ReVenture escrita por Fore Veralone


Capítulo 4
004




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702063/chapter/4

Quando Lawrence saiu do banheiro ele já estava vestido com roupas novas, e também, continuava usando aquele caso vermelho.

Tenho a impressão de que ele gosta desse casaco.

— Então vocês tem uma horta.

Ele afirmou enquanto fritava alguns ovos.

— É... nós temos sim... Mas eu não lembro de ter dito isso.

— Mas você me disse, mesmo não falando.

— Hã?

— Quando descemos as escadas mais cedo, eu senti um fraco cheiro de fertilizante vindo de você. Mesmo depois de tomar banho suas unhas continuam sujas de terra, e é do tipo vermelha; esse tipo de terra é industrializada e própria para lavouras e plantações de milho. Sem falar que sua pele está bastante queimada, como se pegasse Sol quase todos os dias.

Ele explicou enquanto terminava de preparar o café, me deixando completamente sem palavras ou reação. No fundamental ele tinha certas habilidades para deduzir as coisas, embora apenas uma parte dessas deduções se mostrassem corretas.

Mas agora ele parecia acertar precisamente, como se ele estive visto pessoalmente.

— Como estamos nas férias, não teria motivo algum para sair e pegar Sol por muito tempo, assim fica fácil deduzir que você pegava uma grande quantidade de luz solar em um local aberto, com fertilizante e terra para plantações. Concluindo, você passou bastante tempo cuidando de uma horta, mas como você disse que não havia saído do dormitório, o único lugar em que você poderia estar cuidando de uma horta sem ter saído do dormitório, seria no terreno do próprio dormitório.

Ele me apontou com a colher, como se dissesse "estou certo?", mas sua expressão continuava calma, como se aquele tipo de coisas fosse no normal pra ele.

Seu sumiço por um ano e meio não parece ter sido atoa, mesmo que eu saiba um dos motivos para ele ter desaparecido, eu não sabia suas outras razões. Ele estava bem diferente da pessoa que eu lembrava, ele parecia mais vivo.

— Vamos comer.

Ele serviu dois pratos com ovos fritos, torradas e uma porção de salada juntamente com duas xícaras com café sobre a pequena mesinha no centro do quarto.

— Lawrence, sabe, eu queria te perguntar uma coisa...

— Eu encontrei meu velho.

Cuspi todo o café que havia bebido.

— Isso é sério?!

— Sério.

— E como foi?! Você não conhecia ele, não é? Onde você o encontrou? Como ele era? Vocês se deram bem?

— Err... você está muito próximo, e são muitas perguntas também. Eu vou responder, mas sai de cima de mim, ou as pessoas podem entender que temos uma relação proibida.

Lawrence não conhecia seu pai, parece que houve uma discussão entres os pais dele quando ainda era um bebê e seu pai acabou deixando a família. A mãe dele nunca comentou sobre seu pai ou como ele era, mas ela aparentava ter uma enorme raiva dele.

— Eu o encontrei quando estive fora do país...

— Espera! O que?! Você estava fora do país?!

— É, eu encontrei com a minha velha também...

Ele dizia isso enquanto tomava seu café calmamente como se aquilo não fosse nada demais. Sua "velha" se referia a avó dele, que foi quem o criou quando ele entrou no fundamental.

Houve um problema entre ele e a mãe dele, o que resultou em sua avó ficando com sua guarda.

Ele nunca chamava sua mãe de "mãe", era sempre "aquela mulher" ou o verdadeiro nome dela.

— Sua avó também havia desaparecido, não é?

— Ah, é. Mas no caso dela todos foram avisados, ela disse que iria tirar férias da família e iria viajar pelo mundo, e que não queria ser achada por ninguém.

—...

A família desse homem é bem egocêntrica. Sem falar que é bastante problemática também.

— Comece a falar. Como foi o encontro com seu velho?

— Hmm... bem... como eu posso dizer... - ele cruzou os braços escolhendo as palavras certas para falar - Eu soquei ele.

Cuspi todo o café que havia bebido.

Que tipo de reencontro foi esse?!

— Bem... ele me socou de volta e acabamos brigando... Mas depois as coisas melhoraram e meio que nos entendemos.

— Que tipo de desenvolvimento foi esse?! Isso não chega a resumir nem 1% do que aconteceu. Que tipo de relação pai e filho é essa?!

— Muitos coisas aconteceram... muitas mesmo... - ele enrugou a testa - Agora que paro pra pensar melhor, o que é que eu estava fazendo com a minha juventude...?!

