Love Like You escrita por Death Smile


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa vai ser uma ShortFic e pretendo não demorar mais que três capítulos.
Anyway, enjoy.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702594/chapter/1

Ametista havia parado de contar os anos. Quantos fazia? 20? 24? Não importava. Não para ela. Afinal, não envelhecia mesmo. Na verdade, ela achava que isso lhe pouparia a dor de dizer adeus, sabia que estava se enganando, mas queria se embriagar mais dessa doce ilusão.

If I could begin to be

Half of what you think of me

I could do about anything

I could even learn how to love…

 

Se eu pudesse começar a ser

Metade do que você pensa de mim

Eu poderia fazer qualquer coisa

Eu poderia até aprender a amar...

Mais uma vez ela se encontrava andando nas areias daquela praia com um embrulho embaixo do braço. Era o aniversário dela, de sete anos se estivesses correta. Se sentiu miseravelmente culpada de não ter comparecido no aniversario passado, mas, bem, ser soterrada em um terremoto não estava nos seus planos. Em consideração a isso havia dois presentes em meio ao embrulho de jornal.

Meditou em frente a casa, ainda nas areias. Nem sequer ousava tocar a escada. Via as luzes e ouvia os sons, as risadas, contrastando com o manto da noite que lhe cobria e o silencio mórbido que a acompanhava.

Nos primeiros dois anos de vida da menina ela entrava, ficava afastada, mas permitia a pequenina Rose lhe conhecer e brincar com seus cabelos enquanto as outras Gems apenas a miravam. Afinal, as outras Gems não a tinham conhecido, foi embora antes disso acontecer, depois daquele episódio. Para as outras ela era uma intrusa, e elas eram as Cristal Gems. Não que isso importasse a Ametista, ela adorava a pequena Rose, e não ia deixar as magoas daquele episódio a impedirem de ver a menina.

Naquele tempo ela ainda tinha coragem de olhar para eles. De olhar pra Steven, Garnet, Connie, Peridot... Pérola. Até perceber o incomodo que sempre trazia ao recinto. E nos dois anos seguintes Ametista passara a apenas deixar seu presente na porta e sair de volta para o seu mundo escuro. Isso nos últimos sete anos. Pois em um intervalo de treze anos ela simplesmente sumiu. Voltando apenas ao nascimento da filha de Steven.

Simplesmente pulou até a varanda. Deixou seu embrulho, que continha um ursinho de pelúcia e uma pistola d’água, e deu meia volta. Prendeu a respiração ao ver Garnet a sua frente. Ela estava de braços cruzados escorada no corrimão, esperando sua chegada.

            - Você não apareceu ano passado.

Ametista suspirou pesadamente. Menos mal, era Garnet, ela não ia insistir para que ela entrasse como Steven, ou iria lhe atacar com palavras como Pérola, mas também não ia ignora-la como Bismuth ou Crazy Lace.

— Tive um contratempo.

— E o que seria esse contratempo?

— Eu estava no Haiti, e teve um deslizamento de terra.

Ametista não gostava de falar disso. Os últimos dois anos haviam sido duros. Quando ficou soterrada e voltou a sua pedra, não foi como nas outras vezes. Ela costumava voltar a sua forma em minutos, raramente horas. Mas naquela vez, ela tinha entrado em pânico. Estava sozinha, longe de tudo o que conhecia, com medo, fome, frio. Queria tomar forma, mas a terra e os destroços não deixavam. Os corpos em sua volta manchavam sua pedra de sangue e o barro em volta a comprimia. Até que parou de tentar.

Ficou soterrada durante muito tempo. Forçada a ficar quieta, presa em seu próprio silencio, com suas lembranças como únicas amigas. Pensou em todos, e ficou se perguntando se sentiriam sua falta. Passou dezesseis meses em baixo de terra, cimento, e corpos, até conseguir tomar forma durante uma tempestade que lavou a terra. E quando olhou para si mesma; não era mais a costumeira Ametista, não que ainda fosse, mas desta vez fisicamente. Garnet percebeu isso. Ela analisava Ametista dos pés a cabeça. Talvez se perguntando como ela crescera tanto, ou como ganhara aquela cicatriz que lhe cruzava o tórax e passava por cima de sua pedra, como olhava friamente para as coisas, como parecia um ser totalmente estranho e diferente da pequena Ametista risonha que transmitia tanta alegria junto de Steven. Parecia um quartzo. Parecia um soldado.

