Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 2
Livro 1 Capitulo 2 - Trabalho de ninja




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O comboio para Canterlot estava a atrasar-se, outra vez. Sentada no banco, Cerejinha olhou pela janela. Estavam a aproximar-se de Canterlot, mas já devia ter lá chegado à meia hora. Ela não se importava com o atraso, ainda faltava algum tempo para anoitecer, mas gostaria de ter tempo para fazer um pouco de turismo antes de assaltar o palácio.
O comboio finalmente parou na estação de Canterlot. Infelizmente faltava menos de um quarto de hora para o por do Sol. Cerejinha amaldiçoou os caminhos de ferro de Equéstria e pôs-se a caminho. O castelo de Canterlot não ficava muito longe da estação. Andando pelas ruas, como quem não quer a coisa, foi-se aproximando do lado sul-oriental dos jardins do castelo. Quando lá chegou olhou em volta. Não havia nenhum pónei à vista. Retirou da sua mochila um rolo de tecido especialmente feito para esta situação. De um lado estava pintado com um verniz misturado com talco, ao longe parecia o mesmo tipo de mármore usado nos muros do castelo. Do outro lado estava estofado com fios de algodão verde a imitar relva. Segurando o tecido nas suas costas com a pata esquerda, Cerejinha encostou-se ao muro, e parecia ter ficado mesmo invisivel. Olhou para cima. o muro era alto, mas para um vigoroso pónei terrestre não era nada, especialmente quando esse pónei terrestre era um ninja treinado, habituado a trepar por tudo o que era sitio. Flectiu as patas traseiras e saltou, agarrando-se com a pata posterior direita.
Apoiando-se o melhor que pôde, Cerejinha espreitou por cima do muro. Havia alguns guardas a vigiar a ponte levadiça para o interior do castelo e pelo menos uma duzia de guarda espalhados pelo jardim, mas o pôr do Sol aproximava-se rapidamente. Como ela esperava, o turno da tarde começava a mudar para o turno nocturno. Certificando-se que nenhum pónei próximo estava a olhar na sua direcção, Cerejinha saltou o muro com destreza. Rapidamente virou o tecido, e entre o camuflado de relva e os diversos arbustos e árvores estava completamente indetectável. Debaixo do seu esconderijo, Cerejinha amarrou a sua crina nas fitas dos seus belos travessões floridos e repetiu-o para a sua cauda, transformando-os em práticas tranças. Depois disso retirou o seu fato preto da mochila e vestiu-o cuidadosamente e com orgulho. Era o simbolo da sua arte, e apesar dela saber que o efeito era mais psicológico do que outra coisa, sentia-se mais poderosa e confiante ao envergá-lo. Com ele posto, sentiu-se uma outra pónei. Tinha-se tornado uma sombra autêntica, só os seus brilhantes olhos denunciavam que havia um pónei ali. Agora só precisava de esperar pela noite cerrada. Pegou numa sanduiche de margaridas e pôs-se a comer vagarosamente, visto que andar a esgueirar-se dá uma traça dos diabos.
A Lua começou a avançar pelo céu. Não demorou muito até passar por detrás do castelo. Nessa altura o jardim, privado do luar, começou a ficar realmente escuro. A altura de avançar tinha chegado. Cerejinha começou a rastejar por entre os arbustos, sempre abrigada pela sua camuflagem, enquanto mantinha um olho nos guardas. Apesar de alguns guardas do turno da noite serem póneis morcego (Que vêem terrivelmente bem de noite.), Cerejinha só estava realmente em perigo de ser descoberta se fizesse alguma asneira quando algum guarda estivesse por perto. Consequentemente, quando alguma patrulha se aproximava, ela parava. Cerejinha conseguia mover-se bastante bem sem provocar barulho, mas com tantos arbustos onde acidentalmente se prender e ocasionalmente alguma toca com um animal dorminhoco pronto a acordar à menor perturbação, achou melhor não arriscar.
