Caça e o Caçador escrita por zatch


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom dia! Depois de muita demora e enrolação, estou postando outro capitulo! Ai, vocês me perguntam... Vai ser fic clichê que conta o presente no primeiro capitulo e no segundo traz o passado só pra voltar pro presente de novo no terceiro capitulo? Sim, infelizmente vai ser fic clichê que conta o presente no primeiro capitulo e no segundo traz o passado só pra voltar pro presente de novo no terceiro capitulo, porque eu planejei mal! Peço desculpas, e não desistam de mim! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/701931/chapter/2

O ano é 1618 e Hinata ia completar seus dezoito anos em dois meses. A vila em que morava, vila Altansar, era tão pequena, que sua passagem de menino para homem iria ser comemorada na praça central, e sua mãe já fazia os preparativos – o que fora um dos motivos para ela e a irmã de Hinata viajarem para a capital da Suíça. Seria uma viagem longa, pois Altansar ficava quase na fronteira entre Suíça, Alemanha e França, portanto, longe da capital. Era uma vila agradável que recebia diversos viajantes por estar próxima a fronteira, por isso, apesar de pequena, estava sempre alegre e cheia das mais diversas pessoas. A mãe de Hinata era muito habilidosa com números, o que a tornava apta de ser a responsável pelas finanças de Altansar – um dos motivos que a levaram a se dirigir até a capital –, habilidade numérica esta, que o filho não viera a herdar, diferente da irmã, Natsu, que com pouca idade já fazia as mais complexas contas.

A mãe a irmã viajavam até a Capital a fim de entregar um pedido de verbas para construção de um estabelecimento mais adequado para receber os viajantes, e também para comprar um presente especial para o aniversário de Shouyou. Antes de sua mãe partir em sua viagem, Hinata se lembra bem dela o alertando sobre a inquisição instalada já há algum tempo na Europa e que possuía como principal objetivo, na época em questão, a caça às bruxas. De acordo com ela, era pouco provável que eles passassem por Altansar procurando seus alvos, mas todo cuidado era pouco e seu único pedido era que, caso a inquisição chega-se a vila, ele teria que tentar convencê-los que ali não havia nenhuma bruxa.

A inquisição não era completamente injusta como ele ouvia correr os rumores das atrocidades cometidas por eles; pelo menos era o que Hinata pensava antes deles aparecerem em sua vila. O pavor da perseguição na noite anterior se conectava com a chegada de um viajante ferido e sua mulher grávida em Altansar, uma semana anterior à fuga de Yachi e Hinata pela floresta.

###

— Por favor, o meu marido! Por favor, ajude-nos! – Gritava uma mulher grávida que carregava parte do peso do marido em seus ombros.

Era uma manhã agradável e, apesar de o sol mal ter nascido, os habitantes da de Altansar já estavam fazendo, cada um, suas respectivas tarefas. Hinata logo pulou a pequena cerca dos estábulos da estalagem principal da vila e correu em direção à mulher e seu marido, junto com mais cinco ou seis pessoas que também ouviram o pedido de socorro.

Hinata não era uma pessoa que tinha boas relações com sangue, ou machucados em geral. Era como se, toda vez que via alguém ferido, ele conseguia transferir para si a dor que a pessoa sentia, e logo desviava o olhar com uma careta e calafrios bruscos. Desta vez, ele pensava apenas em vomitar tudo que havia comido naquela manhã.

Os braços do contundido homem se encontravam completamente ensanguentados e, em seu lado esquerdo, um corte se abria indo de suas costas até o umbigo, não muito profundo, mas suficiente para fazê-lo perder uma quantidade de sangue que pingava algumas gotas no chão aos mínimos movimentos e lhe encharcava as roupas.

Foram rapidamente levados para o interior da estalagem principal, e coube à Hinata a tarefa de chamar pela senhora Altansar, herdeira dos fundadores da vila e conhecedora da medicina. A senhora Altansar não era muito velha, mas era rabugenta como uma; todas as vezes que seus olhos fundos e de um azul assustadoramente claros pousavam em Hinata, ela fazia questão de lembrar como achara o menino feio e laranja quando realizou seu parto.

