Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 13
Antes da Queda - Capítulo Onze


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar o capítulo um aviso importante: haverá um pequeno hiatus onde não postarei o capítulo semana que vem e nem na outra, ficando assim quinze dias sem atualização. ENEM está chegando e estou me focando nos estudos, além disso farei uma viagem, não tendo nenhum tempo para escrever e revisar...
Mas fiquem tranquilos que é só essas duas semanas, logo voltamos a programação normal!
Boa leitura! ^-^



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Sans não imaginava que Gaster ainda tinha a casa de Semi Serif. Pensava que aquela altura aquele lugar já havia sido demolido ou sendo moradia de alguma outra família de monstros. Ao invés disso virara uma espécie de depósito, onde o doutor tinha guardado todas as tralhas que não cabiam no laboratório, mas de resto não passava de uma cada abandonada. O doutor os levara até ali da mesma forma que havia feito quando vieram pela Capital pela primeira vez, assim os dois quase não viram nada além da rua onde a casa se encontrava.

Era uma casa pequena, de apenas um andar e com o mínimo de cômodos. Tinha uma arquitetura bem clássica das casas mais antigas da capital, feitas de pedra e de pintura cinzenta, como se fossem pequenas peças de um castelo despedaçado. O papel de parede estava rasgado e estilhaçado em diversos pontos, o chão possuía falhas e buracos, o teto começava a acumular nos cantos diversas teias de aranhas. Caixas e mais caixas estavam empilhadas pelo lugar, com alguns poucos móveis antigos cobertos por lençóis velhos e manchados, a poeira era tão grossa que parecia uma espécie de membrana sobre os objetos.

— Então, o que estamos procurando? Algum tesouro enterrado ou relíquia medieval? Talvez algum fóssil para sua coleção. – Sans questionou chutando a poeira e Gaster lhe fitou com o canto do olho mostrando que aquela não era hora para piadas. Aquele provavelmente seria o maior ‘’programa em família’’ que os três fariam em muito tempo.

— [Uma caixa nova de disquetes.] – O doutor respondeu pegando uma das caixas e a abrindo com um estilete que havia trazido. Ao ver que seu conteúdo não passava de fitas de música velhas e quebradas, deixou de lado pegando mais uma caixa e abrindo, repetindo o mesmo processo. – [Ando usando mais do que o costume, o que significa que devo pegar mais do estoque.]

— Tem um monte de coisa guardada aqui! Você usa tudo isso?!  – Exclamou Papyrus passando a mão por diversas caixas, ficando com as palmas sujas de poeira.

— Eu já dou meu palpite que não. – Retrucou Sans pegando uma velha flauta doce abandonada no chão. – A não ser que Gaster toque algum tipo de instrumento sem sabermos.

— [Isso era do avô de vocês.] – Gaster interrompeu revirando os olhos, não demorando a se dar conta do que acabara se dizer e sobressaltando-se, ficando estático por um tempo com um tremor vindo de sua espinha, nunca havia dito algo tão sem pensar como naquele momento. Os irmãos também não deixaram de notar aquilo, encarando o mais velho com descrença como se tivessem ouvido errado. Na verdade, nem mesmo o doutor por um momento acreditou que realmente havia soltado aquilo. Papyrus estava prestes a falar algo sobre quando o doutor o interrompeu para consertar sua fala. – [Quis dizer que ainda tem algumas coisas de Semi Serif por aqui.]

Por vários segundos que mais pareceram horas, os três ficaram em silêncio evitando qualquer contato visual.

— Mas você não toca mesmo nenhum instrumento? – Sans quebrou o curto silêncio desconfortável que pairou sob os três, com um sorriso sacana para Gaster que lhe dera as costas, o ignorando sem muito sucesso. – Nem uma gaita de fótons?

— [Já chega Sans.]

Vasculharam o lugar por uma meia hora mais ou menos, afinal apesar de aparecer poucas vezes ali Gaster tinha uma ideia de onde havia deixado as coisas desde a última visita. A cada tralha que os garotos encontravam neste período enchiam o doutor de perguntas irritantes ou queriam levar para casa, o que foi um acréscimo para o cientista se apressar a encontrar o que buscava.

Era um dilema infinito, sentia-se mal por não fazê-los saírem muito do laboratório e quando o fazia logo se arrependia de todas as formas possíveis.

— Wowie! Posso levar isso?!

— Isso aqui servia pra quê?