Garnet torcia para que estivesse errada. Pela sua convivência com Jasper ela sabia que Rose era uma rara exceção entre os quartzos. Eram violentos, instáveis, e guardavam rancor com uma veracidade tremenda. Garnet só queria que tudo voltasse ao normal, queria poder ter feito alguma coisa enquanto ainda tinha tempo. Queria poder ter repreendido Pérola quando ela tirava sarro da quartzo lilás na frente das outras Gems. Queria ter feito o certo. Mas já era tarde. E ela viu Ametista sofrer sem agir. Seu medo de tomar a liderança em meio as tantas Gems mais fortes, mais velhas, e mais experientes do que si, a fez retroceder e faze-las tomar o controle. Ainda era a líder das Cristal Gems, mas no curto período em que não foi, foi o suficiente para a desgraça acontecer e deixar uma cicatriz profunda em todos. Principalmente em Pérola e Ametista.

— Sentimos sua falta. – Garnet confessou. – Eu vejo Pérola, Steven, Peridot, e até mesmo a pequena Rose, olharem para a porta, te esperando. Esperando o nada.

Ametista abaixa a cabeça e deixa a franja lhe cobrir os olhos. Ela já estava muito ferida. Se afastou na esperança de suas emoções e sentimentos cicatrizarem. Tinha a impressão de que tinham apenas infeccionado. E já estava cansada, sem falar de que não tinha mais obrigação e nem vontade de se esconder atrás de um sorriso como fazia antigamente.

— Pérola se arrepende do que fez. – Garnet fala – Ela passa dias enfurnada no seu quarto, que a propósito, continua a mesma bagunça. Eu passo lá as vezes. Tento enxugar suas lagrimas, mas você sabe que eu não posso. Eu não sou você.

Garnet se dirige a casa. Para do lado de Ametista, pega o embrulho e põe a mão na maçaneta.

— Você cresceu e amadureceu da maneira mais difícil. Eu não nego a minha incompetência enquanto líder por não ter tomado nenhuma providencia enquanto você sofria aqui. Mas não culpe apenas Pérola por isso. Você também tem sua parcela, caso não saiba.

E entrou. Deixando Ametista sussurrar ao vento:

“Eu sei.”

I always thought I might be bad

Now I’m sure that its true

‘cause I think you’re so good

And I’m nothing like you

 

Eu sempre pensei que eu poderia ser má

Agora eu tenho certeza que é verdade

Porque eu acho que você é tão boa

E eu não sou nada como você

Ametista ouviu barulhos saindo da casa novamente. E apesar disso não parou de andar no sentido contrário.

“Como assim ela está lá fora, e você não me avisou nada?!”

Ela ouvia Pérola gritar com Garnet. Ouviu a porta se abrir bruscamente. A ouviu gritar seu nome. A ouviu pedir para parar. Pedir para olha-la. Mas Ametista não escutava frases, ou palavras, apenas ruídos e barulhos.

Até que Pérola, em um ato desesperando, pulou e aterrissou em sua frente.

Quando Ametista a mirou, sentiu todas as suas feridas, que a anos tentava curar, arderem incontrolavelmente. Sentiu tudo. Raiva, tristeza, ódio, magoa, alegria, medo. Mas não esboçou uma feição sequer. Apenas levantou a gola de sua jaqueta, escondeu as mãos nos bolsos e voltou a andar. Passando por uma Pérola de olhos embargados de lagrimas, embarrou no ombro dela e seguiu caminho até onde levaria a sua motocicleta.

— PARA! – Pérola suplicou em um berro. – Por favor... Por favor, para.

Ametista se virou. Mas Pérola não a reconheceu. Ametista a olhava cética. Ametista tinha virado um quartzo. E a culpa era dela.

— Eu sei que você está magoada comigo. E que eu mereço, depois de ter feito aquilo com você. Mas por favor, volta para casa. Você não precisa falar comigo ou olhar para mim, mas volta. Eu só quero que as coisas voltem a ser como eram.

