Everest escrita por Odd Ellie, Florrie


Capítulo 4
4 - Não se esqueça disso


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo. Yasss. Espero que gostem :)



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THIS IS IT
@thisisit - 20 min

Plantão da madrugada: Acabaram de aparecer fotos de Nate Kowalski e Matt Graves trocando socos por motivo desconhecido. #Everestisback?



THIS IS IT
@thisisit - 18 min

Comentários sugerem que os dois começaram a discutir acaloradamente sem se importar com quem estava passando. #unclassy



WONDERLAND
@wonderland - 18 min

Briga entre Matt Graves e Nate Kowalski? O que será que aconteceu? #Everestisback, será mesmo?



Mrs. Brandon Serrano
@gigiho - 18 min

Eu acho que devíamos deixar os rapazes em paz, eles também são humanos. Parem de ficar cobrando perfeição.



Isabella Barnes
@bellabarnes - 16 min

Alguém tem algum palpite sobre o que aconteceu entre Matt e Nate? #Everestisback #WTH



Louisa Summer
@lousummer22 - 16 min

GENTE!!!! MINHA PRIMA TAVA LÁ, ELA VIU TUDO!!! Disse que eles estavam gritando e que ouviu o nome da Gigi várias vezes.  #WTH #Everestisback



Mrs. Brandon Serrano
@gigiho - 15 min

Será que foi algo sobre a Gigi Bloom? Aposto que ela tem algo haver com isso. #GigiSucks #Everestisback

            Isabella Barnes @bellabarnes

        Alguém tem algum palpite sobre o que aconteceu entre Matt e Nate?                 #Everestisback #WTH



Gigi Bloom 4ever
@gigi4ever - 14 min

Dá para deixar a Gigi em paz? Os seus ídolos fazem merda e você já vem acusar alguém que nem está no país.

            Mrs. Brandon Serrano @gigiho

        Será que foi algo sobre a Gigi Bloom? Aposto que ela tem algo haver com isso. #GigiSucks #Everestisback



Everest World
@everestw - 12 min

Espero que esteja tudo bem. ♥



WE LOVE EVEREST
@inloveeverest - 12 min

Essa foto me matou do coração. Jeremy, Brandon e Kyle juntos e se divertindo. Os três sorrisos mais lindos do mundo.



Camila Stryder
@camilastryder 10 min

Todo mundo falando sobre a infame briga, mas não vamos esquecer que Kyle, Jaremy e Brandon estavam na maior curtição.



Camila Stryder
@camilastryder9 min

E essa foto maravilhosa do Jeremy carregado pelos amigos? Quem duvidava que ele fosse ser o primeiro a cair bêbado? Alguém surpreso? Eu não.



Camila Stryder
@camilastryder – 7 min

Brigas, pessoas caindo bêbadas, possíveis intrigas... A volta do Everest está cada vez melhor.

 




**




Quando a campainha do apartamento de Matt tocou ás cinco da manhã ele já estava meio desperto há uma meia hora, mas deixou quem quer que fosse a pessoa do outro lado da porta tocando por uns bons minutos. Tentou ignorar o som e se focou na visão e na sensação de seu namorado dormindo contra ele. Jared era mais alto e três anos mais velho, mas ninguém suspeitaria isso ao vê-lo dormir, ele sempre acabava se aconchegando no tórax de Matt e se encolhendo todo ao redor dele. Houve noites em que acordou se sentindo meio preso e sufocado por Jared ter se enroscado muito nele enquanto dormia. Mas não naquela noite, era apenas bom, embora soubesse que essa impressão provavelmente era causada porque sabia que na próxima noite ele já estaria em LA e quando acordasse de manhã se encontraria em algum hotel sozinho.

            Ele supunha que tinha que agradecer a Nate por Jared estar ali agora, porque assim que o seu namorado o viu saindo do elevador com um hematoma se formando na bochecha, toda a discussão que eles passaram o dia inteiro tendo foi esquecida. Jared, que estava lavando a louça na cozinha (devia ter vindo jantar com Karen quando viu que ele não estava), largou o que fazia e foi até ele preocupado (o que resultou nos dois se reconciliando da melhor maneira possível). Ele tentou memorizar o jeito que a luz do amanhecer vindo por entre as frestas das persianas batia na pele morena de Jared e como sua barba por fazer sentia contra sua pele.

            Alguém bateu delicadamente na porta.

            – Sim? – Matt disse.

            – Matt, um dos assistentes de Chris está aqui, ele disse que veio te buscar pra uma reunião. – Karen respondeu do outro lado da porta.

