O que não dá pra evitar e não se pode escolher escrita por The Escapist


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

Então é isso, depois de muito sofrimento e tals, enjoy the reading, sweetheart. A quem mais se aventura, boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702897/chapter/1

I

(2016)

 

 

Se eu tivesse a força que você pensa que eu tenho
Eu gravaria no metal da minha pele o teu desenho
Feitos um pro outro
Feitos pra durar
Uma luz que não produz sombra

 

A campainha tocou três vezes antes que Ulisses perdesse a calma. Porém, não havia muito o que ele pudesse fazer além de murmurar alguns palavrões só para si.

            — Priscila, pelo amor de Deus, abre a bendita porta! — pediu, porém demorou ainda alguns minutos até ouvir a algazarra que sua filha fazia com a visita que acabara de chegar. Ele sorriu sozinho, embora ainda estivesse um pouco emburrado. Também queria correr para cumprimentá-lo, mas precisava terminar de montar a lasanha e levá-la ao forno. Naquele momento, colocava a última camada de recheio; suas mãos estavam com o cheiro do tempero, e ele também não queria aparecer na sala de avental para receber um amigo que não via há mais de três anos. No entanto, foi exatamente assim que Arthur o encontrou.

— Quem é você e o que você fez com o Ulisses? — Ouviu sua voz antes de vê-lo. A risada de Priscila acompanhou a brincadeira e, nisso, Ulisses quase deixou a travessa de lasanha desabar no chão. Ele colocou a fôrma no fogão, depois limpou as mãos no guardanapo que tinha pendurado no ombro.

Seu amigo não havia mudado quase nada nos últimos anos. Parecia o mesmo engomadinho, de cabelos cortados rentes e bem penteados, roupa arrumada e o rosto barbeado. Ulisses estendeu a mão, mas retrocedeu um pouco, de repente se sentindo envergonhado por recebê-lo daquele jeito. Arthur, no entanto, apenas o puxou para um abraço. Ambos trocaram tapinhas nas costas e os lugares-comuns que amigos que se reencontram geralmente dizem. Os olhos, porém, não escondiam o quanto aquele momento significava para eles.

— Então, que tipo de vitamina você tem dado a essa garota? — Arthur perguntou depois dos cumprimentos iniciais. Ele abraçou Priscila outra vez e deu um beijo na cabeça dela, enquanto a menina ria das brincadeiras. — E onde está o Gabriel?

— Ele teve natação hoje. Deve tá chegando. — Ulisses respondeu e guiou seu amigo para fora da cozinha, ao mesmo tempo que olhava o relógio. — Aliás, já deveria ter chegado. — Encolheu os ombros, pensando que não conseguia mais controlar os horários do filho mais velho. E, como aquele não era a melhor hora para repensar sua atuação como pai, ele preferiu levar a conversa para outro campo. De preferência, queria falar sobre Arthur. Fez perguntas sobre o trabalho e divertiu-se com a carranca dele quando mencionou o fato de ele voltar a morar com os pais.

— Será só por alguns dias, cara. — Estreitou os olhos e mexeu nos óculos. — Até eu encontrar um lugar legal.

Nesse meio-tempo, Ulisses aproximou-se janela e pôde ver o carro que estava estacionado na frente de sua casa. Fez um muxoxo, tentando não pensar no seu próprio veículo, encostado na garagem há mais de três meses porque não sobrava nenhum dinheiro para mandá-lo para o conserto. Sofrera o acidente quando saíra um dia de casa atrasado para uma reunião no escritório e dirigira feito um louco; o resultado foi que conseguiu bater na traseira de uma camionete, destruiu a frente do seu carro e perdeu a reunião de todo jeito, além das imensas dores de cabeça que teve com a seguradora, que não cobriu o prejuízo...

— Ulisses, você tá me ouvindo?

Ulisses piscou; mais uma vez, tinha se perdido nos próprios pensamentos, e esse não era um bom lugar para se estar. Ele disfarçou e apontou com o polegar, por cima do ombro, para o carro de Arthur.

