Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 3
Livro 1 Capitulo 3 - Descobertas e suas consequências




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A manhã estava linda, o Sol brilhava por entre as poucas nuvens que ainda havia no céu. Os pégasos já tinham limpado a maior parte dos indícios da chuvada do dia anterior, mas ainda restavam algumas nuvens. A maior parte dos póneis odiava dias que não fossem completamente soalheiros, mas Violeta adorava a melancolia dos céus nublados. Ela dizia que lhe trazia inspiração mas a verdade é que simplesmente a faziam sentir bem. Por isso, naquele dia, Violeta tinha decidido ir visitar a Cerejinha. Fazia já alguns dias que não a via e era tão raro o céu não estar completamente limpo que não tinha resistido a ir convidar a amiga para dar um passeio.
Quando chegou à casa da Cerejinha ouviu o trotar incessante de algum pónei. Foi assim que Violeta soube que a amiga estava em casa. Bateu à porta, mas ninguém respondeu-lhe. O trotar continuava ininterruptamente. Violeta bateu de novo e chamou pela amiga. Desta vez ouviu a voz da Cerejinha vindo de lá de dentro responder-lhe com um "Quem é? Entre, entre...". Violeta entrou e o que viu deixou-a abalada. Cerejinha andava nervosamente de um lado para o outro, de cabeça baixa, focinho virado para o chão e um olhar suficientemente taciturno para apertar o coração de quem o visse. Em qualquer outro pónei isso seria um sério sinal de depressão aguda, mas na Cerejinha, que sempre se mantinha calma e sorridente, era uma visão deplorável. A pobre Violeta, sempre tão sensível, quase que teve um ataque ao vê-la.
—Ó, minha querida Celéstia. Cerejinha, que é que te aconteceu? Não me digas que te morreu algum pónei...
Cerejinha parou por um momento, olhou para a Violeta por uns instantes e depois continuou a andar de um lado para o outro.
—Violeta, olá... Não te tinha visto. - murmurou ela. - Não compreendo. Não faz sentido.
—Mas não faz sentido o quê, rapariga?
—Não faz sentido...
Aquela conversa não levava a lado nenhum, por isso Violeta meteu-se à frente dela, parou-a e olhou-a nos olhos. Isso fez a Cerejinha acalmar-se um pouco.
—O que é que se passa contigo? Nunca te vi assim.
—Descobri uma coisa sobre o Efémero. Preciso de lhe contar. Tenho de lhe contar. Seria-lhe injusto estar a adiar isto.
—Descobriste o quê, afinal?
Aquela pergunta continuou sem resposta. Cerejinha pegou na sua mochila e saiu de sua casa em direcção à oficina de Efémero. Violeta seguiu-a. Não demorou muito a lá chegarem. Desde cedo Efémero teve jeito para consertar máquinas e trabalhar com relógios, por isso para ele nada foi mais natural do que abrir uma relojoaria. Porém, como Poneivile era uma cidade pequena e não necessitava assim tanto de relógios, Efémero dedicava-se também a construir brinquedos mecânicos. Desde gatos de corda a pégasos que abanavam as asas, ele fazia de tudo. Porém, o seu orgulho eram as caixinhas de musica. A sua montra tinha sempre uma delas a tocar e os póneis sabiam que a loja estava aberta só pelo som da musica que se fazia ouvir quando se aproximavam. Foi assim que Cerejinha soube que o amigo estava lá. Ela nem bateu à porta nem nada, limitou-se a entrar por lá dentro de rompante. O movimento tinha sido tão brusco que Efémero nem se apercebeu do que tinha acontecido até Violeta lhe dirigir a palavra:
—Efémero, passa-se qualquer coisa com ela. Não me lembro de alguma vez a ter visto tão perturbada.
Os dois ficaram a olhar para a Cerejinha. Esta olhou para Efémero e começou a falar:
—Encontrei-a, nem acredito que a encontrei. Se calhar não encontrei nada, mas encontrei-a. Quer dizer, é a mesma, e pisca-pisca, como um pirilampo. Mas não pode ser a mesma, pois não? São demasiadas coincidências para não serem as mesmas marcas, mas é impossível não é?
Ela continuou assim durante alguns segundos até Efémero ter-se apercebido de que a amiga não se acalmaria sozinha e deu-lhe um valente berro:
—Sai dessa, rapariga. Não estás a fazer sentido nenhum. Afinal de contas, o que é que encontraste?