— Senhora Altansar! Um homem chegou à vila e ele está muito ferido! Venha rápido! – Hinata alertou antes que ela tivesse a oportunidade de fazer considerações sobre a aparência do rapaz no dia em que ele nascera. Em um sobressalto, a senhora Altansar acompanhou Hinata quase na mesma velocidade, o que surpreenderia o menino se sua mente não estivesse muito ocupada se lembrando das feridas do viajante. Antes que ele pudesse entrar junto a ela na estalagem, a senhora Altansar pediu a Hinata que chamasse as garotas que a ajudavam em casos de muita emergência. Chamou-as e, Yachi, a melhor amiga de Shouyou, estava entre elas. Mal ela adentrou a estalagem, logo saiu pedindo o auxilio de Hinata para buscar água.

— Não sei se ele vai sobreviver, pois está sangrando demais! – Yachi explicava aflita enquanto ajudava Hinata a puxar do poço a corda do balde cheio e pesado.

Correram de volta e adentraram a estalagem derrubando algumas quantias de água aqui e ali. Hinata posicionou o balde próximo a senhora Altansar, mas logo ela o empurrou porta afora, enquanto resmungava algo sobre ele no quarto contaminar as feridas do homem mais do que já deveriam estar. O breve momento de reflexão de Hinata, no qual ele ponderava se deveria se sentir ofendido ou não com o comentário da senhora Altansar, fora interrompido pelo alto pranto da mulher grávida que se encontrava rodeada de pessoas, tais quais determinadas a consolá-la. Entre essas estavam a mãe e a irmã de Hinata, ambas realmente confortando a jovem moça – diferente do restante que só pareciam abafar o pouco ar que a mulher conseguia respirar entre soluços e lamentos.

A mãe de Hinata estava para partir quando ouviu a comoção, mas agora que já estava informada sobre o recente acontecimento, ela e filha, enfim, seguiriam sua viagem para a capital. Dando à Hinata diversas instruções, enquanto ele as acompanhava até a charrete, despediram-se com um abraço e beijo na testa vindo da mãe – para o embaraço de Shouyou –, e um abraço e beijo na bochecha da irmã. O olhar do rapaz só veio a se desviar da charrete em movimento quando não era mais possível ver Natsu abanando alegremente.

Dois dias haviam passado sem nenhuma melhora do homem ferido desde que fora trazido à vila e, no terceiro dia, sua mulher grávida entrava em trabalho de parto. Infelizmente, nem ela e nem a criança sobreviveram. A senhora Altansar dava ao estresse a culpa pela fragilidade da mãe e do feto, além de que, mortes no parto não eram incomuns por diversos fatores que nem mesmo ela conhecia.

No domingo, quarto dia desde a chegada dos viajantes, o homem tivera uma recuperação dita de ser milagrosa, que fora anunciada a tempo de ser tão aclamada pelo padre na missa quanto à morte da mulher e da criança de serem lamentadas.

No sexto dia, Hinata fora acordado demasiadamente cedo por Yachi batendo na porta de sua casa. Ela viera contar que o viajante havia desaparecido depois de ouvir a noticia do falecimento de sua mulher e filho, e Shouyou estava sendo solicitado para ajudar a procurar, pois ele conhecia os arredores melhor do que os homens que na vila vivam há mais de cinquenta anos. Não o encontraram e no sétimo dia, a inquisição apareceu.

Shouyou não os viu, pois trocava de roupa depois de um banho merecido por passar a manhã e a tarde ensolaradas ajudando nas plantações, mas quando ouviu os gritos vestiu os sapatos ao mesmo tempo em que corria para fora de casa. A cena que presenciou quando abriu a porta ficaria para sempre marcada em sua mente como uma mistura de pânico e pura ira. Um soldado arrastava Yachi pelos cabelos enquanto ela chorava, gritava, se debatia e implorava para que ele a soltasse. Shouyou iria pra sempre se condenar pelos segundos de hesitação antes que seu corpo finalmente viesse a se chocar contra o do homem e forçá-lo a soltar a amiga. Alguns socos aleatórios de Shouyou e, para a surpresa dele, alguns chutes de Yachi, foram o suficiente para desacordar o soldado dando-lhes tempo o suficiente para eles fugirem. Ambos correram para a floresta quando se viram livres e subiram na mais alta árvore que conseguiram encontrar como sempre faziam nas brincadeiras de pegar e esconder, só que dessa vez, as mãos de Hinata tremiam enquanto ele ajudava a amiga em prantos a escalar os grossos galhos.