— Carrão, hein? Você pelo menos aprendeu a dirigir? — Arthur primeiro fingiu uma expressão de indignação, depois riu. Gostava muito da sensação de que, apesar de tanto tempo passado, eles ainda se conheciam tão bem. 

— Palhaço.

Por alguns minutos, a conversa girou em torno de assunto triviais, como o trânsito caótico na cidade e a situação política e econômica do Brasil. Ulisses preferia ouvi-lo, gostava de perceber as nuances da voz dele, com os trejeitos americanos incorporados à sua maneira de falar. Eram agora tão diferentes dos adolescentes que se sentavam no pátio traseiro da escola, para ver revistas de pornografia escondidas dentro do livro de Ciências, embora parecesse que nem um dia havia passado desde então. Arthur continuava o mesmo garoto sorridente, tímido e bondoso.

— Pai, cê não acha melhor ir ver como tá a lasanha? — A voz de Priscila parecia algo muito distante. Droga, ele precisava parar de ficar divagando daquele jeito.

— Oh, Deus, a lasanha! Obrigado por lembrar, meu anjo. Não sei o que seria da minha vida sem você — dramatizou, brincando de bagunçar os cabelos da filha. Priscila rolou os olhos.

— Nem eu!

— Eu já volto. — Ele saiu, deixando a filha conversando com Arthur. Ainda estava na porta quando a escutou falando em inglês, toda animada. — Priscilinha... — Sorriu consigo, meio bobo. Aquela menina era seu maior orgulho. Claro que também sentia orgulho de Gabriel, aliás, os dois filhos eram os pontos que ele considerava positivos em sua vida, aqueles que o faziam repensar quando dizia que todas as suas escolhas haviam sido erradas.

Abriu o forno para checar como estava a lasanha e decidiu que precisava de mais uns cinco minutos. Voltou à sala e à conversa com Arthur. Apesar de terem se falado bastante durante os anos em que ele estivera fora, fosse por telefone ou pela Internet, aquela conversa cara a cara era diferente, e havia um mundo de coisas que ele queria ouvir do amigo. A melhor parte de si ficava transbordando de alegria por ver Arthur tão bem-sucedido e fazendo algo de que gostava.  

Ouviu o barulho da chave na porta e, a seguir, seu filho mais velho entrou. Gabriel tinha os cabelos alaranjados molhados e os fones nos ouvidos. Como andava sempre de cabeça baixa, olhando para o celular, ele quase passou direto pela sala, sem perceber que havia uma visita em casa. Ulisses teve que se levantar e interferir em seu caminho; postou-se em frente ao filho e gesticulou para que ele tirasse os fones. Gabriel não gostou muito da interrupção e fez uma careta, mas depois sorriu, sem jeito, ao perceber a presença de Arthur. Ficou ainda mais encabulado quando o homem se levantou, foi até ele e o abraçou.

— Você cresceu, Gabriel! — Arthur sabia que aquilo era o tipo de bobagem que os adolescentes detestavam ouvir, mas não era como se pudesse ignorar o fato de que o garoto que vira pela última vez aos trezes anos, magrelo e mirradinho, estava quase da altura do pai e tinha até músculos.

Gabriel se livrou do abraço, depois comentou sobre o carrão que estava na frente da casa. Queria ir para o quarto, ficar navegando na Internet; todavia, o olhar do pai dizia para ele sentar na sala, bem-comportado, escutando a conversa chata dos adultos.

Ulisses foi novamente à cozinha para retirar a lasanha do forno e preparar a mesa para o jantar. Quando voltou para avisá-los de que estava tudo pronto, encontrou os filhos felizes da vida, abrindo os presentes que tinham recebido de Arthur. Priscila ganhara um notebook, e Gabriel, um videogame. Os dois mimos, que custavam uma soma considerável de dinheiro, deixaram-no um pouco desconfortável. Forçou um sorriso e tentou disfarçar.

— Ok, vocês já agradeceram ao tio Arthur pelos presentes? — perguntou. Priscila assentiu e, para reforçar a ideia, deixou seu computador novo em cima da mesinha de centro e abraçou Arthur.

