Panthea escrita por Henrique Lima


Capítulo 1
Prólogo




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Não é todo dia que alguém se torna um Sacerdote, na verdade é algo muito raro, ainda mais um Sacerdote da Igreja dos Quatro Cantos. Eu fui criado e educado numa das poucas Escolas Doutrinadoras da Igreja, caso eu não houvesse sido capaz de vencer todas as tentações e desafios que os Sacerdotes me proporcionaram eu certamente teria tido o mesmo destino que os outros garotos, me tornar mão de obra nas minas de Khadus de Panthea.

Mas eu fui capaz, apenas uma entre vinte crianças consegue esse feito glorioso, e eu fui um desses um. Sempre sonhei com aquele dia, o enorme templo onde estava, as tochas que iluminavam o corredor a minha frente, a túnica branca ritualística que eu vestia, era tudo como sempre havia imaginado.

 Finalmente, após ultrapassar o longo corredor com tanta ansiedade que sentia vontade de correr, lá estava, o Salão da Ascensão. Os maiores Altos Sacerdotes que já existiram passaram por ali para fazer exatamente o mesmo que eu. Quatro grandes e largas pilastras cercavam o altar no centro do salão, havia apenas um homem em pé próximo ao altar observando eu me aproximar, não um homem comum, aquele era Arthur Noumayer, o Alto Sacerdote responsável por essa passagem na vida de todo Sacerdote. Eu não via mais ninguém ali, mas havia lido nos livros da Escola que pela tradição outros nove Sacerdotes sempre observavam o ritual, escondidos nas sombras que cercavam o salão.

Frente a frente com o Alto Sacerdote, a única coisa que nos separava era um buraco fechado com um tampão de mármore, eu sabia exatamente quais deviam ser minhas ações no ritual, então não me demorei. Soltei apenas dois botões e logo me livrei da túnica branca e me ajoelhei completamente despido. Em seguida o Alto Sacerdote acionou um mecanismo de engrenagens e abriu o buraco que havia entre nós, imediatamente senti o ar quente saltar lá de dentro. O carvão em brasa começou a crepitar enquanto o homem a minha frente tirava de lá uma vareta metálica que em sua ponta sustentava-se um formato peculiar, era a marca da fé.

O Alto Sacerdote se aproximou de mim por trás e iniciou a reza da ascensão, o idioma no qual ele rezava era muito antigo e conhecido apenas pelos cinco Altos Sacerdotes. Com certeza era uma honra para qualquer um presenciar a pronuncia de tais palavras.

No final ele proclamou em nome dos Quatro deuses a minha ascensão, nesse instante eu senti a peça de metal em brasa encostar-se às minhas costas e junto veio a ardência alucinante que me fez urra de dor. Minha expressão se misturou ao grito grave de Noumayer ainda segurando a peça de metal contra minha pele, após retirá-la o mundo em minha volta parecia girar, mas me mantive de joelhos com todas as forças que ainda me restavam, mesmo sentindo elas se esvaírem com grande rapidez, além do suor que me deixava encharcado.

A única coisa que me deu forças para prosseguir com o ritual foi o mantra que ecoava em minha mente.

 - Minha fé é maior que tudo isso... Minha fé é maior que tudo isso...

Ainda estava perdido em meu mantra quando escutei novamente a voz do Alto Sacerdote, ele pronunciava mais alguma coisa naquele idioma desconhecido e em seguida se voltou para mim.

 - Quando você sair por aquele corredor, não será mais como um homem comum... Você sairá como um Sacerdote da Igreja dos Quatro Cantos.

Minhas costas ainda ardiam quando ouvi aquilo, mas o orgulho no fundo de meu ser era muito maior. E eu sabia que ele estava certo.


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