O que não dá pra evitar e não se pode escolher escrita por The Escapist


Capítulo 7
VII


Notas iniciais do capítulo

Inês, dear, desculpa qualquer coisa. Anne L salvando o dia, ou o capítulo, mais uma vez. Obrigada.

Adoro a Pri, que coisa fofa essa menina.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702897/chapter/7

VII

2016

 

Ulisses não sabia se foi por causa do castigo, do sermão que ouviu da mãe pelo telefone ou se Gabriel estava realmente arrependido da maneira como tinha se comportado. Queria acreditar na última opção. Depois de cumprir a suspensão e retornar à escola, o garoto se desculpou com André e prometeu que não voltaria a agir daquela maneira. O pai resolveu confiar na promessa e devolveu suas coisas.

Após a situação em casa retornar à relativa tranquilidade, ele pôde, enfim, aceitar o convite de Arthur. Ao mesmo tempo que o queria desesperadamente, temia voltar a magoá-lo. Haviam trocado milhares de mensagens e até já se tratavam como namorados de novo, contudo, as coisas continuavam indefinidas.

Era uma sexta-feira, e ele conseguiu sair mais cedo do escritório. Ao chegar à casa, preparou o jantar dos filhos. Antes das sete horas da noite, já os estava chamando para comer, embora ele mesmo não estivesse com fome. Não conseguiria colocar nada no estômago, pois havia ali uma farra de borboletas. Um pouco ridículo, considerando que era um adulto e tudo o mais. Porém, teria um encontro com Arthur depois de dezesseis anos.

Ficou sentado à mesa, em silêncio, enquanto Priscila e Gabriel jantavam. Pensava na conversa que deveria ter com eles em breve.  

— Ok, agora vocês vão rapidinho escovar os dentes e arrumem uma mochila pra levar pra casa da vovó — avisou quando percebeu que eles tinham terminado. Gabriel fez uma careta, e Priscila ergueu a sobrancelha. — O que foi? Vocês vão dormir lá. — O desânimo dos dois foi evidente.

— Você vai dormir lá também?

— Não, eu vou sair com um amigo e voltarei tarde.

Ele saía muito pouco de casa desde o divórcio, apenas quando tinha alguma comemoração no escritório ou era convidado por algum cliente. Não gostava de deixar os filhos na casa dos pais porque era sempre aquela novela.

— Que amigo é esse? A gente pode ir? — Priscila pediu, num daqueles momentos em que ela parecia ter cinco anos.

— Claro que não, Priscila. Você é criança, e criança tem que dormir cedo — respondeu e riu da cara emburrada da garota. — Eu vou sair com o tio Arthur — resolveu contar porque, talvez, a fã número um de Arthur não ficasse tão chateada. De fato, ela abriu um sorriso.

— Eu quero ir, pai, por favor, nunca te pedi nada — insistiu, mas ele fez que não. — Por favorzinho.

— Ele já falou que não, garota, você é criança. Cri-an-ça — Gabriel disse e, como se pretendesse ilustrar sua fala, mostrou a língua para a irmã. Ulisses suspirou e balançou a cabeça.

— Pelo amor de Deus, não comecem. Andem logo, façam o que eu mandei.

— Mas eu não quero ficar na casa da vovó — Priscila choramingou.

— Nem eu — Gabriel fez eco, e Ulisses não pôde deixar de pensar que pelo menos eles estavam concordando com alguma coisa. — O vovô é chato.

— Ele não deixa a gente ver TV nem jogar.

— Ele só sabe ficar falando sobre o João Marcelo. Nem esconde que aquele fedelho mijão é o neto preferido dele.

— Gabriel! — Ulisses arregalou os olhos, principalmente porque Priscila estava rindo. — Gente, vocês não podem falar assim do vovô nem do João Marcelo. — Apesar de ele também achar o sobrinho de sete anos um garoto chato, um Marcelo em versão miniatura, não diria isso na frente dos filhos. Tinha que dar bons exemplos.

— A gente pode ficar em casa.

— Pra vocês se matarem? Não.  

— A gente não vai se matar. Por favor, pai, por favor. Não obriga a gente ficar na casa do vovô.

