Em rota de colisão escrita por Lily


Capítulo 31
XXXI




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Caitlin

Existem coisas na vida não temos como controlar, como o tempo, o clima, a história, nossas vidas. Caitlin sabia que sua vida era complicada e que sua futura vida seria ainda mais complicada, mas nunca pensou que fosse chegar a este ponto. Sua filha tinha poderes de gelo e obviamente não havia herdado do pai. Então ela futuramente iria se tornar sua doppelgänger da terra dois, será que ela seria a vilã? Será que ela já havia machucado alguém? Será que...

—Caitlin. – levantou a cabeça encarando Barry parado na porta. – Você está bem?

Ela negou, ele se aproximou e a envolveu em um abraço, Caitlin podia ouvir o coração dele bater, era um som reconfortante e familiar, por meses ela havia ouvido o coração dele por meio daquelas máquinas, aquele som havia se tornado um mantra para ela.

Tum. Tum. Tum.

—Você acha que eu serei malvada como ela? – perguntou.

—Nunca, no final ela ainda foi uma heroína. Mas você é diferente, meu amor, você sempre foi e sempre será uma heroína.

Ela apoiou a cabeça no ombro dele.

—Eu estou com medo, Bar. – revelou em um sussurro.

—Não fique. Estou aqui, não vou deixar você.

Caitlin sabia que sempre podia contar com Barry, ele era seu futuro marido, pai dos seus filhos, seu companheiro de equipe, seu melhor amigo.

—Onde está Em?

—Tentando achar um jeito de controlar seus poderes, Cisco havia feito um par de algemas repressoras, mas ela as perdeu. – ele explicou. – Em está nervosa Caitlin, quando ela acordou e não te encontrou, acabou se desesperando.

—Eu sei que devia estar com ela, mas eu não consigo.

—Ela não é um monstro. – Barry sussurrou, ele sempre parecia saber o que ela estava pensando e Caitlin amava isso nele.

—Eu sei. – balançou a cabeça sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.

—Ela está com tanto medo quanto você.

Fechou os olhos apoiando a cabeça nas mãos. Emma, sua pequena Emma. Ela havia feito aquilo com sua própria filha.

—Caras. – ouviu Cisco chamar pelos interfone. – Temos um problema. - o engenheiro hesitou.- Emma fugiu.

—O que? – Barry se levantou. – Como assim fugiu?

—Fugindo cara, ela se levantou e disse que ia ao banheiro, depois não voltou mais. Wally correu por todo o laboratório, não sabemos onde ela está. – ele explicou.

Caitlin sentiu seu coração apertar, claro que Emma iria fugir, estava com medo e a única pessoa com que ela queria conversa não estava com a cabeça no lugar. Deus como ela pode ser tão burra, Emma precisava dela. Se levantou.

—Eu sei onde ela está.

~***~

O observatório era o lugar preferido dela, disso Caitlin sabia. Podia afirmar com toda a certeza que ela estaria lá, Emma amava o cosmo por jugar ser um lugar impossível. Eles passaram pelo auditório, a sala das estrelas, o salão da criação, a sala com o sistema solar e até a lanchonete, não havia sinal de Emma, então ela parou e olhou pra cima. Como não havia pensado nisso antes?

Seguiu com Barry até o terraço e lá estava ela, encostada na mureta envolta em uma neve fraca, os olhos focavam as mãos pálidas e a nevoa que elas lançavam. Caitlin se aproximou, se sentando ao lado dela.

—Ei, meu amor. – sussurrou, Emma não a encarou. Olhou para Barry, ele também não parecia saber o que fazer.

 –Pequena, olha pra mim por favor. – ele pediu.

Snowflake...

Emma de repente a abraçou com força.

—Estou com medo, mamãe. – ela murmurou com a voz embargada. – Eu não posso... não quero.

—Calma meu amor. – a tranquilizou passando a mão pelo seu cabelo. – Estou aqui, não se preocupe. – beijou sua testa, a apertando com força.