            – Certo, diga que eu vou me vestir e já vou.

            – Ok.

            Esforçando-se a não acordar Jared, ele vestiu uma roupa qualquer e saiu. Encontrou sua irmã na sala, enrolada em um roupão felpudo com cachorrinhos bordados, conversando com um rapaz asiático que ele reconheceu como sendo Liam Reed. O rapaz sorriu simpático ao vê-lo.

            – Já chamei um taxi. – comunicou.

            – Posso saber por que fui acordado ás cinco da manhã de pleno domingo? Chris não tem mais o que fazer? – Matt reclamou e recebeu um olhar de censura de Karen.

            – Ele não falou muita coisa, mas foi bastante enfático sobre fazer a reunião o mais rápido possível. – Liam abriu a porta do apartamento com um sorriso constrangido. – Vamos?



O trajeto a caminho do hotel onde a equipe de Chris se reuniu durou cinco minutos, quando Matt entrou no quarto que pertencia a Diana viu que Nate e Jeremy já estavam lá, sentados em frente ao laptop.

          – Certo, acho que podemos começar. – Diana disse e antes mesmo que pudesse se acomodar começou a ligação de seu skype para o de Christopher que atendeu quase imediatamente e logo apareceu na tela diante deles.

            – Então, eu tive uma madrugada interessante, vocês gostariam de ouvir um pouco a respeito? – Chris disse com um tom de falsa animação.

            – Olha Chris, as coisas acabaram um tanto... – Nate começou a falar, mas logo foi interrompido.

            – Eu sou acordado a uma da manhã com pessoas da agência me perguntando se a briga vai atrasar o anúncio da volta da banda. E eu penso duas coisas: primeiro, o quê Brandon dez dessa vez? E segundo que pelo menos ele é problema da Olivia agora e não meu. Mas aí eu sou informado que o cara que tem problemas mentais sérios agiu como um perfeito cavalheiro a noite toda e foram dois dos meus caras que começaram a trocar socos no meio da rua como se tivessem quinze anos.

            Do outro lado da tela, notou que estava tudo escuro ainda, com apenas uma luminária iluminando o rosto do homem. Pelo fuso horário, devia ser duas horas em LA, o que explicava o fato de Chris ainda está de pijama e com a aparência tão desleixada.

            – Eu sinto muito. – Matt disse quase que automaticamente.

            – Eu não quero que você sinta muito, eu quero que você seja melhor que isso. Todos vocês.— ralhou Chris, agora sem esconder o semblante irritado.

            – Então porque eu fui tirado da minha cama nessa hora indecente se os que fizeram merda foram Nate e Matt? – Jeremy perguntou bocejando e coçando os olhos ainda pesados de sono.

            – Bem Jeremy, dos meus clientes você é atualmente o meu favorito, mas houve alguns comentários no twitter com relação à quantidade de álcool que você consumiu na noite passada.

            – O quê?

            – Aqui diz que Kyle tomou cinco drinks a noite toda, Brandon apenas uma coca-cola e você um total de dezessete. – falou o agente. – Aparentemente, algumas pessoas presentes relataram que você estava agindo um tanto alterado e tem até uma foto de Brandon e Kyle ajudando você a andar até o carro. Sorte sua que você foi ofuscado pelos seus dois companheiros aí.

            – Será que Tessa viu isso?– lastimou e depois se defendeu. – Eles continuavam trazendo para mim.

            – Sim, porque você continuava bebendo como se fosse água. Não faz sentido trocar um vício pelo outro. Eu e Diana já tínhamos discutido isso um pouco e nós gostaríamos que você começasse a ir a reuniões.

            – Tipo AA?

            – Sim.

            A careta de Jeremy deixava bem claro o que ele achou da idéia.

            – Eu não sou um alcoólatra. – respondeu irritado. – Além do mais, eu estive nesses lugares e você não me quer lá, acredite, eu posso acabar falando sem querer um monte de coisas que eu sei que você não quer que descubram.

            – Daremos um jeito nisso, Diana conhece um lugar com pessoas em que ela confia. Você vai freqüentar os grupos, pensar nas suas atitudes e ainda vai agradar Tessa, porque eu sei que ela vai gostar de ouvir que você está se esforçando para ser melhor.

            O último argumento pareceu atingir Jeremy em cheio, pois ele resmungou algo inaudível e então concordou.

            – Ótimo, um problema resolvido, o que me leva a outra questão. Nathan e Matthew.

            Nate revirou os olhos enquanto Matt suspirou longa e profundamente.

