Em rota de colisão escrita por Lily


Capítulo 32
XXXII


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, mil desculpas pela demora, queria ter postado este capítulo nesta segunda, porém minha internet resolveu dar pau e me deixou não mão, fiquei puta de raiva quando isso aconteceu, não queria decepciona-los, sinto muito mesmo.
Segundamente, queria agradecer eternamente a Filha do mar, amei a sua recomendação do fundo do meu coração, e eu sei que as vezes essa fanfic pode até dar um nó na cabeça, mas acredite em mim tudo será explicado (ou pelo menos a metade das coisas). Este capítulo é dedicado a você, obrigada querida.
E por fim, em algum momento atras falei que a fic só teria apenas mais três capítulos, porém, devido a minha imaginação fértil e a necessidade de dar nó em todos os fios soltos, teremos mais um capítulo antes do fim, ou seja, é motivo de comemoração para vocês e procrastinação para mim, já que eu estou enrolando para terminar a historia de Emma porque sentirei saudade. Mas ok, nada como um dia após o outro. Agora deixarei vocês lerem, porque sei que estão ansiosos.
XOXO
Lils

Ps: O capítulo é narrado de uma forma geral, quase como um quadro a quadro, não é a melhor maneira de escrever, mas foi o único jeito que achei para me expressão, espero que gostem.



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“Não há esperança sem medo, nem medo sem esperança. ”

Baruch Espinoza

Quartos pequenos e escuros lhe davam medo, mas aquele lugar era diferente, familiar para dizer o mínimo. A cômoda rosa bebê, as duas camas encostadas em lado opostos da parede, a estante abarrotada de ursos de pelúcias e bonecas de porcelana, o tapete lilás felpudo e até a luminária de bailarina pareciam as mesmas, era como uma viagem no tempo, tudo estava em seu devido lugar, até a coleção de presilhas estava lá. Emma engoliu seco se sentando na cama, as cortinas estavam abertas e o sol forte invadia o quarto, ela deslizou sobre a cama colocando os pés no chão, se ergueu e caminhou até o grande espelho preso na parede.

Suas roupas pareciam anormais, o vestido verde mar descia até metade de sua panturrilha, estava descalça e com uma tiara de flores sobre os cabelos soltos. Caminhou até a janela apenas para confirmar onde estava, o ventou tocou-lhe o rosto e ela pode sentir as lágrimas rolarem, não parecia haver sinal de civilização a quilômetros de distância. Olhou para cima, as nuvens brancas pintavam o céu azul, as folhas soltas das árvores dançavam sobre as plantações.

Então a porta se abriu, alguém se aproximou, Emma se virou devagar.

—Gostou da decoração? – Julian indagou. – Tentei refaze-la do mesmo jeitinho de quando você era pequena, Holly teria adorado isso. – ele se sentou na cama que antes ela ocupava, Emma tentou se manter firme. – Mas não se preocupe, poderá mudar a decoração em breve.

—O que você quer de mim? – ela perguntou secamente.

Julian sorriu cinicamente.

—Preciso terminar o que comecei a anos atrás antes de seu pai me atrapalhar.

—Você me transformou em um díade. – rosnou.

—Não abelhinha. Não fui eu que fiz isso com você, nunca seria capaz de fazer uma perfeição como esta, sua velocidade e seus poderes de gelo são hereditários. Seus pais que a transformaram em um díade.

Emma virou de costas para Julian, sentia seu peito apertar de raiva.

—O que você quer de mim? – indagou novamente.

—Seus poderes são magníficos, quero apenas entender como eles funcionam. Simples assim.

—Pra que?

—Quero criar uma raça de meta-humanos imbatíveis. – ele falou para a total surpresa dela. – Assim ninguém precisara temer ninguém, todos seremos iguais.

Emma riu ironicamente.

—Sério? Você acha que eu sou boba? Não acredito em nenhuma palavra sua.

—Bem esperto de sua parte, abelhinha.

—Não me chame de abelhinha.

Julian se levantou.

—Você ficara aqui por um tempo, então se quiser saber mais estarei lá embaixo. Terá livre acesso pela casa, ela é sua, abelhinha.

Ele fechou a porta com cuidado, Emma deslizou até o chão, apertou os joelhos contra o peito e desabou a chorar.

