No dia seguinte quando Mei Lien foi à academia, viu que a sala onde costumava ensaiar sua coreografia estava toda destruída.

Os espelhos estavam quebrados e havia um enorme buraco feito no chão de piso de madeira.

E por causa disso, juntamente do fato de que a professora havia amanhecido adoecida, a aula de dança fora cancelada.

Todos os dançarinos foram embora para casa.

Mas Mei Lien ainda continuava lá.

 Olhando para a sala e completamente aflita.

O estrago era muito grande.

 -Como faremos para concertar tudo isso?-perguntou mei lien para o diretor da academia de dança.

—Teremos que dar nosso jeito, minha querida.-responde ele tentando ser otimista.

—Não tem como chamar alguém?-pergunta Mei Lien desesperada.

—Poderíamos contratar responsáveis, mas eu não tenho como eu PAGAR por tudo isso.-diz ele com uma expressão de desespero.

—Como assim?-pergunta Mei Lien.

No que o diretor responde:

—A academia está passando por problemas financeiros minha querida. E não temos como pagar pelos estragos da sala nem mesmo as reformas que eu estava programando fazer desde a semana passada.

— E quem fez esse estrago todo?-pergunta Mei Lien ainda perplexa pelo tamanho do buraco no chão.

—Foi um grupo de arruaceiros da rua que praticam artes marciais! –responde uma das zeladoras que naquela hora estava passando por todas as salas para executar o horário de limpeza.

Mei Lien sentiu a raiva correndo à solta.

O desejo de querer fazer justiça se despertou em seu interior.

—Eu vou achar esses miseráveis e os fazer pagarem por isso. Vocês vão ver!-diz ela e sacou o celular da bolsa , tirando varias fotos do estado em que a sala se encontrava.

—Agora eu só preciso das imagens das câmeras. Diretor? Posso ver as filmagens da câmera de segurança da academia?-pergunta a cabritinha enquanto salvava as fotos em seu celular.

—Claro. É só subir no terceiro andar. Mas o que você vai fazer?-pergunta o diretor preocupado.

—Vou fazer com que achem os responsáveis por essa destruição toda e fazer que paguem por isso!-responde a cabrinha com um sorriso de total determinação no rosto.

Mei Lien saiu em disparada e ao chegar na sala da vigilância, vasculhou os monitores e assim que começou a revisar as filmagens da noite anterior.

Assim que flagrou as cenas da noite anterior e viu tudo o que havia acontecido, fez registros em vídeo com a câmera de seu celular afim de ter as provas suficientes que provassem que aquilo tudo realmente havia acontecido.

Observou as cenas com atenção e viu o exato momento em que os bodes arrombaram a porta da sala com os chifres e começaram a brigar um com os outros usando os golpes de luta que eram ensinados na academia de kung fu e Take Won Do.

Eles destruíram os espelhos e derrubam a arquibancada de madeira onde os alunos costumavam se sentar para descansar.

Foi então que o panda na qual Mei Lien reconhecia de imediato apareceu e tentou barrar a briga.

Porem não adiantou.

Os três bodes continuavam a briga empurrando o panda pro chão.

Foi então que algo realmente inacreditável aconteceu.

Quando os três bodes tentaram ferir o panda que mais uma vez, tentava os impedir de continuarem a luta, um brilho ofuscante saiu de um colar que ele usava no pescoço e abriu o enorme buraco que ela e o diretor haviam visto naquela manhã.

A filmagem continuou mostrando a sala com os bodes desmaiados até uma determinada hora em que uns policiais lobos vieram em prenderam os bodes que naquele exato momento recuperaram a consciência.

Mei não conseguiu evitar em rir quando a filmagem mostrou eles erguendo a cabeça para o céu e começaram a uivar, por que sabia que os lobos sempre uivavam nas horas mais inesperadas.

 O relóginho das câmeras mostrava que tudo aquilo havia acontecido em torno da meia noite e uma da manhã.

“Por que será que não ouvi nem um barulho de explosão mesmo que eu more perto da academia?”

Questiona Mei Lien ao mesmo tempo em que filmou as cenas que provavam os ocorridos da noite anterior e anotava em um bloquinho de anotação os horários pra não se esquecer de responder as perguntas dos policiais.

