consegue se lembra do que estava acontecendo?

— Um pouco... É como se fosse um teatro.

— Isso! Sim foi em uma peça de teatro da escola.

— Alice no país das maravilhas.

— Você fez o papel do coelho e eu de Alice.

— E depois disso substitui todas as repetições de seu nome por Alice no bloco de notas.

Fiquei surpresa com essa última revelação e não consegui esconder isso. Arregalei meus olhos e sorri de tanta felicidade, poderia pular em cima dele e beijá-lo naquele mesmo momento, mas me contive só que já era tarde demais, pois ele já tinha percebido minha euforia:

— Está tudo bem?

— Claro... Quer dizer... Não poderia estar melhor.

— É que você está muito eufórica.

— Eu só fiquei feliz – corei – porque você lembrou algo relacionado a nós. Para a minha surpresa algo que eu nem ao menos sabia.

— Sim, eu também fiquei feliz e queria te mostrar alguns contos sobre a Alice que eu escrevi no meu bloco de notas.

Lys havia mudado bruscamente seu tom de voz ao falar comigo e logo percebi que o que ele iria me mostrar não seria nada agradável, fiquei tensa, e concordei em sentar ao lado dele na cama para saber o que ele pretendia me mostrar:

— Bom, Kimberlee – ele hesitou – vamos começar da primeira vez que falei sobre a Alice no bloco de notas.

— Tudo bem.

Lys abriu o bloco de notas e não sei dizer o que eu estava sentindo, sabia que coisa boa não sairia dali, era um pressentimento ruim, algo impossível de descrever.

Alice é uma garota aparentemente gentil, prestativa, e com lindos olhos azuis, impossível esperar algo que não seja bom dela. Primeiras impressões, como as odeio. Achava que ela seria incapaz de qualquer maldade, confiei em suas boas intenções e ela quase separou o meu irmão da Rosalya... Alice parece ser mais uma daquelas meninas inconsequentes, uma total decepção...”

 

— O que acha desse trecho? – perguntou Lys me olhando de forma neutra, não parecia com raiva.

— Isso aconteceu há bastante tempo... Inclusive eu e a Rosa somos melhores amigas agora. É passado.

— Vamos continuar?

— Sim.

Lys passou algumas páginas com letras de canções e parou em uma com alguns rabiscos.

Alice parece se esforçar para ser alguém melhor, sempre a vejo ajudando os outros. Talvez a teoria de que ela seja uma menina inconsequente seja real. Tento não julgá-la, mas quando me lembro do que ela fez acho impossível não comentar, por incrível que pareça ela se esforça para se aproximar de mim e vejo que Rosa já parece não estar com tanta raiva dela sim, Talvez Alice mereça outra chance.

Lys virou para outra página.

“Outra chance dada, mas Alice prefere outros tipos de companhia... Do tipo loiro, alto, surfista e que a trate como um objeto. Eu desisto.”

 

— Lys... – percebi que ele já não parecia mais feliz – Aconteceram tantas outras coisas que não estão escritas aqui...

— Eu sei e vou te mostrar tudo – disse virando outra página – preciso me lembrar tudo.

Corrida de orientação... se Castiel não fosse minha companhia com certeza eu me perderia em meio à imensidão da floresta. Eu não me perdi, mas Alice e seu novo amigo sim, não parece ter sido proposital ela está machucada e seu amigo teve que carregá-la. Isso não teria acontecido se eu estivesse com ela, acabo de arrepender-me.”

 

— Sabe me dizer do que ao exato eu me arrependi?

— Não sei – eu já estava trêmula – talvez tenha se arrependido de ter negado o meu convite... Eu te chamei para ser minha dupla na corrida de orientação e você me mandou chamar o Dake para ser minha companhia.

— E você o chamou?

— Não. Eu fui com o Nathaniel e não foi culpa dele eu ter me machucado. Só cai porque sou muito curiosa.

— Nathaniel é uma pessoa responsável, não entendi porque eu escrevi isso. – Lys ficou pensativo por alguns instantes – Li algumas páginas que falavam de você e do Castiel, agora entendo porque você riu tanto quando eu pensei que vocês estivessem juntos. Vocês se odeiam.

— Não é que eu odeie o Castiel, só não me acho obrigada a amá-lo e isso é recíproco por parte dele.

— E mesmo assim você abriu os olhos dele com a história da Debrah.

— Você não lembra como você ficou arrasado quando soube da volta dela? Eu quis te consolar e também te ajudar só que as coisas ficaram difíceis pra mim e eu tive que me isolar – me lembrar da Debrah me fazia sentir um ódio e que nem percebi que estava com o rosto vermelho e quente – ai você apareceu e me acalmou.

— Se acalme... Percebo como essa história te afeta e tenho mais algo para te mostrar.

Lys avançou algumas folhas e deu o bloco de notas em minhas mãos, ele parecia ansioso, seu rosto estava corado e percebi que ele estava hesitante:

— Você quer mesmo que eu leia?

— Eu preciso que você leia.

Peguei o bloco de notas e iniciei a leitura.

“Alice me confunde... É o exemplo perfeito da dualidade do ser humano. Foi capaz de tentar separar o Leigh da Rosa, isso é fato, mas com seu jeito naturalmente doce e gentil conseguiu desfazer essa situação ruim e se mostrar novamente uma pessoa boa.