Cerejinha pegou em dois livros de dentro da sua mochila e colocou-os em cima do balção. Um era um simples livro impresso com as folhas cosidas à maquina e desprovido de capa, o outro parecia ser muito antigo, com as folhas amarelas e a desfazerem-se. Foi este ultimo que a Cerejinha abriu, folheou-o cuidadosamente e quando parou virou-o para Efémero. No meio da página estava um desenho de uma tigela castanha com linhas onduladas e símbolos a saírem dela. Era igualzinha à marca de Efémero.
—O que é isto? Onde o arranjaste? - perguntou o Efémero à Cerejinha.
—Trouxe-o dos arquivos de Canterlot.
—Eles deixaram-te trazer um livro de lá?
—Não, que ideia. Roubei-o.
Quando ouviram a Cerejinha dizer aquilo, tanto a Violeta como o Efémero quase que tiveram um fanico.
—Estás a brincar, não estás? - começou por dizer Violeta. Depois reparou na expressão da cara da Cerejinha. De certeza absoluta que não estava a brincar. - Fizeste mesmo isso? Por tudo o que é puro e sagrado, roubaste-os mesmo. Podes ser presa por isso.
—Já assaltei o castelo de Canterlot várias vezes. Não é nada de especial.
—Tu o quê? - Efémero estava completamente pasmado. O seu tom de voz não deixava margens para duvidas. Violeta, essa estava perfeitamente muda e em vias de desfalecer. - Porque é que fizeste isso?
—Dah. Para treinar, é claro. Um gigantesco castelo cheio de guardas, salas secretas e tesouros protegidos está mesmo a pedir para ser ser assaltado. Fiz lá muito do meu treino. Infelizmente depois de nos termos habituado às suas nuances torna-se bastante fácil andar por lá às escondidas. Por isso é que à três dias fiz uma excursão a uma das alas mais valiosas dos arquivos de Canterlot. Acrescentei alguns livros aos registos, lá. De vez em quando fazem um inventário. Na próxima vez que o fizerem vão pensar que houve livros que foram roubados. É claro que não faltam livros nenhuns, mas eles não sabem disso. Tenho esperança que finalmente se dignem a melhorar a segurança daquele sitio. Preciso urgentemente de um desafio.
'Pung'. Ouviram aquele barulho? Era o som da Violeta a cair redonda no chão. Nenhum dos outros póneis sequer reparou nela. Ambos estavam demasiado nervosos para notarem que a amiga tinha desmaiado. Efémero estava a tentar processar os disparates da Cerejinha e esta ainda estava em choque com o que tinha descoberto.
—Tu fizeste o quê? Mas... mas tu roubaste mesmo livros.
—Não sou uma amadora. Antes de sair de lá apaguei o seu nome dos registos. Nunca nenhum pónei reparará que ele desapareceu. - Naquele instante Cerejinha reparou que estava a divagar. Uma ninja como ela não deveria distrair-se assim. É claro que aquela situação não era para menos, mas isso não era desculpa. O importante é que tinha encontrado algo sobre um dos seus amigos. - Mas isso não é importante. - disse ela de repente, enquanto apontava uma pata para os livros. - Isto é que é.
Efémero finalmente prestou atenção àquele livro. Cerejinha reparou na Violeta, que se tentava levantar, e foi ajudá-la. Quanto ao livro em si, parecia ser muito antigo. Não tinha nome, apenas um código de arquivo. Era o registo de um documento, ainda mais antigo, e possuía uma cópia do que foi possível salvar dele, juntamente com algumas notas sobre o que não foi possivel salvar. Pelo que dizia, era um documento muito velho, antes de qualquer referencia histórica que Efémero se lembrasse. A sua data de origem deveria ser algures entre mil a mil e quinhentos anos antes da fundação de Equéstria e tinha sido encontrado enquanto os unicórnios mudavam o seu património do território actualmente conhecido como Norte Gelado para a recém inaugurada Canterlot.
Supostamente, falava de um estranho evento, sendo estranho o minimo que se podia dizer. Dois ataques à biblioteca real dos unicórnios, com o espaço de cinco meses entre eles, perpetrados por um ser parecido com um alicórnio, se bem que no documento original tal palavra não tenha sido usada, pois naquela altura supostamente ainda faltaria muito para surgir o primeiro alicórnio.