Foi até a rodoviaria e pegou um ônibus a fim de ir para Zootopia e prestar o boletim de ocorrência no Departamento de Policia.

Ela ouvira relatos de pessoas mais próximas da vila, e pela TV que os policias dali faziam um bom trabalho de investigação e analises criminais.

E decidiu se arriscar a ir ate lá.

Assim que chegou ,prestou um boletim de ocorrência e pediu para que localizassem os três arruaceiros e que pagassem por todo o estrago que haviam feito.

—Não esquente com isso, fofinha. Nós iremos localizar eles e se por acaso eles se recusarem a pagar pelo estrago podemos prendê-los e obrigá-los a prestar serviço comunitário! - dizia o recepcionista da delegacia.

Era um guepardo gorducho porem atencioso.

Seu nome era Benjamin Garramansa.

—É bom mesmo! –disse Mei Lien sem nem se importar por ter sido chamada de fofinha, apesar de ser uma cabra, isso não a ofendia.

 Depois de se despedir, pegou outro ônibus para voltar para a vila onde morava.

Naquela tarde foi direto para a cafeteria trabalhar, cumprindo um turno extra que pudesse ajudar a pagar as despesas da academia.

Tentava se concentrar ao máximo em limpar a arquibancada, e varrer o chão, alem de servir os pedidos dos clientes com toda a atenção que podia.

Mas a questão de encontrar um parceiro ainda corria inquieta em sua mente.

E Mei Lien não sabia como poderia achar alguém que tivesse as qualidades certas para executar sua coreografia em dupla.

Ainda se sentia incompetente por causa da noite anterior em que havia tentado fazer um teste, chamando os praticantes de artes marciais para ver qual deles seria o parceiro ideal para a coreografia.

Mas para sua decepção, todos eles haviam se mostrado ingênuos demais para a dança.

 E fracassavam a cada tentativa de pegar Mei Lien do salto aéreo.

As batidas por todo o corpo ainda doíam quando tocava nelas sem querer.

—Você aí chifrudinha. Eu pedi uma limonada rosa, e não essa verde e nojenta aqui.- disse uma voz estridente e irritante que fez Mei Lien sentir o estresse voltar a correr inquieto em sua mente.

—E você, sua mimada desprezível. Trate meus empregados com respeito!- disse o gerente para Bing Qing revoltado com a forma que ela havia se dirigido para Mei Lien.

 Afinal ele odiava as pessoas que tratassem mal seus empregados que em troca trabalhavam com força e determinação.

—Devia tratar as pessoas a sua volta como deseja ser respeitada, sua grossa!- acrescenta uma das garçonetes que recolheu o copo do balcão onde Bing Qing continuava sentada.

—Mas que ultraje! Vou procurar outro lugar mais sofisticado do que esse.-bradou a socialite com ares de desgosto e saiu de sua mesa batendo a porta da frente.

Mei Lien continuou varrendo o chão e foi então que ouviu um cantarolar suave de uma canção na qual ela reconheceu como uma que lhe despertou uma memória distante e que ela não sabia o que era.

Olhar você me faz pensar,

Como é bom viver e como é bom amar...

 Ao ver novamente o panda que também estava trabalhando na cafeteria e limpando o chão, a cabritinha sentiu o coração aos pulos.

Olhar você me traz a paz

Preenchendo o vazio

Me fazendo um bem demais...

Ainda não conseguindo se lembrar de onde havia ouvido aquela canção, ficou por alguns segundos a ouvir a voz dele cantando.

Que fazia sentir algo totalmente diferente por dentro.

Algo que não sabia identificar.

Nunca soubera que ele também trabalhava ali, e ainda se sentia incrédula pelo fato de que ele havia estado na academia de dança Shangdu na noite anterior.

“O que será que ele foi fazer ali afinal de contas?” pergunta enquanto continuava olhando para ele pelo cantinho dos olhos.

De repente, os olhos do panda se encontram com os de Mei Lien assim que ele se virou para varrer outra parte do chão.

