Caça e o Caçador escrita por zatch


Capítulo 1
Capítulo 1




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Com os olhos já quase adaptados a pouca luz que adentrava a floresta, Hinata e Yachi corriam entre as árvores e pulavam raízes com um desespero nunca presente em seus jogos pueris de pegar e de se esconder. Já haviam há muito se distanciado da parcela da floresta que conheciam por passar diversas tardes brincando em seu interior, desde que aprenderam a andar e correr. A mudança do cenário de seus dias de infância para com aquela noite era assustadora, pois, não era mais o sol que iluminava o caminho, mas sim o longínquo brilho das enormes fogueiras que foram acesas no centro da pequena vila em que moravam; e não era mais o cantar dos pássaros e nem os risos das crianças que chegavam a seus ouvidos, mas sim o grito de dor e agonia das mulheres que nas fogueiras estavam a queimar.

O caminho desconhecido forçou ambos soltarem as mãos entrelaçadas um do outro e que antes se esmagavam no temor de vir a se separarem. Entretanto, as curtas pernas de Yachi, infortúnio – naquele momento – de sua pequena altura, não a deixavam ser mais veloz do que quando se seguravam pelas mãos e, apesar de Hinata compartilhar da mesma característica física, ele continuava rápido, mas no momento se continha de avançar sem a amiga. Felizmente, ela não mais precisava se preocupar com o longo vestido que antes restringiam seus movimentos, pois no começo da correria, Hinata o havia cortado com uma pequena adaga, alguns centímetros acima do joelho da menina. Mas infelizmente, outras diversas circunstâncias não favoreciam a formação de uma distancia satisfatória entre eles e aqueles que os compeliram a correr.

— Não os deixe escapar! Capturem os dois! Caso o menino venha a resistir, matem-no! – Ouviram um de seus perseguidores gritar e isso o fazia soar mais próximo do que realmente estava, forçando para fora um soluço que se prendia na garganta de Yachi. Os passos se distanciaram o suficiente, pois com a declaração do perseguidor, os dois encontraram forças para correr ainda mais rápido. Hinata, então, diminui o passo e começou a retirar a força, porém não de forma bruta, o grande casaco que cobria Yachi e colocou em si andando rápido e olhando para trás ao mesmo tempo em que começara a falar:

— Yachi, escute! Corra naquela direção que você vai encontrar a estrada que leva para a vila vizinha. , pois é o lugar mais seguro. Vou vestir seu casaco e eles pensaram que sou você, e então, irei correr na direção oposta. Vou dar a volta e encontro com você na vila!

Ele dizia e começava a empurrar a menina na direção que apontava, nunca sem parar de andar. Os poucos segundos de protesto da menina foram interrompidos pelos passos e vozes ainda mais próximos e, em um empurrão de Hinata – dessa vez em um movimento um pouco bruto, pois ela se agarrava no braço do amigo –, Yachi corria aos tropeços para direção antes apontada pelo rapaz. Das três vezes que olhou para trás, Hinata continuava no mesmo lugar e parecia pronto para correr a qualquer instante. Na quarta vez que olhou para o amigo ele já não estava mais lá, e as luzes das tochas, que antes eram a comprovação visual que estavam sendo perseguidos, se distanciavam na direção oposta da qual ela corria.

Hinata havia tropeçado três vezes desde que começara a correr novamente, oposto a Yachi; o barulho de passos e vozes, e as luzes das tochas o acompanhavam de longe, o que garantia a ele que a amiga tinha seguido seu caminho sem ninguém a persegui-la. Sem Yachi, ele agora corria mais veloz e saltava as raízes com mais eficiência, com olhos já acostumados com a pouca luz. Porém, nada o impedia de errar a perspectiva do salto ou pisar em falso e, em seu quarto tropeço, Hinata veio a dar uma cambalhota desajeitada e cair em uma péssima posição. Uma dor explodiu em seu ombro direito e ele se sentiu zonzo. Não se lembrando quanto tempo ficou no chão, veio a redobrar a consciência somente quando se cegou com a luz de uma tocha próxima e sentiu segurarem com força em seu braço.

— Me solte! – Hinata demandou por instinto e tentou se desvencilhar do aperto.

— Escute! Dê-me seu casaco e corra daqui, seu idiota! – Sussurrou uma voz estranha, enquanto aquele a quem tal voz pertencia, começara a tirar o casaco do garoto. Entretanto, Hinata não pareceu escutar com muita clareza e começou a se debater com mais força.

— Eu disse me solte! – E com um chute certeiro no rosto do estranho, Hinata se levantou e começou a correr novamente sem olhar para trás, deixando o casaco para trás, já que não conseguia recolocá-lo por causa do ombro dolorido.

— Idiota! – O estranho xingou várias vezes, intercalando os insultos com gemidos de dor.

Pareciam ficar cada vez mais distantes, como se seus perseguidores estivessem desistido, mas Hinata só parou de correr quando não via mais nenhuma luz de tocha, não ouvia nenhum passo ou voz e o sol começava a nascer. Quando parou de correr, andou e, quando parou de andar, caiu de joelhos. Logo se deitou e começou a tossir demasiado, sentindo a secura da boca e da garganta, mas só quando a tosse passou pode realmente sentir cada dor de seu corpo; as pernas ardiam, especialmente as canelas e coxas, a barriga doía, a cabeça parecia ora pesar, ora ficar leve, e o ombro doía tanto quanto quando tropeçou. Ignorando as dores o máximo que pode, subiu com dificuldade na árvore mais próxima preparado para descansar longe dos olhares de quem quer que passasse por lá.

Somente quando Hinata descansou as costas no tronco da árvore, sua mente pode racionar antes de se desligar. Seu primeiro pensamento foi Yachi e ele sentia que ela estava bem, pois era uma menina esperta, apesar de pequena e amedrontada. Seu segundo pensamento foi na mãe a na irmã que não se encontravam na vila no momento que a inquisição invadiu, portanto, deviam estar a salvo. Seu último pensamento foi o estranho, que ainda não concluiu se o tentava capturar ou ajudar. Não se recorda exatamente bem dos acontecimentos, mas lembra com clareza da voz firme, cabelos pretos e olhos azuis, que conseguiu captar mesmo com a pouca luz e antes de ter chutado o rapaz. Dormiu esfregando o braço onde se formavam as marcas do aperto dos dedos do estranho que de certa forma – e se decidiu naquele momento – o tinha salvado.


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Notas finais do capítulo

Espero que eu tenha deixado vocês curiosos! Boa semana pra vocês!



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