Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 12
Estudo da Natureza das Almas - Por Dr. WD Gaster (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Este daqui é um especial que tirará muitas dúvidas de vocês - e talvez atiçar mais algumas. Pretendo dividir ele em três partes, com as duas outras sendo postadas aleatoriamente, então sem uma previsão exata para isso.
Boa leitura!



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Há um tempo...

No meio de dezenas de mesas de trabalho, todos os pesquisadores digitavam suas hipóteses e teorias, relatando seus testes e medindo suas possibilidades. Ninguém olhava um para o outro, o silêncio permanecia por completo se não fosse pelo teclar feito por todos os funcionários do laboratório. Estavam concentrados, sérios e determinados.

Mas um som destoante surgiu no meio de todos aqueles computadores, o quebrar da ponta de um lápis. Alguns dos funcionários ao ouvirem aquilo até pararam de digitar, olhando para o lado com o canto dos olhos de onde viera aquele barulho incomum para um ambiente tão tecnológico. A fonte vinha de ninguém mais que a pessoa mais respeitada e importante daquele edifício: o cientista real Doutor WD Gaster.

Logo todos ignoraram o ocorrido voltando aos seus afazeres, afinal a Barreira não se quebraria sozinha. Gaster pegara o apontador não muito longe de seu alcance, fazendo a ponta ficar fina novamente, voltando a rascunhar as primeiras ideias de seu mais novo experimento.

Registro número 1

A última vez que um humano caiu no subsolo foi a mais de vinte anos atrás, junto com as outras três almas que possuímos até agora a mesma começará a pegar pó até que finalmente se junte as sete necessárias. Quanto tempo mais nós vamos esperar para voltar à superfície?

Os estudos sobre a natureza da Barreira confirmam que apenas a força da alma é capaz de quebrá-la, isso é incontestável. Mas Asgore ainda tem fé que exista alguma outra possibilidade e continua financiando todos os projetos do laboratório. Assim é meu dever atender ao pedido de vossa majestade.

Se o único elemento que pode quebrar a Barreira é a alma, será com a alma que trabalharei.

Gaster teria desenvolvido mais de sua tese, se um alarme não tivesse disparado por todo o laboratório sinalizando uma instabilidade no Core. De imediato o edifício inteiro se mobilizou, os funcionários indo de um lado para o outro em busca de alguma forma de estabilizar a máquina, assustados e esbaforidos com tudo aquilo.

O cientista real era o mais calmo dentre todos, ele sabia exatamente o que deveria ser feito, afinal aquela era a sua criação, além do mais já houve crises piores do Core. O que realmente o preocupava era este projeto não acabado, uma máquina completamente instável a mercê de desligamentos a força. Não fora por faltas de tentativas, afinal desde que criara o Core o doutor sempre procurou encontrar alternativas para aquele defeito, mas a falta de tempo e a complexidade eram obstáculos grandes demais para o doutor conseguir obter sucesso.

Mas mesmo com tantas incógnitas, o cientista real não poderia parar com suas outras pesquisas. Não é como se ele pudesse parar de procurar uma forma de saírem daquele lugar.

Registro número 2

O objetivo é conseguir manipular uma alma de monstro para que se mantenha em um ambiente de forte energia, para não se quebrar e poder ser usada no lugar de uma alma humana. Mas antes é necessário antes de tudo conhecer a natureza das almas, como elas se comportam e como reagem a certos eventos, do que elas são capazes.

Com a junção de um mistério sobre a natureza dos monstros, tentarei criar um ambiente artificial e ver se é possível determinar e controlar o nascimento espontâneo. Ao observar a criação e formação de uma alma, será mais fácil obter as informações necessárias para arriscar uma experiência que molde e controle uma alma.

 

Registro número 3

O nascimento espontâneo é uma rara ocasião onde um monstro nasce quase que do acaso. Os maiores exemplos são os fantasmas e minha própria espécie, que só são capazes de existir através deste fenômeno.

Ao que tudo indica, o fator capaz de criar o nascimento espontâneo é o acúmulo contínuo de magia na matéria. Para a criação de um ambiento propício a este fenômeno, estou desenvolvendo um invólucro que possa isolar a matéria escolhida do mundo exterior, para que não possa haver nenhum tipo de variação indesejada. Com uma quantidade fixa e contínua de magia entrando em contato com o material, observarei se é possível controlar as determinantes do nascimento espontâneo e observar este fenômeno com melhor exatidão.

Não deixarei que a alma se materialize, precisarei descobrir uma forma de controlá-la para permanecer em sua plena forma.