Mei Lien percebeu que era o mesmo olhar atento da noite anterior, que despertou outra reação sobrenatural de seu corpo; seu coração alem de estar retumbando depressa demais, sentiu o rosto começar a esquentar de dentro pra fora.

Não conseguia entender o que estava acontecendo e teve a impressão que ele estava a deixando fora de controle.

Rapidamente, ela subiu para o segundo andar afim de limpar as mesas e o chão para deixar tudo arrumado para mais tarde.

Ela sabia que o lugar ficava cheio no horário das 10 até a meia noite.

E esperou que aquela falta de controle total de seu corpo se cessasse.

Quando o relógio marcou cinco da tarde, Mei Lien pensou em ir até a academia de dança para deixar o dinheiro que havia guardado desde o mês passado afim de ajudar o diretor a pagar as despesas das reformas e concertos que ele tanto queria fazer.

Quando estava para sair, deu de encontro com o panda que novamente a encarou nos olhos.

—Olá! Você deve ser a Mei Lien que está procurando um parceiro de dança não é? Meu Nome é Peter e quero me candidatar para ser parte da sua coreografia da academia de dança Shangdu.- disse o panda com um sorriso que a deixou completamente sem jeito.

A voz dele de imediato causou arrepios em Mei Lien.

Era suave e melodiosa.

E só de ouvi-la de novo, aquela total falta de controle a invadiu novamente..

—O... O que você quer dizer com isso? Que - quero dizer... Como soube...?- gaguejou receosa e nervosa.

Não conseguia acreditar que ele estava ali, pedindo para se candidatar a ser parte do seu solo de dança da academia.

Ainda se perguntava como ele soubera do teste.

—Meu mestre da academia de Take Won Do me contou sobre você e me propôs que eu também fizesse esse teste. Afinal a dança é uma coisa que eu tenho muita admiração e me sinto tão disposto a fazer parte dessa coreografia que você tanto pratica.-explicou ele ainda sorrindo.- O que me diz? Eu posso ser um de seus candidatos? – pergunta com os olhos atentos nela.

Mais perguntas circulavam inquietas na mente de Mei Lien.

“O mestre dele sabe a meu respeito? Como ele soube da minha dança? E qual era mesmo o nome dele? ” Circulavam inquietas as milhares de perguntas em sua mente.

Mas foi então que um toque a puxou de volta e ela se força a voltar a encarar o panda a sua frente.

Os olhos dele brilhavam como duas jade reluzentes e ela sentiu o coração aos pulos só de tentar olhar para ele de novo.

O que mais destacava para ela era o colar dourado, que ele usava no pescoço.

 Com um dragão vermelho estampado na medalha.

 Brilhava em contraste com a luz do por do sol.

O panda continuou encarando Mei Lien com uma certa aflição nos olhos, como se implorasse, esperasse pela sua resposta imediata.

—Tudo bem! Eu aceito aplicar o teste em você!- diz Mei Lien tentando parecer seria ao máximo que podia.

—Você não vai se arrepender!-diz ele com um sorriso pegando em seu casco e depois saiu correndo em direção a outra rua.

A curiosidade a invadiu e ela seguiu o caminho de Peter tomando o máximo de cuidado para não ser vista por ele.

Foi então que viu um casal de pandas o recebendo assim que ele entra pela porta de uma casa vermelha com as janelas aberta.

Os pais o abraçaram felizes e depois o guiaram para dentro.

O conhecido sentimento de inveja que sempre sentia desde pequena quando via crianças com seus pais biológicos a invadiu e assim, ela andou pela rua pensando no quanto queria ter conhecido seus pais verdadeiros.

Tocou no medalhão de lírio d’água em seu pescoço e olhou para o bilhete que ficava guardado nele.

Mas depois voltou a guardá-lo.

Não queria voltar a ler aquelas letras escritas a mão e apenas se concentrou em voltar para casa.

Durante todo aquele tempo, permaneceu quieta e se concentrava ao máximo em pintar os novos vasos que seriam vendidos no dia seguinte.

Jiang Li e Chun estranhavam ao ve-la tão calada e com uma expressão de tristeza em seus olhos.

Mas não tinham coragem de perguntar o que estaria acontecendo.

Enquanto continuava a pintar os vasos do pai, tentava a todo custo evitar pensar tanto nele.