—Eu sinto muito.

—Não sinta. – Barry se aproximou. – Isso não é culpa sua.

—Karma foi atrás de Lydia porque eu enfrente Holly, se eu não tivesse feito isso, nada disso... eu sinto que a culpa é toda minha, meti Tommy, Cami e Lydia nessa roubada... eu não sei o que fazer.

—Então não faça nada. – falou acariciando o cabelo da filha. – Não coloque o peso do mundo sobre seus ombros, isso é uma das coisas que você puxou de Barry. – olhou para o noivo, que mesmo naquela situação parecia preste a protestar. – Vocês insistem em ser os heróis e acabam se pressionando demais, vocês não são deuses, não podem controlar tudo. As vezes temos que deixar outras pessoas cuidarem do problema.

—É fácil falar. – Barry resmungou, ela revirou os olhos antes de silenciosamente manda-lo calar a boca.

Snowflake, sei que está com medo, porque eu também estou, mas não podemos deixar nossos medos serem maiores do que nós somos. – sussurrou. Sabia que era verdade, seu medo de se torna Nevasca havia se tornado realidade, mas talvez isso fosse uma coisa boa, talvez...

Pensamentos positivos atraem coisas positivas, não é?

Olhou para Barry, ele apertou sua mão e sorriu.

—Nós estamos aqui Emma, sempre estaremos ao seu lado. - Barry afirmou beijando a testa da filha. – Tudo vai acabar bem.

—Como você consegui ser otimista assim? – Emma indagou limpando algumas lágrimas de seu rosto.

Barry sorriu antes de dar os ombros e responder:

—Não sei.

Emma fez uma careta, Caitlin riu e então falou.

—Barry é otimista porque sempre vê o lado bom das coisas.

—Por isso que vocês são um bom casal? – Em perguntou.

—Como assim? – indagou confusa.

—Papai é otimista e você é pessimista.

Caitlin arqueou a sobrancelha.

—Isso não é verdade.

—É sim. – Emma e Barry falaram juntos.

Ela abriu a boca para retrucar, mas apenas bufou.

—Ok, agora podemos sair daqui, está fazendo frio. – murmurou passando as mãos pelos braços para se aquecer.

Emma sorriu.

—É, é melhor sair daqui, ainda temos muito o que fazer antes do casamento amanhã.

~***~

—Posso fazer uma pergunta.

Caitlin se virou calmamente, Emma mexeu na barra do vestido um pouco nervosa, a doutora apoiou a prancheta sobre o joelho e assentiu.

—Quando foi que papai lhe pediu em casamento? – ela perguntou.

—Ãn, deixa eu ver... Tínhamos acabado de saber por Joe sobre a mulher que queria adotar você, a assistente social também havia conversado com a gente sobre a opção de eu entrar com um pedido de adoção, ela frisou que um casal seria mais adequado e que o juiz via isso com bons olhos. Estávamos no meu apartamento quando de repente Barry se ajoelha e me pedi em casamento. – ela rir. – Pode até parecer estranho, mas eu já esperava por isso. Era até meio obvio que ele iria fazer isso. As vezes Barry é meio previsível.

—Mas você aceitou de qualquer jeito.

—É, eu aceitei.

Caitlin olhou para o anel em sua mão, aquilo era uma pequena promessa de que tudo no fim iria acabar bem e Emma era a confirmação disso.

Residência Allen

15 de abril de 2026

Ela sorriu entregando a xícara com o liquido fumegante para Íris e se sentando ao seu lado.

—Então, como vai a vida de recém-casada? – perguntou.

—Chata e monótona.

—Íris. – a repreendeu.

—Tyler não para em casa e a cada semana tem que viajar para um local diferente. – ela resmungou.

—Você sempre soube que ele viajava muito, Tyler é um historiador, é o trabalho dele escavar e procurar, mesmo que tenha que sair do país para isso.