Eventualmente chegou ao rio que a separava do castelo. Atravassá-lo era sempre dificil. Ela poderia ir a nado, mas se fosse muito depressa provocaria ondas que os guardas poderiam ver, e se fosse muito devagar arriscava-se a não ter tempo de atravessar entre duas patrulhas. Procurou na sua mochila uma corda tecida por ela própria, preta como a noite, fina como o caule de uma hera e suficiêntemente resistente para aguentar duas vezes o seu peso. Na ponta prendia um pequeno gancho triplo, feita de aço e coberta de cortiça para abafar qualquer barulho que pudesse fazer. Cerejinha trepou para o cimo de uma árvore, esperou pacientemente que não houvesse guardas nas proximidades e lançou o gancho para as ameias das muralhas. Lançou-se por cima do rio e aterrou na curta estenção de terra que ladeava as muralhas. Rapidamente dubrou a esquina da torre que se encontrava no canto, certificou-se que estava bem coberta pela camuflagem cor-de-marmore e começou a trepar pelo espaço entre a torre e a muralha. No topo a situação complicava-se, pois a muralha inclinava-se para o lado de fora. Cerejinha não podia hesitar, pois na muralha passavam regularmente patrulhas que podiam encontrá-la facilmente. Simplesmente largou-se, e por um momento ficou pendurada pela corda. Rapidamente trepou por ela acima, passou pelas ameias, recolheu a corda e entrou por uma janela.
Encontrava-se no primeiro andar. Dentro do castelo tudo era mais fácil. Cerejinha sabia trotar em silêncio sempre que precisasse mas os guardas reais faziam um barulho infernal cada vez que davam um passo, barulho esse que era ampliado pelo eco das paredes. Consequentemente era como se cada um deles estivesse constantemente a gritar "eu estou aqui". Os corredores eram grandes e bem iluminados e as paredes possuiam rebordos, rodapés e demasiadas janelas, tornando qualquer pintura de camuflajem quase inutil. Muitos deles possuiam, isso sim, vasos, tapeçarias, estátuas, quadros e outras bugigangas que ofereciam bastantes oportunidades para algum pónei se esconder. De resto, sem a luz diurna e com a iluminação a limitar-se a candelabros pendurados no tecto, havia muitas sombras que Cerejinha poderia utilizar. Conhecendo o castelo bastante bem, pôs-se a trotar calmamente por entre uma parede e umas arcadas. Era simplesmente demasiado fácil. Aliás, era essa a razão porque ela tinha vindo, porque era demasiado fácil. Ela estava a agir descuidadamente, ela própria apercebeu-se disso.
—Não te comportes como uma tola, Cerejinha. - Pensou ela. - Sempre soubeste que se algum dia ias falhar ia ser por deixares a tua arrogância fazer cometer erros. Não ajas como uma principiante. Esta é uma péssima situação para te deixares apanhar.- Parou, respirou fundo e depois continuou, mas desta vez como deve ser. Mais calma, mais silênciosa e sempre perto de algo para onde poderia saltar para se esconder caso sentisse que algum pónei se aproximasse.
Quinze minutos, dois corredores e um salão depois Cerejinha ainda não tinha encontrado viva-alma. Havia sempre um pónei a andar de um lado para o outro ou uma patrulha de guardas, mas hoje nada. A segurança do castelo estava a ficar mesmo péssima. Ela até começou a sentir o seu passatempo como um serviço publico. "Será que dão subsidios a assaltantes de edificios reais?" pensou.
Cerejinha ia a dobrar uma esquina quando ouviu barulho de cascos. Algum pónei vinha na sua direcção, dois guardas a admitir pelo barulho que faziam. Naquele corredor o único esconderijo suficiêntemente bom era a tapeçaria que se encontrava pendurada ao longo da parede. Felizmente o rodapé era alto e chegava até à tapeçaria. Cerejinha meteu-se atrás dela com cuidado. O importante era evitar que a tapeçaria ficasse a abanar, caso contrário qualquer pónei podia facilmente aperceber que ela estava ali. Espalmando-se contra a parede, Cerejinha ergueu-se sobre o rodapé. Ali ela não conseguia ver nada, mas ouvia bastante bem. Não contentes em caminharem ruidosamente, os guardas também falavam bastante alto.
