Lost Memories escrita por LethFersil


Capítulo 2
The Storm


Notas iniciais do capítulo

Oiie :)

Nesta nota inicial eu passei para dizer que as postagens de capítulos vão ser irregulares mesmo, vou postar três ou dois capítulos por semana ou as vezes nenhum porque escrevo os capítulos quando tenho tempo e até o momento estou sendo favorecida com essa rotina tranquila.

Boa leitura ♥



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Rosalya me olhava fixamente e eu só conseguia fazer o mesmo enquanto secava o meu rosto. O silêncio gélido entre nós era corrosivo, parecia ter tão pouco ar naquele local, parecíamos duas inimigas se confrontando, mas dentro de mim eu sabia que não isso, Rosa era minha amiga... Mais que amiga, muito mais, era quase como uma irmã e estávamos ali uma olhando para outra como se nos odiássemos, aquela situação era mil vezes pior do que quando a Rosa descobriu que eu estava dando em cima do namorado dela, ela parecia com raiva, mas não estava. Ela estava magoada, muito mais do que eu. Lembro-me que quando ela descobriu que eu estava tentando separá-la de Leigh ela gritou, berrou, disse coisas que eu precisava ouvir para aprender a agir corretamente com os outros, muito diferente de agora que ela está em silêncio. A certeza de todas as minhas dúvidas se concretizaram quando as lágrimas começaram a cair pelo rosto dela, eu nunca tinha visto ela chorar, bom, para tudo tem uma primeira vez.

Permaneci em silêncio porque se eu falasse qualquer coisa naquele momento também iria chorar, esperei que ela começasse e ela assim o fez:

— Caramba Kimberlee, porque você está me evitando? Eu fiquei preocupada com você quando te vi sair transtornada do hospital. Te liguei o final de semana inteiro, mandei mensagem, achei que todo aquele assunto estivesse resolvido! Você está com raiva de mim por causa do Lys? Você não acredita no que eu disse? - Rosalya fez uma pausa para secar seu rosto e continuou - Porque você não fala nada!?

Suspirei para conter as lágrimas, mas isso só fez com que elas caíssem mais depressa. Eu precisava dizer tudo que eu estava sentindo ou seria sufocada por minhas palavras não ditas:

— Rosa... Eu estava aceitando bem o fato do Lys ter me esquecido, estava magoada sim, mas não a ponto de querer sumir. Só que você não ouviu o que eu ouvi, ele disse que tinha uma ligação com você, e depois aquele abraço, eu me senti desnecessária. Eu senti como se tudo que vivi com ele tivesse sido uma mentira contada por alguém cruel. Depois eu comecei a lembrar de algumas coisas do passado que fizeram todo sentido agora.

— O que, por exemplo? Disse Rosalya se sentando ao meu lado.

— O poema que o Lys fez para tentar te reaproximar do Leigh. Não te entreguei, mas eu li. Foi a sensibilidade do Lys que fez com que eu me apaixonasse por ele... Mas com tudo isso eu percebi que tudo que estava escrito no poema eram sentimentos dele por você. Sentimentos verdadeiros que ele nunca teve coragem de demonstrar. Quando eu percebi isso senti uma raiva terrível que ardeu dentro de mim, um ódio enorme que eu senti de você. E também um pouco de inveja. Mas não posso te odiar por ser amada pelo Lys, você não tem culpa de ser amada por ele. Eu sei que é errado te odiar e eu quero parar de sentir isso, mas eu não consigo - meu choro foi ficando mais intenso, agora eu soluçava e me faltava ar - Me desculpa Rosa. Eu queria parar de me sentir assim, você não merece o que eu estou fazendo.

— Porque você não me disse! O que você está sentindo é errado muito errado!

— Se o Lys te ama como parece... Acho melhor eu sair do caminho dele. Ele não se lembra de nada mesmo.

— Ele vai se lembrar - disse Rosa segurando as minhas mãos - E se ele não se lembrar das memórias antigas nós faremos memórias novas para ele.

— Eu não odeio você Rosa. Pelo contrário, você é com a irmã que eu não tive, mas a vida me deu de presente. Por isso eu não admito sentir o que eu estou sentindo.

— Você também é a irmã que eu nunca tive - disse Rosa me abraçando forte - Foi a única pessoa que me fez borrar a maquiagem de tanto chorar... Só você.

Ficamos abraçadas ali, sentadas no banco e quando nos soltamos, uma secou as lágrimas da outra.

Rosalya me encarou por alguns instantes e depois perguntou:

— Porque você preferiu ficar sozinha? Porque não falou com ninguém!? Nem com aquela sua amiga doidinha.