Quanto à descrição de tal ser, era do mais excêntrico que poderia existir. Tinha a forma de um pónei, mas um pónei enorme, cerca de duas vezes o cumprimento e a altura que a princesa Celéstia deveria ter. Possuía um par de asas, mas não eram asas de pégasos nem tão pouco de póneis morcegos ou de dragões. Eram constituídas por quatro longos tentáculos com pele entre eles. Na cabeça tinha um chifre preto e curto mas bastante grosso e curvado. O corpo era cinzento e muito musculado, ao ponto de se tornar quase disforme. A crina e a cauda eram de um vermelho vivo, muito brilhante, e ondulavam a desrespeito do vento, como se tivessem vida própria. Os olhos eram completamente pretos, de maneira que era impossível saber para onde se encontrava a olhar. Quanto à marca que possuía era a mesma de Efémero, não apenas parecida, mas exactamente igual. O redactor do livro garantia que infelizmente tinham chegado perto dele demasiados unicórnios, o suficiênte para reconstruir a marca com uma precisão bastante fidedigna.
A primeira vez que tinha sido avistado foi no inicio de um Verão, se bem que não se sabia a data exacta. Tal ser tinha invadido a biblioteca real dos unicórnios, provocado vários feridos e roubado alguns livros, provavelmente escolhidos à sorte, durante o processo. Aparentemente possuía um poder mágico avassalador e uma força bruta enorme. Este ser voltou a atacar outra vez a meio do Outono desse ano, de novo na mesma biblioteca. Dessa vez trouxe uma espécie de carroça voadora com ele, que deixou pousada numa varanda do terceiro andar. Também tinha usado um estranho óleo mágico que exalava gases que deixaram os unicórnios em estado de pânico. Os poucos que possuíam magia suficiênte para resistirem a esses gases foram facilmente superados pelo ser. Permaneceu no interior da biblioteca por uma tarde inteira, recolhendo livros e pergaminhos na sua carroça voadora. Tanto quanto dizia o livro nunca mais voltou a ser visto nem se chegou a descobrir algo sobre a sua origem ou natureza.
O outro livro, se é que se podia chamar de livro, era um memorando dirigido à guarda real. Impresso em papel barato e desprovido de capa, relatava uma investigação em curso no Império de Cristal. Aparentemente, à cerca de uma semana, alguém tinha assaltado a biblioteca e roubado um pergaminho que tinha sido retirado do acesso publico por ser demasiado antigo para uso publico. A investigação levou os guardas a uma casa pertencente a uma égua chamada Pena Escarlate. Quando lá chegaram estava deserta, mas foram encontrados indícios de que uma espécie de culto operava lá. Os poucos documentos que foram lá encontrados indicavam que o culto venerava uma espécie de alicórnio chamado Primordial, que pela descrição era o mesmo do outro livro. Uma nota curiosa que no livro anterior não aparecia, ali dizia que a sua marca piscava. Todos os outros pormenores diziam respeito a investigação forense e Efémero não pôde tirar muito sentido disso, mas também não lhe interessava.
Quando ele acabou de ler tudo o que pôde daqueles documentos, virou-se para as suas amigas. Violeta estava sentada numa cadeira, Cerejinha tinha-lhe trazido um chá para a acalmar. Efémero pensou calmamente em tudo aquilo. Parecia absurdo, apenas uma data de coincidências sem sentido. Mas a Cerejinha era a pónei mais sensata que conhecia (sensatez não é sinónimo de seriedade ou de prudência), ela não reagiria daquela maneira se fosse uma ideia tão absurda assim. De resto, mesmo ele próprio não poderia negar que eram simplesmente demasiadas coincidências para não merecer a sua atenção.

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O sono simplesmente tardava em vir. As emoções daquele dia tinham deixado a mente de Violeta demasiado perturbada para conseguir descansar convenientemente. Ela nem se importou em tentar dormir, simplesmente deitou-se no sofá, pegou no seu bloco de notas e foi adiantando o seu acima de medíocre romance.
—O seu soluçar ouviria-se na rua, caso algum pónei por acaso lá passasse. Infelizmente para Lidia, o seu pesar continuaria desconhecido. - ia escrevendo Violeta. - Sentia-se magoada pela indiferença de Galgo, algo muito mais doloroso do que a falta de amor correspondido. Que ele não a amasse era compreensível, mas que ela se tinha apaixonado por um garanhão que se mantinha insensível aos...
Violeta teve uma branca, esqueceu-se completamente do que queria fazer com aquela ultima frase. Alguns segundos depois decidiu riscá-la e começar de novo, mas não lhe veio à mente absolutamente nada. Aparentemente, quando um pónei está perturbado o suficiênte para não conseguir adormecer também está perturbado para não conseguir fazer coisa alguma.