—És um idiota, sabias?
—O quê? O que querias que eu fizesse?
—Ias à festa.
—Ele não foi à minha festa de aniversário, porque é que eu haveria de ir à dele? De resto tenho quase a certeza que foi ele que me roubou o lanche na semana passada.
—Isso não é desculpa. Todos os outros pónei estão lá. Eu mesmo vou lá dar um salto quando passar pelo salão.
O que o guarda disse tinha atingido o cérebro da Cerejinha. "Assim tipo, aqui, agora?" pensou ela, "Há uma festa no castelo? Isso explica porque o castelo parece tão vazio hoje.".
Os guardas continuaram a falar enquanto andavam. Só quando as suas vozes pareceram suficientemente baixas para terem saido do corredor é que a Cerejinha atreveu-se a espreitar por baixo da cortina. Não havia nenhum pónei à vista. Ela saiu da sua posição e continuou com o seu caminho.
Cerejinha começou a ouvir musica, vinha precisamente da porta do lado norte. Aproximou-se cuidadosamente dela e espreitou pela fechadura. Atráz da porta conseguia ver um corredor, no fim deste havia uma porta entreaberta de onde parecia vir a musica e de onde também saiam diversas luzes e clarões coloridos. Do lado direito havia um corredor secundário. Cerejinha esitou. O corredor estava praticamente vazio, se aparecesse algum pónei ela dificilmente não seria vista. Ademais, o castelo era suficiêntemente grande para ela encontrar outro caminho mais fácil. Por outro lado as coisas já eram demasiado fáceis. "Um bom ninja consegue ser um com as sombras da noite, mas um mestre ninja consegue ser um com os espectáculos de lazer duma rave." pensou ela consigo própria. Abriu ligeiramente as portas e espreitou. Não havia nenhum guarda por detráz delas, por isso entrou e encostou-se à parede do lado este. Prosseguiu ligeiramente ao longo do corredor. A festa fazia tanto barulho que era impossivel ouvir qualquer pónei que se aproximasse. Ao chegar a meio espreitou discretamente pelo corredor lateral. Felizmente não vinha nenhum pónei por lá, por isso Cerejinha continuou até à porta. Lá, espreitou pela frincha, e o que viu deixou-a espantada.
No enorme salão que lá se encontrava, reinava a maior das festas. No lado oeste estava uma gigantesca mesa de som ladeada por várias colunas. Nesta, dois deejays misturavam animadamente a mais barulhenta e esquisofrénica musica tecno que Cerejinha jamais ouvira. Pelas restantes três paredes estavam dispostas várias mesas com os mais variados tipos de comida. Desde bolos, frutas, pastelaria, vegetais, flores, bebidas, havia de tudo. Nos quatro cantos do salão estavam pendurados no tecto estranhos caleidoscópios, parcialmente mágicos, parciamente mecanicos, que soltavam arco-iris aleatoriamente pelo salão. Mas o que mais impressionou Cerejinha foram os convivas. Póneis, centenas deles, tantos que provavelmente o castelo em peso estava lá. Muitos encontravam-se espalhados à volta das mesas, a comer ou a conversar (Aos berros, que a musica não deixava ser de outra maneira.). Os outros estavam espalhados pelo centro do salão, a dançar que nem doidos e... Celestia? Era a princesa Celestia que estava a dançar no meio deles? Quando a Cerejinha pôs as vistas em cima dela não resistiu a murmurar qualquer coisa sobre os póneis andarem a pagar demasiados impostos.