~***~

Emma se sentou na poltrona de frente para Julian, enrolou a borda do vestido entre os dedos.

—O que você fez com meus poderes? – ela indagou. – Não estou conseguindo usa-los.

—Tentou fugir?

Emma fechou a cara.

—Não seria você se não tentasse fugir, não é abelhinha?

—Já disse para não me chamar assim. – ela rosnou, mas ele a ignorou e continuou a falar.

—Quando você era pequena tentou fugir correndo pelos campos, mas como ainda não sabia usar a sua velocidade conseguimos lhe alcançar perto da entrada. – Julian sorriu melancólico. – Me lembro de Holly gritando para os empregados e seu rosto aliviado ao te trazerem de volta. Sua mãe te amava.

—Ela não era minha mãe, minha mãe é Caitlin Allen. – ela afirmou sentindo o estomago revirar de raiva.

—Eu me lembro de quando conhece Cait pela primeira vez, Jenny nós apresentou, podia ver nos olhos da minha irmã que ela já tinha segundas intenções. Caitlin sempre foi muito doce comigo ou com qualquer um, sempre prestativa e determinada, muito parecida comigo. – Emma riu em desdém. – Não me subestime, houve uma época que o que eu mais queria era ajudar as pessoas.

—E o que mudou?

—Dinheiro.

—Dos experimentos?

—Sim, me ofereceram muito dinheiro para criar uma raça de super-soldados.

—Isso é tão Capitão América. – ela falou encarando a mesa de centro.

—Sim, mas a única diferença era que eu trabalhava para o lado dos vilões, meta-humanos com dois tipos de poderes, díades como você chamou. Prefiro que os chame de híbridos, é o termo correto a se usar.

—Karma é uma día...híbrida?

—Sim, minha doce Karma. Minha primeira cobaia a não morrer. – Julian suspirou feliz. – Holly a amava, tanto quanto uma mãe pode amar sua filha.

Emma levantou a cabeça finalmente juntando as peças.

—Elisa? Você está falando de Elisa? Espera aí, Karma é Elisa?

Julian se levantou do sofá e caminhou até a janela aberta.

—Quando você chegou e eu lhe mostrei pela primeira vez a Holly...ah, abelhinha, você devia ter visto o sorriso dela. Nunca havia visto ela tão feliz, Elisa não gostou de você, mas eu entendia que ela estava apenas com ciúmes, ela era uma criança e desde de muito nova foi criada sozinha, acabou ficando mimada, eu sempre dava tudo o que ela queria.

—Você é o pai dela?

—Não, Elisa não é minha filha biológica, mas eu a criei, a adotei assim que sai de Gotham, mas ela acabou vivendo nesta fazenda com minha mãe. – Emma se encostou na poltrona, seus olhos permaneciam fixos em Julian. – Quando consegui tirar Holly de Gotham a trouxe pra cá, ficar longe de tudo e todos.

—Como você conseguiu tira-la do Arkham? A segurança de lá é impenetrável.

—Tenho meus truques. Holly era preciosa demais para ser mantida naquele lugar imundo.

—Por que ela era tão preciosa?

—Holly era uma sonhadora, vivia em um mundo encantado à espera do homem perfeito e quando ele chegou, ela se decepcionou.

—Tio Oliver sempre deixou claro que não queria nada com ela.

—Ele a usou. A ludibriou, se aproveitou dela para depois jogar fora.

—Ela tentou matar Felicity! – Emma elevou a voz. – Ela era louca.

—Nós somos rotulados como loucos, mas talvez nós sejamos os mais sãos daqui.

Ela se levantou irritada.

—Você é louco. E quer me deixar louca só pode ser. Me deixar ir.

Julian se virou sorrindo.

—Vamos ficar juntos por muito tempo abelhinha. Preciso de você para finalmente completar meu projeto, você é a minha única chance. – ele deu um passo para frente, Emma recuou. – Você não sabe quanto tempo passei tentando aprimorar a formula, mas nunca conseguia porque faltava algo, então você apareceu, a última coisa que faltava, seu DNA é perfeito. A combinação perfeita. Se eu conseguir descobrir o que faz com que os seus poderes se combinem, poderei descobrir como manusear as células para criar novos híbridos.