Em Peter e sua incrível voz aveludada.

E aquele olhar brilhante e envolvente.

Mas parecia ser impossível.

“A dança é uma coisa que eu admiro e sinto muita disposição em fazer. “O som da voz dele ainda ecoava inquieto em sua mente.

Percebeu que havia adorado ouvir aquela voz.

 Principalmente cantando.

“Tem mesmo esse interesse ou está brincando comigo?” pergunta mentalmente ao mesmo tempo em que desejava ter perguntado a ele de verdade quando estavam frente a frente.

E a lembrança que tinha de seus olhos ainda não saia por mais que tentasse pensar em outra coisa.

Enquanto terminava de pintar as louças com o lótus rosa, o celular que continuava em seu bolso vibrou alertando que uma mensagem havia chegado no ZooZap.

Mei Lien estranhou o fato de alguém pensar em enviar mensagens a ela.

 Afinal ela não tinha muitos amigos, a não ser os colegas da academia de dança e a professora.

Também haviam os vizinhos, mas para ela, a solidão bastava.

Ela então retira o celular do bolso e assim que viu a mensagem e quem havia enviado, sentiu o rosto queimando e o coração retumbando inquieto dentro do peito.

E ao olhar a foto de quem havia enviado aquela mensagem, a lembrança da sensação do toque da pata felpuda dele em contato com seu casco correu solta em sua mente.

“O que me diz? Podemos fazer o teste amanhã?”

Ela primeiramente pensava em dizer que não.

Mas decidiu pensar por alguns minutos.

Foi então que tomou uma decisão drástica.

Mesmo contra a própria vontade.

Decidiu ver se Peter seria mesmo o parceiro perfeito para a coreografia.

E imediatamente,mandou a resposta para ele.

“Amanhã as 7 em ponto no dojo! Não vá faltar!

E em poucos segundos,veio a resposta dele:

"Tudo certo então!"

Ao olhar novamente para a foto de perfil de Peter, não conseguiu evitar em observar o quão fofo e bonito ele era.

“O que está acontecendo comigo?” “Por que eu estou gostando dele agora?” perguntava para si mesma enquanto continuava a olhar para a foto.

Mas percebeu que queria conhecê-lo a fundo.

E então continuou conversando com ele.

Mandando perguntas ou mensagens sobre assuntos variados.

Em quase todas elas, ele respondia de forma inesperada.

Com emoticons ou memes engraçados.

 Coisa que Mei Lien nunca pensou que poderia acontecer.

“Ele não parece ser mau. Mas veremos se ele tem boas intenções ou não.” Pensou deixando o celular de lado e voltando a atenção para os vasos assim que ele disse que precisava sair do Zoozap para resolver algumas coisas.

Precisava se focar e ajudar seu pai a adiantar o estoque de tigelas da semana seguinte para poder receber seu salário e ajudar a academia a se restabelecer.

Mas foi então que ela começou a se perguntar o que era aquele colar e como aquele estranho acontecimento de sair ileso, sem nenhum ferimento havia acontecido.

Afinal ninguém conseguia sair de uma briga sem se ferir.

Então a cabritinha decidiu que descobriria tudo no dia seguinte.

Mesmo com a curiosidade correndo a solta em sua mente, continuou pensando no como faria a pergunta a Peter.

Desejava saber o que aquele colar fazia e como havia sido achado.

Foi então que durante aquele tempo em que pensava em Peter, percebeu que sentia algo estranho acontecendo.

Sentia um calor estranho arrepiando sua pele e seu coração pulsava acelerado.

“O que será isso? pergunta enquanto voltava a olhar a foto de Peter.

Aqueles olhos a faziam pensar em algo que nunca havia pensado antes.

O como ele era lindo e o quanto queria ve-lo de novo.

Olhar naqueles olhos verdes e profundos.

E prestar atenção em cada palavra que aquela voz aveludada pronunciasse.

E quem sabe assim, descobriria o que havia sido aquela estranha magia que o cercou no momento em que ele quase fora ferido na briga.

Percebeu que de fato, queria muito descobrir o segredo do colar mágico que ele usava.

E o que aquela magia era capaz de fazer.