Cerejinha agachou-se, observou atentamente os póneis que se encontravam do outro lado da porta. pacientemente esperou por um momento em que todos estivessem de costas para ela e gatinhou rapidamente para debaixo da mesa mais próxima. A partir daí foi fácil contornar o salão até à porta do lado norte. A maior parte das mesas encontrava-se juntas umas às outras. Nas poucas que se encontravam separadas bastava esperar um pouco que nenhum pónei estivesse entre elas para a Cerejinha se mover. As luzes, a enorme multidão e a distracção que era a prórpia festa garantiam que ela só se tinha que preocupar com os póneis que se encontravam próximos dela. Ao chegar á porta, Cerejinha constatou que esta se encontrava demasiado longe da mesa mais próxima. Sem paciência para mais nada, retirou a máscara, e quando nenhum pónei estava a olhar saiu debaixo dela, levantou-se, abocanhou um pastel (Ironicamente era de cereja.), e como quem está a apreciar aquela aberração a que chamavam musica, dirigiu-se para a porta, abriu-a e saiu. Não tinha sido nada épico, mas funcionou.
Cerejinha estava arrependida de não ter seguido outro caminho. Tinha sido exageradamente fácil e o barulho deixou-a quase surda. Engoliu o pastel à presa, voltou a colocar a máscara e afastou-se dali o mais rapidamente que a prudencia permitia. Só quando estava suficintemente longe para não ouvir aquela estupida festa é que pôde se acalmar e prosseguir com normalidade, pelo menos para o que um ninja chama de normalidade.
Cerejinha eventualmente chegou à entrada dos arquivos de Canterlot. Diante dela estava uma imponente porta. Por detrás dela estava o corredor que ligava à única entrada dos arquivos. Espreitando pela fechadura, Cerejina viu que pelo menos a segurança dos arquivos não tinha sido negligenciada. Estavam dois guardas de cada lado da porta ao fundo do corredor. Possivelmente estavam outros dois por detrás da presente porta, mas Cerejinha não os conseguiria ver só espreitando pela fechadura. De qualquer das formas ela não tinha intenções de usar aquela entrada. Parando por um momento, escutou atentamente qualquer sinal que indicasse a aproximação de algum pónei. Estava um silêncio completo, era altura de agir. Começou a trepar pela ombreira de madeira da porta, que tinha sido esculpida com motivos florais, tornando-se quase tão prática de trepar como uma escada de mão. Ao chegar ao topo, ergueu-se com os cascos trazeiros sobre o arco da porta, abriu a janela no topo do enorme vitral que se encontrava mesmo ao lado da porta e sentou-se nela, ficando o lado esquerdo dela de fora e o lado direito para dentro.
Abriu a sua mochila e retirou de lá de dentro outra das suas camuflagens. Esta tinha o aspecto de basalto branco, o tipo de pedra usado nas paredes do castelo, e possuia dois pequenos elásticos. Cerejinha enfiou-se num elástico até à cintura, depois enfiou a cabeça até ao pescoço no outro, ficando completamente coberta pelas costas. Aquilo era na realidade muito pouco prático, nas pelo menos ela poderia servir-se das patas à vontade. Inclinando-se para o lado de fora, Cerejinha agarrou com uma pata o beiral que se encontrava mesmo por cima da sua cabeça. Com a outra pata fechou a janela atrás de si, (Não valia a pena deixar uma pista da sua passagem.). Apoiando-se no beiral somente com as duas patas dianteiras, dobrou a esquina que fazia com a parte exterior do corredor de acesso aos arquivos de Canterlot e começou a deslocar-se lentamente ao longo dele. Uma tarefa cansativa e muito perigosa, (afinal estava no topo do segundo andar), mas Cerejinha estava habituada a este tipo de habilidades. Na readidade já tinha feito este percurso três vezes.
