Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 20
A Queda - Capítulo Dezessete


Notas iniciais do capítulo

Acho que qualquer coisa que eu disser sobre o capítulo aqui pode ser spoiler, então apenas desejo uma boa leitura!



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Escuro

Sans ouvia a voz do doutor ressoando de longe, abafada e chegando como um fantasma. Ao seu redor não via nada além da mais pura escuridão, sem chão, sem teto, sem lados, apenas uma infinidade de nada.

Mais escuro

Andava em direção ao único som a lhe guiar, seguindo a voz de WD Gaster enquanto dava passos no meio do vazio, sentia como se estivesse flutuando.

Ainda mais escuro

E uma luz na escuridão surgiu, um pequeno ponto cinzento no horizonte tornou-se o novo objetivo para Sans que avançou em sua direção como se fosse um refúgio.

A escuridão continua crescendo

Era um ambiente estranho, parecia à única coisa mais perto de três dimensões que existia naquele lugar. Atravessava-se um fino corredor de paredes cinzentas, até chegar a um cômodo completamente vazio. 

As sombras cortam profundamente

Desorientado Sans tentou procurar pela direção de onde veio a voz de Gaster, mas era como se ela se propagasse pelo ambiente como uma grande onda que ia se acalmando lentamente, vinda de lugar algum e se espalhando para todas as direções.

Leituras de fótons negativas

Então o único abrigo que Sans encontrara de repente começara a se tornar tão escuro quanto o resto do mundo afora, suas paredes derretiam lentamente enquanto o chão era derramado por uma substância feito piche.

Este próximo experimento parece muito,

Sans tentara se mover, mas se vira preso frente aquela escuridão que começara lentamente a absorvê-lo junto.

muito interessante...

Tentou usar o máximo de suas forças para conseguir se salvar, gritara por ajuda, pelo irmão, pelo doutor, por qualquer um! Mas ninguém veio.

O que vocês dois acham?

E a escuridão engolira Sans, afogando-o em meio ao caos até esquecer-se de sua própria existência.

Até acordar.

Atônito e esbaforido, Sans segurava a mão contra o peito enquanto tentava regular a respiração. Sentia aos poucos os movimentos de todo o corpo voltarem, como se realmente estivesse tentando sair daquele estranho mundo onde estivera em seus sonhos. Como se um sinal de alerta tivesse se instalado em sua alma, Sans tinha a absoluta certeza de que algo de errado iria acontecer ou que já estivesse acontecendo.

Levantou-se em um salto, não sabendo ao certo para onde ir. Era como se o próprio universo ou a realidade estivesse tentando lhe alertar, podia sentir dentro de seu ser o mundo ao seu redor sendo distorcido, rasgando-se lentamente. Diversas imagens de Gaster passavam por sua mente como se programadas para acontecer, em especial a de sua figura medonha e disforme com a qual já havia sonhado uma vez.

Nem se dera conta de que não avisara Papyrus que estava saindo de casa em plena madrugada, entretanto não se sentia totalmente consciente, apenas sendo levado para qualquer lugar onde sentia ser a origem do problema. Claro que o laboratório era a resposta mais óbvia.

Pegara um atalho para o lugar, digitando as senhas nos painéis freneticamente para poder abrir todas as portas. Por Asgore, como agradecia não ter esquecido todas aquelas combinações! O ambiente todo estava um verdadeiro caos, com papéis e planilhas amassados jogados pelo chão, peças de máquinas jamais terminadas estavam espalhadas pelas mesas e bancadas, frascos derramadas e com suas substâncias pingando pelo chão, algumas delas corroendo o próprio solo por onde escorriam.

Sans abria e checava cada cômodo o mais rápido que conseguia, para assim poder chegar aos outros o mais rápido possível. Seja lá o que Gaster estivesse fazendo, cada segundo era precioso antes que o doutor acabasse finalmente realizando o seu plano.

— Doutor Gaster! WD Gaster! Sou eu, Sans! – Tentava chamar, mesmo que soubesse que Gaster não fosse do tipo que desse muito ouvidos as pessoas ao seu redor.

Por pouco Sans passara direto pelo centro principal do laboratório, ao ver que Gaster não se encontrava ali logo dera as costas, até que uma parte de sua mente pareceu se acender e dizer ‘’Ei, por que há luz neste lugar a essa hora?’’.  E quando o esqueleto deu meia volta e analisou melhor o lugar, pode ver com muito mais clareza o rastro do cientista real.

A mesma máquina que quase tirou sua vida anos atrás havia voltado ao seu lugar de origem. Com a mesma aparência de algum tipo de carcaça, o extrator de DT estava novamente suspenso no meio do ambiente, com finas nuvens de fumaça saindo de suas brechas, sendo possível sentir de longe o calor que emanava de seus metais, com um estranho líquido avermelhado pingando da ‘’boca’’ da máquina. Era sinal de que havia sido usado a pouquíssimo tempo.