— Obrigada, tio, você é o melhor.

Gabriel sorriu e murmurou um “obrigado, tio”. Estava grato, mas também temia que o orgulho do pai o obrigasse a devolver o presente. Algo semelhante acontecera em seu aniversário: o avô o presenteara com um smartphone e o pai não queria aceitar por considerar que era caro demais.  

— Agora guardem tudo e vamos jantar. Depois vocês mexem nisso. — Quando viu que os filhos não pretendiam largar os brinquedos tão fácil, Ulisses engrossou a voz. — Tô falando sério, gente. Ou talvez vocês queiram devolver os presentes.

Priscila arregalou os olhos, Gabriel bufou. Contrafeitos, eles deixaram tudo em cima do sofá e foram lavar as mãos.

Arthur se virou para o amigo e o encarou por alguns segundos. Às vezes ele não entendia como o garoto de sorriso fácil que Ulisses era tinha se transformado naquele homem carrancudo.

— É impressão minha ou você está chateado por causa dos presentes? — perguntou. Ulisses coçou a barba ruiva de três dias.

— Eu não tô chateado, mas... é que ser pai é muito complicado... Não dá pra fazer tudo que eles querem... E esses presentes que você deu custam um bocado de grana, você sabe...

Daquele Ulisses enrolado, Arthur lembrava-se bem. Ele sabia que seu amigo já não mantinha o mesmo padrão de vida de quando era adolescente; acontecera muita coisa na vida dele desde aquela época, inclusive o afastamento da família rica, então conseguia entender mais ou menos o que ele queria dizer.

— Os pais educam, os tios mimam, não é assim? Pelo menos foi o que eu aprendi — tentou descontrair, porque falar das dificuldades financeiras sempre deixava seu amigo emburrado. — Olha, me desculpa, eu talvez tenha exagerado... É que pensei em comprar coisas necessárias e, como eles já estão crescidos, roupinhas não seriam legais, não é?

A carranca de Ulisses se desfez numa risada.

— Tudo bem, eu não tava mais aguentando mesmo eles tentando se matar por causa do computador — comentou, embora soubesse que não iria demorar para Gabriel começar a reclamar que Priscila tinha um computador novo e muito legal enquanto ele tinha que ficar com aquela máquina pré-histórica. — Cara, é sério, eles sempre reclamam de tudo. E agora, nessa idade... Vamos lá, antes que a lasanha esfrie. 

Quando eles entraram na sala de jantar, Priscila e Gabriel estavam no meio de uma discussão; a garota mostrou a língua para o irmão, que ameaçou dar uns tapas nela. Ulisses olhou sério para o filho, dando a entender que não via graça nenhuma naquele comportamento. Arthur sentou e tentou fingir que não estava vendo a falta de modos de Gabriel. Ele era um adolescente, afinal, era a maneira normal de eles agirem; lembrava-se de que o jovem Ulisses não era tão diferente do filho.

A lasanha estava maravilhosa, e o jantar foi agradável. Os irmãos pararam de trocar farpas porque estavam ocupados enchendo Arthur de perguntas sobre os Estados Unidos; mesmo Gabriel demonstrava interesse em ouvir as histórias. Quando morava lá, Arthur o havia convidado para ir passar as férias com as crianças, mas fazia anos que Ulisses não viajava, e sentia que isso não seria possível até que seus filhos estivessem estudando numa universidade federal.

— Eu queria estudar nos Estados Unidos também — Gabriel disse. — O Brasil é tão atrasado. Será que você conseguiria convencer o papai a me deixar fazer intercâmbio? — meio que cochichou, mas deixou que o pai o ouvisse. Arthur sorriu, e Ulisses sentiu as bochechas quentes. Não era questão de deixar ou não deixar que o filho fizesse intercâmbio. Ele sabia que uma experiência fora do país seria boa para a educação e para o futuro de Gabriel, apenas não dispunha de dinheiro para bancá-lo no exterior.