Demorou um bocado mas finalmente Cerejinha chegou aos arquivos de Canterlot, se bem que pela parte de fora. Infelizmente o beiral terminava ali. Tinha chegado a altura de fazer algo verdadeiramente estupido. Retirou a sua corda da mochila e equilibrando-se nas patas trazeiras no topo de um vitral, lançou o gancho para uma janela a uns metros mais à frente. Puxando a corda com cuidado para verificar se se encontrava bem presa, Cerejinha enrolou-a firmemente à volta da sua pata. Depois pôs-se a olhar cuidadosamente em volta para certificar-se de que nenhum pónei poderia vê-la. Ali, encostada a uma parede e com a sua camuflagem, era básicamente indetectável, mas o que iria fazer de seguida seria tudo menos discreto. Não via nenhum guarda por perto. Pareceu-lhe que via alguns póneis em varandas no outro lado do castelo, mas se estavam tão distantes que dificilmente a conseguiriam ver. Provavelmente haveria guardas nas torres no cimo dos arquivos que ela não conseguia ver, mas ela sabia que naquela posição eles também não a veriam. Parou de respirar por uns momentos, levando tempo para se acalmar, depois começou a respirar devagar enquanto mentalizava o percurso que teria de precorrer. Por fim, respirou fundo e largou-se.
Começou a galopar com três patas, (A quarta ainda estava agarrada firmemente à corda.), calculando cuidadosamente a posição de cada casco. Um passo com demasiada força e ela era atirada para longe da parede, que era a ultima coisa que ela queria. Um passo no sitio errado e ela iria estatelar-se pela parede fora, cair, espetar-se por uma janela adentro, ou pior, fazer demasiado barulho (Prioridades.). De qualquer das formas, Cerejinha continuava a trotar, ganhando cada vez mais velocidade. Quando fez um quarto de circulo passou entre o primeiro andar e o rés-do-chão. Naquela altura, devido tanto ao esforço como à emoção, o seu coração batia a cem à hora. Continuou, aproveitando o balanço o melhor que podia e evitando acertar com os cascos numa qualquer janela. Ao fazer meio circulo já tinha dificuldades em manter alguma velocidade. A meio caminho de ter feito mais um quarto de circulo, Cerejinha começou a parar. Irrelevante, pois ela agarrou-se a uma janela do terceiro andar. Sossegou por uns momentos, para ver se conseguia ouvir algum pónei lá dentro. Estava tudo silêncioso, por isso ela empurrou a janela, entrou e com uns ligeiros puxões soltou o gancho, recolheu a corda, livrou-se da sua incomodativa camuflagem e finalmente pôde acalmar para recuperar o fôlego. Só quando o seu coração batia normalmente é que a Cerejinha se preocupou em ver onde estava. Finalmente entrara nos arquivos de Canterlot.
Cerejinha encontrava-se num corredor lateral no terceiro andar que ligava várias alas dos arquivos. Ela já tinha estado lá antes e sabia que a não ser que aquela festa tivesse atraido completamente a atenção de todos os póneis do castelo, este corredor era patrulhado frequentemente, sem mencionar, é claro, todos os póneis que faziam serão a pesquisar sabe-se lá o quê. O corredor era demasiado estreito e sem qualquer tipo das habituais decorações que ela poderia usar para se esconder. Felizmente tinha um defeito, os tectos eram constituidos por arcos, suficientemente próximos uns dos outros para que um pónei se pudesse lá enfiar confortavelmente. Cerejinha retirou da sua mochila outra das suas camuflagens e desdobrou-a. Esta era feita de cartão e possuia elásticos como a anterior. Estava pintada com um padrão de tábuas de madeira, como o tecto, e tinha o tamanho e forma exactos dos espaços entre os arcos. Ela colocou-a imediatamente, era muito mais incomodativa que a de papel, mas era a única maneira de se esconder naqueles corredores. Ela ainda se lembrava da primeira vez que tinha entrado nos arquivos. Tinha sido à quase dois anos, quase que tinha sido apanhada e teve que se retirar. Tinha voltado uma semana mais tarde com aquela pintura e conseguiu andar pelos arquivos indetectada.
