ReVenture escrita por Fore Veralone


Capítulo 3
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Após me recuperar daquele choque, Lawrence me contou os detalhes completos da situação.

Ele já havia resolvido o problema da papelada para a transferência, parece que ele passou as férias todas resolvendo isso, o que era uma surpresa dada a sua preguiça para lidar com esse tipo de coisa.

Mesmo dizendo que ele me contou tudo, é certo afirmar que ele ocultou algumas coisas, principalmente o fato de que teve a ajuda de alguém com bastante influência na Mortdecai para conseguir uma transferência no segundo semestre do ano.

A acadêmica possuía um sistema de ferro que existia desde a sua fundação, não eram permitidas transferências após o ano letivo ter começado, devia se esperar até o próximo ano para poder se transferir. 90% de seus alunos eram compostos por famílias tradicionais e ricas, uma academia que preparava a elite da sociedade.

O sistema de bolsas era novo, possuía menos de uma década, mas era o mais disputado do país. Obviamente por ser a escola preparatória pra a universidade mais bem sucedida que o país tinha, milhares prestavam o exame se admissão pela vaga de apenas 100 bolsas por ano. Não haviam bolsistas para o segundo ou terceiro ano, se qualquer um quisesse entrar através de uma bolsa, só poderia fazer no primeiro ano, ou seja, só havia uma única tentativa por aluno.

Se Lawrence conseguiu entrar no segundo semestre, significa que ele deve ter feito uma façanha impossível, ou teve ajuda de alguém com uma grande influência ali dentro.

Como o novo semestre começa semana que vem, ele me pediu para ajudá-lo com sua transferência para o nosso dormitório. Quando o perguntei o motivo de ser o nosso dormitório, ele respondeu que era por eu estar lá, pois seria difícil se enturmar com alguém desconhecido se fosse para outro dormitório.

Por que um anti-social como ele se importaria com isso?

Eu havia chegado ao endereço que ele havia me dito, um pequeno hotel na cidade vizinha.

— E pensar que ele esteve tão próximo assim nas últimas semanas.

Suspirei.

Após subir até o terceiro andar, cheguei em frente ao quarto que ele deveria estar. Haviam algumas caixas empilhadas próximo a porta, assim como algumas estantes e prateleiras de madeira, provavelmente parte da mobília dele, e estavam incrivelmente novos. Segurei a maçaneta e logo percebi que a porta estava destrancada.

Como ele pode ser tão irresponsável ao ponto de não trancar a porta corretamente?

Me preparei mentalmente para o que pudesse acontecer ali, respirei fundo e entrei.

Estava completamente escuro, mesmo sendo 10h da manhã ele ainda não havia aberto as janelas, mais o pior de tudo era o cheiro, um cheiro podre e azedo, como se houvesse algo morto ali dentro há dias.

Usei as mangas da camisa para tampar o nariz enquanto entrava ainda mais naquele pequeno apartamento de 30 metros quadrados. Ele era bem divido por dentro, tendo uma pequena cozinha e um banheiro, mas notei que não havia nenhuma mobília, estava completamente vazio, o que tornava o espaçamento maior, se não fosse pelas pilhas de caixas de papelão espalhadas pelo lugar.

Quando finalmente cheguei no quarto, ele estava lá, sentado em uma poltrona enquanto lia o jornal de hoje. Ao lado dele haviam uma mesa montada de forma improvisada com vários objetos sobre ela, algumas lâmpadas de luzes muito fracas estavam ligadas e iluminando os objetos na mesa.

— Pelo cheiro, diria que você ainda usa o mesmo perfume, Dan.

Ele disse abaixando o jornal e olhando em minha direção.

— Mas o que foi que você matou aqui dentro?!

Foi a primeira coisa que perguntei.

— Ah, isso... - ele parecia nem mais lembrar do cheiro. - Eu estava dissecando alguns ratos para ver o efeito causado por um novo sedativo que tentei criar.

—...

Mas pra que é que você está tentando criar um sedativo?!

— Embora eu tenha errado na dosagem e isso os levou a morte.

—...

Ele estava diferente do que eu lembrava.

Muito diferente do que eu lembrava.