—Eu sei, mas.... Não sei como Josh consegue conviver com isso por tanto tempo. Ter o pai tão longe e uma mãe tão histérica. – Íris maneou a cabeça enquanto tomava um gole de seu chá.

—E agora uma madrasta que esconde mais segredos do que um padre. – completou levando um soco no ombro. – Aí.

—Chata.

—Louca.

Elas riram alto, mas Caitlin rapidamente parou e apontou pra cima.

—Henry.

—Ohu, ele ainda está dormindo? Pensei que já estivesse na escola.

—Ele pegou um resfriado forte, mal consegui se levantar da cama. – falou, então deixou a xícara em cima da mesa. – Ele aprendeu uma palavra nova.

—Sério? Qual?

Caitlin fechou os olhos antes de falar a palavra, queria ter certeza que o que sairia de sua boca seria completamente certo.

—Anticonstitucionalissimamente.

—Isso existe por acaso?

—Sim, Bar pesquisou no dicionário e estranhamente é uma palavra bastante comum.

—Em que terra? – Íris balançou a cabeça rindo. – Henry será esperto assim como Emma.

—Por favor não jogue essa praga pra cima de mim. Já basta ter Em me corrigindo o dia inteiro, não preciso que Henry venha me ensinar como preciso fazer meu trabalho.

—Não acho que a intensão de Emma é te corrigir todo o tempo.

—Eu sei, ela quer apenas me mostrar o quanto é esperta.

—Ela quer que você fique orgulhosa dela.

—Eu sei. – repetiu novamente, mas desta vez sorrindo. – E eu estou, sempre estou orgulhosa dela, mas as vezes acho que Emma é madura de mais para sua idade. Ela só tem sete anos e sabe de mais coisas que o Will.

—Ela sabe de mais coisas até do que eu. – Íris disse apontando para si mesma e rindo. – Emma é uma garotinha inteligente.

Caitlin assentiu, mas mordeu o lábio inferior meio nervosa. Íris notou isso, pegou em sua mão e disse.

—Não se preocupe, ela é sua filha, toda a inteligência dela vai ser pro bem.

—Não é isso que me preocupa, Emma também é filha de Barry e assim como ele...

—Ela é impulsiva.

—Coração antes da razão.

—Só espero que ela não acabe se ferrando com isso. – falou Íris soltando um suspiro demorado. – Barry já se ferrou várias vezes por agir por impulso.

—Tenho fé que Emma não herdara isso dele.

—Então somos duas.

Central City

Outubro de 2016

Emma

Toda garota de quinze anos sonha com o príncipe encantado e os bailes reais, Emma sonhava em dormir até mais tarde e se empanturrar de pizza. Não estava em seus planos e nunca estaria, passar a noite cercada de adolescentes irritantes e música alta, mesmo que seu vestido fosse muito fofo e seus pais tivessem dado permissão para voltar para casa depois das doze, ela não se sentia bem em ir ao um lugar estranho com pouca gente conhecida.

Tentou não revirar os olhos enquanto esperava impacientemente Lydia terminar de se arrumar, olho para Joe, este tentou esconder o riso perante sua irritação.

—VÔ.

—Sim?

—Por que eu tenho que ir? – perguntou cruzando os braços e se encostando no sofá.

Joe abaixou o jornal e encarou a neta.

—Sim.

—Mas...

—Isso será bom pra você querida, sair e se divertir.

—Preferia ficar em casa comendo pizza. – resmungou, então encarou o teto. – Será que elas vão demora muito?

—Pensei que não quisesse ir.

—E eu não quero, mas nunca gostei de chegar atrasada. Mesmo que seja para um lugar que eu não quero ir.

—Você tem certeza que é filha do Barry? – o detetive indagou arqueando a sobrancelha.

—Sim, mas também sou filha da minha mãe e como você sabe a doutora Allen nunca se atrasa.

Joe riu.

—É verdade, Caitlin nunca se atrasa, já Bar.