Emma sentiu o peito se contrair, Julian a puxou pelo braço.

—Me solta.

—Volte pro seu quarto, abelhinha. Mais tarde você terá uma incrível visita.

Ela arqueou a sobrancelha confusa, ele soltou seu braço. Emma recuou correndo para as escadas e desejando poder voltar para casa o mais rápido possível.

~***~

Lydia desceu as escadas de dois em dois degraus, estava tão acostuma com os saltos que tinha até se esquecido que estava usando-os, mas mesmo assim ainda sentia os calos em seus pés.

—Você a achou? – Camille indagou assim que a alcançou. Lydia negou com a cabeça para o desespero da morena. – Ai Jesus! Onde ela tá?

—Se acalma Cami, a gente vai encontrá-la. – ela apertou a mão de Camille. – Vamos atrás de Tommy.

A loira a puxou pelo corredor até a saída principal, a noite estava abafada e quente, nem parecia que eles estavam tão perto do inverno. Lydia sentiu um calafrio atravessar sua espinha, uma sensação ruim.

—Tommy. – ela o chamou sem conseguir acha-lo, o garoto apareceu por trás de um carro prata, ele correu em sua direção. – Acho alguma coisa?

—Não, apenas a bolsa e o celular naquela hora. – Tommy passou a mão pelo cabelo frustrado e então acrescentou. – Joe ligou.

—E o que você falou? – Cami indagou.

—Disse a verdade, que não encontramos Emma e que algo aconteceu.

—Talvez ele até já falou pro tio Bar.

—Primeiro a gente se acalma. – Lydia pediu, percebendo o nervosismo coletivo. – Talvez ela esteja em casa e acabou perdendo a bolsa.

—Talvez... – Cami sussurrou e então vasculhou o estacionamento com o olhar, de repente parou olhando para o carro a sua frente, uma luz vermelha piscava incansável. – Uma câmera. – ela apontou. – Esses carros antigos têm câmera.

—Talvez ele tenha gravado Emma. – Tommy falou e então começou a correr até o carro. Lydia passou na frente.

—Deixa que eu abro. – a loira disse.

—Cuido com o alertar.

Lydia assentiu e se ajoelhou de frente para a porta do carro, Cami não prestou atenção no que ela fez, mas em questão de segundos a porta se destrancou.

—Agora é sua vez. – ela avisou. Cami se sentou no banco do motorista e puxou a pequena câmera, a poucos fios, o que tornava a operação ainda mais fácil. Ela conectou a câmera no celular e vasculhou os arquivos até achar o daquela noite.

A filmagem estava escura e mal se podia ver alguma coisa, mas então algo aconteceu, uma sombra se aproximou, uma figura alta que parecia carregar algo, ou melhor, alguém. Tommy apertou as mãos em punhos enquanto observa a figura cruzar o estacionamento para longe do campo de visão da câmera, para então voltar segundos depois com uma maleta.

—É a Emma. – Lydia disse em um sussurro.

—Com certeza. – ele concordou.

—O que está acontecendo? – Cami questionou. – Por que pegar Emma?

Tommy olhou para Lydia, esta tinha o olhar perdido.

—Lyds? – ele a chamou.

—Temos que ir. Temos que chamar Barry e Caitlin, Emma está em perigo. – Lydia se afastou do carro quase como se o veículo estivesse em chamas.

—Do que você está falando? – Tommy indagou.

Lydia passou a mão pelo cabelo nervosa.

—Torçam para que eu esteja errada, porque si não...

~***~

Ela se levantou da cama assim que a porta se abriu, a mulher de cabelos grisalhos entrou carregando uma bandeja de prata. Emma se ajeitou na cama, puxando os joelhos para perto do corpo. A senhora se aproximou e colocou a bandeja sobre a cama.

—Está tudo bem minha criança, não irei te machucar. – a senhora sorriu. – Nem Julian. Ele quer o seu bem, querida.

— Se ele quisesse o meu bem, me mandaria para casa.

—Mas está é sua casa, seu lar.

—Não, isso não é uma casa, muito mesmo um lar. Lar é onde nós sentimos bem, onde temos pessoas que nos amam, que cuidam da gente. Lar é onde escolhemos ficar quando estamos tristes, ou irritados, lar não é uma construção de concreto. Lar é as pessoas que nós deixamos entrar na nossa vida.

