Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 16
Antes da Queda - Capítulo Quatorze


Notas iniciais do capítulo

Voltei pessoal! E uma boa notícia agora estou de férias! Da escola, não do meu trabalho, mas ainda assim isso me deixa com bastante tempo livre para me dedicar as fanfics! Então agora os capítulos não vão atrasar mais tanto e quem sabe não rola de talvez mais capítulos na semana? Não prometo nada, mas garanto que não terá hiatus por um tempo!
Boa leitura!



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Para Sans, Papyrus fazia os melhores puzzles. Ele não era de fazer nada impossível, - pois não gostava de nenhuma espécie de injustiça -, mas não fazia nada tão simples que chegasse a ser entediante. Seu irmão mais novo sabia medir muito bem as suas criações.

— Nossa. Você quase me pegou nessa! – Sans devolveu as páginas onde mais um dos puzzles dos irmãos havia sido criado, sorrindo ao ver a expressão de satisfação e alegria do irmão a sua frente.

— Na segunda página né?! Era uma ilusão de ótica! Eu estou testando coisas novas para aprimorá-los! – Papyrus falava animado sobre seus projetos, se pudesse ele faria uma palestra de dia inteiro, só para contar o passo a passo de uma nova ideia. E não que Sans se importasse que ele fizesse algo assim – mesmo que dormisse na primeira meia hora -, apenas não tinha tanto tempo enquanto ajudava o doutor no laboratório. 

— Você está melhorando cada vez mais!

— Melhorando? Sans eu já sou o melhor! – Proferiu se pondo em uma pose heróica, ficando vários segundos assim apenas para o efeito.

— É você tem razão. – Disse Sans pondo seu braço ao redor dos ombros de Papyrus, tendo que ficar quase que na ponta dos pés para conseguir fazer isso. Não crescera nem um único centímetro desde os seus doze anos, já o mais novo parecia ficar mais alto a cada dia que passava! – Estou indo dar uma mãozinha pro Gaster, alguém tem que desenhar as plantas sem deixar o lápis cair a cada trinta segundos. Quer vir junto?

— Ã... Eu vou fazer algumas coisas antes, depois eu apareço. – Papyrus respondeu meio sem jeito, olhando para os lados. Sans sabia que ele estava mentindo, Papyrus era péssimo com mentiras. O mais novo nunca teve muito interesse pela ciência, desde pequeno só fazia as coisas por que lhe era mandado e por não saber o que fazer além daquilo. Com o tempo passando e ficando mais independente Papyrus abandonara quase de vez tudo aquilo, preferindo bem mais cuidar dos afazeres domésticos ou até mesmo catalogar béqueres lhe soava mais interessante.

Já Sans mesmo que não quisesse admitir, puxara a curiosidade e a ávida busca pelo conhecimento de Gaster. Era fascinante olhar para tantas possibilidades, chegar a tantos resultados e descobrir tantas coisas acerca do universo que os rodeiam. As leis, teorias, hipóteses e testes lhe preenchiam com uma sede insaciável de informação, que por mais que Sans tivesse lutado contra este fascínio há um tempo, agora com a desistência do antigo projeto de Gaster resolvera voltar a se interessar sem culpa pela ciência.

No começo fora estranho para Sans quando o doutor parara de vez com o plano, mesmo sendo algo extremamente positivo para a saúde física e mental de todos os envolvidos. O doutor estivera tão determinado com aquilo, por tantos anos, pondo tantas coisas em risco, prejudicando e machucando a todos ao redor, para quase que do nada desistir. Foi até um pouco suspeito e por um tempo Sans ficou alerta por qualquer sinal de que a pesquisa retornaria, mas aquilo não ocorreu.

Era como se a vez de tentar o novo método com Papyrus fosse a última chance que o doutor tinha, mas que não dera certo como todas as outras. Sempre chegava perto, mas nunca até o seu verdadeiro objetivo. Aquilo o desmotivara, lhe deixara exausto, e tudo dizia que era melhor acabarem de vez com aquilo ao invés de gastar os poucos fios de esperança a toa.