A essa altura Pérola já se afogava em lagrimas. Ametista queria voltar. Ah! Como queria!  Mas suas feridas ainda estavam abertas, seu coração ainda latejava, e ainda lembrava da humilhação que passou. Pérola, a tão perfeita, a boa samaritana, no final fora ela o motivo de sua partida, fora ela a primeira a lhe abrir uma ferida. Ametista queria odiá-la, realmente queria. Buscou tudo dentro de si, tudo o que sentia, todos os sapos que engoliu, todas as humilhações que sofreu calada. Seus olhos tomaram um brilho ferino e ela franziu o cenho. Poderia gritar com Pérola, tinha todos os argumentos para destruí-la psicologicamente. Mas não. Ela havia evoluído. Não era mais um quartzo raquítico que vivia fazendo palhaçadas, era um quartzo completo agora. Grande e forte, ao contrário do que a própria Pérola havia jogado na sua cara no dia que partiu. Não precisava de Pérola, ela precisava de si. E Ametista tinha chance de saborear o prazer amargo da vingança deixando-a ali, desamparada.

“Você é má. É um quartzo perfeito agora. Grande e forte. Ela é só uma Pérola! Um mero instrumento! Vá! Esmague ela do jeito que ela te esmagou aquele dia! ” – Uma voz dizia dentro de Ametista.

— Não.

E se virou. Voltando o caminho até sua motocicleta. Não queria olhar para Pérola. Não queria amolecer. Não queria voltar a ser fraca. Era um quartzo. Uma rocha fria feita para combate. A guerra era sua casa e era a guerra que procurava. Pérola havia apenas atrasado sua evolução. E agora ela pagava seu preço.

Look at you go

I just adore you

I wish that I knew

What make you think I'm so special

 

Olhe para você indo

Eu apenas te adoro

Eu desejo saber

O que te faz pensar que eu sou tão especial

Foi rápido demais para Ametista desviar. Estava presa. Os braços de Pérola circundavam seu corpo e um abraço surpreendentemente forte para os braços finos. Sentia o hálito dela em seu pescoço e suas discretas curvas em suas costas. Pérola molhava o cabelo de Ametista com suas lagrimas.

— Perdão. Eu te peço perdão, Ametista. Estou desesperada. Eu já perdi Rose, perdi minha casa, não posso perder você também.

Ametista se virou de supetão e agarrou o corpo fino, como uma garantia de que ela não fosse evaporar entre seus dedos. Um certificado de que ela estava ali, consigo. Ametista encarou os olhos cerúleos com papas vermelhas pelo choro, e começou a chorar também. Estava fazendo Pérola sofrer. Tudo bem que ela merecia, mas diferentemente de Pérola, Ametista não conseguia ver alguém sofrendo sem sentir empatia, já que era alguém emocional demais, por mais que não transmitisse.

Sentiu a mão fina ser posta em sua bochecha. Não via Pérola a vinte anos, a abstinência que Ametista sentia era semelhante a de um viciado sem sua droga. Ametista a comia com os olhos. Os cabelos ruivos não estavam espetados para trás como de costume, estavam em cascata e embora curtos conseguiam chegar aos ombros alvos da mais velha. Achou belo, embora estranho, já que cabelos longos eram um traço de guerreiros de Homeworld; era mais um lembrete do quão bárbaros os quartzos podiam ser, já que geralmente eles ostentavam tal penteado. Pérola estava com um suéter ridículo que tinha certeza que fora obrigada a usar, provavelmente por Rose, as pernas estavam nuas pois o pequeno short que usava mal chegava a metade das coxas; os pés delicados estavam nus; e Ametista tinha certeza de que Pérola estava sofrendo com o sereno.

Ametista a soltou e retirou a própria jaqueta, que era bem grande para a própria e chegava a ser quase um sobre tudo, e colocou em volta de Pérola que não deixara de observa-la dos pés a cabeça.

A primeira coisa que Pérola viu foi o busto da outra. Não no lado malicioso da coisa, mas após Ametista tirar a jaqueta de aviador ela ficou apenas com uma regata branca velha que deixava amostra sua pedra e a cicatriz grotesca que a decorava lhe rasgando desde o ombro direito a metade do seio esquerdo. Pérola pôs a mão na boca em meio ao choque, nem ao menos conseguia imaginar o que fora tão bruto a ponto de fazer tal ferida.

Ao perceber para onde Pérola estava olhando, Ametista fica embaraçada.

— Ah! Isso! Foi no Canadá, há uns doze anos durante uma briga de bar. Já está cicatrizado e eu e o cara ficamos amigos no final das contas.