            – Por que vocês brigaram? – perguntou Chris. – Diana tem lido algumas coisas perturbadoras sobre pessoas que presenciaram o show de vocês e decidiram comentar nas redes sociais.

            Nate revirou os olhos e falou:

            – Diana não tem vida própria? Ou ela realmente gosta de ficar vinte e quatro horas procurando nossos nomes na internet?

            De pé, Diana olhou para Nate com os olhos gelados. Jogou os longos cabelos lisos e loiros para trás e deu uma risadinha irônica.

            – Diana não teria que ficar trabalhando vinte quatro horas por dia se seus clientes não fossem tão problemáticos. – a loira respondeu ácida.

            Matt olhou feio para Nate e então voltou a olhar para a tela do notebook.

            – Certo, Chris, eu prometo que não vai mais acontecer. Foi apenas um desentendimento bobo.

            – Um desentendimento bobo... Eu e meio noivo discutindo sobre que restaurante nós vamos, chinês ou italiano, é desentendimento bobo; vocês dois gritando em público e citando o nome de Gigi Bloom não é um desentendimento bobo. Eu não sei se vocês realmente falaram sobre isso ou se foi apenas invenção das pessoas, seja o que for, eu não quero vocês reacendendo brigas antigas, entenderam? O passado fica no passado e pronto.

            – Não fui eu que comecei tudo.

            – Não foi?— Nate se levantou irado olhando diretamente para Matt. – O senhor príncipe encantado acha que é tão melhor do que eu, não acha?

            – Pelo amor de deus! Vocês dois, façam logo as pazes porque eu tenho mais o que fazer do que ser terapeuta de casal. – Chris ralhou. – Jeremy, por favor, coloque algum tipo de juízo na cabeça do seu amigo, porque agora você pode ser considerado o mais racional desse grupo. Estão ouvindo isso? Jeremy Knight é o mais racional de vocês, conseguem perceber no ponto crítico em que estamos?

            Christopher deu uma pausa, respirando fundo para se acalmar, e então retomou a falar:

            – Nathan, eu quero que comece a contar até dez toda vez que pensar em deixar suas emoções falarem por você. Pare de agir como um adolescente rebelde e comece a agir como o homem crescido que é. – Nate praguejou e Chris continuou. – Quanto a você Matt, eu espero que coloque na cabeça o quão importante é o que estamos fazendo. Todo mundo tem que dá duro, inclusive você.

            – Mas eu estou dando duro!

            – Não é o que parece. – respondeu o homem do outro lado da tela. – Agora, eu vou voltar para a minha cama e espero todos vocês aqui em LA de noite e, pelo amor de deus, sem mais brigas ou problemas.

            E então Chris finalizou a chamada.

 



Diana saiu do quarto primeiro, alegou que encontraria algo para comer no restaurante do hotel. Dez minutos depois o celular de Jeremy tocou e ele saiu apressado sem dizer nada. Ficou apenas Matt e Nate, cada um de um lado do quarto sem dizer nada. Permaneceram dessa maneira até alguém bater na porta. Nate quem se levantou.

— Matt, seu namorado está aqui. – ele disse após abrir a porta do quarto.

            – O que? Jared, o que você veio fazer aq... – Matt disse indo em direção a porta e parou quando ele viu que não era realmente o namorado que estava no outro lado.

Nate deu um risinho amargo e foi andando em direção dos elevadores.

            – Oi – Brandon falou.

            – O que você quer? – perguntou Matt.

            – Ver como você está; eu passei na casa dos seus pais, mas aparentemente vocês se mudaram e eu não consegui descobrir qual o seu endereço novo.

            – Você viu que estou bem, agora vá embora.

            – Você não parece bem. – Brandon disse e estendeu sua mão até o rosto de Matt, mas antes que seus dedos chegassem a tocar a pele machucada, Matt bateu na sua mão e se afastou.

            – Vá embora.

            – Qual o seu problema? Você bateu sua cabeça também? Está agindo como se fosse eu que tivesse te socado ao invés daquele babaca.

            – É como se você tivesse feito, por sua causa todo mundo continua me tratando como se eu ainda fosse o maior idiota do mundo. E você aparecendo aqui desse jeito só vai fazer o Nate acreditar que ele estava certo dizendo todas aquelas merdas. E você sabe que o Jeremy vai ficar do lado dele, e não vai ser nenhum pouco difícil colocar o Kyle nisso. No fim todo mundo acaba me odiando. De novo. Por sua causa. E a droga da banda nem voltou oficialmente ainda.