Ulisses pensou um pouco, lembrando-se de quando fizera um escarcéu para que seus pais o deixassem ir morar na república. João Ulisses e dona Ruth sempre haviam sido muito controladores com os filhos e agora queriam estender o controle aos netos. Ainda relutava em deixar os filhos por muitas horas, temia que algo acontecesse enquanto estivesse fora — a casa poderia pegar fogo, poderia entrar algum ladrão, coisas desse tipo. Por outro lado, eles estavam crescendo...

— Ok, tudo bem, vocês ficam em casa. — Priscila comemorou, quase subindo na cadeira, e estendeu os braços para o pai. — Mas têm que prometer que não vão brigar nem ficar acordados até muito tarde, está bem? — Os dois assentiram. A primeira promessa talvez eles cumprissem; quanto à segunda, tinha certeza de que não, porém era sexta-feira, dormir tarde só uma vez não faria mal.

Com essa parte resolvida, ele deixou a louça empilhada na pia e foi se arrumar. Postou-se na frente do armário, como se escolher uma roupa fosse a coisa mais difícil do mundo. Lembrava-se de um tempo em que dava muita importância à maneira como se vestia, comprava roupas de grife e que combinassem. Agora, contanto que tivesse uma camisa branca limpa quando acordasse de manhã, estava ótimo.

Todo o processo não teria demorado se não fosse o nervosismo. Ele estragara as coisas com Arthur uma vez, agora tinha a chance de consertá-las e queria ser capaz de fazê-lo.

Quando finalmente considerou uma camisa de manga longa lilás e uma calça jeans suficientes, Ulisses penteou os cabelos e passou perfume. Olhou-se no espelhou e tentou sorrir, apesar da tensão. Havia pequenas rugas na testa e ao redor dos olhos, porém, embora estivesse próximo dos quarenta anos, ainda exibia uma boa aparência — os anos de estresse não tinham feito um estrago muito grande em seu físico. 

Antes de sair, foi até o quarto de cada um dos filhos e fez mais recomendações para que eles se comportassem e para que ligassem caso alguma coisa acontecesse. Só então saiu.

— x —

Ulisses não evitou a surpresa quando chegou ao restaurante francês. Aquele lugar sofisticado e romântico dizia muito sobre o novo Arthur. Ele ainda podia ser o mesmo homem inteligente e gentil, porém, também havia mudado, adquirido novos hábitos. Ao mesmo tempo que ficava lisonjeado por ser incluído na vida dele, Ulisses não evitava pensar em todo o tempo que haviam perdido.       

— Ulisses, você tá me ouvindo?

— Ham? Sim, não... Desculpe.

— Eu deixei os meninos sozinhos. Fico preocupado.

— O Gabriel tem dezesseis anos, ele já tem idade suficiente pra ficar em casa sozinho por algumas horas! — Apesar da crítica, achava a preocupação dele tocante. Mesmo em suas previsões mais otimistas, não teria apostado que Ulisses se tornaria um pai tão dedicado.

— Isso é porque você não conhece aqueles dois. Eles são capazes de botar fogo na casa e ainda discutir de quem foi a culpa.

Arthur riu do exagero dele. 

— Relaxa um pouco, cara.

— Engraçado, antigamente seria eu quem diria pra você relaxar.

Eles fizeram os pedidos e passaram uma boa parte do tempo conversando sobre coisas aleatórias, como se evitassem tocar no assunto que os levara até ali. Só depois de um gole de vinho, Ulisses deixou a taça sobre a mesa e encarou Arthur.

— Provavelmente, eu não mereço essa chance... — disse. Arthur, que estava mais acostumado com o modo reticente e indeciso, não soube o que dizer de imediato; limitou-se, portanto, a engolir em seco e esperar pela continuação. — Meu Deus, eu agi tão errado com você.

— Isso já passou. Não estou aqui pra cobrar nada.

— Eu sei, mas... você tinha todos os motivos pra me odiar. Errei com você e depois errei com a Nat. Nunca a traí, mas fiz algo tão ruim quanto isso. Eu a iludi. Só não digo que o meu casamento foi a coisa mais errada que fiz na vida por causa dos meus filhos. — Riu um pouco, embora não houvesse humor. — Eu não mereço você.