— Hum, você sabe que seu pai é teimoso igual a uma porta, né? — Arthur brincou, o que fez o garoto dar uma risadinha. — Mas você não precisa desistir. Meu pai também não queria que eu fosse estudar fora... Quer dizer, na verdade, ele não tinha dinheiro.

— Então como você conseguiu?

— Eu estudei pra caramba e, quando ficava cansado de estudar, estudava mais. — Ele resumiu a história da melhor maneira que pôde, porque conseguir a bolsa em Stanford tinha envolvido, além de suas ótimas notas no histórico, mais de um ano trabalhando como atendente numa rede de fast-food para juntar dinheiro. 

— Escutem o tio Arthur, ele sabe das coisas.

Arthur sorriu, um pouco encabulado. Levou mais uma garfada de lasanha à boca, a fim de manter-se ocupado mastigando.

— Inacreditável que você aprendeu a cozinhar tão bem, cara — elogiou, depois de saborear a comida por alguns segundos.

Foi a vez de Ulisses ficar sem jeito. Depois que a mulher o largara e que a situação financeira o impedira de ter empregada em casa, tivera que começar a dar seus pulos, porque também não tinha condições de levar as crianças para comer fora todo dia, tampouco poderia criá-las à base de miojo, que era basicamente o que ele e Arthur comiam quando moravam na república, nos tempos da faculdade.

— Ele adora ver vídeos de culinária no YouTube! — Priscila entregou, com uma piscada serelepe para o pai. — Você tem que provar do pudim que ele faz, tio, é maravilhoso. Por que você não fez pudim pra sobremesa? — cobrou com um biquinho que deixava Ulisses todo derretido.

— Em vez de reclamar, vai lá pegar o mousse, vai, pirralha — ele pediu, quando percebeu que todos já haviam terminado de comer. — Biel, ajuda a sua irmã. — Gabriel resmungou qualquer coisa, mas depois retirou os pratos da mesa e obedeceu.

— Nossa, cara, eles crescem muito rápido, parece que foi ontem... — comentou, tanto para externar mais uma vez sua surpresa quanto para evitar o silêncio constrangedor, o que aconteceu apesar de seu esforço. Ulisses deu um sorriso vago, mas, sem saber direito o que mais poderia dizer, abaixou a cabeça. Ele queria conseguir olhar para Arthur do mesmo jeito que o amigo o encarava e não sentir vergonha da maneira como tinha agido no passado.

Quando Gabriel e Priscila voltaram, o pai deixou que eles mesmos servissem o mousse, e todos comeram e conversaram, rindo e se divertindo. Arthur fez mais perguntas aos dois adolescentes, sobre a escola e sobre as coisas que gostavam de fazer, até que eles começaram a ficar entediados. Ulisses consentiu então que os filhos saíssem da mesa e fossem curtir um pouco os presentes.

Sozinhos, eles terminaram a sobremesa, depois tiraram a mesa enquanto conversavam sobre banalidades. Vez por outra mencionavam algum colega dos tempos da faculdade. Arthur não mantinha contato com quase ninguém desde que fora morar nos Estados Unidos, e Ulisses só se encontrava esporadicamente com alguns, como Davi, que se tornara pediatra e fora o médico de seus filhos quando eles eram pequenos.

Ulisses arrumou a louça suja na pia, com a promessa de que a lavaria logo mais, e convidou Arthur a voltar à sala. Gabriel e Priscila tinham ido para os quartos, deixando apenas a bagunça de caixas e papel de presente espalhados pelo chão. O pai recolheu e levou tudo para o lixo. Depois, sentou no sofá no qual seu amigo já estava.  

— Obrigado por me convidar — Arthur falou quando um novo silêncio se instalou entre eles.

— Eu é que agradeço por você ter aceitado — Ulisses rebateu. — Talvez eu não devesse perguntar, mas... você não falou nada sobre o Thomas desde que chegou...

Arthur engoliu em seco. Encarar aqueles olhos verdes depois de tanto tempo ainda causava um frio inexplicável em seu estômago. Tivera poucos relacionamentos e Thomas fora aquele que tinha durado mais tempo. Chegara a pensar que ficaria com ele pelo resto da vida.