—É uma bela definição. – a senhora se sentou na beira da cama e sorriu calmamente para ela.

—Minha mãe sempre diz isso. – frisa. – Mamãe sempre me ensinou bem, ela é parte do meu lar.

—Oh Nora, o que eles fizeram com você. - a senhora se lamentou.

—Eles me criaram, me educaram, me deram amor e carinho, é isso que os pais fazem e é isso que eles vão continuar fazendo.

—Minha Nora...

—Eu não sou sua. – ela interrompeu a senhora. – Eu só quero ir pra casa, será que dá pra entender.

—Está é sua casa querida. Julian está fazendo de tudo para que você se sinta bem.

—Não, ele não está. Ele só me quer para terminar o maldito experimento! – Emma gritou completamente irritada, a senhora se levantou de repente. – Avise a Julian que ele pode até ter conseguido me prender aqui, mas ele se esqueceu de quem são os meus pais, eles nunca pararam até me encontrar.

~***~

Caitlin inspirou e expirou profundamente, então abriu os olhos, Barry segurava seu rosto com as duas mãos, eles estavam tão perto que ela podia sentir sua respiração.

—Vai ficar tudo bem, eu prometo. – ele sussurrou. – Não vou deixar nada acontecer com ela.

—Temos que entrega-la inteira Barry, nunca me perdoarei se algo acontecer com ela.

—Nem eu.

O velocista a abraçou, beijando o topo de sua cabeça.

—Caras, achamos uma coisa. – Cisco avisou entrando no córtex com o tablet na mão.

Barry se afastou da noiva e seguiu até Cisco.

—O que você achou?

—Tommy me falou sobre a câmera do carro que gravou Emma, então eu invadi o sistema de segurança dos outros carros e eu achei isso. – o engenheiro estendeu o tablet.

Barry arqueou a sobrancelha confuso ao encarar a imagem.

—Cisco?

—Sim, tive que analisar essa imagem três vezes para ter certeza que meus olhos não estavam me enganando.

Caitlin se aproximou.

—O que houve?

—Acho que já sabemos quem procurar para encontrar Emma. – disse Barry e estendeu o tablet que mostrava a imagem meio ofuscada de um garoto.

—Aiden? – Caitlin indagou e então suspirou, já estava ficando acostumada com as constantes reviravoltas de sua vida, aquela não era uma surpresa tão grande assim, muita gente já havia feito coisa pior por muito menos dinheiro. - Você acha que ele sabe onde ela está?

—Provável.

—Ele já deve ter ido embora do baile. – Cisco falou um tanto frustrado.

—Não acho que ele tenha ido. – ela disse.

—Como assim?

—Havia muito dinheiro por Emma, mais de 500 mil.

—E como os vilões são todo clichês, ele provavelmente colocou em uma maleta. – Cisco falou, seguindo o raciocínio imposto por Caitlin. – E Aiden não seria burro para sair com uma maleta por aí.

—Porque chamaria atenção pra ele. – completou Barry. - Se acharmos Aiden, acho que poderemos achar Emma.

—Mas como saberemos onde Aiden está ou onde ele escondeu o dinheiro. – Caitlin cruzou os braços.

—Vamos descobrir isso, ok? – Cisco se sentou de frente para o computador. – Emma é minha afilhada e nem um maluco psicopata vai encostar um dedo nela.

Barry olhou para Caitlin, a doutora estava visivelmente nervosa, mordia o lábio inferior com força e torcia a barra da saia até os nós de seus dedos ficarem brancos. Eles precisavam achar Emma, nem que ele precisasse ir ao fim do mundo pra isso.

~***~

Ela foi amarrada na maca sobre protesto e palavras de baixo calão, a luz era ofuscante e tudo cheirava a desinfetante. Emma se perguntava como havia ido parar ali, não lembrava de nada antes daquela picada contra seu braço lhe acordar, mal se lembrava de ter dormido ou se é que dormiu mesmo. Talvez tivesse sido dopada e alguém a arrastou até ali, era uma sugestão lógica. Embora nada em sua vida fosse lógico.

