Com sua mente atormentada após o último acontecimento, a Rainha voltou para o castelo quase que em prantos. Hinata notou a euforia de sua soberana e a seguiu a passos lentos que contrastavam  com os de Sakura. 

Foi até a câmara da Rainha, entrando em seus aposentos. A rosada estava tão nervosa, respirava tão descompassadamente, que nem notou quando sua dama entrou em seu quarto. 

Era nítido o desespero de Sakura, como se ela tivesse visto um fantasma ou algo do tipo. Hinata sentia que precisava encontrar as palavras certas para contar sobre o repentino aparecimento do homem que havia sido dado como morto; Todavia, levando em consideração o estado da Rainha, Hinata pressentia que ela já poderia estar ciente de tudo. 

– Majestade? - Chamou a mulher que estava de costas para si, parada em frente à grande janela do quarto. 

O capelo estava jogado no chão enquanto que os cabelos rosados estavam soltos. Com raiva após os cabelos terem bagunçado por causa do ritmo de seus passos, Sakura simplesmente arrancou o capelo de sua cabeça e desfez o coque assim que entrou em seu quarto. 

– Hinata? - Virou-se para a morena atrás de si - Nem a vi entrando. 

– Percebo que a Rainha está atordoada, o que houve? - A preocupação era nítida no olhar da Hyuuga. 

Embora Sakura não tivesse em sua vida alguém que pudesse ser como Sasuke foi há seis anos, Hinata era o mais próximo de uma grande amiga e confidente que Sakura poderia ter. 

– O Sasuke está vivo... - Foi direto ao ponto, notando que sua dama não parecia surpresa - Já sabia? 

– Eu o vi, pouco depois que a Rainha saiu para visitar a Princesa. - Explicou - Eu estava procurando palavras para explicar-lhe este fato, mas vejo que já sabe. 

– Como isso é possível? - Suspirou pesadamente, deixando lágrimas caírem - Como ele pode voltar depois de seis anos como se nada tivesse acontecido? 

Não conseguia compreender como Sasuke encarava sua "morte" de forma tão natural, perguntando à Rainha se ela ainda o amava como se não tivesse passado seis anos dado como morto. 

Orochimaru estava certo... Sakura simplesmente não conseguia engolir a forma como Itachi foi capaz de trair sua confiança, logo ela que já chegou a nomeá-lo Regente de Konoha. 

– Ele disse onde estava? - Hinata perguntou. 

– Não. - Sakura sentou em sua cama e tirou seus sapatos, então levou a mão até a testa e soltou um suspiro alto - Não lhe dei espaço para isso... Sei que deveria tê-lo deixado se explicar, mas não consegui. Até mesmo por causa de Sarada. 

– Ele a viu? - Hinata perguntou penalizada e a Rainha assentiu - Sinto muito, Majestade.

Embora Sakura nunca tivesse proferido palavras que afirmassem que Sasuke era o pai de Sarada, era algo que estava óbvio. É claro que para algumas pessoas ela negava, mas para outras não havia problemas em dizer, mesmo que de maneira indireta, quem era o pai da Princesa.

– Se Sasuke não mudou, ele vai querer se aproximar de Sarada... - Falou com pesar - Não posso permitir que isso aconteça. 

– Majestade, perdoe-me, mas... - Ponderou por uns segundos, mas resolveu expor sua opinião - Não acha que tal atitude é um pouco desumana?

– Desumano? - A rosada semicerrou os olhos - Desumano foi o que ele fez comigo! Desumano foi ele ter sumido e me abandonado por seis anos. Então do nada ele volta, aparece como se nada tivesse acontecido e ainda tem a audácia de perguntar se eu ainda o amo! - Bradou - Isso é desumano, Hinata! 

– Mas a Rainha sequer perguntou o porquê disso... - Hinata insistiu - Sinto muito, Majestade, mas acho que deveria deixar o Sasuke se explicar. 

– É tarde demais... Não posso me aproximar dele... - A mulher falou num fio de voz - Eu ainda o amo, Hinata... Me aproximar do Sasuke fará com que meu coração pegue fogo mais uma vez. Por mais que eu esteja com raiva, a verdade é que o que mais me enfurece nesse momento é saber que ele está vivo e não poderá haver nada entre nós. 

– Então creio que a Rainha deveria ordenar que Sasuke se afaste da Corte.