Arthur balançou a cabeça lentamente. Ulisses tinha uma mania de autopiedade que o deixava um pouco irritado, contudo, entendia que ele já não se sentia tão confiante quanto antes, que a culpa ainda o perseguia

— Nós não somos os mesmos garotos de antes — disse. — Por muito tempo, eu me perguntei o que poderia ter feito de diferente pra evitar que aquilo acontecesse... Talvez se eu tivesse sido um namorado menos exigente, se não tivesse tão concentrado em estudar... Todos esses “se”... Tudo poderia ter sido diferente, mas nós somos o que somos. Eu aprendi a viver sem você. Fiz quase tudo que queria fazer na minha vida, conheci lugares, pessoas... Me tornei uma pessoa melhor do que era antes. E fui feliz com as minhas escolhas. Aprendi que eu posso ser feliz sem você. Mas não quero isso. — Observou o silêncio dele, tomou um gole de vinho e continuou: — Sobre você me merecer... Prefiro não colocar as coisas nestes termos. Eu não sou um prêmio. Sou o homem que te ama incondicionalmente e que quer ficar com você.      

A reação de Ulisses demorou alguns segundos. Ele só conseguiu engolir em seco. Todas as palavras ficaram presas na garganta e havia lágrimas em seus olhos. Deslizou a mão sobre a mesa e tocou a de Arthur, deixando-a ali.

— Eu... — disse, finalmente, embora sua voz ainda saísse um tanto embargada. — Juro que não vou errar dessa vez.

Terminar o jantar depois de tanta emoção não foi fácil. Houve sorrisos cheios de ansiedade e toques discretos das mãos. Não tardaram a pedir a conta e sair do restaurante. Ulisses quis levá-lo para casa, contudo, lembrou-se dos filhos. Claro que não pretendia deixar que sua família fosse uma desculpa, como fizera no passado, porém, precisava fazer as coisas da maneira certa. 

— Eu falarei com eles o mais breve possível. — Enquanto Ulisses se justificava, Arthur usou o celular para pesquisar na Internet o endereço de um motel nas proximidades; e, como tinham bebido duas garrafas de vinho, aproveitou e pediu um táxi, já que nenhum dos dois poderia dirigir.   

— x —

— Você acha que nós estamos indo muito rápido? — Quando fez essa pergunta, Ulisses estava despido e empenhado em dar o mesmo destino a Arthur, que sorriu e balançou a cabeça.

— Não, eu acho que já esperamos demais.

Era como se o tempo não tivesse passado. Ainda se lembrava do toque das mãos de Ulisses, do contorno dos músculos dele, de quais carinhos ele mais gostava.

Mais tarde, enquanto descansava com a cabeça apoiada no peito dele, mantinha os olhos fechados; temia que, ao abri-los, aquilo fosse um sonho.

— Arthur? Você tá acordado?

— Estou. — Houve mais um instante de silêncio. — Eu estava aqui pensando... Você vai mesmo contar aos seus filhos sobre nós? — Depois da pergunta, Arthur abriu os olhos e se sentou. Queria ver a reação dele, mas o que teve foi um vislumbre do velho Ulisses de sempre. — Isso não é uma cobrança, eu só... Você prometeu tantas vezes no passado....

— Eu não vou manter segredo e não vou usar meus filhos como desculpa pra fazê-lo. Eles são o melhor de mim e, se você pode me aceitar com tanta bagagem, o mínimo que posso fazer é deixar que o mundo saiba o que eu sinto por você. O Gabriel não vai reagir bem, a princípio, mas talvez com a Priscila seja mais fácil.  

— E quanto aos seus pais e o resto da sua família?

— Tenho quase trinta e sete anos, não é como se eu precisasse da aprovação de alguém. Além do mais, acho que não posso desapontá-los mais do que já fiz. — Ulisses sorriu e passou o dedo pelo rosto de Arthur. — Eu realmente não sei o que você vê em um fracassado como eu.