—Calma, se você se acalmar tudo vai ficar bem. – a mulher de cabelos pretos falou se colocando perto dela. – Precisamos apenas de uma amostra do seu DNA.

—Quem é você? – indagou puxando os braços para si soltar, provavelmente seus pulsos ficaram marcados, assim como seus tornozelos.

—Sou Erika Legend, sua médica particular a partir de agora. – a mulher falou.

—Como assim? – perguntou.

—Julian me contratou para ficar ao seu lado durante o processo. – Erika explicou, Emma arqueou a sobrancelha.

—Que processo?

Erika suspirou, algumas pessoas entraram na sala escura, uma delas esticou para a médica uma seringa vazia.

—Vamos tirar um pouco do seu sangue e testar seu DNA para saber como os seus poderes se conciliam, mas para isso preciso que você reaja.

Emma a encarou confusa, mas subitamente entendeu o que a médica queria, ela queria seus poderes ou pelo menos seu sangue enquanto ela usava seus poderes. Fechou os olhos, não poderia dar o braço a torcer, não deixaria Julian lhe usar, nunca! Serrou as mãos em punho e respirou fundo, talvez Erika estivesse certa, se acalmar era realmente a melhor solução. Pensou em coisas felizes, pensou em sua família, pensou em seu novo cachorro, pensou em Henry e seu projeto de ciências que ela fizera questão de ajudar, pensou nos primeiros passos de Charlie, sua pequena irmã. Tentou focar em todas as coisas boas em sua vida, os últimos quinzes anos haviam sido maravilhosos, mesmo tendo passado por alguns problemas, alguns obstáculos e grandes surpresas.

—Vamos lá garota, só nos mostre o que sabe fazer e acabamos logo com isso. – Erika insistiu, Emma negou com a cabeça. – Sei que isso pode parecer ruim, mas estamos apenas tentando ajudar outras pessoas. Se conseguirmos este soro, muitas pessoas poderão ser salvas. – a doutora se aproximou e então sussurrou em seu ouvido. – Você tem duas opções, pode fazer me deixar fazer isso e cuidarei para que tudo fique bem e que nada lhe machuque, ou poderá continuar com esse chilique e serie obrigada a chamar Julian. Querida, tente manter a calma, logo isso acabará, tenha um pouco de fé.

Fé uma simples palavra com o maior significado do mundo. E mesmo em completo e total desespero, ela ainda tinha um pouco fé.

~***~

—Papai já ligou? – Cami perguntou enquanto entrava na sala de estar. Íris negou com a cabeça.

—Não se preocupe, eles vão ligar.

—Eu sei, mas.... Você acha que ela está bem?

—Claro, é da Emma que estamos falando. Você sabe, bem melhor do que eu, do que ela é capaz.

Íris colocou a mão sobre o ombro de Camille e com a outra fez carinho em seu rosto, a garota suspirou melancólica.

—Uma vez Emma conseguiu convencer tio Barry a ir a um aquário em Miami somente para comprar um balão em forma de golfinho. – ela falou sorrindo, mesmo sem saber de onde viam aquelas palavras.

—Sério?

—Sério mesmo, ela quase o enlouqueceu, tia Cait negou veementemente, mas tio Bar foi mesmo assim. Eu devia ter uns sete anos e ela oito anos, não me lembro exatamente, só lembro que em menos de dois minutos ela conseguiu furar o balão.

—Cait deve ter surtado.

—No início sim, mas quando Emma começou a chorar, tia Cait a segurou e a abraçou. – Camille se afastou de Íris, piscando rapidamente para se livrar das lágrimas. – Sabe quando olhamos para uma coisa e sabemos, mesmo que internamente, que aquilo é a coisa certa? Sempre que via tia Cait com Emma, eu sabia, eu via, o quanto elas se amavam, o quanto se amam. Se algo acontecer Emma, não sei se tia Caitlin vai aguentar.

—Entendo exatamente o que você quer dizer. Mas não se preocupe, vamos encontrá-la. – a jornalista assegurou sorrindo para ela, então e virou-se para a escada e falou alto. – Lydia vamos logo, não temos tempo.