Foi isso que Sans imaginou a primeira vista, entretanto os motivos de derrota de Gaster pareciam ser muito mais profundos. Era ainda difícil de acreditar que fosse apenas aquilo que o tirara do plano original, não depois de Gaster ter lhe dito sobre não haverem escolhas. Afinal, ele escolhera parar com tudo aquilo.

Mas havia algo no olhar do doutor, sempre aflito, absorto em pensamentos conturbados e caóticos. Sans quase podia lê-los de tão turbulentos que eram os pensamentos do doutor, o olhar pensativo e neurótico dele mostrava claramente que o projeto antigo ainda havia espaço em sua mente. Só que algo o impedia algo que Sans não era capaz de compreender, parecia até mesmo que Gaster estava com medo de prosseguir com aquilo.

E essa ideia apavorava Sans, que para isso tentava ignorar grande parte do que aconteceu.

Chegara à sala onde Gaster atualmente estava trabalhando. O novo projeto estava apenas começando, logo o cientista apenas indicava o que seria feito através de plantas desenhadas e cálculos a serem resolvidos. Era ainda o estágio mais demorado, complicado e imensamente chato, obrigando-os a ficarem com os olhos pregados em pedaços de papéis e planilhas azuladas.

Sans chegou silenciosamente, com a intenção de assustar o doutor, andando com a ponta dos pés e ligeiramente abaixado, chegando cada vez mais perto como um predador se aproximando de sua presa.

— [Não ouse.] – O cientista avisou bem quando Sans estava prestes a pegá-lo de surpresa. O menor bufou revirando os olhos, não poderia haver nem um pingo de senso de humor em Gaster afinal? Provavelmente não.

Assim Sans apenas pegou uma cadeira e a arrastou para se sentar mais perto, apenas observando o que o doutor fazia por alguns minutos. Vendo na mesa alguns objetos metálicos, provavelmente protótipos de alguma nova ideia do cientista.

— Esses vão ser os lazers?— Questionou e Gaster lhe olhou ligeiramente com o canto do olho com o cenho pensativo.

— [Se tudo der certo, sim.] – Respondeu afastando-se um pouco da mesa e cruzando os braços, olhando o resultado de longe como se precisasse de uma ampla visão para aquilo. Em seguida olhou para Sans, como se estivesse prestes a dizer algo, mas desistiu no último momento e mudando de planos. – [Se Asgore quer um ambiente impossível para um humano ultrapassar, terão de serem feitas medidas para nenhum monstro acabar nestas armadilhas. Algum aviso ou botão de escape... Talvez ativá-los só em determinados horários, ou não usar todos de uma vez.]

Sans ficou quieto por um momento, relacionando as palavras de Gaster. Ele andava trabalhando em armadilhas para caso outro humano caísse no subsolo mais uma vez, uma tentativa para que nenhuma alma de monstro fosse tomada por mãos humanas. Antigamente era um projeto secundário a pedido do rei, entretanto quando Gaster decidira por encerrar seu principal projeto, este acabara por se tornar seu principal tormento diário.

Quando souberam daquilo os irmãos haviam se empolgado, principalmente Papyrus que adorava bolar diferentes puzzles e imaginou que seria muito útil neste projeto. Mas ele se enganara, Gaster tinha uma visão muito diferente de armadilhas, para ele elas serviam para matar. Muito diferente do garoto que fazia desafios complexos, porém muito justos.  Desde então Papyrus evitava entrar em contato com qualquer coisa relacionada a este projeto, como se fosse um protesto silencioso.

Mas Sans continuava ajudando Gaster. Não apenas pelo seu interesse a ciência, mas por estar empolgado a fazer parte de um projeto que não envolvia eles mesmos. Mesmo que talvez nunca retornassem para a superfície, Sans sentia-se feliz com a mudança de planos e evitava pensar sobre a prisão eterna de todo um povo.