— Amiga doidinha!?

— Não me lembro o nome dela direito... É Faty, Laty... Katy...

— Lety - Corrigi- O nome dela é Lety. Você falou com ela?

— Ela disse que ia te ligar.

— E ela ligou, mas eu não atendi. Não queria falar com ninguém.

Rosalya revirou os olhos e voltou ao seu temperamento normal, o que significava que viria bronca por ai:

— Quando estamos sozinhos precisamos dos amigos! Que besteira essa de querer se isolar? Você me prometeu que contaria tudo o que estivesse passando para mim!

Desviei o olhar por alguns segundos e depois respondi:

— Eu precisava de um momento sozinha. É igual o trecho de uma música que eu estava ouvindo... “É difícil deixar o coração aberto, quando até os amigos parecem nos prejudicar”.

— Estava ouvindo November rain? Você estava muito mal... Enfim, agora parece que tudo voltou ao normal.

— Sim... Só que eu não mudei de opinião. Vou deixar as coisas fluírem.

— Não! – disse imperativamente – Vamos pegar fotos, vídeos, levá-lo aos locais onde vocês costumavam se encontrar e provocar lembranças nele!

— Mas e as recomendações médicas, Rosa? Não quero que ele tenha um colapso enquanto se lembra de mim!

— Não vamos contar nada para ele, só induzir lembranças. Ele está de alta na semana que vem, mas você pode visitá-lo. Ele tem perguntado por você.

— Eu não sei Rosa.

— Lembra do show aqui na escola? Acho que a Peggy filmou nós podemos conseguir o vídeo com ela e mostrar para o Lys. E tem aquela nossa foto no porão! Vamos fazer isso, Kimb!

— Tudo bem.

Rosalya ficou tão feliz que novamente me deu um abraço apertado e depois disso juntas fomos até o pátio. Ainda era intervalo e tínhamos que achar a Peggy. Eu e Rosalya demos longas voltas pelo pátio e até dentro da escola até encontrá-la saindo da sala da diretora:

— Peggy, o que faz ai? – perguntei.

Ela nos olhou assustada e depois suspirou aliviada:

— Vocês quase me mataram de susto. Pensei que fosse a diretora.

— Entrou escondida novamente. Disse Rosalya.

— Não é da sua conta – respondeu Peggy fazendo pouco caso da situação – E se não tiverem algum assunto importante a tratar, podem me dar licença?

— Temos um assunto importante, Peggy – respondi – Lembra do show que fizemos aqui na escola?

— Claro, foi maravilhoso e eu fiz a cobertura de todo o evento para o jornal.

— Você ainda tem algum artigo, foto ou vídeo do show?

— Eu tinha até uma semana atrás quando um apagão destruiu meu HD e eu perdi todos os meus documentos do computador.

Olhei para Rosa desanimada e depois continuei a falar com a Peggy:

— Ai meu deus, me diz que está brincando!

— Eu adoraria que não fosse verdade, eu perdi muita coisa importante. Mas é verdade sim.

— Você não tinha nenhuma cópia de segurança? Nada? – questionou Rosalya.

Peggy ficou pensativa e depois de um tempo sorriu dizendo:

— A Ambre me pediu uma cópia do vídeo para fazer um DVD. Acho que ela deve ter...

— Ai não – disse olhando para Rosa – O diabo poderia estar com o vídeo e eu pediria para ele numa boa, mas a Ambre não.

— Falando no demônio... – disse Rosalya – Olha a Ambre vindo... Podemos pedir.

— Bom, não precisam mais de mim... Então estou indo.

— Não... Peggy!

Gritei por Peggy, mas foi inútil. Ela se foi e só restou a Ambre, Ela iria me pedir algo terrível, tinha certeza, mas era pelo Lys, por sorte ela estava sozinha, então eu andei até Ambre e iniciei a conversa:
— Oi, Ambre. Eu tenho um assunto importante para tratar com você.

— E que assunto importante eu teria com uma pessoa como você? Respondeu de forma ríspida.

— É... Começamos bem – sussurrei - Enfim, a Peggy disse que te deu uma cópia do vídeo do show da banda do Lysandre aqui na escola e eu queria saber se você ainda tem.

— Não é da sua conta!

— Olha é da minha conta sim! – eu respondi de forma firme e impaciente – Eu preciso de uma cópia daquele vídeo para uma situação importante, mas a Peggy não tem. Logo você é a única que pode me dar. Será que você pode me fazer essa gentileza!?