— Eu gostei disso, vai ficar no meu quarto agora!

— O que é isso exatamente?

— Não importa, é meu agora.

— Tem muito instrumento aqui, você não sabe tocar nenhum deles mesmo?

— Não sei o que é isso, mas gostei e vou levar!

— Se Papyrus pode levar tudo isso eu vou levar esse trombone.

— Esse na foto é você?

— Oh meu deus, não me diga que você era assim!

— [Já chega vocês dois.] – Disse Gaster impaciente, arrancando a fotografia da mão de Papyrus com uma de suas mãos espectrais. Já havia encontrado os disquetes, fazendo sinal para que os garotos saíssem. – [E Papyrus, largue essa caixa.]

— Ah... – Suspirou desanimado o mais novo, deixando de lado a caixa onde havia posto tudo o que havia achado de interessante.

Não havia como culpá-los de todo aquele interesse pelo lugar. Afinal, sabiam que ele existira, mas não que ainda fosse realmente usado – nem que fosse apenas para guardar as bagunças. Todas aquelas coisas antigas, memórias e entulhos causava uma curiosidade de revistar cada caixa lacrada e cada móvel coberto. Sem falar do mistério acerca de tudo aquilo, afinal Gaster poderia ter se livrado da velha casa há muito tempo, mas não o fez apesar de não parecer nem um pouco sentimental com a mesma. Talvez pensasse que algum dia aquilo lhe seria útil.

— Sem instrumentos então? – Sans indagou com um sorriso sacana no rosto, esperando pelo típico revirar de olhos de Gaster.

Mas ao invés disso, o doutor suspirou impaciente, retirando com suas mãos flutuantes o lençol de um dos móveis e revelando ser um velho piano, com uma  nuvem de poeira se levantando ao redor. Aproximou-se do mesmo sem fazer nenhum contato visual, pondo em seguida suas mãos nas teclas amareladas pelo tempo e começando a tocar uma curta melodia. Os irmãos prestaram a máxima atenção, estagnados com aquilo, ouvindo as notas rápidas e sincronizadas sendo tocadas.

Era uma melodia de poucas notas, ligeiramente lenta e que se repetia como em um loop. Um tanto hipnotizante, seus acordes pareciam formar um cenário de mistério e de angústia.

A música durou menos de um minuto, logo Gaster abandonou o instrumento, fitando os dois com o canto do olho enquanto se dirigia até a saída, mostrando que deveriam fazer o mesmo.

— [Não vou fazer de novo.] – Avisou antes que desse a oportunidade, logo dando as costas para os irmãos que começaram a segui-lo. Os dois se olhando levemente sorridentes, surpresos e satisfeitos com aquela pequena excursão.

Entretanto para o doutor, aquela seria sem sombra de dúvidas mais uma noite sem dormir, com a diferença de que não seria por conta do trabalho. Seria assombrado pelos seus próprios pensamentos.

                                                                      ***

As peças estavam todas espalhadas pelo chão, tentava soldar e conectar os fios em uma tentativa de reviver o aparelho novamente. Não havia muitas chances, afinal aquilo deveria ter algumas décadas de usos, sem contar o tempo que ficou no lixão antes de ser encontrado. Entretanto, Sans não iria desistir tão fácil do videogame que fizera parte de sua infância.

— Se eu ao menos tivesse mais uma dessa... – Falou pensativo, observando o pequeno metal entortado com pesar. O som brusco de um limpar de garganta interrompeu seus pensamentos, virando seu olhar para um Papyrus nem um pouco satisfeito.

— Eu falei pra olhar o que estou fazendo! – O mais novo reclamou, de braços cruzados e batendo o pé no chão. Papyrus não caía bem com um semblante irritado, fazendo com que ele só parecesse cômico, assim Sans teve que se conter para não rir.

— Ok, mostre tudo o que tem. – Sans disse se recostando na parede, largando a chave de fenda e prestando atenção no irmão que sorrira ao ver que o foco voltara para si.

Papyrus se posicionou, conjurando um ataque com muito mais facilidade do que as últimas vezes. Os alvos já estavam a postos, não sendo mais latinhas vazias e sim tampas de caixas pintadas para parecerem realmente alvos, sendo logo em seguida atingidos um por um pelos ossos de Papyrus. Errara apenas um deles, mas a rápida evolução do irmão foi o suficiente para fazer Sans arregalar os olhos.