Ele colocou a mão sobre os olhos fazendo parecer algo dramático, muito dramático.

Você acabou de chegar aos 17 anos, não fique dizendo coisas feito um velho!

Além do mais, pelo que foi que você passou pra ficar tão arrependido assim?

— Eu vi coisas... Eu fiz coisas... Eu provei sangue, e tem gosto bom...

— Medonho!!! Que tipo de passagem você andou para ter encontrado uma rota desse tipo?!

— Bem, aquele velhote não era exatamente  como eu pensei que fosse, mas ele não chegava a ser o que aquela mulher dizia que ele era. Confesso que ele é um pouco egocêntrico demais e tem uma preguiça gigante.

Ele é exatamente como alguém que eu conheço!!!

— Ah, é mesmo, ele é professor.

Cuspi todo o café que havia bebido.

E também, havia acabado o café da minha xícara.

— P-professor?! Por essa eu não esperava.

— Foi graças a ele que eu consegui entrar na Mortdecai no segundo semestre.

Então foi assim que ele conseguiu? Seu pai deve ser alguém muito importante para ter conseguido uma permissão especial dessas.

— Bem... as coisas que eu tive de fazer nunca irão me fazer contar...

Ele disse com os olhos vazios enquanto olhava para o lado.

Admito que estou ficando cada vez mais com medo do pai dele.

— Eu só consegui entrar no segundo semestre como uma condição... Aquele velho me fez ajudar com o trabalho dele.

— Trabalho? Você vem dizendo isso desde que nos encontramos, mas não disse o que é.

— Ah, é... Tem isso aí também. - ele coçou a cabeça - Ele é um Professor Andarilho. Um tipo de professor que viaja por várias cidades visitando escolas para corrigir aqueles alunos mais problemáticos. E até onde consegui descobrir ele parece ser bem popular.

Eu já havia escutado algo assim na Mortdecai, sobre um professor que era tido como lenda urbana. Ele viajava de escola em escola ficando de seis meses a um ano, ele já havia reformado turmas que eram tidas como problemáticas, assim como alunos perigosos. Ele sumia assim que seu trabalho era feito e nunca mais haviam relatos de problemas nas escolas que ele visitava. Apesar de que muitos achavam ser apenas um rumor ou boato.

Então ele é o pai desse homem problemático sentado na minha frente?!

— Espera... Então o trabalho que você está fazendo nessa cidade era...

— Ah, não, não, não - ele negou balançando a mão - Eu só estou aqui a menos de um mês, antes disso eu estava em outra cidade juntamente com o velho, quando as férias começaram ele disse que ia para outra escola e me mandou ir para a Mortdecai, já que ele tinha alguns assuntos a tratar lá, mas não podia ir tão cedo porque estava ocupado.

— Então o que você veio fazer nessa cidade?

— Eu vim encontrar a família de uma pessoa... - sua expressão era triste - Eu tinha algumas coisas pra resolver com eles.

Eu nunca o havia visto com uma expressão assim antes. Era como se ele tivesse perdido algo muito importante.

O que foi que ele andou fazendo durante seu desaparecimento?

— Aquela garota, Mika, ela disse que algumas pessoas mandaram agradecer a você por ter ajudado. O que foi que houve?

— Isso, é?

Ele parecia vago.

Honestamente estou começando a ficar irritado com as respostas vagas e pausadas dele. É como se ele não quisesse me contar nada a respeito das coisas que aconteceram.

— Lawrence, eu estava evitando dizer isso, mas estou ficando irritado com seu modo de agir. Você não acha que deve pelo menos algumas explicações?! O que houve com você? Por que você desapareceu? Você não acha que me deve pelo menos isso?!

Acabei erguendo a voz sem perceber e mesmo assim ele continuou lá, com aquela expressão calma em seu rosto.

— Hmm... Eu devo é? - tanto seu tom de voz como sua expressão mudaram completamente, era frio e sem emoção alguma. - Dan, você já se esqueceu do que fez? Acha que já o perdoei pelo seu pecado?

Eu sempre confiei nos meus instintos desde criança e eles sempre se mostraram corretos quanto a perigos evidentes, então posso dizer com total clareza, nesse momento eu sinto um perigo de morte vindo do homem sentado a minha frente.

Seus olhos possuíam uma expressão gélida e ameaçadora, era como se ele fosse me atacar a qualquer instante sem hesitação alguma, e sem piedade alguma.