Pérola queria urgentemente relhar com ela. “Bar?! Onde ela tem andado?! Será que começou a beber?! Canadá?! Briga?!” as perguntas pipocavam em sua cabeça. Mas o medo de que ao fazer isso ela se afastasse novamente era maior e mais certo. Então Pérola voltou a observa-la. Ametista estava mais alta, mas nada absurdo. Antigamente Ametista ficava na altura de seus seios, agora estava um ou dois dedos mais baixa que si. Os cabelos tinham crescido até demais, estava parecida com o de Jasper, apesar de não ter aberto mão da costumeira franja. O rosto de Ametista estava repleto de pequenos cortes e os lábios carnudos estavam completamente rachados e feridos. Os olhos purpuras estavam com olheiras destacadas e levemente vermelhos. Ametista nunca foi do tipo que ostentava uma cintura fina, longe disso, mas não sabendo por onde ela andara, Pérola podia arriscar com grande confiança que ela passara por maus bocados. As bochechas estavam levemente mais finas, seus ossos femorais estavam mais evidentes, as saboneteiras estavam fundas; parecia ter passado fome, embora isso fosse impossível para uma gem.

E por fim, após ambas analisarem superficialmente as mudanças físicas uma da outra. Os olhos voltaram a se encontrar e uma corrente elétrica passou pela espinha de ambas. Pérola foi a primeira a contar o contato visual com um forte rubor azulado nas bochechas.

Ao perceber isso, Ametista a pega pelo queixo e a força delicadamente a olha-la novamente.

If I could begin to do

Something that does right by you

I would do about anything

I would even learn how to love

 

Se eu pudesse começar a fazer

As coisas da maneira certa por você

Eu faria qualquer coisa

Eu poderia até aprender a amar

Ametista já não chorava, mas Pérola sim. Ametista a havia perdoado desde o momento que partiu. Mas não havia perdoado a si mesma até agora. Ametista pela primeira vez em vinte anos sentia paz, apesar de todas as feridas. Mas sabia que Pérola não compartilhava da mesma sensação. Pérola ainda não havia se perdoado pelos erros que cometeu e feridas que abriu nos entes ao seu redor. Mas, como dito anteriormente, Ametista evoluíra, e agora ela sabia exatamente como curar as feridas de ambas.

Os rostos estavam próximos. O hálito de ambas rebatia em seus rostos. Os narizes se tocavam em uma caricia mutua e ambas entreabriram os lábios. Ametista acariciou a bochecha ligeiramente azulada e pôs uma mecha dos cabelos ruivos atrás da orelha da mais velha. Os lábios praticamente se roçavam, e Pérola fechou os olhos, esperando um beijo que não veio. Ametista estava tentada. Extremamente tentada a atacar os lábios cor de mel ali mesmo, mas, ainda não. Ainda não. Ametista continuou a bombardear o rosto da outra de vapor, no intuito de aquece-la, enquanto ao mesmo tempo acariciava rudemente os lábios da outra com o seu polegar. O que iria falar a Pérola iria ser duro, mas devia ser dito, e preferia que fosse de sua boca, Garnet seria seca demais no assunto e praticamente esmagaria Pérola tocando nesse assunto, então ela mesma diria.

— Nada é a mesma coisa duas vezes. Sempre vai haver alguma mudança em nós no momento em que eu pisar nestas areias, que dirá quando eu pisar naquela casa. Então se for para mudar, que seja pra melhor. – Pérola abriu os olhos e ouvia atenta – Você ainda tem muitos conflitos mal resolvidos dentro de si. Eu estou disposta a cura-los com você, mas pra isso você precisa para de se ferir primeiro. Eu não sou Rose, nem vou substitui-la. Mas se seu coração disser que ela é melhor, não vou deixar de amar você. Respeitarei o seu luto e te ajudarei do mesmo jeito. Mas você precisa deixar o seu coração se curar, e esquecer o passado, para que possa ter um futuro.

As lagrimas voltaram a rolar pela face de Pérola que nada dizia, apenas encarava o quanto sua garotinha havia amadurecido.

Ametista abaixou o rosto da mais velha e lhe depositou um beijo na testa com seus fartos lábios feridos e foi embora. Deixando Pérola novamente.

“Não! ” Pérola gritou em sua mente. “Isso não foi um adeus! ”

E de fato, não fora. Foi apenas um até logo.

When I see the way you look

Shaken by how long it took

I could do about anything

I could even learn how to love like you

 

Love me like you

 

Quando vejo a sua maneira de olhar

Abalada por quanto tempo levou

Eu poderia fazer qualquer coisa

Eu poderia até aprender a amar como você

 

Ama-me como você


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários me fazem não querer matar personagens. ¬¬'



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love Like You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.