Seus cabelos estavam completamente bagunçados, como se ele houve dormido em qualquer posição que desse. Usava o que parecia ser a calça de um pijama, mas havia bolsos próximos ao joelho. Usava um casado vermelho e malhado por cima de sua camisa e sua expressão era de completa sonolência, como se não dormisse há dias.

— Ok. Não vou perguntar os detalhes. - passei em frente a ele me dirigindo a janela mais próxima. - Mas primeiramente....

— Argh!!!!!! Meus olhos!!!! - eu o ouvi cair em agonia atrás de mim quando abri a janela, ele derrubou algumas caixas. - Devagar, Dan, devagar... - ele sussurrava enquanto rastejava no chão como um zumbi. - Argh!!!! - ele gritou novamente quando abri a outra janela permitido que a luz do Sol entrasse completamente ali.

Lawrence rastejava pelo chão como alguém que havia bebido exageradamente no dia anterior e agora estava com uma ressaca terrível.

Ele derrubava várias caixas ao tatear pelo chão em busca de sua poltrona, onde a escalou com dificuldade quando encontrou.

— Você me parece bem. Perdeu peso? - perguntei sentando num pequeno banco de madeira que havia ali.

— Eu estou ótimo, obrigado por perguntar.

— Sinceramente, este lugar está bem mais organizado do que eu esperava. Você está montando uma base aqui ou só passando o tempo mesmo?

— Ah, isso? - ele perguntou girando o indicador pelo quarto. - Isso não é nada demais, meu caro. São apenas materiais de estudo que estou usando como referência pra meu próximo livro.

Agora que olho melhor, as várias caixas de papelão estão lotadas de livros, e vários deles acabaram espalhados pelo chão quando ele derrubou algumas delas.

— Livro, então você ainda escreve, é? - peguei um livro que estava próximo e li seu título. - "Desvendo As Línguas Mortas Do Mundo. Volume 8."

— Eles são bem interessantes, você poderia xingar alguém que ele nem perceberia.

— Você está os usando com esse propósito?!

— Leia esse. - ele me jogou um.

"Como Conquistar Aquela Gostosa Da Escola em 10 passos."

Que porra é essa?!

— Eu não leio muito, mas tenho certeza de que nem um autor em sã consciência escreveria um título assim.

— Leia o primeiro capítulo.

"Passo 1: sequestre ela."

— Nem a pau que eu faria isso!!!

"NOTA: a propósito, esse método deve ser apenas utilizado em último caso."

— Então não o escreva primeiro!!!

"Passo 2: chantageie ela."

— Como se eu fosse fazer isso...

"Passo 3: pague ela."

— Você não tem orgulho como homem não?!!!

"NOTA: a propósito, você não tem moral para falar do meu orgulho, já que você também comprou esse livro."

— Já chega!!!

Joguei o livro pela janela com a maior força e vontade que tinha. Algo assim não deveria ter permissão para ser escrito, nem mesmo impresso e publicado!

— Vejo que você tem uma grande coleção de livros, mas é bom eu avisar que você não vai poder levar eles para o dormitório, não teria espaço.

— Não se preocupe com isso, eles serão doados a biblioteca pública da cidade. Eu acho que tenho amendoim em algum lugar por aqui.

Ele disse enquanto vasculhava os bolsos de sua roupa, retirando um tipo de objeto de cada um deles.

Haviam doces, linha e agulha, curativos, uma fita métrica, algumas moedas, uma pinça, um isqueiro, um lápis e uma caneta, um biscoito velho, alguns cabos eletrônicos, fones de ouvido, um pendrive, um canivete suíço, uma atadura, cola instantânea, uma tesoura; e o que mais me preocupou foi o pequeno fogo de artifício, daqueles usados em festivais.

— Achei. - disse mostrando um pequeno pacote de amendoim lacrado. - Ah, acho que faz dois dias que não como nada.

— Você sempre anda com esse arsenal mesmo ou é só quando está em casa?

— São apenas ferramentas do dia-a-dia que uso no trabalho.

—...

Que tipo de trabalho envolveria uma variedade de bugigangas?!

— Você me pediu pra te ajudar na sua mudança para o dormitório, mas não vejo nada que possa ser levado pra lá.

— Minhas coisas não estão aqui, esse é só um quarto temporário que uso para minhas pesquisas de trabalho.