Demorou um tempo para que Shouyou acalmasse Yachi o suficiente para que ela contasse o ocorrido sem engasgar em soluços toda vez que começava. De acordo com ela, o soldado arrombara a porta de sua casa forçando-a a sair, enquanto puxava-a pelos cabelos e a chamava de bruxa e feiticeira. O sussurro o qual ela confessava que nunca havia se sentido tão assustada em toda a vida, trouxe para Shouyou a ira novamente. Não demorou a assimilar que aquele soldado era da inquisição, e que Yachi era, por algum motivo, acusada de ser uma feiticeira.

Assim como um grito que corta o silêncio, o silêncio causado pelo cessar dos gritos fora tão alto quanto. Hinata decidiu que iria investigar a situação da quieta vila e garantiu a Yachi que ele voltaria por ela e que ninguém a encontraria ali, tão alta nos galhos da árvore. Shouyou se escondeu entre caixas, próximo a praça principal da vila onde todos estavam reunidos, e percorreu o olhar pelas faces de todos aqueles que conviviam diariamente com ele. Desespero, medo, raiva, agonia, confusão, aceitação, desistência; nunca vira tantas emoções distintas reunidas em um só lugar. Os rostos que antes compartilhavam da mesma expressão de felicidade pelo sucesso da plantação, pêsames pela morte de um morador da vila, e raiva pela negligência da capital para com eles, agora haviam tomado um quê de individualidade, onde cada um sentia por si mesmo e ninguém ali se conhecia, a não ser aqueles que viam seus reflexos nos semblantes um do outro.

— Pouco me importa se elas devem queimar os domingos, segundas, terças ou o dia que for. O padre não está aqui, e você não me dá ordens. – Disse um soldado a um sacerdote amedrontado.

— Você já queimou a vila anterior sem ser no domingo, portanto, eu insisto que você aguarde até o sétimo dia para queimá-las! Caso contrário, se não fizermos no dia de Deus, nós não conseguiremos nos libertar do mal causado pelas feiticeiras e elas irão consumir... – Gaguejou o sacerdote até que o soldado se afastou deixando-o a falar sozinho.

— Vocês, feiticeiras vagabundas, então sendo condenadas por praticar bruxaria! – Anunciou o soldado às mulheres amarradas e ajoelhadas próximas ao centro da praça. Um pouco atrás delas, outros soldados subiam fogueiras enormes, as maiores que Shouyou já tinha visto.

— Isso é evidente. E o motivo das acusações é? – Com um tom de voz tão firme quanto Hinata imaginaria ouvir alguém usar em uma situação como essa, a senhora Altansar questionava o soldado mantendo uma expressão de indiferença inacreditável.

— Bruxa maldita! Vai ser a primeira a queimar por se dirigir a mim com tão pouco respeito! – O soldado cuspiu as palavras, mas sua raiva foi logo substituída por divertimento ao pensar na mulher queimando e, com um sorriso, pediu para que o sacerdote respondesse a pergunta feita.

— Vocês brincaram com a vida. Tiraram de uns para dar para outro – Explicou o sacerdote. – Em um ritual, mataram a mãe e um filho para salvar um homem e, assim, zombaram da vontade de Deus de dar e recolher a vida.

— Havia anos que não escutava tanta asneira. – Respondeu a senhora Altansar – Porque diabos iríamos trocar a vida de uma mãe e sua criança para salvar um homem? Se é que isso é possível.

— Não se faça de desentendida bruxa! Queriam manter o homem vivo para com ele satisfazer suas vontades carnais! Vagabunda! – Gritou o soldado e chutou a senhora Altansar no rosto. Hinata teria saltado de seu esconderijo e corrido em direção ao soldado com a vontade de dar-lhe mil chutes, se sua coragem não fosse interrompida pelo anúncio de que as fogueiras estavam prontas.