—Já tô indo. – Lydia desceu correndo as escadas com o notebook a tiracolo. As três saíram pela porta, a noite havia se tornado mais fria. Lydia puxou o moletom contra o corpo, se virou para o lado para chamar Camille, mas percebeu que a mesma havia parado a alguns metros atrás. – O que foi?

—Nada, apenas uma vibração estranha. – ela disse, seus olhos focavam na casa do outro lado da rua, um sentimento ruim se apoderou de seu corpo.

Íris a encarou preocupada e perguntou.

—Quer sentar um pouco?

—Não é apenas...- ela se interrompeu, o mundo ao seu redor pareceu diminuir, seu estômago se embrulhou, então ela viu.

—Camille? – Lydia se aproximou. – O que houve?

—Eu vi...Eu vi Emma.

Íris a puxou pelo braço e a fez se sentar nos degraus.

—Você tem os poderes do Cisco? - Camille assentiu se lembrando que não havia contado para ninguém que havia herdado os poderes do pai. – Ok, o que você viu? Onde você a viu?

—Não sei, eu não à vi exatamente, mas senti a sua presença.

—Como assim? – Lydia se agachou ao seu lado.

—Era como uma sensação de Déjà vu, sabe? Eu não sei... – Camille limpou a garganta. – Vi apenas uma silhueta em uma sala escura e um anel, depois tudo escureceu e eu me vi em um quarto de criança, sem uma criança.

—Ok, mas o anel, você se lembra que tipo era? – Íris indagou.

—Dourado com um desenho em relevo.

—Você se lembra do desenho?

—Não, mas... algo no lugar... aí tia Íris, o lugar me era tão familiar.

—Como se já estivesse lá?

—Isso Lyds, sabe aquela sensação de Déjà vu.

—Déjà visite. – Lydia falou. – É como se você conhecesse um lugar novo, mas tivesse a sensação de já ter visto antes, mamãe sempre fala isso quando chegávamos a uma outra cidade. É raro, mas não impossível.

—Será? – Camille a olhou confusa.

—Talvez Lyds esteja certa, mas vamos logo pro laboratório, lá a gente conversa melhor. – falou Íris, então a ajudou a se levantar. – Lydia, vamos.

—Claro.

Lydia caminhou na frente, esticou o braço para abrir a porta do carro quando sentiu que o corpo tremer, alguma parecia estranhamente errada, olhou ao redor, mas parou quando algo lhe chamou atenção.

—Lydia?

—Aquele carro sempre esteve ali? – ela indagou, apontando para o carro preto do outro lado da rua.

—Não sei. – Íris deu de ombros, sem se importar muito.

Eram quase uma da manhã, estava escuro, então o carro preto talvez pudesse ter passado despercebido. Lydia abriu a porta, mas seus olhos ainda vasculhavam ao redor, como se tivesse medo de algo acontecer se ela não estivesse olhando.

Íris dirigiu pelas ruas quase desertas da cidade em direção ao laboratório, foi quando estavam perto do Jitters que o ocorreu o impacto. O carro não capotou, apenas desviou do trajeto indo parar direto na vitrine de loja de cupcakes. Então Lydia percebeu que estava certa, algo estava incrivelmente errado.

~***~

Emma apoiou a cabeça no travesseiro, estava escuro lá fora, o que era estranho já quer ela jurava que ainda era dia, as horas haviam passado voando. Se remexeu na cama, o corpo todo doía e a cabeça latejava. A porta se abriu e Julian entrou.

—Doutora Legend disse que você colaborou. – ele falou calmamente.

—Não tive muita alternativa. - ela resmungou.

—Sabe abelhinha, você me lembra muito a sua mãe. – Emma fechou os olhos tentando ignora-lo. – Quando estávamos na faculdade as vezes ela se reclamava pelos trabalhos e quando Jenny perguntava porque ela escolherá o curso se sabia que iria ser puxado, Cait respondia sorrindo: “Não tive muita alternativa”. Caitlin é determinada, ela nunca desiste de nada. – Julian suspirou melancólico. – Me lembro de quando reencontrei sua mãe de novo, foi no hospital onde estava fazendo plantão. Ela estava preste a dar à luz a você, a médica responsável pelo parto a levou para o último andar, pediu uma equipe com poucos enfermeiros, acho que foi apenas três no máximo. Ninguém entendeu de início, na verdade ninguém nunca entendeu, eu mesmo fui descobrir isso apenas alguns meses depois, quando subornei o segurança para ver as filmagens.