— Você fala de trabalho, mas que tipo de trabalho envolveria sedativos e bugigangas?

— Logo, logo você vai descobrir. - ele se levantou da poltrona. - Bem, vamos indo, preciso fazer umas coisinhas antes de irmos.

— Certo...

Respondi hesitante enquanto o seguia até a porta.

Você vai sair vestindo assim mesmo?!

Nós descemos as escadas por onde subi mais cedo, ele andava com as mãos nos bolsos de seu casaco vermelho de forma natural, como se já estivesse completamente acostumado com aquilo.

Seguimos até o balcão de recepção onde uma garota de tranças escrevia algo num caderno de pagamento, ela parece não ter nos notado até que Lawrence a chamou pelo nome.

— Mika, o inspetor Nick por acaso deixou alguma coisa aqui?

— Ah, Law, que susto. Por favor, não chegue tão silenciosamente assim, ou vai acabar matando alguém de susto.

— Desculpe, força do hábito. E então, tem algo ai pra mim?

— Sim. - ela pegou alguns papéis impressão que havia perto. - O inspetor Nick disse que o caso foi resolvido e fechado com sucesso. A Sra. Allen, da loja de doces mandou agradecê-lo por sua ajuda e enviou uma torta de morango como agradecimento. O Sr. Walter da loja de frutas mandou uma caixa com sementes em agradecimento como você havia pedido. A filha dos Yashiros mandou alguns bolinhos de carne e pediu para agradece-lo por tudo. Alguns outros moradores também mandaram agradecimentos pela ajuda, acho que já devem ter deixado em frente ao seu quarto.

— Oh, mesmo eu dizendo que não foi nada demais, eles continuam me agradecendo.

— Eu entendo como eles se sentem, já que graças a você todo mundo conseguiu recuperar suas lojas de volta.

— Como eu disse, não foi nada. Tenho certeza de que aqueles velhotes só estão querendo me comprar com comida, eles realmente são astutos se pensam que podem me comprar só com isso.

— Você devia apenas relaxar e aproveitar o que eles mandaram. - ela gargalhou ao dizer isso, pude observar com clareza que ela tinha certa beleza na forma como sorria. - Parece que vai ter uma festa de comemoração mais tarde, você vai?

Será que é o que estou pensando ser?

— Hm... ainda não sei, tenho que resolver a situação da minha mudança antes.

— Ah, é... entendo. Bem, você pode passar lá se quiser, tenho certeza de que todos ficariam felizes.

Hmm, então é realmente o que pensei. Não posso deixar essa chance passar em branco...

Um pensamento perverso me veio a cabeça.

Como será que o anti-social Lawrence lidaria como esse tipo de situação?

Isso era algo que daria minha conta Premium no canal de séries pra ver.

— Bem, vou ver como... Aaahhhh!!! Por que foi que você fez isso?!!!

— Ele vai. - eu disse ao chutar sua canela.

— Hã? Mas ainda tenho que arrumar... Ai!!!! Sério, por que você tá fazendo isso?!

— Tenho certeza de que você tem tempo de sobra para ir, não é?

— Eh? Por que esse olhar ameaçador? Por que está me olhando de uma maneira tão fria assim? E pra que essa mão?

— Você não disse que precisava resolver algumas coisas?

— Tá, tá... Já entendi. Agora para de ficar me chutando.

A garota ficou nos observando com um sorriso no rosto.

— Parece que vocês são bastante próximos, não é? Que bom. Eu achei que Law não tivesse nenhum amigo.

— Ei, não diga esse tipo de coisa, faz parecer que eu não estou aproveitando nenhum pouco a vida.

— Hmm, então você realmente continua o mesmo, seu maldito recluso anti-social.

— Isso virou uma reunião só pra falarem mal de mim?! Tá certo, eu irei, mas só por pouco tempo.

Após dizer isso, percebi que a garota ficou com um brilho em seus olhos enquanto seu sorriso se iluminava de alegria.

— Certo.

Após a deixarmos sozinha novamente eu acertei um tapa na cabeça de Lawrence.

— Mas por que é que você fez isso?!

— Não sei ao certo, mas alguma coisa me disse que você merecia isso.