            Brandon apertou os punhos e seus olhos faiscaram de raiva. Matt se preparou para a onda de xingamentos que viria em seguida, mas se surpreendeu ao vê-lo respirar fundo e se acalmar. Matt se forçou a não analisar o que isso poderia significar, disse um tchau quase inaudível e saiu andando para os elevadores. Por um segundo se perguntou se conseguiria ir em frente com tudo isso, mas então jogou as preocupações de lado. Ele faria o que tinha que fazer; como sempre fez em toda sua vida.

 



**

 




Karen ficou sabendo do que aconteceu por Nancy. A garota ligou para ela quando o relógio digital no criado mudo ao lado da sua cama apitou anunciando que eram seis da manhã. Ela tinha conseguido cochilar um pouco depois que seu irmão foi arrastado do apartamento, mas qualquer chance de dormir sumiu quando Nancy informou que estava chegando à sua casa (a única parte da ligação que ela entendeu). Sua amiga chegou pouco tempo depois, tocando a companhia repetidas vezes até que ela abrisse a porta com a cara amassada de sono.

            – Seu irmão está?

            Quando respondeu que não, Nancy a pegou pelo braço e a arrastou até seu quarto. Karen olhou para a porta do quarto de Matt, super consciente de que o namorado do seu irmão, sobre qual Nancy (e nem mais ninguém) deveria saber, continuava a dormir. Depois da morte dos seus pais, pouquíssimos amigos vieram até sua casa. Ninguém na nova escola sabia quem era o seu irmão e Matt achou que seria melhor manter desse jeito. Até o fim do penúltimo ano do ensino médio, ninguém no seu colégio sabia. Mas então Nancy descobriu e depois mais outras pessoas, apesar de ter recebido uma fama extra no seu último ano, não foi o suficiente para fazê-la ser coroada rainha do baile ou mesmo se tornar super popular. Seu irmão estava sumido da mídia por muito tempo e todo mundo achava que ele não voltaria. Provavelmente, caso seu irmão fosse Nate ou Kyle, a empolgação tivesse sido maior (graças a deus esse não era o caso).

            Ainda assim, mesmo com as pessoas sabendo, Karen evitava o máximo possível trazer gente em casa. Parte porque não queria que eles começassem a incomodar seu irmão e parte porque Jared morava com eles (teoricamente no apartamento da frente, mas isso era apenas um disfarce) e ninguém do seu colégio, especialmente Nancy, poderia saber sobre esse relacionamento. Sua amiga tinha vindo algumas vezes e sempre agia normalmente na frente de Matt (um grande feito, considerando que ela tinha um pôster enorme do seu irmão sem camisa na parede de frente da sua cama), mas suas visitas sempre eram planejadas e Jared ou estava trabalhando ou ficava no apartamento da frente, atuando como o vizinho bonito e amigável.

            Seria um tanto difícil explicar a presença dele ali sem que Nancy não viesse a ter conclusões precipitadas e embaraçosas. Na melhor das hipóteses, seriam conclusões erradas, já que Karen não confiava muito em Nancy para guardar o segredo de Matt. Ela podia acabar comentando com sua irmã mais velha, a ex groupie da banda, e isso não poderia acabar bem.

            – O que a traz aqui tão cedo? – perguntou fechando a porta atrás de si. A garota já tinha aberto a tampa do seu notebook e pesquisava alguma coisa. Sem tirar os olhos da tela respondeu:

            – Olha só isso!

            Aproximou-se e viu aberta a página do This Is It, um dos sites de fofoca mais acessados do momento. As letras grandes diziam:

Plantão da madrugada: Matt Graves e Nate Kowalski trocam socos na baía

            Logo embaixo havia duas fotos de baixa qualidade onde seu irmão recebia um soco de Nate. Karen aproveitou para ler rapidamente o primeiro parágrafo.

Parece que as coisas não estão tão perfeitas como nós, pobres fãs, fomos levados a acreditar. Quando as fotos apareceram, as pessoas começaram a se perguntar, será que teremos a banda de volta mesmo? Acho que vamos receber essa resposta nos próximos dias. De qualquer maneira, tudo o que nos resta é teorizar, o que será que resultou nessa cena? Bem, uma pessoa que assistiu tudo e gravou um vídeo no snapchat fez a gentileza de nos mandar o vídeo e postamos com exclusividade aqui no site. No vídeo não é possível ver, mas várias pessoas que estavam no local comentaram que o nome da cantora Gigi Bloom (que está atualmente em Paris fazendo um show beneficente), foi citado. Que climão, não acham? Mas o que é melhor do que um bom climão?