—Papai pode ser o homem mais rápido do mundo, mas mesmo assim. – deu de ombros.

—Certas coisas nunca mudam, não é?

—Nunca. – sussurrou sorrindo. – Vovó foi para onde mesmo?

—Encontrar Caitlin e Barry para acertar os últimos detalhes de amanhã.

—Ainda não acredito que estarei aqui para ver meus pais se casando.

O detetive voltou a rir.

—Eu que ainda não acredito que Barry vai se casar.

Tocou levemente seu colar e sorriu, Joe voltou a ler o jornal, seriam apenas algumas horas, depois ligaria para seu pai e pediria para ele ir pega-la. Pelo menos ela passaria um tempo com seus amigos, isso era uma coisa boa.

—Vou ver se as meninas estão prontas. – se levantou abaixando a barra do vestido. Correu pro andar de cima batendo na porta do quarto com força. – Vamos logo, Tommy está quase chegando.

—Não se pode apressar a perfeição. – a voz de Lydia saiu abafada, Emma revirou os olhos.

A porta do quarto se abriu e Cami sorriu calmamente para ela.

—Não estamos atrasadas, Emes. Então não comece a surtar. – a Ramon pediu.

Emma cruzou os braços.

—Vamos deixar uma coisa clara, eu não surto por isso e outra eu nem surto, só surtarei no dia em que meu OTP for real.

—Que OTP? – Lydia perguntou, ela sorriu misteriosamente, então virou as costas e saiu caminhando pelo corredor. – Ei! Volta aqui! Quem é seu OTP?

Emma a ignorou, desceu as escadas assim que Joe abriu a porta para Tommy entrar.

—Está atrasado. – falou.

—E isso te surpreende? – Tommy perguntou a encarando de cima a baixo.

Emma sentiu as bochechas esquentarem, negou com a cabeça.

—Vamos? – Lydia passou por ela indo até Tommy o abraçando rapidamente. – Tio Ollie te emprestou o carro? – ele assentiu. – Ótimo. Tenho que chegar arrasando para esfregar na cara de Cory.

Tommy revirou os olhos. Joe riu e então falou.

—É melhor vocês irem logo e não voltem tarde.

Emma deu um beijo rápido na bochecha do detetive antes de pegar o casaco e a bolsa.

—Estarei aqui antes das dez. – sussurrou. – Podemos assistir um filme e comer pizza.

—Eu adoraria ter sua companhia, mas acho que você tem que ir se divertir.

—Não estou em clima para diversão. Sinto que algo está errado vovô. – revelou.

—Faça assim, deixe meu número na discagem rápida, qualquer coisa dê um toque e eu corro ao seu socorro.

—Promete?

—Prometo.

Joe beijou o topo de sua cabeça.

~***~

‘Cause I'm on top of the world, 'ay

I'm on top of the world, 'ay

Waiting on this for a while now

As luzes piscavam incansavelmente e as caixas de som pareciam sobrevoar a sua cabeça, a música era boa, isso era verdade, mas estava lhe dando dor de cabeça. Apertou a mão de Tommy enquanto ele a guiava pelo ginásio da Andrews Jacobs High School, Emma achava inacreditável como as coisas haviam mudado em poucas horas, alguém havia feito um ótimo trabalho com a decoração, enormes bolas japonesas decoravam o teto, um arco feito com rosas fora posto perto da entrada alguns casais tiravam fotos ali, então jurou para si mesma que se Tommy ousasse chegar perto daquilo ela o mataria.

Lydia andava a sua frente chamando a atenção com seu vestido azul e o colar de diamantes. E sim, eram diamantes de verdade, de alguma forma Lyds haviam conseguido pegar o colar do cofre dos Palmer em Star City, ela havia dito que ninguém notaria a falta do objeto, já que sua vó mal se lembrava do colar. Mas obviamente Íris havia dado um ultimato, Lydia teria que devolver a peça no dia seguinte, senão contaria a verdade a Ray, Emma achava intrigante o fato de sua tia ter percebido e mais ninguém ter descoberto sobre os pais de Lydia.