Shouyou chorava silenciosamente em seu esconderijo. Chorou ao ouvir os gritos das mulheres a serem arrastadas até as fogueiras ainda apagadas e chorou ao ouvir as crianças gritarem por suas mães ao vê-las soluçarem e implorarem. O choro de angustia se transformou em choro de raiva. Por que os maridos não iam salvar suas esposas? Por que os pais não iam salvar suas filhas? Pensou que não passavam de medrosos nojentos! Mas, por que ele também não se mexia? Por que não corria até a fogueira e libertava a senhora Altansar? Por que não tentava libertar a moça que cortava seus cabelos todos os anos, pois sua mãe não conseguia deixar do jeito que Shouyou gostava? Por que não tentava libertar a mulher que lhe dera seu primeiro gole de cerveja escondido? Por que não tentava libertar a menina que fora a princesa que ele salvava em tantas vezes nas passadas brincadeiras de heróis e donzelas? Porque ele, assim como todos os homens na vila, não passava de um medroso nojento. Sua ira, para com a inquisição e com ele mesmo, aos poucos se transformava em coragem, mas tudo se esvaiu quando o viajante, que há alguns dias tinha sido acolhido pela vila, apareceu no centro da praça e começou a gritar em desespero:

— Está faltando uma! Uma garota loira! Ela também deve ter ajudado a matar minha esposa e filhos! Onde ela está?! Onde está?!

Hinata não terminara de ouvi-lo antes que começasse a sair ligeiramente do esconderijo, e correr pela vila em direção à floresta. Ele tinha que alertar Yachi, pedir para ela correr, ir embora, se esconder bem longe de lá.

Quando passou correndo por entre as casas, Shouyou nem se quer notara olhos azuis observando-o correr. Kageyama Tobio havia encontrado um soldado desmaiado e o levou para dentro de uma das casas a fim de acordá-lo com um balde de água no rosto, quando viu pela janela um menino de cabelos ruivos passar correndo. Assimilou que o soldado desacordado era um feito do garoto, mas não sentiu vontade de gritar que um menino estava escapando, não sentia vontade de acordar o soldado, e menos vontade ainda de correr atrás do rapaz, portanto, contentou-se em sair da casa e observá-lo se afastar para a floresta, determinando que o ruivo corria rápido demais para alguém de sua estatura.

Na floresta, quando Yachi pousou os pés no chão após Shouyou anunciar que eles iriam fugir, passos apressados vindo em sua direção foram escutados, e a noite mais apavorante para Hinata e Yachi começara com a frase do soldado:

— Acendam as fogueiras! Kageyama, e vocês aí, venham comigo, vamos caçar essa bruxa!

E foi com o sol se pondo, que a terrível noite de Hinata e Yachi, fugindo como animais, tinha tido seu início.

###

Enquanto andava em direção a vila que havia mandado Yachi fugir, Shouyou batia com força em sua cabeça com o intuito de afastar todas aquelas memórias e todos aqueles sentimentos que voltavam tão forte quanto quando os sentira de primeira. Não funcionou, e agora, além do ombro e das pernas doendo, a pior das dores parecia ser a da cabeça. Não sabia se era causada por estresse, ou fome, ou os dois, mas ela pareceu aliviar quando avistou a primeira casinha da vila.

Apertou o passo o máximo que pode e chegou ao coração da vila vizinha, onde ficava a praça principal. Caiu de joelhos ao ver a cena a sua frente. Três fogueiras haviam sido levantadas e em uma delas, uma perna queimada, murcha, parcial em carne e parcial em osso, continuava apoiada ao grosso tronco do meio. Vomitou nada, e seu estômago, esôfago e garganta ardiam. Vomitou mais um pouco quando pensou que em sua vila, a situação não devia divergir muito. Pensou na senhora Altansar e nas mulheres. E quando não sobrava mais nada para ele regurgitar – que não fosse o ar e pouca saliva –, Shouyou desmaiou, caindo em cima do próprio vomito, enquanto ecoava pela praça o baque surdo de seu corpo ao se chocar com o chão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu peço desculpas por qualquer erro na fic e por repetir demasiado as palavras "vila" e "Altansar", eu ainda estou aprendendo! Peço desculpas também por ficar reafirmando que ainda estou aprendendo a escrever fic hahaha!
Bom, a vila é criação minha, não existe no mapa, mas o nome 'Altansar' eu encontrei em vários forums da internet que recomendavam como nome de vila, então eu não sei por exato a fonte primária de criação do nome, desculpem!
No próximo capítulo, vocês podem ficar ansiosos pela aparição de outros dois personagens da Karasuno que a gente tanto ama!
Beijos, obrigada por lerem e uma ótima semana pra vocês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caça e o Caçador" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.