Depois de tantas aproximações e tentativas falhas finalmente ela parece estar fazendo algo certo. É incrível como o sorriso dela foi capaz de apagar o fiasco na praia. Depois da corrida de orientação fiquei sem saber como me aproximar, como mostrar que eu fiquei realmente preocupado com o acidente na floresta, mas ela apenas sorriu como se não tivesse ficado magoada com o que eu disse sobre ela e o rapaz na praia.

Sei que Alice é uma garota gentil, prestativa, doce e inconsequente, mas também sei que ela não é uma garota rude e que não seria capaz de ferir ninguém fisicamente. Castiel uma vez me disse que Alice é uma garota gentil, muitos me disseram isso também, acredito que isso quer dizer que eu não errei em meu julgamento. Por enquanto...

                                                             ***

Ouvi coisas não tão agradáveis a respeito de Alice, mas não acreditei que fossem verdades, a vi correndo arrasada para o vestiário masculino e a segui até lá... A tristeza de Alice me tocou, conversei com ela e percebi que ela estava sendo injustiçada. Tentei ajudá-la de todas as formas e no fim deu tudo certo, a “víbora” foi embora e deixou meu amigo e Alice em paz.

Depois de tudo isso Castiel me confessou admirar Alice, nunca conheceu alguém que fosse capaz de tanto para vê-lo bem e longe de qualquer pessoa ruim, ninguém além de mim.

Ela parece tão perfeita, tão linda e tão gentil que mal posso descrever, ela consegue fazer com que todos gostem dela, como um imã... Confesso que também me sinto atraído por ela.”

 

Terminei a leitura e olhei para o Lys. Ele me olhava fixamente com se buscasse por algo que não estava em seu campo de visão, era como se ele conseguisse olhar através de mim, com certeza ele esperava que eu dissesse algo, mas eu não conseguia pensar em nada para dizer e todo aquele silêncio estava se tornando constrangedor. Respirei fundo e achei que poderia falar algo sobre o que eu sentia também, já que no bloco de notas ele parecia estar bem decidido sobre o que estava sentindo por mim. Fechei o bloco de notas e o coloquei sobre a cama, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, Lys se manifestou:

— Nunca permiti que ninguém lesse meu bloco de notas. Nunca permiti porque nele está escrito meus pensamentos mais íntimos e secretos. Não entendo porque você é diferente dos outros... Eu não me lembro do porque, mas você não é qualquer pessoa... Eu só sinto isso. Mesmo lendo sobre coisas ruins que você fez no passado e ficando revoltado eu não consigo te evitar. Pensei em te mandar mensagem e te pedir para não vir hoje, mas eu desisti depois que li essas páginas. Você de alguma forma é importante para mim e é uma pessoa que vale a pena ser lembrada.

— Tudo bem, Lys – eu disse me aproximando – eu também quero que você se lembre de mim, mas você parece confuso.

— Enquanto eu lia esse bloco de notas uma enxurrada de lembranças ruins vieram em minha mente. Lembrei-me do tal surfista o Dake, de como a Rosa ficou angustiada quando você tentou separá-la de Leigh... Essas lembranças ruins me confundem... Quem é você?

Fiquei em silêncio... Pensei que tudo estava dando certo, ele iniciou toda essa conversa de forma calma, mas agora estava me confrontando com se todas essas besteiras que eu fiz no passado tivessem acontecido ontem. Acho que não preciso dizer que a essa altura eu me calei para não chorar. Lys por outro lado se aproximou e olhou nos meus olhos:

— Eu quero lembrar as boas coisas sobre você. O que eu tenho que fazer?

— Não sei – disse o encarando de volta – e a cada minuto está mais difícil saber.

— Faça qualquer coisa, eu só quero me lembrar.

Minha atitude foi inconsequente ( com certeza para Lys não foi novidade ele já me descrevia assim) e totalmente movida por emoções, aquela situação era um total pesadelo e eu precisava despertar daquilo. Sem mais delongas eu o beijei. Foi um beijo rápido e depois continuei o encarando, enquanto ele permanecia parado na minha frente imóvel e fiquei na esperança dele ter se lembrado de algo.

Para a minha surpresa Lys não parecia incomodado com a minha atitude. Ele colocou suas mãos no meu rosto e seu olhar desta vez parecia mais calmo, estava tudo dando certo novamente e eu não ia deixar nada atrapalhar aquele momento, Lys me beijou e foi exatamente como da primeira vez, me enchi de esperança, talvez ele tivesse realmente se lembrado. O momento estava perfeito até a Rosa entrar de supetão na porta com um olhar assustador dizendo:

— Kimberlee, você precisa vir comigo!

Lys rapidamente se afastou e eu tentei me recuperar do susto questionando Rosa:

— O que houve Rosa?

— Sobre o que você me contou mais cedo... Nath fez uma burrada.

— Não, Rosa... Ele não...

— Precisamos conversar lá fora, desculpa Lys.

Olhei para Lys sem saber o que falar, mas a enrascada que o Nath estava se envolvendo poderia arruinar a vida dele para sempre. Andei até a porta do quarto ainda olhando para ele e disse:

— Me desculpa por sair assim, mas meu amigo precisa de mim.

— Vá... Você é minha garota gentil.


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Notas finais do capítulo

*As referências não mudaram muita coisa em relação ao capítulo anterior, com algumas diferenças já que no capítulo da praia a Kimberlee trocou o Lys pelo Dake e por causa disso no capítulo da corrida de orientação ele se nega a fazer par com ela, então, Kimberlee acabou indo com o Nathaniel.



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