Não que a culpa fosse da Violeta. O coração dela sentia-se inquieto. Ela nunca se tinha habituado às excentricidades da Cerejinha e a noção de que a amiga fazia carreira a assaltar o próprio castelo de Canterlot rondava entre o chocante e o absurdo. Mesmo naquele momento ela era incapaz de imaginar tudo aquilo. Não conseguia conceber que um pónei minimamente sano arriscasse tanto. E para quê? Por treino? Por diversão? E depois havia aquela história com a marca do Efémero. Até mesmo a própria Violeta achava que eram demasiadas coincidências, mas não compreendia porque o amigo levou tão gravemente o assunto. Claro, ele era órfão, era natural que quisesse conhecer a sua família verdadeira. Mas havia outra coisa, algo mais do que laços de sangue a puxá-lo. Talvez fosse a ânsia de saber o significado da sua marca, mas parecia-lhe que Efémero não ligava assim tanto a isso. Ou ligava? Violeta olhou para o seu próprio flanco. A flor de maracujá brilhava no seu belo pelo azul. A flor da paixão, que tinha obtido por gostar tanto de romances quando era jovem. Agora já não lhe interessava tanto lê-los, e apesar de divertir-se muito a escrevê-los, não lhe trazia propriamente felicidade. Mas era a sua marca, não era?
Violeta abanou a cabeça. Toda aquela confusão só a deixara mais deprimida. Decidiu apagar a lamparina e acomodar-se no sofá. Desta vez o sono venceu-a e ela adormeceu mesmo ali, mas apesar do famoso ditado, a noite não lhe foi boa conselheira.

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Tinham passado dois dias desde que a Cerejinha tinha trazido aquele livro 'emprestado' dos arquivos de Canterlot, mas toda aquela confusão ainda não tinha saído da mente de Efémero. O tal demónio-alicórnio, a sua marca, idêntica à dele, até no lampejar, tudo indicava que deveria haver uma ligação com ele próprio. Mesmo se não houvesse, e as probabilidades de não haver eram poucas, talvez não fosse uma total perda de tempo investigar. Não lhe custaria nada ir passar uns dias ao Império de Cristal e ver no que dava.
Com muito em que pensar, Efémero resolveu ir passeando por Poneivile enquanto ia meditando nas suas questões. De momento o que mais o preocupava era como iria obter informações. Se havia casco criminoso no assunto de certeza que a guarda real não lhe diria algo assim sem mais nem menos, para além de que achariam muito suspeito um pónei desconhecido andar a fazer perguntas sobre assaltos. Efémero até pensou se seria boa ideia usar a sua marca como desculpa. Não que fosse uma grande mentira, mas na melhor das hipóteses nenhum pónei acharia que uma coincidência seria suficiênte para andarem a meter o nariz numa investigação. Na pior das hipóteses pensariam que ele pertencia à tal seita e prendiam-no.
Eventualmente, por acaso ou talvez por instinto, Efémero passou por perto da casa da Cerejinha e aproveitou para a visitar. Bateu à porta e chamou por ela. Ouviu um vago "Por favor, entra." vindo de lá de dentro. Abrindo a porta, pôde ver que a casa parecia estar deserta. Nem sinal da Cerejinha. Provavelmente ela estaria escondida algures, a praticar alguma manobra ou talvez a tentar pregar-lhe uma partida. Com tantos quadros e cavaletes seria algo fácil, mesmo para um pónei não ninja.
—Onde estás? - perguntou o Efémero.
—Estou aqui em baixo. Subo já.
Efémero aproximou-se do centro da casa e pôs-se a olhar para o chão. Passado um bocado algumas tábuas abriram-se e a cabeça da Cerejinha saiu de dentro da sua cave ninja secreta. Sim, ela tinha uma cave ninja secreta.
—Olá, bem vindo. Presumo que estejas aqui para falar da nossa pequena viagem ao Império de Cristal.
—Eu... quantas? - Aquela frase apanhou o Efémero completamente de surpresa, porque... - Como é que sabias que eu estava a pensar em ir ao Império de Cristal?
—Vá lá, até parece que não te conheço. Desde que me lembro a tua marca sempre te intrigou, e agora que finalmente tens uma pista minimamente sólida acreditarias que eu pensaria que não a irias seguir? Porque razão é que achas que trouxe aquele livro? Eu passei a maior parte da minha vida a testar-me para conhecer-me e compreender melhor o meu lugar no mundo. Como poderia eu pensar que não quererás fazer o mesmo? Ademais... - disse ela enquanto voltava a entrar para a sua cave.