—Bem que a gente podia ter ficado em casa, né? – resmungou, Tommy passou a mão pela sua cintura a puxando para perto. – Seria muito melhor do que ficar enfunando nesse meio de trouxas e estou falando isso no modo potterhead.

—E está levemente irritada, então isso não conta. – falou Camille revirando os olhos. – Emma aproveita a noite.

—Não sei se consigo, sinto que algo está errado.

—Calma carmim, amanhã poderemos voltar pra casa e então tudo voltara ao normal. – Tommy assegurou.

—É, vamos ficar de castigo pelo resto da vida, mas pelo menos teremos uma boa história para contar no natal, se é que vamos sobreviver ao até o natal. – Camille passou o braço pelo seu ombro. – Tenho certeza que mamãe vai me matar então vai me ressuscitar para papai me matar.

—Tenho certeza que mamãe vai me socar em um ônibus direto para a fazenda da vovó para ver se eu crio juízo.

—Não exagera, Tommy. – pediu sorrindo.

—Pelo menos a um lado positivo nessa história toda.

—Sério? Qual?

—Finalmente poderei esfregar na cara de Robbie que eu sou o irmão legal.

Emma revirou os olhos.

—Ainda com essa competição idiota? – Cami indagou.

—Hope vivi grudada nele, perdi minha irmã para um babaca.

—Você perdeu sua irmã pro seu irmão. Qual o problema de vocês?

Tommy não respondeu, apenas suspirou emburrado. Eles se sentaram em uma mesa afastada de Cory e seu grupo, como Lydia e Tommy haviam rompido seus respectivos “namoros” recentemente, a tensão ainda estava presente, então para Emma não havia motivo pra ficar perto de Meli.

—Eu acho que até o final da noite Em vai ser morta. – Camille falou, sem olhar diretamente para ela.

—Você vibrou com isso por acaso? – Lydia indagou deixando a bolsa em cima da mesa.

—Não, mas o jeito como Meli está te olhando me deu uma leve suspeita.

—Aí Jesus. – sussurrou sem se virar.

—Calma, carmim. Cami só está brincando. Não é?

Camille revirou os olhos, enquanto Tommy apertava Emma para perto. Ela engoliu seco, sentia as mãos suarem e o coração apertar.

I wanna believe in your love again
Despite what anybody says

—Ok, que tal irmos dançar e deixar o casalzinho a sós? – Lydia se levantou puxando Cami pela mão.

—Elas são péssimas. – murmurou colocando a mãos sobre o rosto.

—Horríveis. – Tommy concordou, então se aproximando e sussurrou em seu ouvido. – Mas elas são ótimas cupidos.

Riu baixinho. Tommy beijou o canto de sua boca, Emma sentiu suas bochechas esquentarem.

—Meli vai me matar.

—E quem liga? – ele indagou se inclinando para beija-la, ela se afastou e falou calmamente.

—Tommy é melhor irmos com calma, se lembra do nosso trato?

—Claro que eu me lembro, mas ele só será válido a partir do momento em que voltarmos pra casa.

Ergueu a sobrancelha intrigada.

—De onde você tirou isso?

—É óbvio.

Rolou os olhos e o socou no ombro.

 -Me poupe, Tommy.

O Queen riu, então se levantou e esticou a mão.

—Vamos dançar.

—Não!

—Vamos lá, carmim. Só uma dancinha, nem vai doer.

Ela relutou, relutou muito, mas Tommy era persuasivo e estava tão gato naquele terno. Sorriu a contragosto e aceitou a mão estendida.

Oh, we're on the right side of rock bottom

And I hope that we keep falling

We're on the good side of bad karma

Tommy a rodou, Emma riu e colocou a mão sobre o ombro dele.

—Não me rode muito ou juro que te congelo.