Cerejinha avançava com cautela. Meteu por um corredor que conduzia para o interior dos arquivos. Não demorou muito até chegar à ala que pretendia, a ala Preciosa, onde se encontravam os livros e pergaminhos mais antigos e raros de toda a Equéstria. Nos arquivos de Canterlot as patrulhas dos guardas eram frequentes e regulares, coisa que não incomodaria Cerejinha, não fosse o caso dela precisar de tempo para destrancar a fechadura. Sem poder tolerar o risco de ser interrompida, ela limitou-se a esperar. Não teve que o fazer durante muito tempo. Pouco depois começou a ouvir passos vindo algures do fundo do corredor. Rapidamente saltou para o tecto e agarrou-se entre dois arcos, pressionando as patas posteriores contra eles. De seguida ergueu as patas traseiras e pressionou-as também, ficando bem segura no tecto. A camuflagem encaixou naquele espaço tão bem que somente o facto do tecto parecer um pouco mais baixo poderia trair a sua posição. Porém, nenhum dos guardas pensaria em olhar para o tecto, quanto mais andar constantemente à procura de discrepancias arquitectónicas. Cerejinha conseguia adivinhar com alguma precisão a posição do outro pónei pelo barulho dos seus cascos. Ouviu-o aproximar-se até passar mesmo por baixo dela e continuou, afastando-se cada vez mais. só quando quase o deixou de ouvir é que ela desceu do tecto. Livrando-se daquela camuflagem, aproximou-se da porta e sacou das suas duas gazuas. Cerejinha tinha cerca de quinze minutos até o guarda voltar a passar por ali, mas era tempo mais que suficiente.
Começando por enfiar a chave falsa da fechadura, Cerejinha rodou-a. Não se moveu muito. Segurando-a com um casco, pegou na outra gazua com os labios, enfiou-a no canhão da fechadura e começou a empurrar a primeira lingueta cuidadosamente. O truque era precionar a chave falsa com a força correcta. Demasiado, e não se conseguiria mexer as linguetas com a precisão necssssária. Com pouca força, e as linguetas que se encontravam na posição correcta não se segurariam. Empurrando a primeira lingueta para baixo com o máximo de delicadeza possivel, Cerejinha concentrou-se o máximo possivel na gazua. Na realidade ela sentia a lingueta a raspar na patilha, até que de repente ela parou. A abertura da lingueta estava mesmo em frente da patilha, ela sentiu-o. A primeira lingueta já estava, faltavam as outras sete.
Ao desbloquear a ultima lingueta, o canhão cedeu e a chave falsa começou a rodar. A fechadura estava destrancada. Cerejinha entrou, fechando cuidadosamente a porta atráz de si. A ala consistia num corredor bastante longo com dezenas de estantes alinhadas na parede norte. Junto à parede sul encontravam-se cerca de uma dúzia de escrevaninhas. Numa delas, algures a meio do corredor, encontrava-se um pónei. Uma vela alumiava a escrevaninha e Cerejinha pôde ver claramente que um unicórnio estava sentado a ler. Cerejinha parou por uns momentos a pensar no que fazer. Ela poderia trepar as estantes rápida e silênciosamente, e uma vez lá em cima só a conseguiriam vê-la se algum pónei fosse procurar livros às estantes superiores. Porém, ela não se conseguiria deslocar ao longo do corredor. Podia saltar entre estantes, mas isso faria sempre algum barulho, mesmo para um ninja, e nos arquivos qualquer barulho notava-se logo. Não, o melhor seria avançar escondendo-se de estante em estante.
