Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 11
Antes da Queda - Capítulo Dez


Notas iniciais do capítulo

Olá! Mais um capítulo chegando, um pouco menor que o normal e ainda assim grande ;u;
Vejo vocês nas notas finais! Boa leitura! ^^



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Estava tudo escuro, Sans não conseguia enxergar absolutamente nada em meio aquele breu. Apenas escutava os murmúrios assustados da multidão de monstros ao seu redor, sendo esmagado por toda aquela gente tentando se encontrar no subsolo.

Todos estavam com medo, sentindo-se derrotados e sem esperança. A guerra havia tirado tudo dos monstros, amigos, familiares, suas casas, a própria luz do Sol e a liberdade da superfície. Sans era capaz de sentir toda a melancolia que vinha das almas dos monstros, aquele ambiente fazia com que ele mesmo se sentisse cada vez mais insignificante e fraco.

— Acalmem-se todos! – A voz de Asgore ressoou firme, ecoando pelo subsolo. Seu tom transpirava ordem, mas ao mesmo tempo conseguia ter certo carinho que transmitia paz para aquele povo tão desesperado. Todos pararam de falar, olhando na direção da voz, inclusive Sans que encarou toda aquela escuridão sabendo que havia alguém ali para guiá-los. –Posso ver cristais brilhando por uma longa extensão, só mais alguns metros e todos poderão ver a luz de novo!

E assim os monstros sobreviventes da guerra começaram a continuar a caminhada, guiados pelos discursos de conforto e esperança feitos pelo seu rei. Era difícil ser levado por meras palavras no meio de tanta tragédia, mas era apenas isso que os monstros tinham: palavras e sonhos para confortá-los, deviam decidir se agarravam este filete de esperança ou se deixassem ser levados pela maré de sofrimento.

Sans os seguia sem muita opção, ficando curioso e atordoado com tudo aquilo. Prestando atenção nas palavras do rei que guiava a todos. Continuara na escuridão por vários passos incertos e cegos, até de repente se deparar com a luz, um tom róseo que pulsava de diversos cristais espalhados pelo subsolo em diferentes pontos. O garoto pode ouvir o som dos suspiros aliviados dos monstros, com um pouco de perspectiva nascendo no meio daquele pequeno refúgio da escuridão. Um pequeno sorriso se formara no rosto de Sans, sentindo sua alma se aquecer com a visão dos cristais e o vislumbre dos olhares suavizados dos monstros.

Até que de repente o cenário começara a se moldar, se tornando turvo e denso como a lava que escorria do Core. Não dera tempo de Sans se assustar ou estranhar aquilo, sentia-se zonzo e hipnotizado com aquele ambiente caótico se modelando lentamente.       

Fora transportado por um cenário muito conhecido: o laboratório. Mais especificamente o primeiro andar, onde vivia com Gaster e o irmão, entretanto sentia que algo estava diferente. Os móveis eram os mesmos, mas não se lembrava se Gaster mudara a decoração alguma vez em sua vida, por isso não importava a época tudo pareceria o mesmo. Pensara por um momento que acordara, mas esta hipótese fora descartada ao ver que estava de pé e não a recém acordando.

Até que compreendera o que era aquele estranhamento, afinal não era todo dia que você via a si mesmo logo a sua frente. Sans viu ele mesmo, mas era notável que seu outro eu estava diferente dele. Era menor, ainda usava uma camiseta listrada – deixara de usá-las já fazia um ano aproximadamente – e portava um olhar animado repleto de expectativa, coisa não muito característica de seu eu atual.

— O que é isso? – Seu eu mais jovem perguntava para um Gaster que se aproximava. O doutor não estava tão diferente, continuava portando seu olhar cansado e vestindo o mesmo padrão de roupas, tinha apenas a falta de rachaduras em sua cabeça e dos buracos nas mãos.

Fio-dental. — Respondera com suas mãos espectrais, já que Sans nessa idade só sabia poucas palavras em wingdings. O doutor se abaixara, apoiando-se em um dos joelhos enquanto analisava o menino a sua frente. – Abra a boca e me mostre qual é.

— Este aqui! – O menor respondeu abrindo a boca e cutucando um dos dentes da frente o movendo com facilidade, estava mole. Em seguida Gaster se aproximara com o fio, amarrando uma ponta no dente de Sans dando várias voltas, por último deu uma leve puxada para garantir que estava firme antes de se levantar ainda segurando a outra ponta.

— Você vai sentir uma leve pressão, completamente indolor. — O doutor explicava enquanto amarrava a outra ponta em uma maçaneta, as pupilas do pequeno ficaram gigantescas ao ouvir aquilo.