Tenho certeza que foi meu orgulho como homem.

Quem recusaria um convite de uma belezinha tão bonita quanto aquela?

Talvez tenha sido por isso que o bati, por incômodo alheio.

— Cara, sério, por que você ignorou um convite de uma gata como aquela?

— Só não senti vontade de ir, apenas isso. Aliás, você é quem mais entende desse tipo de situação, Sr. Popular da escola. Você realmente tem sorte por um rostinho bonito assim.

— Claro, minha mãe passou açúcar em mim.

— Não faço a mínima ideia do que isso significa, mas deve ter tido um grande efeito para que você conseguisse sair com uma garota diferente por semana no fundamental.

— Pois é... Bons tempos...

Nós subimos as escadas novamente, mas dessa vez até o quarto andar, o último.

O quarto dele não ficava no terceiro?

— Lawrence, seu quarto não era no terceiro andar?

— Não seja apegado às coisas, Dan. As pessoas não vivem apenas do passado!

Ele me repreendeu...

Mas por quê?

O que eu fiz de errado?

— Não sei ao certo, mas acho que essa não é a situação correta para uma lição de moral.

— Tsc... - ele resmungou baixinho. - moleque chato...

Esse maldito...

Não faz nem meia hora que nos encontramos depois de muito tempo e eu já quero socar a cara dele.

Ele parou em frente ao último quarto do corredor e começou a vasculhar os bolsos de sua roupa novamente, até que puxou um molho de chaves de uma deles. Ele escolheu uma das chaves e colocou na fechadura, destrancando a porta.

Então essa ele trancou direito?

— Você tem dois quartos? Que tipo de máfia você se meteu para conseguir bancar tantas coisas assim?

— Eu disse antes, aquele outro era apenas para minhas pesquisas de trabalho. Consegui convencer o dono a me alugar os dois pelo preço de um, já que eu ajudei ele com um problema relacionado a sua ex-mulher.

Um garoto de 17 anos ajudando a resolver o problema de um homem de meia-idade...

Que tipo de mundo ele vive?

Agora que penso direito, aquela garota, Mika, disse que algumas pessoas o haviam agradecido por antes. O que foi que esse homem sem-noção fez?!

Ao entrarmos no quarto, percebi que seguia a mesma estrutura do anterior. Acho que era bem óbvio em um pequeno hotel de quatro andares. Mas era bem diferente do anterior, havia mobília ali, e também era bastante arrumado.

A pequena geladeira estava com várias bebidas e doces quando ele a abriu para pegar algo, me jogando uma cola gelada. Seguimos em direção ao seu quarto, onde ele pegou uma toalha de banho e seguiu para o banheiro.

— Vou tomar um banho rápido e me arrumar, daí podemos tomar um café e conversamos sobre a mudança, você pode se sentar onde quiser.

— ... Certo...

Entrei no quatro dele observando melhor o lugar, havia um notebook sobre o criado-mudo ao lado da cama, uma estante cheia de livros de diversos gêneros e um guarda-roupa de solteiro.

Certo, vamos atrás do ouro!

Olhei embaixo da cama procurando por qualquer indício de pornografia que pudesse haver ali, mas não havia nada.

Tsc! Esse miserável é um profissional em esconder coisas, mas ele não tem chances contra mim.

Levantei o colchão, mas não havia nada embaixo dele.

Próximo.

Abri seu guarda-roupa em busca de provas concretas sobre o uso de pornografia ali, mas como esperado, não havia nada ali.

Gaveta de cuecas: nada.

Gaveta de meias: nada.

Gaveta de... essa é melhor deixar quieto...

Quando abri a porta do guarda-roupa novamente, uma foto caiu perto do meu pé esquerdo, devia ter soltado quando abri rapidamente da primeira vez.

Sou bom em abrir coisas... se e que me entende.

Agora vejamos o que temos aqui...

—...?!

Um pequeno frio tomou conta do meu coração quando vi aquilo, aquela foto.

Era uma foto de um ano e meio atrás, de quando ainda estávamos no fundamental.

Uma foto que tiramos pouco antes do natal, onde estávamos abraçando Lawrence num cabine fotos...

Nós três...

Eu, Lawrence e... Elizabeth...


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