 

Registro número 4

Consegui a matéria necessária para poder iniciar o experimento. Viver nos subsolo possui a vantagem de conseguir fósseis e detritos com facilidade, assim consegui uma pilha de material ósseo de mesmo DNA para não haver nenhuma variante.

Começarei os testes o mais breve o possível.

 

Registro número 6

Faz dez dias desde que iniciei o experimento. Não há nenhum sinal de mudança, entretanto não planejo mudar a dosagem de magia. Felizmente a matéria não está se deteriorando com a mágica, talvez esteja ainda processando o elemento.

 

Registro número 9

Depois de três meses com magia contínua lançada na matéria óssea, surgiu finalmente um resultado: o surgimento de uma alma.

Ela se criara tão repentinamente que as máquinas não puderam marcar o momento exato, nem rastrear o tipo de energia lançada e acumulada para ela se materializar. Por isso infelizmente não foi possível descobrir do que realmente a alma é feita, talvez em uma próxima tentativa eu possa aprimorar a mecânica e conseguir um resultado melhor.

Entretanto ainda há esperança de progressos. Caso eu consiga controlar esta alma, poderei fortalecê-la para se igualar a uma alma humana.

 

Registro número 10

A tentativa de controlar a alma falhou.

Consegui manter seu controle por algumas horas, onde passei estudando com mais precisão a sua natureza. Até que chegou ao ponto onde ela se tornou instável e temi que se autodestruísse, porém ela apenas estava se recusando ser mantida presa. Pensei por um momento que o lugar explodiria com tamanha força.

Materializou-se dela um esqueleto normal. Um menino, e apesar de ser menor que a média não possui nenhuma diferença com qualquer outra criança monstro quan-

 

Doutor Gaster se sobressaltara ao ouvir um estranho som logo atrás de si, largara o seu lápis e olhara para trás confuso até se dar conta de onde viera. O experimento apenas havia tossido, logo voltara a adormecer enrolado em um cobertor em cima da mesa.

Ele realmente não esperava que a alma se materializasse de uma forma tão jovem, apesar de ser um tanto óbvio. Mas ele na havia se preparado para aquilo, não esperava que a alma se materializasse, não era uma fábrica de carne que buscava.

Levantou-se, deixando as anotações largadas na escrivaninha. Aproximou-se do recém nascido que cochilava tranquilamente, perguntando-se por quanto tempo ele permaneceria calmo daquele jeito. Sua mão direita estava recostada em seu crânio, pensativo sobre o que faria agora, deveria ter pensado mais caso essa possibilidade ocorresse.

Esticava os braços para pegá-lo no colo várias vezes, mas sempre acabava recuando. Havia um jeito certo de fazer isso? Não era como se tivesse alguma experiência com crianças. Assim, acabara por segurar o esqueletinho como se fosse uma bola de basquete, mantendo os braços o mais afastado o possível de seu corpo, estudando com o olhar o pequeno ser sonolento a sua frente.

Naquele momento, Gaster fez uma nota mental para pensar melhor nas consequências de seus testes. Suas mãos holográficas pegaram o celular com ansiedade, começando a digitar os números avidamente, em seguida começou a esperar que fosse atendido, andando de um lado para o outro com o recém nascido no colo.

— [Semi, me encontre no laboratório. Agora.]

O velho não ficara nem um pouco feliz com aquele pedido abrupto, mas Gaster sabia que ele jamais negaria algo assim, principalmente quando pedia com tanto desespero na voz. Até o ancião chegar, ficava andando com a criança no colo de um lado para o outro, confuso, assustado e cheio de dúvidas em sua mente, temendo que o menino em seus braços acordasse. O que faria agora? O que deveria fazer? Como prosseguir com aquilo?!

Ao menos Semi estava ali para ajudar.                                                        

A presença do velho esqueleto fora notada antes mesmo de ele entrar no cômodo, o som de sua bengala estalando pelo chão e os passos vacilantes e ao mesmo tempo apressados do mesmo já chamavam bastante atenção. Gaster respirara fundo já prevendo a reação de Semi Serif, vendo que nada seria tão tranquilo.

Pois nada era tranquilo quando Semi Serif estava presente.

— O que você inventou de fazer agora Wingdings?! – A voz rouca do ancião ressoou por todo o ambiente, fazendo com que o bebê no colo do cientista abrisse pela primeira vez os olhos à procura daquele som estranho.

E o velho esqueleto chegou ao cômodo com uma cara de poucos amigos, afinal estava jogando cartas com alguns amigos antes de Gaster ligar, vestindo as calças xadrez do pijama e pantufas, os olhos franzidos atrás dos óculos de garrafa e apoiado firmemente com a bengala no chão.