— Contemple O Grande Papyrus! – Disse o mais novo erguendo os braços, vitorioso, fazendo diversas poses seguidas para dar mais ênfase a sua tal grandiosidade. E orgulhoso como estava, Sans fez a coisa mais óbvia naquele momento: contemplar a grandiosidade de seu irmão.

— Quando aprendeu isso? É incrível Paps!

— Ah não foi nada! – Disse o mais novo enquanto fazia uma pose heróica, mas logo amuando e sorrindo um tanto envergonhado. – Na verdade eu fiquei treinando escondido.

— Estou decepcionado. – Sans ficou com um semblante sério, com suas órbitas vazias encarando o mais novo que encolhera os ombros tristemente.

— Sério...?

— Sim. Afinal você não me deu oportunidade para fazer piadas enquanto treinava.  – Disse sorrindo gradativamente e Papyrus lhe deu um leve soco no ombro, irritado.

— Não foi engraçado Sans! E suas piadas não seriam também!

— AH Paps, assim você me deixa tristosso.

— SANS!

— No fundo você gosta de minhas piadas. – Disse Sans dando um cascudo no crânio do irmão. Papyrus por um tempo lhe olhou emburrado, mas logo soltou um alegre riso, lançando um sorriso na direção de Sans.

— Fico feliz que você está melhor agora Sans, ao menos você está sorrindo bem mais. – Assim que Papyrus disse isso o mais velho se sobressaltou, não imaginava que a conversa entre os dois chegaria a esse ponto, coçou atrás da nuca um tanto sem jeito antes de responder.

— Pra você ver que não precisa ficar se preocupando comigo.

— Nem vem com essa Sans, tu sabe muito bem que não consegue se livrar de mim! Quis dizer que eu tinha razão sobre você precisar pedir ajuda, e eu espero que você não guarde tudo pra você de novo! – Papyrus mal deu oportunidade de Sans replicar, pois já tinha o erguido para um abraço surpresa e apertado, típico dele.

— Minha nossa Paps, você vai me deixar diabético com tanta doçura.

— Me deixe pensar se isso é um trocadilho ou não pra eu poder ficar bravo com você. – Papyrus disse pensativo, ainda sem soltar Sans que se sentia amassado estando enrolado nos braços do irmão daquele jeito.

— Ok Papyrus, acho que já pode me soltar.

 - Só mais três segundinhos. 1...2...3. – Assim que Papyrus liberou Sans de seus braços, os dois notaram a presença de uma sombra pairando sobre os dois. Ao se viraram para trás viram que se tratava de Gaster.

— [Sans, venha comigo. Papyrus... Coloque uma calça.] – Disse o doutor de cenho franzido, Papyrus observou suas pernas nuas e suspirou chateado enquanto Sans ia para perto do doutor.

— Ah... Eu gosto de ficar assim.

— Cuide do DS Paps, eu já volto. – Sans disse quando já virava a porta junto com o doutor.

Gaster levou o menor até a sala de testes, onde comumente Sans treinava suas defesas. Aquele lugar já deixara de ser algo novo para ele, afinal já ‘’batalhara’’ com o cientista naquele lugar diversas vezes, não duvidava já conhecer cada bolo de poeira daquele cômodo.

— Então, tem alguma coisa a mais que eu ainda não sei? – Perguntou vanglorioso, afinal sempre aprendera bem rápido. Com só algumas sessões e Sans era capaz de desviar até do vento se quisesse.

Fora surpreendido com três ataques de Gaster vindos em direções opostas, mas aquilo não fora problema. As driblara com facilidade, sorrindo largamente em seguida e cruzando os braços preguiçosamente.

— Fácil. Fácil.

— [Já se acha apto o bastante?] – O doutor questionou em um tom mórbido, e Sans estranhou aquela pergunta feita daquela forma, entretanto apenas deu de ombros e sorriu convencido.

— Claro, afinal eu sou Sansacional. – Respondeu abafando o riso, sendo como sempre o único que achava graça em suas piadas. Gaster pareceu ignorar o trocadilho, dando atenção apenas para sua afirmação.

— [Então prove que é forte o suficiente para sobreviver.] – Gaster disse num tom de voz baixo e firme, mesmo assim ressoando alto pela mente de Sans como se fosse um aviso, um instinto de sobrevivência que dizia para permanecer atento e correr para o mais longe se possível, a mesma sensação que teve quando Gaster lhe guiou pela sala de experimentos para usá-lo como sua cobaia.