Não percebi, mas todos nos olhavam, eu estava autoritária e até Ambre parecia assustada.

— Para que você precisa daquela coisa?

— Eu vou mostrar para o Lysandre! Ele se esqueceu de muitas coisas que aconteceram na escola ultimamente e eu quero ajudá-lo a lembrar. O acidente... O fez esquecer.

Ambre parecia tremer respondeu:

— Eu te faço uma cópia do vídeo e te trago amanhã, mas com uma condição.

— Qual condição?

— Eu ouvi por ai que você tem o número do celular do Castiel.

— Sim, eu tenho.

— Você me passa o número e eu te dou uma cópia do vídeo.

O Castiel iria me matar, eu sabia disso, mas fiz mesmo assim:

— Tudo bem – disse pegando o meu celular e abrindo o contato do Castiel – Pode anotar, mas vê se não vai passar trote para ele ou qualquer coisa assim.

— Eu não sou desse tipo de gente.

Ambre salvou o contado do Castiel em seu celular e depois me disse:

— Liga o Bluetooth.

— Tudo bem. Porque não me disse logo que tinha o arquivo no celular?

— Porque eu não quis. Agora vai logo, não quero ser vista com você.

Fiz o que ela disse e depois de alguns segundos estava lá o vídeo no meu celular.

— Obrigada.

— Vê se some!

Virei-me para Rosalya sorrindo e ela parecia assustada:

— O que houve Rosa?

— Você tinha que ver como ela estava apavorada. Nunca te vi falando daquele jeito com ninguém.

— Rosa! O importante é que eu consegui o vídeo. Vou até dar uma conferida.

Dei o play no vídeo que a Ambre me passou e era realmente o que nós queríamos. Estava perfeito, era só mostrar para o Lys e esperar que ele se lembrasse de algo.

— Podemos ir visitá-lo depois da aula.

— Não... Não posso, não avisei meus pais.

— Liga para eles.

— Boa idéia.

Liguei para minha mãe e ela autorizou sob a condição de que depois dessa visita eu não me trancaria no  quarto em estado de tristeza profunda, claro que eu concordei, estava com bons pressentimentos a respeito dessa visita e também muito ansiosa.

O tempo passou devagar até o fim das aulas e quando tocou o sinal, me despedi dos meninos e esperei Rosalya me encontrar no pátio, enquanto me distraia conversando com o Alexy:

— Então no fim tudo deu certo, Kimberlee?

— Sim e eu fui uma idiota.

— Seria uma pena acabar uma amizade tão linda como a de vocês por causa de suposições.

— Também acho, mas estava difícil perceber isso.

— Estou indo para casa agora, espero que dê tudo certo lá no hospital.

— Eu também espero. Até amanhã.

— Até.

Alexy foi embora acompanhado de Armin e Kentin, os três acenaram para mim de longe, eu acenei de volta e depois disso não demorou muito até Rosa chegar. Então juntas seguimos até o ponto de ônibus, onde embarcamos rumo ao hospital.

Já no hospital, subimos direto para o quarto de Lys, batemos na porta e ele disse que podíamos entrar. Foi uma surpresa enorme ver que ele não estava mais vestido com as roupas do hospital, estranhei, mas não disse nada, fiquei olhando para ele. Bom, eu não sabia o que dizer ao certo, já que naquele dia eu deixei o quarto feito uma louca sem olhar para trás. Lys me olhava como se estivesse feliz em me ver novamente, porém não disse nada também. Quem quebrou o silêncio foi a Rosa:

— Bom pessoal, vou deixar vocês conversarem.

— COMO ASSIM!? – disse sem entender nada do que estava acontecendo – Nós iríamos fazer isso juntas!

— Não, Alice – disse Rosa deixando o quarto – de alguma forma você vai colocar o Lys de volta em Wonderland. E até aqui minha missão está completa.

— Obrigado, Rosa – disse Lys piscando para Rosa.

Diga-se de passagem, neste momento eu estava entendendo essa situação muito menos do que eu compreendo bhaskara. Rosa não estava mais no quarto, então o questionamento foi direcionado ao Lys:

— Eu estou ouvindo mal ou a Rosa me chamou mesmo de Alice?

Lys sorriu e me convidou para sentar ao seu lado na cama, aceitei e então ele começou a explicar tudo aquilo:

— Depois que você saiu do quarto daquele jeito eu fiz muito esforço para lembrar de você. A missão de Rosa era te trazer aqui de volta aqui para que eu pudesse tentar novamente. Naquele dia da visita eu lembrei de sua voz... Foi apenas uma voz em um breu de esquecimento, mas ai eu achei uma coisa.