—Estou tremendo por dentro. – ele zombou, ela jogou a cabeça pra trás rindo. – Já disse que está linda hoje?

—Não, mas adoraria ouvir.

—Você está fabulosa.

—Isso não se equivale a um linda. – disse, Tommy bufou.

—Ok. Você está linda.

—Obrigada.

Ela sorriu para ele.

—Ei. – Lydia gritou correndo em sua direção. – Desculpa atrapalhar o casalzinho, mas precisamos de fotos.

—Não precisamos, não. – protestou.

—Calada Em.

Cami levantou o celular com a câmera frontal apontada pra eles, Lydia se jogou no colo de Tommy, Emma abraçou Camille pela cintura e colou o rosto na amiga, os quatro juntos sorriram para a câmera.

Emma gargalhou, sendo acompanhado por Camille, Tommy e por fim Lydia. Era bom ter aqueles momentos de paz e alegria. A sensação de que algo ruim ainda a incomodava, mas isso não deixava aquele momento menos fabuloso, ela estava com seus melhores amigos, em um baile, usando o vestido mais bonito que tinha, e mesmo estando no meio de pessoas desconhecidas, ela estava se divertindo como nunca.

—Agora deixa eu tirar uma foto do casal do ano. – Cami se afastou. - Vai, junta logo.

Tommy passou a mão pela sua cintura, ela olhou pra cima sorrindo, o flash disparou. Um momento congelado pelo resto de sua vida, uma relíquia valiosa.

Seu sorriso se desfez devagar e uma onda de melancolia tomou conta de si, sentia que algo estava errado, mas não queria estragar aquele momento, nunca vira Lydia tão feliz como agora, os últimos anos haviam sido desagradáveis para ela, com a partida dos pais e a falta de notícias, Emma sabia que tentava lidar com aquilo de forma natural, mas as vezes temos que baixar a guarda e tentar não ser derrubado; também havia Camille, ela descobrira quem era sua mãe e o porquê de seus pais nunca contarem a verdade, ela também estava sofrendo, estava mais acuada e nervosa, não sabia o que fazer como reagir, era como se estivesse no escuro, mas que de pouco em pouco uma luz aparecia; e por último, Tommy, sabia que ele sempre fez de tudo para ser o filho perfeito, nunca errar, esse era sua lema, mas com o tempo, acabou colocando os desejos de seus pais acima dos seus próprios e agora, quando finalmente havia decidido como seguir sua vida, seus pais pretendiam manda-lo MIT. Porém, ele tinha uma voz e queria ser ouvido.

Todos eram pequenos planetas que haviam entrado em rota de colisão, ela só estava contando os segundos antes do impacto. As escolhas, as mudanças, a evolução, a vida, o tempo, tudo pareceu parar, nada mais importava, era apenas eles, em uma noite qualquer, em uma cidade qualquer, em um baile qualquer, em um bairro qualquer, apenas eles, em seus planetas, lutando contra a gravidade, contra as colisões, apreciando cada momento de paz que poderia ser humanamente possível.

—Vou ao banheiro. - avisou já se afastando, Tommy pareceu falar alguma coisa, mas ela ignorou e se espremeu no meio da multidão até a saída.

Respirou profundamente quando se encontrou sozinha no meio do corredor. Começou a seguir para o banheiro, os únicos sons que ouvia era a música abafada vinda do ginásio e seus saltos contra o chão de granizo, arrastou os dedos contra os armários vermelhos, cantarolou uma velha canção em francês e sorriu mais calma. Talvez devesse realmente aproveitar a noite, tudo parecia tão calmo e tranquilo.

—Emma. – alguém a chamou, rodou sobre os calcanhares.

—Aiden. – falou alegremente. - Tudo bem?

—Claro. – ele sorriu e se aproximou. – Você está linda.

—Ohu, obrigada.

—Tommy tem sorte de estar com você.

Riu.