— Espera, você vai arrancar meu dente?! – O menino perguntou assustado, e o doutor mudou a expressão séria por um milissegundo para um riso abafado.

Sim. Mas é completamente normal, logo irá crescer outro.  

Por último o doutor abrira a porta lentamente, adentrando no quarto enquanto ainda segurava a maçaneta, sem tirar os olhos de Sans que ainda estava um pouco receoso com aquilo.

Conte até cinco. – Gaster gesticulou e Sans fechou os olhos os apertando bem forte e cerrando os punhos por conta do nervosismo.

— Um... Dois... Tre- - Antes que terminasse a contagem sentiu um puxão e ouviu um leve ‘’crec’’ vindo de sua boca. Abriu os olhos surpreso, cutucando com o dedo o vão entre seus dentes. – Deu certo!

Gaster desamarrava o fio da maçaneta, analisando o dente de leite com cuidado, como se fosse mais um de seus objetos de pesquisa.

— O que a gente faz com ele agora? – Sans perguntou repleto de expectativa, o doutor o fitara com o canto dos olhos colocando o dente no bolso de seu jaleco.

Nada.

— Ah. – O garoto disse um tanto decepcionado, mas logo seu olhar se iluminou ao se lembrar de algo, correndo na direção oposta de Gaster que já havia desviado sua atenção. – Papyrus! Paps! Vem ver o que eu fiz!

Não demorou muito para alguns passinhos atrapalhados se juntarem com a corrida do irmão, onde na direção contrária um pequeno Papyrus vinha correndo o mais rápido que suas curtas pernas permitiam. Aquela imagem fez o Sans do presente sorrir, permitindo-se sentir-se bem no meio de todas aquelas janelas pelo passado.

Sans!— Aquele jovem Papyrus não era muito diferente do atual, o sorriso espontâneo no rosto e toda aquela vivacidade ainda estavam muito presente no seu eu de dez anos. O pequeno se jogou nos braços do irmão mais velho que o rodopiara várias vezes antes de colocá-lo no chão, os dois aos rindo enquanto se olhavam.

— Olha só Paps, to sem um dente! – Anunciou apontando para o ponto vazio de seu sorriso. A feição de alegria de Papyrus se desmoronara, tornando-se o retrato do desespero, começando a soluçar.

— Quebrou, meu mano quebrou. – Lamentara o menor enquanto Sans riu pela inocência do irmão.

— Calma, o pai disse que vai crescer outro. Nem ta doendo, viu? – Explicou cutucando o vão entre os dentes enquanto o Sans atual sentia um arrepio lhe percorrer a espinha ao ouvir a palavra ‘’pai’’ sair de sua própria boca. Ele mal se lembrava da época se referia daquele modo o doutor, até o mesmo o proibir de dizer isso.

E aquela visão começara a se dispersar no momento em que o pequeno Papyrus ria ao compreender a situação. O atual Sans se via ficando cada vez mais distante, sendo arrancado daquele passado e se ver novamente no presente com seus atuais problemas.

— Sans! Sans acorda!

Antes mesmo de abrir sentira algo diferente, um curioso peso que impregnara o seu pijama, até se dar conta que estava encharcado. Sentara-se em sua cama encarando seus braços e o resto do corpo, inclusive sua cama estava molhada.

— Mas como...?

— Você acordou! – Papyrus se jogara em seu pescoço em um abraço desesperado de preocupação. – Estou tentando te acordar a tempos! Pensei até em chamar Gaster, mas parece que o balde de água fria funcionou. Não me assuste mais desse jeito Sans!

— Você me deixou numa fria Papyrus. – Disse Sans com um pequeno sorriso no rosto, apesar de ainda estar atordoado com o sonho era quase inevitável segurar aquela piada. Duvidava muito que fora o ‘’banho’’ do irmão que havia o acordado, pois pelo que já havia sentido só era capaz de acordar quando esses sonhos permitiam.

— Sans não é o momento!

— Está bem, desculpe te deixar preocupado. – Sans coçava atrás do crânio, pensativo e piscando os olhos para espantar o sono e se acostumar com a visão. Ainda tentava se acostumar a ver apenas com o olho esquerdo.

— Foi por causa dos seus sonhos estranhos? – Papyrus perguntou com cuidado, afinal sabia que o irmão não gostava de tocar nesses assuntos.

— É... Mas este não foi tão ruim, eu to bem, sério. – Respondeu tentando parecer mais sincero o possível, Papyrus andava muito preocupado com ele e não queria que seu irmão ficasse assim o tempo inteiro.