Sans adentrou o local lentamente, como se temesse que algo explodisse bem na sua cara caso fizesse algum movimento brusco. Havia uma estranha sensação de instabilidade no lugar, e quanto mais Sans se aproximava da máquina mais temia por si mesmo. Talvez por conta do trauma de anos atrás, talvez pelos novos que ela poderia causar.

Tentava imaginar no que este antigo protótipo poderia ajudar com a nova ideia de Gaster para entrar no multiverso – se bem que não era uma nova ideia, apenas não havia tido coragem de coloca-la em prática até então -. Ao contrário do primeiro plano que era combinar habilidades humanas e magia para criar o poder de adentrar no espaço tempo, o que Gaster estava ponderando fazer era rasgar a realidade para conseguir o feito.

Uma iluminação estranha chamou a atenção de Sans que virou seu olhar em direção para o fundo da sala, se sobressaltando ao ver os seis compartimentos.  Cada uma das almas humanas brilhava em um tom diferente, tão vívidas que não pareciam ser tudo o que havia sobrado do que um dia foi alguém.

Antigamente Gaster usava pedaços de almas despedaçadas, muito fracas, porém mais fáceis de controlar e sem riscos de danos (pois já estavam danificadas). Ele podia ter usado as almas humanas que o rei possuía, pois Asgore confiava muito em seu trabalho, mas resolvera não correr mais riscos. Aquilo só deixara Sans mais confuso, se aproximando mais das almas e analisando os arredores.

O mesmo líquido avermelhado que tingia o extrator estava espalhado pelo balcão. Sans quase tocara por curiosidade, mas afastou a mão no último segundo temendo qualquer tipo de dano. Mesmo depois de tanto tempo lembrou-se o que era, sabendo muito bem do estrago que aquilo poderia causar a qualquer monstro.

Era o tão misterioso elemento que fazia as almas humanas tão poderosas. Gaster jamais dera um nome propriamente dito para aquilo, apenas uma sequência estranha de letras e números como o de costume. Mas Sans sempre achou que aquilo merecia algum título, era poderoso demais para simplesmente ser referido como DT—00.

Estava em sua forma mais pura, nem sequer diluída com magia. O doutor nunca ousara utilizar sua plena forma, dado ao estrago que poderia causar, mostrando claramente o quanto Gaster mudara suas atitudes com o passar do tempo.

Ele vai estilhaçar a realidade com isso. Sans pensou, recuando as pressas para fora do laboratório torcendo que desse tempo para impedir aquela loucura.

Havia apenas uma porta no qual Sans não havia checado. Tratava-se de uma larga sala onde era possível ver diversas instalações e fiações do Core, sempre trancada com cinco chaves. Sans tentara encontrar as chaves no escritório onde comumente ficavam, não as encontrando, começando a procura-las por todo o laboratório.

O desespero era tamanho que a cada minuto que passava Sans imaginava que algo ruim fosse acontecer, alguma explosão, o apagamento de sua própria existência. Pior de tudo era que estava óbvio que fora Gaster que escondera as chaves, pois acabou por acha-las em lugares inusitados como no encanamento. 

Ao encontrar a última chave dentro do sistema de ventilação, Sans já estava quase sem fôlego, nunca fora um bom atleta afinal. Mas mesmo assim se dirigiu as pressas para ativar a porta, dando um longo suspiro ao ouvir ela abrir.

Gaster estava ali, como esperado. Uma gigantesca máquina circular, que se parecia com algum tipo de palanque de metal conectado com o próprio Core, tomava grande parte do cômodo. Rajadas de eletricidade pulavam das fiações e era possível ouvir o estrondo da combustão de dentro da máquina e do Core. Muita energia estava sendo gerada ali, o suficiente para fazer o subsolo entrar em colapso.

Qualquer deslize feito poderia dizimar a todos.

— [É mais rápido do que eu esperava.] – O doutor comentou enquanto conectava duas extensões, causando um rugido de eletricidade.

— Mas que droga, Gaster! – Sans rugiu, exausto com toda a agitação e furioso com os planos do cientista. – Você! Você mais do que ninguém aqui, sabe que não pode ativar essa maldita máquina! Os riscos são grandes demais, não vale a pena.

O doutor o encarou por alguns segundos, com uma expressão que parecia ser pena, deixando as ferramentas de lado e se aproximando do pupilo, segurando os seus ombros e lhe olhando fundo em seus orbes.

— [Realmente, são muitos riscos. Mas se forem ultrapassados, a recompensa valerá sim muito a pena. Reverteremos à história Sans, e os faremos provar de seu próprio remédio]. – Havia um brilho nos orbes de Gaster do qual Sans não lembrava de já tê-lo visto daquela forma. Estava tão determinado a continuar com o plano que chegava a beirar a loucura.

— ‘’Eles’’ quem?