— Não diga isso... Você não é um fracassado.

— Há controvérsias.

— Só porque a vida não aconteceu do jeito que você queria, não quer dizer que não haja coisa boas.

— Eu amo essa sua visão otimista. Ou melhor, eu amo você. — Ulisses estreitou o abraço, aconchegando-se mais ao corpo dele. Se havia uma certeza em sua vida, era a de que o amava, e essa era a melhor sensação.

 

— x—

 

Ulisses deixou que os filhos comessem pizza e tomassem refrigerante no jantar. Não era a alimentação mais saudável, mas ele não tivera tempo de preparar algo melhor. Além disso, queria os dois de bom humor para a conversa que se seguiria.

— Ok, galera, agora eu quero falar com vocês. Me esperem lá na sala, está bem? — pediu enquanto retirava os pratos da mesa.

Priscila e Gabriel se entreolharam, um pouco desconfiados.

— Eu não fiz nada — disseram juntos. Ulisses riu um pouco.

— Calma, gente, eu não disse que vocês fizeram alguma. Apenas quero conversar. Andem logo, me esperem na sala.

Eles levantaram e fizeram como o pai pediu.

— Acho que o velho tá ficando doido — ouviu Gabriel dizer e, em seguida, a risada de Priscila.

Havia pouca louça suja e, dessa vez, quis deixar tudo arrumado na cozinha. Talvez fosse apenas uma desculpa para ganhar tempo e se preparar melhor para a conversa. A verdade era que não sabia por onde começar. Já estivera do outro lado, sendo o filho que precisava contar aos pais sobre sua orientação sexual — apesar de nunca ter tido coragem para tanto —, mas o contrário, não fazia ideia de como isso aconteceria.

Tentava se convencer de que seria como contar sobre qualquer relacionamento. Gabriel e Priscila haviam lidado bem separação dos pais porque tudo acontecera de uma maneira amigável. Ele e Natália brigavam muito durante os últimos anos em que passaram juntos, contudo, quando resolveram se separar, foi uma decisão conjunta. As duas crianças sentiram um pouco quando a mãe resolveu sair de casa e deixá-los com o pai, mas logo se acostumaram. Natália já apresentara um namorado aos filhos e não houvera problemas.

Quando entrou na sala e encontrou Gabriel fazendo cócegas na irmã, se perguntou onde estavam os filhos verdadeiros e quem eram aqueles dois E.T.s. Sentou na poltrona de frente a eles e respirou fundo. Estava tão sério que não demorou a ganhar a atenção das crianças.

— Tem uma coisa que eu preciso contar a vocês — começou. Ok, não é nada de mais, eles vão saber lidar com isso. — Gente, eu tô namorando.

Priscila fez uma careta, e Gabriel deu de ombros.

— Mas não é só isso.

— Ih, pai, você vai se casar de novo? — Priscila perguntou, dessa vez com uma careta maior. Ela estava tentando desfazer o emaranhado de cabelo em que tinha se transformado o rabo de cavalo. — Mas a gente nem conhecesse essa mulher, e se ela for uma bruxa?  — Ele ficou assombrado com a espontaneidade da filha. Priscila nunca parava de surpreendê-lo.

— Não, Pri, eu não vou me casar de novo... Ao menos não por enquanto. A questão não é essa, eu... — hesitou, sentiu a voz falhar, mas logo pensou em Arthur e na promessa que fizera a ele. Passou a mão pelos cabelos e suspirou, olhando de um filho para o outro, quase desesperado. — Ok, ahm, vocês sabem o que é bissexualidade?

Priscila franziu a testa, parecendo confusa, e Gabriel baixou a cabeça, como se a pergunta o deixasse desconfortável. Nenhum dos dois respondeu.

— Bom, isso acontece quando alguém, um homem ou uma mulher, sente atração tanto por pessoas do sexo oposto, como pelo mesmo sexo. Entenderam?

— Mais ou menos — Priscila respondeu.

— Antes de conhecer a mãe de vocês, eu namorava uma pessoa. — Engoliu em seco antes de completar: — Um garoto.