“Ah, Emma. Sabe quando coisas maravilhosas acontecem por acaso? Me senti sortudo naquele dia. Tinha achado minha pequena fonte de fortuna em você, naquele dia, soube, assim que pus os olhos na filmagem, que você seria minha. No dia em que você nasceu, Caitlin ainda não conseguia controlar seus poderes, ela congelou metade da sala, várias vezes seu pai teve que intervir, puxando algum enfermeiro da morte certa. ”

—Desculpa, mas não estou com vontade de ouvir sua adorável história. – Emma rosnou, mas Julian continuou a falar.

—Abelhinha, você é minha obra-prima, feita sobe medida. Quando finalmente descobrimos como os seus poderes atuam em você, serei rico.

—E me deixara em paz?

Ele sorriu calmamente e então mudou de assunto drasticamente.

—Nunca soube o porquê de Caitlin, uma mulher tão culta e refinada, escolher um idiota com Barry.

—Meu pai não é idiota.

—Caitlin é tão doce, inteligente, uma ótima médica, bem-educada e sucedida. Enquanto ele não passado de cientista forense que não tem onde cair morto.

Emma mordeu o lábio inferior com força, virou-se na cama de costas para Julian. Queria voltar pra casa, queria seus pais. Respirou profundamente, em uma tentativa inútil de se acalmar, foi quando a porta se abriu novamente e alguém falou.

—Papai, quanto ganharei se conseguir pegar Felicity? – a voz feminina falou ignorando completamente Emma deitada sobre a cama.

—Tudo que você quiser, Elise. Mas apenas traga-a viva, minha cobaia ainda está em desenvolvimento.

Então ela se levantou de repente, sua cabeça girava, mas mesmo assim conseguiu focar na figura de cabelos loiros a sua frente.

—Por favor não toque nela. – implorou.

Karma olhou para Julian como se esperasse sua aprovação, ele levantou a mão, então se virou para Emma como um olhar desafiador, ela suspirou derrotada sabendo o que viria a seguir.

—Eu faço qualquer coisa, mas por favor não toque nela.

Julian sorriu, abaixou a mão fazendo um gesto para que Karma saísse do quarto, a garota assentiu e saiu em silêncio.

—Você ira colaborar? – ele indagou.

—Sim, mas não machuque ninguém. Eu faço o que quiser, mas deixe-os em paz, prometa que vai deixá-los.

—Isso não posso prometer abelhinha, já não está mais em minhas mãos a escolha sobre seus amigos.

Ela abaixou a cabeça sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos.

—Por favor. – ela implorou. – Eles não fizeram nada.

—Não para mim, mas os pais deles...

Emma levantou a cabeça rapidamente.

—Do que você está falando?

—Existem pessoas boas e ruins, e existem pessoas que acham que fazem o bem fazendo o mau. Para você seus pais e os amigos deles fazem o bem, não é? – ela assentiu. – Mas existem pessoas que pensam o contrário, elas sentem medo e o medo acaba transformando as pessoas boas em más.

—E você trabalha para essas pessoas que sentem medo.

—Estou apenas cumprindo a minha missão abelhinha. Quando isso tudo acaba pode até ser que eu saia da sua vida para sempre, pelo menos o meu eu de agora, não posso prometer nada sobre a minha versão mais nova.

—Quem são eles? Qual é a sua missão?

—Tornar o mundo melhor, é o que todos queremos, mas poucos vão conseguir. Eles querem isso Emma, querem que todos sejamos iguais, querem um mundo unanimo, sem desigualdade.

Ela arqueou a sobrancelha.

—Você por acaso é comunista? Ou nazista?

—Sou apenas um cientista com esperança. Você sabia que a esperança é a força que move o mundo? É isso que eles são Emma, a esperança. A esperança de um mundo melhor.

~***~

Felicity demorou cerca de vinte segundos entre as mensagens de Julian e as batidas insistentes na porta para poder gritar, não era do seu feitio agir como uma louca, mas as circunstâncias não estavam ajudando muito. Oliver estava a caminho do laboratório com Thea para ajudar Barry e Tommy havia ido ao térreo pegar a pizza que ela havia pedido antes de saber sobre Emma. Ela estava sozinha, com um louco psicótico do outro lado do fino pedaço de madeira que aquele hotel chamava de porta.