— [Humanos. Você sabe muito bem Sans o que eles fizeram a todos nós]. – O doutor respondeu, fazendo as imagens da guerra passarem pela cabeça de Sans como um filme. A brutalidade, os gritos, tanta poeira... Eram lembranças de um sonho que não gostava de relembrar. – [Nenhuma alma humana fora tomada, em meio a uma grande guerra. Suas almas podem ser muito mais fortes do que as nossas, mas jamais a este ponto de invencibilidade. Quantas vezes devem ter refeito aquele momento para chegar a uma batalha tão unilateral? Dezenas? Centenas? Milhares?! Não importa, acabou que fomos massacrados e não houve consequências para eles].

Sans ficou calado, absorvendo tudo o que o doutor dissera e o que aquele discurso tinha haver com o experimento. Ficou inerte por tanto tempo que Gaster já estava a retornar para as configurações da máquina, sendo impedido no último segundo por Sans que agarrou a barra de seu jaleco.

— Não pode impedir a guerra. Foi há muito tempo, está longe demais! Provavelmente vai se perder no meio do vazio, além de trazer consequências terríveis para nossa realidade.

— [Não existe alternativa].

E doutor Gaster deu as costas, ignorando todos os protestos do pupilo. Sans suspirou exausto, já imaginava que isso iria acontecer, o doutor não dava ouvidos a ninguém além de si mesmo. Não o convenceria daquela forma, precisava de outra maneira.

— Pare. Agora.

Fazia tempo desde que conjurara uma Gaster Blaster, entretanto depois de se familiarizar com o ataque Sans jamais esqueceu como funcionava. Não atirara, apenas conjurara e esperou por uma resposta do doutor que se virou lentamente olhando para o ataque com desdém.

— [Eu o treinei para defesa. Não ataque]. – O doutor conjurou e ativou o próprio ataque tão rapidamente que nem os reflexos precisos de Sans foram capazes de prever aquilo. Sua blaster acabou sendo destruída pelo ataque muito mais poderoso de Gaster, como se não fosse nada, fazendo voar papéis e ferramentas pequenas por todo o espaço devido ao impacto.

Atônito, Sans apenas observou Gaster voltar normalmente até a máquina, sem parecer sentir que as rachaduras em seu crânio aumentaram quase o dobro de tamanho depois daquilo. Não podia deter WD Gaster, ninguém podia.

O cientista real ligou pela última vez uma criação sua. Luzes transbordaram de sua base, e o doutor se dirigiu até o seu centro, esperando pelo fim do processo. Seu semblante sério e profissional se fez presente, parecendo-se muito com o cientista que Sans havia conhecido na infância.

— [Nos vemos mais tarde].

E uma onda de luz inundou o ambiente, fazendo com que Sans fechasse os olhos instintivamente, sem ver o corpo do cientista real de desfazendo lentamente, até desaparecer por completo da existência.

Quando abriu os olhos novamente, se viu completamente sozinho. Um pedaço amassado de papel estava no chão a sua frente, provavelmente havia sido jogado até ali depois de toda a agitação. Uma estranha curiosidade o fez pegá-lo do chão, vendo que se tratava de um simples desenho de três pessoas sorridentes.

Sabia muito bem quem havia desenhado aquilo: Papyrus, há mais de dez anos atrás. Podia até reconhecer os indivíduos representados: o mais baixo era claramente ele mesmo, e Papyrus era um pouco mais alto, ambos seguravam uma das mãos de uma figura bem maior entre eles, que com certeza era o doutor WD...

WD Aster...?

WD...?

O que significava as siglas WD mesmo...?

Sentiu um arrepio passar por sua espinha, um desespero tamanho lhe apossou ao se dar conta que lentamente esquecia-se do cientista real. Talvez esta fosse uma das consequências do experimento?  Não importava. Sans não podia esquecê-lo, não depois daquilo, era a única testemunha do feito e o único que sabia de todos os problemas que poderiam vir, precisava estar preparado.

Além do mais, se esquecesse dele, esqueceria todos estes anos de sua vida?

A imagem do cientista ia se esvaindo de sua mente rápido demais, sua infância, adolescência, tudo se desfazendo até o pó. Apenas a consciência de que algo estava faltando permaneceu, e Sans procurou desesperado pelo chão algo que pudesse lhe ajudar. Tudo o que achou foi uma caneta, com ela escreveu de maneira brusca bem no meio do desenho: NÃO ESQUEÇA.

Mas assim que escreveu a última letra, não mais se lembrava do porquê de estar naquele lugar. Apenas um vazio permanecia em sua alma e mente, e atônito sentou-se no chão frio, perguntando-se quem era.


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Notas finais do capítulo

E assim um novo ciclo se inicía! Estou bem empolgada com essa nova fase, várias coisas e reviravoltas estão por vir! Agradeço a todos que acompanharam a fic até aqui e desejo boas vindas a todos que chegaram agora!
Preparados para as consequências da criação do Doutor WD Gaster? ^-^



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