Quanto mais tempo ela perdia, maiores eram as probabilidades de ser encontrada, por isso Cerejinha pôs-se a mexer. Abrigando-se atrás de cada estante e espreitando antes de se mover para a próxima para verificar se o outro pónei se encontrava concentrado no seu trabalho. Deslocou-se até ao pé dele, agora vinha a parte mais dificil. Tinha que passar mesmo por detrás dele. Cerejinha conseguia passar silenciosamente, mas se o pónei se virasse ou se levantasse por qualquer razão, ela seria descoberta. Espreitando pelo canto da estante, Cerejinha viu o unicórnio virar uma página, deveria estar concentrado num livro. Sem exitar, passou por ele rapidamente e continuou até ao fim do corredor, sempre usando as estantes para manter-se escondida. Lá encontrou o que procurava. Numa prateleira, juntamente com algum material de escrita, encontrava-se os registos de todos os livros e documentos que estavam guardados naquela ala. Pegando numa pena, molhou-a em tinta e começou a acrescentar aos registos alguns titulos:
—Deixa-me ver... - pensou ela, com um sorriso malicioso. - O que me diz de 'Os dez mais poderosos feitiços de Starswirl, o Barbudo'? E que tal 'Dispositivos do apocalipse, mito ou realidade'? Já agora ponho o 'Como invocar demónios para principiantes'.
Quando pensou ter acrescentado titulos suficiêntes, Cerejinha virou-se para sair daquela ala. O outro pónei vinha na sua direcção. Ela conseguia-o ver bastante bem, pois a luz da vela fazia contrastar a silhueta daquele unicórnio. Cerejinha não exitou e trepou pela estante mais próxima. Lá em cima observou-o a aproximar-se. Se ele dirigisse para a estante onde ela se encontrava, bastava-lhe descer pelo outro lado, mas não foi nessessário. O unicórnio meteu-se por entre duas estantes. Cerejinha desceu e aproximou-se de onde o viu meter-se. Olhando surrateiramente, viu o pónei en cima de um escadote à procura de um livro. Ela aproveitou o momento e surrateiramente passou por ele.
Passando pela escrevaninha que o unicórnio usara, Cerejinha não pôde evitar ter reparado num dos livros que se encontrava aberto. Durante um momento o cerebro dela deixou de funcionar. Quando se voltou a concentrar observou-o atentamente. Era impossivel, não era? O que estava lá escrito só podia ser coincidência. Ou será que não? Ela voltou a andar, mas depois parou novamente. Voltou atráz e pôs-se a observar o livro o melhor que pôde. O outro pónei podia voltar a qualquer altura, ela estava prestes a ser apanhada a assaltar o castelo real, seria presa durante sabe-se lá quanto tempo. Mesmo assim, ela continuava a olhar aquele livro, completamente espantada e sem saber o que fazer.
Confusa, pôs-se a explorar a escrevaninha, na esperança de encontrar qualquer coisa que a ajudasse a encontrar algum sentido. Estavam lá vários livros, a maior parte de história antiga e de mitologia. Num canto estava uma pilha de memorandos. Deviam ser mais de uma duzia deles, qualquer coisa sobre uma seita qualquer no Império de Cristal. Cerejinha pegou num deles, na certeza de que um a menos não seria notado. Mas e o livro que lhe tinha prendido a atenção? O seu primeiro impulso foi pegar nele, mas isso seria estupido. O tal unicórnio repararia que tinha sido roubado e num pescar de olhos ela teria todos os guardas de Canterlot à procura dela. Só lhe restava uma opção, voltar na noite seguinte e esperar que o livro não estivesse em uso.
Sem perder mais tempo, Cerejinha dirigiu-se para a saida. Olhou para tráz e viu que o outro pónei tinha voltado à escrevaninha. Parou por um momento entre duas estantes e espreitou para se certificar de que não tinha sido vista. Estava com demasiada sorte para um descuido tão grande, o unicórnio tinha-se sentado e parecia ter voltado aos seus estudos. Ela pode-se finalmente acalmar e começar a pensar. Estava demasiado escuro para conseguir ler o memorando, mas isso tinha tempo. Meteu-o na mochila e retirou a sua camuflagem. Ela não podia ficar ali mas não iria sair do castelo sem aquele livro. Cerejinha conhecia alguns esconderijos que podia usar com segurança durante o dia. O maior problema era a comida, visto que só tinha trazido uns petiscos para aquela noite. Lá teria ela que fazer um assalto à cozinha. Felizmente com a festa que tinha sido dada, de certeza que haveria muitos restos de que ninguém daria falta.


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