— Nós terminamos.

— Poxa vida, é sério? — Antes de ouvir a resposta, Ulisses baixou a cabeça e ficou olhando para a macha de café na almofada como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. Obrigou-se a olhar para ele. — O que aconteceu? Vocês pareciam tão bem...

Arthur respirou fundo. Parecer bem não era o mesmo que estar bem. Embora o tempo que passou com Thomas tivesse sido ótimo, havia sempre a sensação de que faltava algo.

— Depois de um tempo eu... percebi que não tinha te esquecido. Eu gostava do Thomas, mas não jeito que gosto de você. E eu percebi que não importa o tempo que passe, não vou deixar de sentir isso, e não era justo continuar com ele desse jeito.

Aquelas palavras atingiram Ulisses como uma rajada de vento frio. Ele titubeou, sentiu o coração disparar no peito e uma mistura de medo e felicidade. Quantas vezes não sonhara com aquele momento? No entanto, magoara Arthur de tal forma que não acreditava ser merecedor de uma chance.

— Eu... não sei o que dizer...

Arthur deu um sorriso fraco. Já era de esperar aquela reação. O indeciso Ulisses, que nunca sabia o que fazer e, invariavelmente, se arrependia do que fazia. Suspirou.

— Você deve me achar ridículo... Depois de dezesseis anos...

— Não é isso. Eu... eu sempre desejei que você voltasse, Arthur. Eu queria ter tido coragem pra te dizer isso antes, mas você estava com o Thomas...

Há três anos, quando ele viera visitar os pais, Ulisses pensara em confessar que nunca o esquecera, pensara até em implorar para que voltassem a ficar juntos. Quando viu Thomas desembarcar com Arthur, segurando na mão dele, falando coisas engraçadas ao pé do ouvido e trocando carinhos para quem quisesse ver, teve um vislumbre do quanto a sua relutância em assumir o relacionamento custara a ele. O sorriso, a leveza, talvez a própria felicidade. Fora amado e em vez de amá-lo da mesma forma, usara o amor para justificar seus medos.

— Você estava feliz, eu não achava justo pedir que abrisse mão do que você tinha. Eu não era capaz de dar o que você merecia...  — Quis baixar novamente a cabeça, porém, sentiu a mão dele tocando-lhe o rosto. — Arth...

Suas palavras foram interrompidas quando Arthur o beijou. Durante aqueles segundos em que sentiu os lábios dele junto aos seus, os dedos enlaçando-se em seus cabelos, seus medos pareceram-lhe ínfimos. Como poderia temer algo que fazia tão bem? Entretanto, o som de uma porta batendo no andar de cima atirou-o novamente no abismo da realidade.

— Me desculpe — murmurou ao interromper o beijo. — Eu não posso te arrastar pra bagunça que é a minha vida. — Viu a expressão confusa no rosto dele.

— Você ainda não entendeu, não é?

— Arthur...

— Olha pra minha vida, Ulisses! Eu sou um profissional de alto nível, tenho um emprego incrível, tenho dinheiro, um carrão... O que você acha que tá faltando? 

Ulisses abriu a boca, mas não disse nada. Além de estar sem palavras, assustou-se ao ouvir passos na escada e a voz de sua filha a seguir:

— Pai, o Biel disse que vai pegar meu computador porque o meu é legal e o dele não é.

— Ele não vai pegar nada, está bem?

— Você tem que falar pra ele. Aquele chato. — Priscila subiu a escada de volta tão rápido quanto surgira.

— É disso que eu tô falando...

— Eu sei... Olha, eu não planejei nada disso, só... Acho que, pra duas pessoas que se amam, nós já passamos tempo demais separados.

Houve um instante de silêncio. Ulisses segurou a mão dele e ficou sentido o calor dela.

— Nós podemos começar devagar? — Sua voz não transmitia segurança. Já haviam começado devagar uma vez e o resultado não fora bom para ninguém. Que certeza poderia dar a ele que dessa vez seria diferente?

— Devagar parece ótimo.  




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

xD