O cientista nada disse, encarando Semi com um olhar de desespero que valia mais que qualquer outra explicação. Não demorou muito para que o idoso pousasse seu olhar no esqueletinho sonolento nos braços de Gaster, ficando com os olhos arregalados e começando a se aproximar lentamente.

— Bem... – Semi Serif pronunciou as palavras em um tom de dúvida, como se esperasse que aquilo não passasse de uma pegadinha. Mesmo sabendo muito bem que Gaster não era do tipo piadista. – Vamos começar pelo básico: onde você o encontrou?

Gaster ponderou por alguns segundos antes de responder, afinal não havia uma resposta simples para aquilo. Ao contrário dele que fora encontrado ao cair de uma estalagmite de Waterfall, e de Semi Serif nascido de uma velha tumba há mais de noventa anos atrás, este novo esqueleto havia sido criado de uma maneira completamente artificial.

Pensara em diversas formas de explicar para Semi, entretanto o velho esqueleto apesar de sempre apoiá-lo nunca se interessara por ciência e quase dormia nas explicações que dava. Por isso, disse a realidade da forma mais simples:

— [Eu o criei.]

Semi Serif se sobressaltou ao ouvir aquilo, um estranho silêncio permanecera por alguns segundos, até o velho dar um enorme sorriso e começar a rir de um jeito contagiante, pondo sua mão esquerda no ombro de Gaster amigavelmente enquanto o cientista ficava cada vez mais alarmado, tentando segurar o pequeno em seus braços enquanto era chacoalhado pelo velho.

— Dings, você me surpreende mais a cada dia! – Exclamou no meio de risos alegres, sacudindo o ombro do cientista sem nenhum pudor. Em seguida praticamente arrancou a criança dos braços de Gaster, estudando o esqueletinho com o olhar, completamente maravilhado. – É tão pequeno! Mas meu filho, você tem que aprender a segurar ele direito, parecia que você estava segurando um saco!

— [Eu... -]

— Por Asgore! Ainda bem que você me chamou, porque pelo menos alguém aqui sabe cuidar de uma criança. O que você tem na cabeça Wingdings pra fazer algo assim? Não cuida nem de si mesmo! – Semi praticamente gritava, sua voz estridente fazendo eco pela grande sala. O momento de orgulho e alegria havia sido deixado em segundo plano, já que Semi Serif estava determinado a ensinar como ser responsável com um bebê esqueleto - ou ao menos tentaria parecer responsável.

— [Isso não estava nos meus planos.] – Tentou se explicar, sendo completamente ignorado pelo velho que não tirava os olhos do recém nascido.

— Ele tem nome?

Era WD P2-001 em seus registros, entretanto Gaster naquele momento tinha algumas ressalvas de continuar com esta nomenclatura para um ser vivo.

—[Não acho que seja necessário.] – Respondeu, afinal uma hora ou outra a fonte do menino seria descoberta. Claro que quando ele tivesse no mínimo um ano de vida, mas este era apenas um mero detalhe.

— Pra ser sincero, pensei que você ia ser o último esqueleto além de mim que eu veria em vida! – Disse Semi rindo de alegria e sem tirar os olhos do esqueletinho, maravilhado com a novidade. – Não é mesmo Dings Jr?

Gaster revirou os olhos, pois sabia muito bem que discutir com Semi Serif não surtiria em nada. Além do mais não se impressionava com o jeito do velho, ele adorava falar do fato de que seu primeiro nome fora Serif Jr, entre tantas outras histórias que ele gostava de desenterrar do fundo de suas memórias.

— Bem, você que me pediu por socorro então estou aqui para ajudá-lo. Primeiramente, segure este carinha direito. – Semi devolveu a criança para Gaster que quase o derrubara por conta da surpresa, o segurando o mais firme o possível depois do pequeno susto, já imaginando que aquilo fora feito de propósito para chamar sua atenção. Mas estava ciente que teria que seguir as regras de Semi desde o começo. – Vou ficar aqui por um tempo até você pegar o jeito, será melhor assim. Acho que ainda devo ter algumas coisas suas guardadas, Dings Jr vai precisar de coisas de bebês afinal. Vamos para minha casa agora! Quanto antes organizarmos tudo melhor!

—[Semi, você tem certeza que é preciso mesmo...]

— No mesmo teto eu sou seu pai caro Wingdings Gaster, e acho melhor ser tratado como tal. – Serif falou no tom mais sério que conseguia, segurando o colarinho de Gaster para dar ênfase no que dizia. Ele não era do tipo que exalava muita autoridade, era simpático demais até quando irritado, entretanto era impossível contradizê-lo.

