POV Stella Bonasera

Ao ver Mac deixar minha sala, o medo retorna, e junto a ele, a tristeza. Pensei que ele iria insistir até que eu contasse o que realmente estava acontecendo, mas não. Devo parar de pensar que o mundo gira ao meu redor. Devo parar de me preocupar com todos esses sentimentos e começar a me preocupar comigo mesma. O que vem por aí não é nada bom.

Rasgo o envelope e mesmo sendo impossível, tento concentrar-me em meu trabalho.

—Oh, Deus... Necessito de ajuda! –digo a mim mesma, depois de horas tentando trabalhar, mas sem sucesso algum.

Com as mãos em minha cabeça, fecho os olhos, tentando afastar os pensamentos ruins. É inútil. Fazer isso piora minha situação. Não tenho cabeça alguma para o trabalho.

Sou tirada de meus pensamentos ruins por Lindsay batendo em minha porta.

—Stell, algum problema? –ela diz, preocupada.

—Ah, não, Linds... apenas uma dor de cabeça forte. Mas nada que um café resolva! –minto, tentando forçar um sorriso em meus lábios.

—Tem certeza?

—Claro!

—Pois eu acho que você deveria tirar um dia de folga! Trabalha demais, Stell! Se não pedir um pouco de descanso ao Mac, pode ter certeza de que farei isso. Ou melhor, estou indo agora mesmo! –ela diz e sai, sem ao menos me dar um tempo de impedi-la.

Tirar uma folga não seria nada ruim, mas só de pensar em ficar sozinha em casa me dá horrores. Preciso fazer com que Mac permita que eu continue a trabalhar. Antes mesmo que pudesse pensar em alguma desculpa, Mac entra em minha sala com Lindsay. Droga!

—Stella, vá para casa agora! –diz Mac, parecendo furioso.

Sem saber o que dizer, falo qualquer coisa. Não irei para casa.

—Por quê? Fiz algo errado?

—Fez sim, Stell –Lindsay diz –Está trabalhando demais e não descansa direito! Para cumprir suas obrigações da melhor maneira, você precisa dormir bem, comer bem e não viver a base de café! Me diga... O que comeu hoje antes do trabalho?

—LINDSAY, CHEGA! Não precisa cuidar de minha vida, pois eu sei muito bem como fazer isso sozinha! Não preciso que aja como minha mãe, pois apesar de não ter uma, sei me virar. –olho para Mac, que parece irritado. –Não preciso de descanso, não quero uma folga e muito menos vou aceita-la se me der, detetive Taylor.

Saio da sala totalmente irritada e com a cabeça a mil. Deixei que a raiva me consumisse e falei o que não devia. Como vou olhar para Lindsay agora? Como vou me desculpar? Fui estúpida!

Sem querer pensar em tudo aquilo, que era uma missão totalmente impossível, saio do laboratório para dar uma caminhada nas ruas de Nova Iorque. Isso irritará Mac, mas tudo o que preciso é de um tempo para pensar no que me aconteceu hoje.

Disse a mim mesma que deveria cuidar mais de mim, mas depois de tudo que Lindsay falou, vejo que o que estou fazendo é me destruir. Preciso contar a alguém sobre a carta, mas não sei por qual motivo, não consigo. Não sei se é medo, insegurança... estou tão confusa.

Quando estou voltando ao laboratório, ouço passos e tenho a sensação de estar sendo seguida. Não sei se é coisa de minha cabeça ou se realmente está acontecendo. Acelero os passos e entro no meio de uma multidão. Sinto alguém segurar minhas mãos. Assustada, olho para todos os lados. Sem ver ninguém, resolvo correr. Chegando ao laboratório, olho para trás. Ninguém. Balanço a cabeça e entro, decidida do que devo fazer.

Chegando ao andar desejado, vou até a sala de descanso, pois sei que quem procuro estará lá. Ao entrar... boom! Ela está ali, sentada de cabeça baixa, provavelmente pensando no que disse mais cedo. Sento-me ao seu lado e a abraço. Preciso desculpar-me com Lindsay.

—Hey, Linds... me desculpe por tudo o que disse mais cedo. Estava nervosa e deixei que isso falasse por mim. Nada do que disse é verdade! Não sei me virar sozinha em algumas situações, muito menos cuidar de mim mesma! O que você fez foi certo e muito amável! Jamais tive uma amiga assim, que cuidasse de mim da maneira que você faz. Você é muito mais que apenas uma amiga... você é família! Hoje aconteceu algo que preciso de um tempo para pensar. Assim que eu estiver mais segura, contarei todos os detalhes, okay?

—Desculpe por me intrometer assim, Stell... é que, desde pequena, tenho essa “proteção” com as pessoas que amo. Pra mim, você também é parte da família, e eu tenho muita alegria em dizer isso a todos! Obrigada por tudo, Bonasera!

Sorrimos uma para a outra e nos abraçamos. Me senti mais tranquila ao fazer aquilo.

Conversa vai, conversa vem, resolvo terminar minha pilha de papéis em cima da mesa.

De volta a minha sala, sento em minha cadeira e começo a trabalhar. Fui tão fraca mais cedo quando recebi a carta, parecia uma pequena garotinha em apuros. Sou uma detetive, lido com casos como este todos os dias. Tudo aquilo poderia ser apenas uma brincadeira de mal gosto de alguém. Vou voltar a ser a Stella de antes e achar as respostas de tudo isso. Mas antes... contarei a alguém.

Após duas longas horas, consigo me livrar daquela pilha em minha sala. Encosto em minha cadeira e olho para a lixeira. A carta ainda está ali, do mesmo jeito que deixei mais cedo. Depois que entregar todos esses papéis à Mac, irei fazer o que faço melhor... investigar!

Ao entrar na sala de Mac, com quatro caixas lotadas de papéis, largo tudo em sua mesa e saio apressada, mas Mac me chama antes que eu passe pela porta, o que eu já esperava quando entrei aqui.

—O que foi? –Pergunto.

—O que aconteceu mais cedo? Aquela não era você, Stella!

—Estava nervosa, Mac! Eram muitos papéis, minha mente estava cheia.

—Não era só isso!

—Era sim! Não tenho nada a esconder! Me conhece a mais de dez anos, sabe que estou dizendo a verdade!

—Por te conhecer a dez anos, sei que me esconde algo! Vamos lá, Stell... –ele se levanta e para em minha frente –O que realmente está acontecendo?

É agora ou nunca...