— Eu escolheria um botão de escape. O humano que cair não vai saber de nada e vai sofrer com todas as armadilhas. – Sugeriu e o doutor fitou todas as suas anotações, refletindo sobre a ideia. – Você já viu um humano alguma vez? Digo, antes daquela vez quando éramos menores, eles são tão perigosos assim? Já lutou com algum antes?

Gaster se sobressaltou por um momento, não esperava aquela pergunta, apesar de o foco do projeto ser justamente repelir o avanço de humanos pelo subsolo. Sans não ligava muito para humanos, e apesar do episódio passado o tê-lo assustado, atualmente se perguntava se todos os humanos podiam ser tão nocivos assim para precisarem de um sistema de armadilhas complexo.

O cientista ficou quieto por alguns instantes antes de responder com uma simples palavra:

— [Sim.]

Sans não compreendeu se aquela resposta fora para todas as questões, provavelmente sim. E ao notar a expressão do doutor vira que não era bom se aprofundar no assunto, tentando desviá-lo para o projeto em si:

— Horários alternados também parecem uma boa ideia. – Desviou esperando alguma reação do doutor.

— [Eu preciso falar com você sobre algo.] – Foi o que Gaster disse, fazendo com que Sans sentisse um arrepio lhe percorrer a espinha. Apesar de a relação com o doutor estar mais tranquila, ainda sofria das lembranças do antigo projeto, imaginando alguma outra situação que seria usado como próprio experimento, do sofrimento do irmão, da perda da consciência do cientista real.

Algoritmo? – Disse com um riso nervoso e o doutor retirou seus óculos para limpá-los, fingindo ignorar o comentário feito.

— [Você é jovem, mas não é nenhuma criança mais. É preciso que comece a se encaminhar para o futuro, mas não é nenhuma obrigação sua aceitar ou não, a vida é sua e faça o que achar melhor.] – Gaster pôs os óculos de volta olhando bem para o rosto de Sans, as lentes refletindo com a luz e lhe dando um olhar mais sério ainda. Sans achou o que lhe foi dito um tanto irônico, afinal sua vida e a de Papyrus fora sempre controlada desde que eram esqueletinhos. – [Será remunerado, com os direitos e deveres que qualquer outro funcionário. Mas não pense que estará já em um bom cargo, terá que se esforçar para ir longe.]

— Você está me dando um emprego? – Indagou alarmado, com um sorriso bobo se formando em seu rosto inconscientemente. Gaster abrira uma gaveta, retirando da mesma um objeto metálico e o entregando para Sans, era o distintivo que os funcionários do laboratório usavam: um broche redondo com o desenho de um triângulo invertido com três retângulos deitados, em um fundo branco.

— [Está mais para um estágio, mas chame do que quiser.] – Disse o doutor fazendo pouco caso enquanto Sans quase entrava em colapso. Não seria mais um faz tudo onde de nada receberia benefícios, teria direitos, teria autonomia, tudo o que Sans mais queria.

— Minha nossa, isso é tão brega. – Disse observando o distintivo em suas mãos. – Mas me diz, eu vou ter um jaleco de cientista?

— [Sim.]

— Eu preciso contar isso pro Papyrus. – Sussurrou para si mesmo, entusiasmado. – Eu volto num instante! Prometo não desapontar!

E Sans saiu correndo pelos corredores, animado e ansioso para contar a novidade ao irmão. Deixando o cientista real sozinho no aposento, formando um singelo sorriso no rosto ao ver a cena, mas que desapareceu tão rápido quanto se formou ao voltar em direção a sua mesa de trabalho, recheada com o caos de seus pensamentos.

Será que é melhor do que eu com promessas? Pensou enquanto desenhava quase inconscientemente algo que pensava ter esquecido.

                                                                  ***

Sonhando? Com toda a certeza. Na realidade Sans não conseguia mais considerar aquelas visões como sonhos, estando agora oficialmente no meio científico tinha melhor consciência que aquilo era uma janela temporal, uma espécie de rachadura entre o tempo onde era permitido ver através da mesma.