As batidas soaram novamente.

—Sei que está aí Felicity, precisamos apenas conversar. – a voz de Julian soou. Felicity virou a chave outra vez, algo lhe dizia que ela corria perigo, colocou a mão sobre a barriga, Thomas estava quieto, como se soubesse que algo ruim estava acontecendo. – Vamos Feli.

—Desculpa Julian, mas Oliver acha melhor eu não falar com ninguém por enquanto.

—Você sabe muito bem que eu não mordo, não é abelhinha?

Felicity congelou no mesmo lugar, havia passado quase dois meses com Julian e sabia muito bem que quando ele chamava alguém de abelhinha era porque já estava sem paciência. Ela odiava quando ele a chamava assim, na verdade ela estava odiando-o naquele momento.

Olhou em volta, não havia muitas saídas além da própria porta que agora permanecia trancada, então se lembrou de Tommy, ele logo estaria de volta e daria de cara com Julian. Correu até a bolsa em busca do celular, talvez pudesse ligar pra ele e avisar, ou melhor, ligar para Oliver e pedir para ajuda, mas percebeu que o garoto não havia levado o celular, pois o aparelho estava depositado em cima do balcão da cozinha. Sentiu os dedos envolverem algo gelado, puxou com cuidado, se surpreendeu ao encontrar aquilo ali e se perguntou como aquela arma havia ido parar em sua bolsa. Observou com cuidado, não parecia uma arma normal, retirou as balas e logo percebeu que aquela poderia ser a sua única chance de sair dali.

—Felicity, lity. – Julian cantarolou, ela se colocou de pé. – Abra logo ou eu terei que arrombar e isso não será muito bom para você ou o bebê.

—Saí daqui, por favor Julian, ou terei que chamar a polícia. – ela ameaçou, sentindo o corpo todo tremer. – Não tem mais nada entre a gente.

O riso de Julian saiu abafado pela porta.

—Sabe Felicity, sempre achei que você fosse mais inteligente que isso, acha mesmo que estou por você? Só quero o que é meu por direito.

—Não tem nada seu aqui. – ela gritou.

—Acredite querida, você está bastante errada.

Julian empurrou a porta com o ombro no exato momento em que as portas do elevador se abriram, Tommy encarou a cena a sua frente. Abaixou com cuidado e deixou a caixa de pizza ao lado de uma palmeira decorativa. Puxou a adaga do bolso traseiro, seu pai sempre dizia que um bom homem sempre anda precavido, e ele seguia aquele conselho à risca. Talvez se conseguisse acertar o tornozelo de Julian.

—Vamos lá Felicity, tenho trabalho a fazer. – falou Julian, Tommy começou a aproximar sorrateiramente. – Tenho vidas a salvar. – ele forçou novamente, mas desta vez a porta cedeu.

Julian sorriu vitorioso. Tommy se preparou para jogar a adaga, porém o barulho do tiro o assustou, intuitivamente fechou os olhos e ouviu o baque do corpo inconsciente de Julian contra o chão.

—Tommy! – Felicity gritou e o que se seguiu foi o barulho de passos desesperados. – Tommy?

—Aqui! – ele disse por fim, sentiu os braços dela o envolverem.

—Meu amor, você está bem?

—Sim e você?

—Nervosa, completamente nervosa. Vamos temos que ir ao laboratório. – ela o puxou.

—Você o matou? – Tommy indagou sem conseguir olhar pra trás.

—Não! Claro que não. Foi apenas um tranquilizante, alguém colocou uma arma carregada dentro da minha bolsa. – Felicity explicou, eles entraram no elevador. – Não sei, mas acho que tem um dedo de Emma aí.

Tommy apertou o botão para o térreo.

—Um dedo? Eu acho que tem é a mão toda. – ele suspirou, Felicity o abraçou com força. – Acho que ela já sabia que algo iria acontecer hoje, apenas não quis contar para ninguém.

—Talvez estivesse sendo corajosa.

—Ou talvez estivesse com medo demais para acreditar em si mesma.


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