Sans abriu a boca para dizer algo, mas todo o ar e palavras foram suprimidos quando vira Gaster preparar ataques reais. Ossos longos e pontiagudos, que com certeza causavam um dano muito alto, e mesmo se não o fosse para ele virar pó bastava apenas um.

Não houve tempo para pânico, pois assim que os golpes começavam a se aproximar em alta velocidade, Sans instintivamente começava a desviar da maneira que havia aprendido. Só que desta vez não era de um jeito descontraído, muito menos com a certeza de que nada aconteceria caso ocorresse um acidente. Uma pisada em falso, um movimento brusco, sendo lento demais ou rápido demais...

‘’Você está morto. ’’ Sua mente pulsava, sem intervalos.

No meio daquele frenesi de desvios e bloqueios, Sans sentia sua alma agitar em seu peito, os sentimentos de pânico e desespero, junto com uma pontada de cólera faziam com que seus movimentos se tornassem automáticos. Mesmo quando não era rápido o suficiente para desviar de uma chuva de ossos, acabava por criar barreiras com sua própria magia, inovando seus ataques para poder se defender com mais proeza. Chegou um momento em que tudo o que aprendera não vinha em sua mente, criava sua própria técnica no meio daquele caos.

Mas mesmo se defendendo muito bem, o medo e o horror não o abandonavam. A cada segundo que se passava tinha a esperança de que Gaster pararia, mas ele continuava, e a cada milésimo pareciam ser horas para Sans que se perguntava até onde ele iria, até quando aguentaria?

— Gaster! – Tentara gritar em vão, a voz saindo rouca e abafada por conta da falta de fôlego. O doutor não mudara a expressão, mantendo uma face rígida e congelada, completamente vazio. – Gaster, pare!

Nada mudara. Pois afinal, não seria em toda luta que um pedido de pare seria atendido, assim Gaster não hesitou nem um pouco em continuar.

Chegara ao ponto em que a visão de Sans começava a ficar turva, seus ossos ardiam como brasa por conta do cansaço. Seu corpo dizia para parar, enquanto sua mente e alma gritavam em desespero para que continuasse, não poderia morrer, não daquele jeito. Havia se esforçado tanto, havia passado por muita coisa para tudo acabar assim.

E uma força crescia em sua alma, a vontade de lutar, de viver não importando o quão cansado e arrasado estava. Queimava nas profundezas da culminação de seu ser, algo poderoso que queria sair, era sua vontade de acabar com tudo aquilo o mais breve possível. Queria paz, queria um descanso.

— Eu.Disse.Pare! – Gritou, liberando tudo aquilo que estava preso dentro de si. Uma força sônica fez com que tudo ficasse mudo, e por um momento Sans não vira mais nada, sentindo ser puxado para longe, muito longe. Até que como se tivesse acordado de um profundo sono, sua visão turva começando a se acostumar com o ambiente, podendo ver suas mãos trêmulas estendidas em direção do seu mais novo ataque.

O Gaster Blaster permanecera por mais poucos segundos, se desmaterializando lentamente até não sobrar nada além do estrago feito. A parede rebocada havia sido destruída novamente, talvez um sinal de que não devesse ser consertada, mas a figura que mais chamava a atenção era Gaster. O cientista estava de pé, firme apesar do jaleco chamuscado, sua visão sendo tapada por conta das cinzas nas lentes de seus óculos, Sans o encarara por um momento sem acreditar, o doutor estava praticamente intacto.

E seu olhar fora tão profundo, que teve todas as suas respostas:

WD Gaster

HP 666665/666666

AT 66666

DF 66666

EXP ?????

LV ?????

— Como... – Sans não conseguira concluir sua fala, sentindo-se desmoronar, só não caindo de cara no chão pois fora pego rapidamente por Gaster. O doutor o segurava firme nos braços, e mesmo com a visão turva Sans pode ver a rachadura superior de seu crânio aumentar lentamente e quebrando seu olho ao meio.

— [Você foi muito bem Sans, muito bem mesmo.]

E tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

A casa de Semi fará mais sentido em outros capítulos, este foi só mais uma apresentação da mesma :p
Os dados de Gaster são baseados em arquivos extraídos do jogo, é realmente essa confusão de números 6.
Estou de olho nesses fantasmas passeando pela fic...



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