– Eu não seria tão cruel. - Admitiu - Mikoto morreu, Sasuke só tem ao irmão e a cunhada. Seria crueldade afastá-lo daqui. No entanto, se não houver outra saída, a solução será expulsá-lo. 

– Acha que ele tentará se aproximar da senhora? 

– Depois do nosso fatídico reencontro, acho que não. - Respondeu - Mas tenho certeza de que ele vai querer uma aproximação com Sarada, e isso é o que mais temo. Não desejo mal algum para Sasuke, não quero que ele tente se aproximar forçadamente da Princesa, uma vez que isso  chegaria aos ouvidos do Rei e consequentemente medidas extremas poderiam ser tomadas. 

– Não se a Rainha permitir de bom grado que Sasuke se aproxime da Princesa. - Sugeriu a Hyuuga, fazendo com que sua soberana lhe olhasse enfurecida.

– Minha sanidade continua em perfeito estado, Hinata! - A mulher aumentou seu tom de voz - Não quero deixar minha filha confusa, assim como não quero me aproximar indiretamente de Sasuke! 

– A senhora teme que os sentimentos adormecidos em vosso coração sejam despertados subitamente... - Disse com pesar.

Hinata acompanhou o sofrimento da Rainha por causa do sumiço de Sasuke, e também por causa da gravidez descoberta de maneira repentina. Posteriormente veio o casamento realizado contra a sua vontade, consequência de sua ânsia por luxo, mas pelo bem do país que passava por uma imensa crise. 

Sakura, mesmo que desmoronasse em algum momento, encarava de cabeça erguida todos os comentários maldosos referentes à sua pessoa. Os principais eram a paternidade de sua filha - chamada de bastarda por muitos, mesmo Sakura a tendo legitimado - e o casamento não consumado com Sasori. 

Por que o Rei nunca fazia questão de visitar os aposentos de sua esposa quando ele estava em Konoha ou quando ela estava em Suna? Ninguém nunca saberia responder. 

– Acho que eles nunca estiveram adormecidos, Hinata. - Admitiu a monarca - Talvez estivessem um pouco anestesiados, não sei... Mas, adormecidos? Não... - Riu sem humor - Estavam apenas inativos. 

Pensava nas consequências de uma aproximação com Sasuke. Se ele perguntou sobre os sentimentos dela, com certeza ainda a amava, mas Sakura sabia o quão difícil seria ficar perto dele, negando os sentimentos em seu coração. 

Um acordo estava selado entre Suna e Konoha; Sasori e Sakura eram Rei e Rainha... Marido e mulher. Mesmo que Sarada fosse uma filha bastarda de Sakura, era a herdeira do trono pelo fato da Haruno não ter gerado filhos de Sasori. 

Por três anos as coisas permaneceram estáveis, o país não estava mais em crise e o poder nas mãos de Sakura aumentou consideravelmente após a aliança entre os países. Tudo estava bem até Sasuke reaparecer do nada para mexer mais uma vez com o coração da Rainha. 

No entanto, Sakura já não era mais aquela menina inconsequente que procurava por refúgio; Ela já era uma mulher adulta, uma Rainha que não podia se dar ao luxo de um romance impensado que poderia gerar consequências desastrosas. 

Queria se aproximar de Sasuke? Sim, era o que seu coração pedia. Mas sabia que não podia fazer isso, pelo bem de seu casamento, pelo bem de Konoha, pelo bem de Sarada e até mesmo do próprio Sasuke. O melhor a fazer era ficar distante da pessoa que mais amava no mundo depois de sua filha. 

– É uma situação complicada, Majestade. - A voz suave de Hinata tirou a Haruno de seus pensamentos.

– Hinata, chame o Itachi. - Ordenou antes de calçar novamente seus sapatos e ficar de pé - Diga para ele ir até meu escritório, estarei esperando. Preciso ter uma conversa muito séria com o meu conselheiro. 

Após o reencontro com o grande amor de sua vida, após descobrir que sua intuição esteve sempre certa, Sakura sentia vontade de chorar... De alegria por saber que Sasuke estava vivo, mas também de tristeza por saber que aquele tempo jamais haveria de voltar.

De qualquer forma, como uma Rainha, deveria mais do que tudo se manter firme como uma rocha e questionar Itachi sobre Sasuke. Naquele momento, era a única coisa que ela sentia que poderia fazer.