Voltou pouco depois, segurando um pedaço de tecido na boca. Pousou-o no chão. era um tecido brilhante e reflector, como um espelho muito baço. Cerejinha continuou então com o que estava a dizer:
— ...de que é que serviria todo este trabalho em fazer camuflagens de cristal? Gostas? É basicamente uma folha de alumínio com uma camada de gelatina colorida. Se bem que estou com problemas em fazer a luz reflectir da mesma maneira que reflectiria em cristal verdadeiro. Não consigo tornar os polímeros da gelatina resistentes o suficiente para polir-la. Talvez se a misturar com um verniz... Realmente não deveria ter-me baldado tanto às aulas de química quando era uma potra. - Cerejinha ia prestando cada vez menos atenção a Efémero à medida que a sua mente vagueava de volta às suas experiências.
—Não. Nem pensar que vais andar a fazer os teus disparates no Império de Cristal.
—Mas porquê?
—Porque já te arriscas demasiado. É um milagre ainda não teres sido presa, ou partido o pescoço, ou algo parecido. Ademais, se eu for, vou sozinho.
—Sozinho? Acreditas mesmo que eu vou abandonar um amigo na demanda mais importante da sua vida?
—Não é uma demanda. Vou apenas fazer umas perguntas para saber se aquele culto tem alguma coisa a haver comigo. Não preciso que nenhum pónei me acompanhe.
—E por acaso tu conseguirias fazer alguma coisa sem mim e sem a Violeta para te ajudar?
—Cerejinha, não insistas. Não vou precisar da vossa ajuda. Nem sei porque te contei disso.
—Não me contaste. Descobri sozinha, lembras-te? Não que fosse muito difícil. Qualquer pónei na tua posição provavelmente faria o mesmo.
Efémero resmungou e depois, sem se despedir sequer, foi-se embora. Era visível que tinha ficado chateado. A própria Cerejinha encontrava-se perplexa com o facto de Efémero estar disposto a ir até ao Império de Cristal sozinho. No seu intimo sabia que, apesar de ser uma coisa que somente o próprio Efémero poderia fazer, ele iria necessitar da ajuda dos seus amigos. Ela não poderia permitir que ele fosse desamparado e sem ajuda, por isso foi procurar a ajuda da Violeta. Dirigiu-se à sua casa, um edifício de dois andares, com paredes amarelo claro e telhado vermelho, localizada no centro de Poneivile. Bateu à porta uma vez, depois duas vezes, mas nenhum pónei respondeu. Pacientemente, Cerejinha decidiu esperar. Primeiro limitou-se a esperar à porta, mas depressa se fartou de não fazer nada e começou a trotar descontraidamente à volta da casa. Eventualmente achou boa ideia esconder-se num arbusto só por diversão. Passado um bocado Violeta chegou carregando dois sacos de compras com um simples feitiço telecinético. Cerejinha até pensou em pregar-lhe um susto, mas como a Violeta não costumava achar piada a esse tipo de coisas, desistiu. Limitou-se a esperar que ela passasse e saiu de baixo do arbusto, pata ante pata para não fazer barulho, e aproximou-se por detrás dela como se só tivesse chegado naquele momento.
—Violeta, olá. - cumprimentou ela a amiga.
—Hei. Olá Cerejinha. Não te tinha visto.
—Podemos falar? É por causa do Efémero. - Se bem que Cerejinha tivesse dito aquilo alegremente, Violeta reagiu como se tivesse recebido um coice no estomago. Ficou pálida e por pouco não deixou cair os sacos. Com o que tinha acontecido nos últimos dias ela só podia esperar que fosse algo grave.
—É melhor falarmos lá dentro. - disse ela ao fim de alguns instantes.
Ela abriu a porta e entraram ambas em casa. Violeta pousou os sacos em cima de uma mesa e olhou fixamente para a Cerejinha, esperando pelo que ela tinha para dizer.
—O Efémero quer ir ao Império de Cristal sozinho. Nós deveríamos ir com ele mas ele não quer companhia.
—Espera... O quê? Ele quer ir agora? Sozinho?
—Sim.
—Mas temos que o impedir. Ele não poderia esperar algum tempo até esta história do culto esfriar um pouco?
—Violeta, isto é uma coisa que ele tem que fazer. Todo o que podemos fazer por ele é estar ao pé dele para o ajudar.
—Mas... Mas se ele quer ir sozinho?
—Nós vamos seguir-lo, sorrateiramente. Quando estivermos todos no Império de Cristal ele não vai poder recusar a nossa ajuda nem voltar para trás.
Violeta não conseguia acreditar no que ouvia. Tinha havido um assalto à tão pouco tempo e Efémero queria andar a meter-lhe o focinho sozinho. Aquilo era andar a pedir sarilhos. E depois Cerejinha tinha vindo pedir-lhe que fossem seguir-lo naquela loucura. Violeta começava a questionar-se se os seus amigos jogavam realmente com o baralho todo.


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