E Gaster sabia mais do que ninguém disso.

—[Devemos voltar aqui em menos de uma hora.] – Respondeu se dando por vencido e Semi sorriu satisfeito, começando a andar apoiado na bengala alegremente e de cabeça erguida. Era muita emoção para uma noite só.

O cientista real antes de seguir o ancião, olhou para o esqueletinho em seus braços, já tendo pegado no sono novamente. Dando-se conta pela primeira vez do seu feito, podia não ser o resultado esperado, mas mesmo assim era algo de proporções surpreendentes e que jamais imaginara que seria capaz de realizar algo assim. Teoricamente não havia o criado, apenas guiado o curso de sua própria criação, mas por algum estranho motivo sentia que havia feito isso, tendo um sentimento de responsabilidade pelo menino lhe preenchendo a alma.

Com Semi Serif ou não, Gaster sabia que nada mais seria o mesmo.

                                                                              ***

Era quase de manhã e ainda estava acordado, enquanto todos os outros estavam adormecidos. Semi Serif havia pegado no sono há várias horas atrás, enquanto Dings Jr – Gaster não gostava deste nome, mas tinha que se referir ao menino de alguma forma – fez o mesmo bem antes do velho. Mesmo com idades tão distintas uma coisa os dois tinham em comum: a habilidade de dormir o máximo possível.

Sua mesa estava repleta de planilhas acabadas e inacabadas, com anotações jogadas para lá e para cá dizendo como prosseguir e do que já havia feito. A única coisa que iluminava tudo era um pequeno abajur, para não ter risco dos dois adormecidos se incomodarem com o excesso de luz. Observava toda aquela bagunça que havia escrito, apenas ele era capaz de entender aqueles garranchos, não só pelo seu próprio alfabeto mas também por conta de sua falta de organização na hora de escrever todos os tópicos e cálculos espalhados por todos os cantos.

Um croqui do Core lhe prendia a atenção, havia o desenhado alguns meses atrás e possuía certas modificações em sua estrutura. Uma função que seria capaz de concentrar toda sua energia em um único ponto, para assim realizar a função que andava tentando descobrir a tempos: manter a alma de um monstro intacta mesmo fora de um corpo.

Entretanto com o que havia acabado de testar, não havia formas de conseguir controlar uma alma. A alma irá lutar para permanecer em sua devida forma, assim causando o efeito que fez Dings Jr se materializar mesmo quando Gaster pensava estar com sua alma sob controle. Isso só mostrava que mesmo se um monstro normal morresse, não seria possível controlar sua alma para se manter inteira.

Mas almas humanas não precisam ser controladas, elas são resistentes por natureza e são capazes de permanecerem intactas mesmo depois da morte. Por isso podiam ser absorvidas.

Gaster poderia tentar outro método, um que havia pensado há pouquíssimas horas e justamente por sua causa não conseguia dormir. Era algo difícil, óbvio, mas não era por isso que estava tão preocupado com esta hipótese, era um motivo totalmente diferente que nunca imaginara estar neste tipo de incógnita.

Um choramingo lhe tirara de seus devaneios, virando-se para trás e vendo o recém nascido se contorcer em cima do travesseiro que havia sido posto. Semi dormia no outro extremo do sofá, roncando alto e sonhando profundamente, nem percebendo o que acontecia logo ao seu lado. Assim Gaster quem teve que se levantar e socorrer a criança, o pegando no colo da maneira que mais parecia ser a mais segura.

Não arriscara dizer algo, afinal não tinha um tipo de voz que acalmava, o som estático e estridente iria só assustar o menino. Então apenas o segurou, se perguntando se deveria acordar Serif ou não.

O bebê se remexeu por alguns minutos, soltando alguns grunhidos em meio disso. Mas acabou se acalmando, aninhando-se da melhor maneira e adormecendo rapidamente. Só não queria ficar sozinho.

Gaster suspirou exausto, olhando das planilhas para o esqueletinho em seus braços. Divagando e tentando encontrar alguma saída para aquele labirinto de incógnitas.

Tentaria descobrir outros métodos, não podia deixar mais um experimento estagnado, não era dessa forma que a Barreira seria quebrada. Mas agora ele tinha algo mais importante para tomar conta.

Algumas coisas deveriam ser deixadas de lado por um tempo.


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Notas finais do capítulo

''Uma incrível quantidade de poder seria necessária para coletar a ALMA de um monstro ainda vivo'' é o que diz uma das escrituras antigas em Waterfall.
É Gaster, não foi desta vez.
Sobre Papyrus? Saberão mais tarde...
Comentários são sempre bem vindos! ^-^



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