Estava em um lugar do subsolo que tinha certeza nunca ter estado antes, talvez algum lugar escondido pela capital ou Waterfall, não tinha certeza. A luz era pouca, apenas alguns feixes dourados passando por grandes janelas tomadas por vinhas.  Tratava-se de um pequeno jardim feito dentro de algum edifício, completamente florido e verdejante, recheado de plantas do qual Sans só conhecia por livros.

Ficou por alguns minutos apenas contemplando a beleza do lugar, imaginando estar sozinho. Até se sobressaltar ao ouvir o som do que pareceu ser um engasgo, seguido por uma crise de tosse. Virou seu olhar para um canto mais coberto pelas sombras, se dando conta da presença de uma pequena silueta.

Era uma criança, mas não se tratava de qualquer uma: era uma criança humana. Sans sabia daquilo por conta das ilustrações de humanos que já havia visto, já que na verdade esta era a primeira vez que via um humano ao vivo e em cores.

Não devia ter mais que dez anos. Tinha a pele pálida quase da cor de papel, com alguns machucados cobertos por curativos em lugares como joelhos e cotovelos bem típicos de crianças agitadas que vivem correndo e caindo. Usava calções marrons, junto com a típica camiseta listrada, esta sendo nas cores verde e amarelo. O cabelo cortado de maneira simétrica e arredondado ia até os ombros, com uma franja que tapava seus olhos na posição em que estava.

Em um primeiro momento Sans apenas pensou que a criança estivesse sentada no chão descansando, mas logo percebeu que era bem mais que isso. Segurava um punhado de flores amareladas, com várias delas espalhadas pelo chão como um tapete dourado. O miúdo as pegava e as devorava, enchendo a boca, mal mastigava e as engolia com dificuldade, repetindo o processo até acabarem as flores de suas mãos para em seguida recolher mais das que estavam já espalhadas no chão de maneira estratégica.

Era notável que as flores não eram saborosas, vez ou outra se engasgava e seus ombros estremeciam como se sentisse alguma dor ou desconforto. Parecia até que engolia algo vivo, que quando ingerido se remexia em seu corpo e o rasgava por dentro. Lágrimas percorriam o seu rosto corado e pingavam no chão à medida que devorava as pétalas com mais ferocidade.

‘’Sou o futuro dos humanos e monstros’’ murmurava com um sorriso doloroso sem interromper o processo. Vendo aquela cena insana, Sans sentia seus ossos estremecerem de pavor, não acreditando que aquilo poderia ter sido real, querendo acreditar que tudo passava de um estranho sonho. Por algum estranho motivo, esse evento parecia ser muito mais sombrio do que já era, Sans sentia essa força de caos pairando sobre todo o ambiente. ‘’Mas por que exatamente?’’ Perguntava-se.

De repente a criança ergueu o olhar, largando as flores que segurava. Seus olhos de cor castanha estavam mirados em Sans como se pudesse vê-lo, sua boca estava reta e o rosto parecia com um completo vazio. Havia algo profundo e sombrio naquele olhar que Sans não sabia do que se tratava, apenas sabia que estava ali.

‘’Você não deveria estar aqui. ’’

E então acordou.

Estupefato e com a mão no peito, Sans respirava descompassado, olhando turvo para sua mesa de trabalho que demorara a tomar forma em sua visão. Não se lembrava em que momento havia dormido, e por alguns minutos ficara confuso com o que havia acontecido, com o pesadelo que tivera. Havia sido um pesadelo? Por algum motivo não se lembrava, apenas a imagem de flores douradas vinham em sua mente, no qual não pareciam fazer sentido para ele.

Mas seja lá o que tivesse acontecido, Sans sentia que precisava terminar aquelas armadilhas para humanos o mais rápido o possível.


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Notas finais do capítulo

Quem aqui entendeu uma certa referência? Tá meio escondida então acho difícil alguém notar ;-;
Vejo vários fantasminhas aqui nessa fic... Saibam que comentários são sempre bem vindos! ♥
Até a próxima! ^-^



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