Papyrus respirou fundo como se para manter a calma, decidindo confiar nas palavras do irmão. Em seguida mudou para uma postura mais séria, dando o seguinte recado depois de respirar bem fundo:

— Gaster mandou avisar que quer vê-lo.

Aquela simples frase arrepiara toda a espinha de Sans que assentira da maneira mais normal o possível para o irmão, afinal a ideia de ver Gaster depois do que sonhara o fazia querer se trancar no quarto e fingir que estava morto há dias. Afinal guardava sentimentos de ódio e rancor pelo doutor, que eram embaralhados e confundidos por toda a história que eles tinham juntos. Como deveria pensar sobre aquele que o cuidara a vida inteira, mas mesmo assim o fazia tanto mal? Sans se sentia quebradiço por dentro, seu emocional estava tão frágil quanto o seu próprio corpo.

Mesmo assim atendera ao pedido de Gaster, não tinha muita escolha, se Sans não fosse ele mesmo o viria buscar. O fato de o doutor pedir para encontrá-lo na principal sala de testes o deixava ainda mais receoso, não usavam aquela sala desde que o doutor descobrira as Gaster Blaster.

Sans abriu a porta de metal lentamente, causando um estrondoso ranger que havia tentado evitar. A sala continuava igual da última vez que fora usada, completamente vazia, se não fosse o reboco feito na parede que fora atingida pelo tão poderoso ataque. E de costas para a mesma estava Gaster, com as mãos esburacadas nas costas, contemplando o nada.

— Me chamou Gaster? – Indagou receoso e Gaster olhou sutilmente para trás, suas pupilas brancas refletindo no meio do ambiente escuro. Sans começou a se aproximar lentamente, dando cada passo com tanto cuidado como se estivesse andando em um chão feito de vidro.

— [Não há como reverter o que já foi feito.] – Pronunciou o doutor, e mesmo que sua voz estática não permitisse uma boa compreensão de seu verdadeiro tom, Sans pode perceber certo ar de melancolia vinda da frase. – [Mas existem formas de se adaptar.]

Antes que Sans pudesse questionar, ou ao menos absorver o que Gaster havia dito, vira-se rodeado de ataques de Gaster, com dezenas de ossos pontiagudos vindo em sua direção em alta velocidade. Ficara tão perplexo que não soube como reagir, encolhendo-se ajoelhado no chão e pondo as mãos na cabeça por puro reflexo, com o desespero da própria morte.

E ficara ali por alguns segundos que mais pareceram horas, onde apesar do medo e o pânico não se sentia tão impressionado. Não achava que Gaster algum dia ligara para ele e Papyrus e poderia facilmente se desfazer de ambos, acreditava que provavelmente se tornara inútil para o cientista. Assim, indiretamente Sans acabara aceitando virar pó, como se aquilo estivesse escrito no destino já havia tempos.

— [Lamentável.] – A voz estática do doutor fez com que Sans abrisse os olhos novamente, erguendo-se lentamente e muito confuso ao ver que estava ainda inteiro, enquanto se apalpava para ter certeza que todos os seus ossos estavam no lugar.

— Como...? Eu não entend-

— [Esses ataques não causam dano.] – Gaster o interrompeu, estando agora de frente e com um olhar determinado que Sans nunca havia visto antes. – [Mas caso fosse o contrário, você já estaria morto.]

— O que quer dizer com isso? – Indagou com uma ponta de indignação, sendo respondido de imediato para sua surpresa:

— [Não posso fazê-lo voltar a ter 650 HP, mas posso ensiná-lo a viver com apenas 1.] – Explicou Gaster já projetando um novo ataque em suas mãos. Observando melhor Sans notara que era um pouco diferente dos ossos normais, era de um tom mais claro e um tanto transparente que se desfazia uma hora ou outra, como se fosse feito de fumaça. – [Você terá que aprender a desviar, Sans.]

— Desviar. – Murmurou para si mesmo, arrebatado por aquela simples palavra. Havia treinado junto com Papyrus por muito tempo seus ataques, controlando seus danos e descobrindo novos métodos, mas desviar? Era algo que ficava em segundo plano praticamente.

— [É preciso que você saiba, não importa o quão forte seja seu oponente, você deve desviar de seus golpes.] – Gaster disse isso num tom sério, olhando para Sans tão fundo nos seus olhos como se quisesse adentrar sua alma e injetar essa informação à força. – [Um único golpe e você está morto.]

Em seguida Gaster atirou um de seus ataques, sem nenhum aviso, e estando mais atento Sans o desviara com facilidade apesar da reação surpresa. O doutor o olhou com satisfação, mas logo voltou com seu olhar profundo e sério.