— Que coisa? Perguntei curiosa.

— Sempre tão curiosa – Lys respondeu sorrindo – acho que Rosa estava certa. Não vou te deixar ainda mais afoita. O meu bloco de notas que até o momento que me recordo sempre serviu para que eu escrevesse músicas e poemas... Agora está repleto de contos sobre uma garota chamada Alice, deixei que a Rosa lesse alguns desses contos e ela me disse que “Alice” na verdade era você.

— Entendo... – Já não consegui parar de sorrir como se fosse boba, Lys tinha um “backup” de mim em seu bloco de notas, agora ele só precisava recordar – Bom, eu trouxe um vídeo do show que você e o Castiel e mais alguns amigos nossos fizeram na escola. Vai ser legal para você assistir.

— Então vamos assistir.

Peguei meu celular e iniciei o vídeo.

O legal do vídeo da Peggy é que ela cobriu realmente o evento inteiro, desde o backstage do show, preparativos, durante o show e o encerramento, com as fãs gritando o nome deles.

Enquanto assistíamos ao vídeo comentávamos todos os acontecimentos e no final do vídeo, enquanto Peggy entrevistava o Castiel, ao fundo estava eu e o Lysandre conversando, não me lembrava daquele momento e muito menos de ter sido filmada pela Peggy, pensei que aquela cena passaria despercebida por Lys, mas não foi isso o que aconteceu:

— Bonito vestido.

— Obrigada – respondi envergonhada – a Rosa fez para mim.

— Ela é talentosa, mas... esse show... de repente me deu uma felicidade.

Eu ri e Lys me olhou como se não entendesse, então eu expliquei:

— Você realmente ficou muito feliz de ter cantado neste show, ficou tão feliz que depois me procurou querendo me recompensar por ter iniciado a preparação do evento.

Lys ficou pensativo e me encarando de uma maneira enigmática até que disse:

— Eu cheguei a te dar algo ou fazer alguma coisa por você?

— Você me acompanhou até a minha casa e nós conversamos o trajeto todo. Foi bem agradável e me deixou bem feliz.

— Realmente no vídeo nós parecemos ter um relacionamento bem próximo, mas... Não entendo porque não consigo lembrar nada além da sua voz...

— Você consegue ao menos lembrar do que eu estou dizendo para você nessa sua memória?

— Estou tentando, mas é difícil...

Lysandre estava se esforçando e eu via isso, mas aquilo não podia continuar, ele parecia ansioso e nervoso com a falha de seus esforços e isso só faria piorar o seu caso. Observar aquela situação só me mostrou o quão egoísta estava sendo minhas atitudes até aquele momento, como o Castiel mesmo havia dito “Então você só está preocupada com consigo mesma”. Ver aquilo me fez perceber que era hora de parar, percebi o tamanho do meu egoísmo e decide que ficaria com plano “B” de Rosalya:

— Lys... Por favor, para com isso– eu disse pousando minhas mãos em seu rosto e olhando em seus olhos – Eu falei com a Rosa sobre a sua amnésia hoje mais cedo e – meus olhos já se encheram de lágrimas e eu nem fiz questão de controlar, apenas continuei a falar - Mesmo que você não consiga recuperar sua memória, não tem problema, nós podemos fazer novas memórias para nós dois.

Por alguns instantes Lys me olhou de uma forma indecifrável e me abraçou forte dizendo:

— Acho que me lembrei de algo.

— Do que você se lembrou?

Lys se afastou suavemente e olhou em meus olhos dizendo:

— Lembrei que você me prometeu que não ia chorar mais e que eu não gosto de te ver neste estado... Já que você tem um sorriso tão bonito.

Paralisei naquele momento, fiquei parada olhando em seus olhos, aquela heterocromia linda que sempre me cativou, não podia ser mais perfeita. Ele simplesmente se recordou de um dos momentos mais tensos de nossas vidas... Quando ele me consolou depois que eu e Castiel brigamos, eu prometi a ele que nunca mais iria chorar. Ficamos abraçados ali, em pé no meio do quarto, por segundos imaginei como se não houvesse nada além de nós dois naquele lugar, como se o mundo fosse todo nosso e me perguntei se esta sensação era a de estar na “Wonderland” citada por Rosalya.

 


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Notas finais do capítulo

*Wonderland e Alice: Referências claras ao livro de Lewis Carroll, chamado Alice’s (Adventures) in Wonderland (Alice no País das Maravilhas) e também presente no episódio 21 da peça de teatro.
**Referências sobre os episódios:13,14,15, 16 e 31.



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