— Pai, você tá dizendo que é veado? — Gabriel se manifestou pela primeira vez, enquanto sua irmã arregalava os olhos, ainda mais confusa.

— Cuidado com o seu tom de voz, Gabriel. Acabei de explicar o que eu sou. Talvez vocês não tenham entendido direito, mas...

— Mas isso tá errado. — O garoto balançava a cabeça, inconformado. — Você é meu pai! — Ulisses viu as bochechas de Gabriel ficarem coradas. — Você não pode ser assim, não tá certo.

— Filho, eu já conversei com você sobre isso várias vezes...

— Não, pai, isso não tá certo de jeito nenhum! — Os olhos estavam marejados e ele respirava fundo, como se tentasse conter as lágrimas. — Pode perguntar ao vovô, ele vai dizer a mesma coisa. Está errado.

Acuado, Ulisses virou o rosto para a filha. Diferente do irmão, Priscila não parecia ter uma opinião formada a respeito ainda. Ela estava olhando para o pai, com seus olhos verdes brilhantes tão parecidos com os dele, um vinco na testa e os lábios repuxados para o lado, como se considerasse a questão.

— Eu já expliquei pra você que não tem nada de errado com isso — voltou a falar com o filho. — Orientação sexual não define o caráter de uma pessoa, Gabriel. Onde foi que eu errei com você? — A pergunta foi mais reflexiva do que dirigida ao garoto. O fato de ter que explicar aquilo ao filho era uma evidência de que havia falhado em algum ponto na educação dele.

Se ele fosse uma pessoa bem-resolvida e nunca tivesse se escondido, agora não houvesse tal dificuldade. Reclamado tanto da caretice e das ideias retrógradas dos pais, todavia, criara os filhos como que à sombra do preconceito. Tornar-se, ele mesmo, finalmente uma vítima disto talvez fosse uma maneira de ser punido pela covardia de tantos anos.

— Eu estou namorando um homem, mas ainda sou a mesma pessoa, o pai de vocês. Nada muda. Queria que vocês soubessem...

— Não! — Gabriel o cortou, alterando o tom de voz. — Eu não vou aceitar isso, pai. Nunca. — Ulisses tentou tocar o ombro dele, mas o garoto se levantou, repelindo o gesto. — Se você trouxer esse veado pra nossa casa, eu vou morar com a minha mãe.

Ulisses teve que segurar a língua para não dizer que Natália não queria os filhos com ela. Aquilo era o tipo de mesquinhez que não poderia atirar ao garoto.

— Eu já disse pra você ter cuidado com o seu tom, Gabriel.

— Você não pode me obrigar a aceitar isso. — Apesar de ter a voz um pouco mais contida, Gabriel encarava o pai com raiva. Ulisses mal conseguia reconhecê-lo como o mesmo bebê que segurara em seus braços.  

— Não, claro que não. Eu não vou te obrigar a nada, filho. Só espero que você mude de ideia porque essa sua maneira de agir está errada. 

— O vovô tem razão quando diz que você é um fracassado — Gabriel concluiu, depois deu as costas e subiu a escada correndo.

Ulisses sentiu os olhos marejados e tentou lutar contra as lágrimas, porém, a mãozinha delicada de Priscila acariciando seu rosto o fez desabar. A garota deu um beijo na bochecha do pai e o abraçou.

— Tá tudo bem, pai. Você sabe como o Biel é... Depois ele acaba se acostumando.

— Por que vocês são tão diferentes? — Ela deu uma risadinha.

— Ele é um garoto, pai, e garotos são assim mesmo.

— E você é uma espertinha. Obrigado, Pri. — Ulisses ficou abraçado à filha por um instante até que ela perguntou:

— Pai, o seu namorado por acaso é o tio Arthur?

— Você me assusta muito, Priscila — admitiu, de olhos arregalados. — É ele, sim. Como você descobriu?

A menina deu de ombros.

— Sempre que você sai é com ele. Eu gosto dele.

— E ele gosta muito de vocês também.

— Pai, se você casar com o tio Arthur, ele vai ser o que meu?

Ulisses não conseguiu responder. Sua mente estava travada na ideia de se casar com Arthur.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!