E por horas seguiram-se assim. Gaster além de ser o oponente, também dava instruções para Sans que ouvia com bastante atenção. Onde apesar de tudo, o garoto sabia que aquelas lições o deixariam mais seguro e preparado para qualquer incidente, não se opondo ao doutor nenhuma vez durante o treino. Mesmo sendo um tanto estressante, afinal toda vez que Sans errava um movimento, Gaster dizia sempre a mesma frase:

[Você está morto.]

E mesmo com toda aquela pressão física e psicológica, Sans sentia-se mais forte. Óbvio que não fisicamente e muito menos emocionalmente, era como uma estranha força que o levava para além de seus limites, algo que o obrigava a seguir em frente mesmo com tantos desafios tortuosos a sua frente. Um sentimento que culminava sua alma e lhe enchia de coragem.

Pois mesmo sabendo o quão frágil era, ao saber que um dia aprenderia viver com isso enchia Sans de determinação.

Acabou apenas quando seus ossos estalavam de dor, suas pernas tremiam e ele arfava de cansaço, apoiando-se nos joelhos e olhando para Gaster que continuava na sua postura firme e enigmática.

— [Você ainda tem muito a melhorar, mas por hoje é o suficiente. Está liberado.]

Sans ficara parado por um tempo, encarando o cientista que acreditava que o garoto estava apenas recuperando o fôlego. Sans por um momento pensou em agradecer a Gaster por aquela ajuda, inebriado por aquele sentimento de empatia e consolo. Em seguida repreendera a si mesmo, pois o doutor estava fazendo apenas o mínimo que deveria fazer, afinal fora ele quem o deixara fraco daquele jeito.

Saíra da sala de testes murmurando uma despedida qualquer para Gaster que nem sequer ouviu, tendo diversos pensamentos opostos martelando em sua cabeça. Suas juntas doíam a cada passo, não era acostumado a fazer tanto esforço, sentindo-se aliviado a se ver novamente em seu quarto.

— Por que demorou tanto? O que ele fez com você agora?! – Papyrus perguntara assustado assim que Sans abrira a porta, pondo as mãos em seus ombros e checando todos os seus ossos. – Que cara é essa Sans? Por favor, me diga o que houve, eu estava preocupado, mas não tive coragem de ver o que estava acontecendo então me desculpe se eu deveria ter ido ao seu encontro e...

Apesar de não gostar de ver Papyrus tão estressado e repleto de preocupação, Sans sentia-se bem ao saber que era amado e bem querido por ao menos uma pessoa. Acabando por sorrir inevitavelmente, dando um riso fraco diante do irmão.

Sentia-se tão cansado.

— Eu estou bem Papyrus, só um pouco exaustosso. – Respondeu e Papyrus revirou os olhos frente ao trocadilho, mas logo suspirando aliviado ao imaginar que realmente seu irmão mais velho estava bem.

— Ótimo então! Assim você pode ver os puzzles que eu criei enquanto isso, só não durma enquanto eu te mostro como você fez ontem! – Papyrus disse animado e quando dera as costas Sans pegou sua camisa intuitivamente, só se dando conta do feito quando o mais novo lhe dera um olhar confuso. – Está realmente tudo bem Sans?

— Só preciso de um abraço.

Prontamente Papyrus concedera seu pedido, não dizendo absolutamente nada. Sans precisava apenas de conforto e saber que não estava sozinho, sendo que o mais novo o conhecia muito bem e sempre sabia o que fazer. Por conta da diferença de altura, ele sempre acabava erguendo um pouco o mais velho, entretanto Sans não ligava, afinal para ele não havia nada mais reconfortante e carinhoso que o abraço de Papyrus.

Ficaram assim por um tempo, mesmo sem dizer nada era como se os dois se comunicassem do mesmo jeito. Uma espécie de ligação fraterna sobrenatural parecia vir da relação entre eles, onde apesar das dores sempre poderiam se refugiar um no outro.

 - O Grande Papyrus está ajudando? – O mais novo indagou depois de alguns minutos e Sans riu mais animado, mostrando por si só que realmente havia funcionado.

— Existe algo que o Grande Papyrus não seja capaz de fazer?

— Claro que não! – Respondera alegremente, rodopiando o mais velho que se agarrara a suas costas para não cair. E os dois acabaram rindo frente a todo aquele mórbido ambiente.


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Notas finais do capítulo

Vai dizer que tem que haver uma explicação mais plausível pro Sans ser o ÚNICO personagem que desvia feito um ninja no jogo?! Ele é o único que não fica quase o tempo todo parado se deixando levar dano - por motivos bem óbvios né ;p
Comentários são sempre bem vindos! ^-^



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