— Eu ainda não me esqueci, Dan. - ele avançou sobre mim me derrubando no chão. - Até que você tem um corpo bem atraente, sem falar nesses olhos claros. - ele ficou sobre mim. - Será que eu devia forca-lo a pagar seu pecado com seu corpo?

— P-pare com isso... Não é certo...

— Vamos, não resista, você não pode fugir de mim, garotinho... Está tudo bem, eu vou cuidar muito bem de você... Huhuhuhu...

— P-pare... nós não devemos... é proibido...

— Yoshi, acho que isso ficaria bom!

— Eh?

— Valeu, Dan - ele saiu de cima de mim - Eu estava meio perdido sobre escrever uma cena assim, mas acho que essa vai dar certo.

Eu fui violado!

Lágrimas escorriam dos meus olhos.

Fui completamente violado.

— Não me use para proveito próprio!!! - levantei rapidamente. - As pessoas teriam uma ideia errada... Não, completamente errada se nos vissem assim!

Ele andou até a cama e se sentou enquanto ligava o notebook.

— Bem, eu seria preso se tentasse fazer isso com uma garota, então achei mais fácil fazer isso com um amigo. Na brodagem, é claro.

Eu fui violado por um motivo desses?!

Meu coração dói.

Minha alma dói.

Eu vou morrer.

Definitivamente vou morrer.

Esse maldito narcisista só vê os outros como uma especie de ferramenta?!

— E sobre antes, eu ajudei o pessoal de um distrito comercial com um problema - ele dizia enquanto escrevia em seu notebook - Uma empresa queria destruir as lojas, assim como casas, dos moradores do distrito comercial perto da estação para construir uma rede de hotéis. Eles tinham todos os documentos necessários, que diziam que as lojas e residencias naquela área pertenciam a empresa, e haviam obtido tudo legalmente na prefeitura.

— Hmm... Prossiga...

— Tudo teria acabado com eles destruindo as lojas e construindo a rede de hotéis, se os documentos não fossem inválidos.

— Inválidos?

— Sim - ele parou de digitar e olhou através da janela - Eles foram comprados com suborno. É claro que isso não teria sido revelado se a família que eu vim encontrar não estivesse relacionada. Quando descobri que eles eram moradores do distrito comercial, eu fiz tudo o que podia para ajudá-los, já que tinha uma dívida a pagar a eles.

Ele parecia completamente perdido em seus pensamentos. Ele estava falando mais consigo mesmo do que comigo, melhor dizendo, ele havia esquecido minha presença ali.

— Por causa da minha intromissão, acabei encontrando o inspetor Nicolas, que estava investigando um caso de suborno na prefeitura vindo da mesma empresa. Nós discutimos e nos desentendemos no começo, mas nos ajudamos mais tarde e isso resultou em encontrarmos provas contra a empresa.

Ele parece ter voltado a si, então voltou a digitar no notebook enquanto terminava a explicação.

— Graças a isso, tudo foi resolvido e os moradores conseguiram suas lojas de volta. É por isso que eles estão me agradecendo tanto... Hmm... Então é isso!

Hmm...

Resumindo...

Ele se meteu num grande problema envolvendo muitos perigos?!

Que tipo de vida esse garoto sem noção está levando?!

Eu estava me preparando para dizer alguma coisa quando ele me interrompeu com uma pergunta.

— Dan, qual sua impressão sobre a Mika?

— Hã? De onde veio essa? Por que você quer saber de algo assim?

— Deixa de ser chato. Responde logo.

— Bem, eu não conheço ela então direi o que achei apenas pelo que pude notar.

— Isso serve.

— Ela parece ser do tipo esforçada, mesmo tendo a nossa idade ela já trabalha nesse hotel. Hm, ela parece ser do tipo estudiosa, sem falar que ela é bem bonita também. Aqueles óculos aumentam seu charme e lhe dão um ar de intelectual.

— Hmm, entendi.

Ele pensou em alguma coisa.

Conheço essa mania dele, toda vez que ele pensa em algo ou planeja alguma coisa ele segura a ponta do queixo com o polegar e o indicador.

— Certo, já decidi. - ele fechou o notebook e o jogou sobre a cama - Sim, não vai ter erro.

— Ei, não saía decidindo as coisas sem falar o que são. Eu não sou Jedi, não consigo ler mentes.

— Ah, não se preocupe, não é nada demais.

Ele ficou bem mais animado e energético. Honestamente, eu sinto certos calafrios quando ele fica assim, já  que isso é sinal de problema.

— Ok. Já terminei o que tinha que fazer. Agora vamos arrumar as coisas, Dan.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "ReVenture" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.