—É, com certeza ele tem. – disse, fazendo-o sorrir.

—Meli está tão puta de raiva que Shawn teve que segura-la na cadeira, porque ela estava ameaçando ir lá e te dar um soco na cara.

—Céus, você acha que ela seria capaz disso?

—Com certeza. Meli é explosiva.

Emma maneou a cabeça rindo, não deixaria Meli estragar sua noite.

—Quer um gole? – Aiden indagou estendendo um copo vermelho, dentro havia uma liquido alaranjado que ela supôs ser o ponche.

Assentiu antes de tomar o copo da mão dele e beber dois longos goles.

—Laranja com cereja? – sugeriu.

Ele negou com a cabeça.

—Toranja com morango e leve toque de vodka, cortesia de Shanw.

—Quase não deu pra sentir o gosto. – revelou limpando a boca com o dorso da mão.

—É. – ele concordou a encarando fixamente, como se esperasse que algo acontecesse.

Emma ficou levemente incomodada, limpou a garganta antes de falar.

—Bom, agora eu tenho que, ficou feliz em vê-lo de novo. – falou já dando alguns passos para trás.

—Digo o mesmo. – Aiden sorriu.

Virou de costas quase correndo, no último segundo mudou a direção de sua rota e acabou parando nas portas da frente da escola. O céu estava nublado e o tempo estava tão frio que sua respiração se condensava virando vapor, passou a mão pelo braço, não sentia frio devido aos poderes de sua mãe, mas mesmo assim ele não deixava de incomoda-la.

Se apoiou no corrimão e pegou o celular de dentro da bolsa, pensou em ligar para sua mãe e perguntar como estava indo os últimos ajustes da decoração do casamento. Porém, fechou os olhos quando a tontura lhe pegou, seu corpo começou a amolecer, como se estivesse adormecendo, se apoiou no corrimão. Alguém a segurou pela cintura.

—Calma lá. Você está bem?

Abriu os olhos, Aiden a segurava delicadamente.

—O que...?

—Quanto você bebeu essa noite?

—Nada. – sussurrou ou pensou ter sussurrado.

—Vem cá. – Aiden passou o baço por baixo de suas pernas a elevando, ele desceu as escadas de pedra até o estacionamento.

Ela tentou gritar para ele soltá-la, mas se sentia tão cansada que seus protestos não passavam de resmungos e grunhidos. Apertou o celular e apertou o número um na discagem rápida, sentiu o aparelho escorregar de sua mão. Aiden então caminhou até um carro com vidros pretos, a porta se abriu e ele a deitou no banco traseiro, tudo tinha cheiro de couro novo, como um carro recém-saído da loja. Emma ouviu barulhos, sussurros de alguma conversa, porém quando finalmente tomou coragem para ouvir, as portas se fecharam, o carro deu partida e o motorista falou.

—Nós já vamos para casa abelhinha. – sua voz era rouca, com um leve toque amargo. Emma o focalizou sobre a penumbra da lua, cabelos loiros com alguns fios grisalhos, um sorriso malicioso com uma covinha na bochecha, prendeu a respiração.

Os olhos azuis vividos que a encaravam na escuridão, a voz roca que atormentava seus pesadelos, a presença quase insuportável, o medo constante de que algo aconteça, por todos esses anos ela havia temido algo, mas esquecerem o que. Porém, nossos medos se tornam reais a medida os tememos, todo ser humano é irracional quando se trata de ter medo, com ela não era diferente, sabia que em algum momento voltaria a teme-lo, por isso havia se forçado a esquece-lo, mas agora não havia como evitar, sentiu a garganta apertar e seus olhos pinicarem.

—Ju..Julian. – sussurrou bem baixinho deixando a escuridão e o balanço do carro a levarem para longe dali, para perto de casa.

 

 

 

 

On Top Of The World-Imagine Dragons

The Mowgli's - Say it, Just say it

Rock Bottom (feat. DNCE) - Hailee Steinfeld

 


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