            Karen parou de ler surpresa e notou o olhar curioso de Nancy. Ela voltou a olhar as fotos, incrédula. Agora que parava para pensar, Matt estava com o olho roxo quando saiu mais cedo, mas ela estava tão grogue de sono que nem prestou atenção nisso.

            – Pela sua cara eu creio que você não sabia sobre isso.

            – Eu estava dormindo. – respondeu.

            – A banda vai mesmo voltar, certo?

            – Olha, eu não..

            – Sei nada disso... É, e eu acredito muito na sua palavra. Mas tudo bem, entendo que você não pode falar. – Nancy sorriu. – Será que agora que seu irmão “supostamente” voltará a ser famoso, isso quer dizer que você vai ter contato com todos os famosos? Ai meu deus, você vai ir para aquelas festas incríveis, conhecer a Rihanna, Taylor Swift, todos aqueles famosos gatos... Virar membro do Taylor Squad, ser namorada do Luke Harrinson, Imagina só, que incrível!

            Karen riu e revirou os olhos.

            – Eu duvido muito que isso vá acontecer.

            – Mas você vai morar com seu irmão...

            – Eu duvido que Matt vá me levar. Sério, acho que verei uma vaca voando antes que meu irmão me leve junto. Ele espera que eu fique com a nossa tia. –No entanto, Karen tinha outros planos, mas preferiu não compartilhá-los agora com Nancy.

            – Mas eu sei que você vai acabar entrando no mundo da fama de qualquer maneira. – respondeu Nancy. – Com esse seu rosto, pode até virar modelo ou atriz.

            – Obrigada, mas dispenso. Prefiro estar atrás das câmeras que na frente delas. – disse e então olhou para a porta do quarto. Era hora de cuidar do assunto Jared. Karen olhou para Nancy um pouco nervosa. – Você quer me mostrar mais alguma coisa?

            – Você precisa ver toda a discussão que rolou no twitter, falaram da Gigi sabe e os fãs dela ficaram furiosos. Tem uns memes e umas montagens com os vídeos do show que ela tava fazendo em Paris. Vou te mostrar tudinho.

            Nancy começou a digitar no computador e logo o monitor exibia uma galeria de imagens. Na primeira uma jovem loira e esbelta sorria enquanto cantava encima de um palco; o vestido cheio de brilho reluzia com as luzes e os lábios vermelhos sorriam sedutores. Encima dos seus cachos tinha um par de chifrinhos vermelhos. Com letras grandes e brancas, na parte de baixo da foto, estava escrito: Everest está de volta? Não por muito tempo. Aquela era Gigi Bloom e quase todas as outras fotos eram dela também. Karen não prestou atenção, olhou para a porta do quarto e imaginou se Jared já estaria acordado.

            – Você gravou os novos episódios de The life of Crystal and Bonnie? Poremos assistir. Eu li que as duas vão brigar em uma festa e vai ter puxão de cabelo e tudo. – aquele era o reallity show preferido das duas (sete temporadas e contando); em outro momento Karen teria apreciado a idéia, mas agora tudo no que ela pensava era tirar Nancy dali o mais rápido possível.

            – Na verdade não. – mentiu. – Você não está com fome? Nós podemos ir comer fora.

            Não deixou à amiga pensar por muito tempo. Logo estava trocando de roupa e listando os lugares em que podiam ir. Nancy começou a protestar sobre estar muito cedo, mas Karen ignorou; logo as duas saíram e pararam em uma padaria onde comeram sanduíches naturais e sucos, depois decidiram caminhar e conversar. Andaram juntas até South End onde a amiga declarou que já tinha tido exercício demais por um dia e que depois elas conversariam. Mais tarde Nancy se arrependeria porque Karen acabou caminhando até Roxbury, a vizinhança onde tinha vivido nos primeiros trezes anos da sua vida, e encontrou Brandon Serrano. Ele estava sentado no banco do ponto de ônibus com um copo bem grande de Starbucks vazio em sua mão, embora estivesse usando óculos escuros, não teve nenhuma dúvida de que ele estava olhando para a antiga casa.

            – Brandon? – Ela disse meio sem ar.

            – Eu não sou ele, todo mundo diz que nós somos parecidos. – respondeu sem tirar os olhos da casa.

            – Brandon, eu sei que é você.

            Ele suspirou pesadamente.

            – E você quer uma foto ou algo assim?

            – Não, eu quero saber o que está fazendo na frente da nossa antiga casa.

            Ele abaixou os óculos escuros e olhou diretamente para ela. Havia um vinco na sua testa.

            – Karen?

            – Sim... – respondeu sentindo-se subitamente nervosa. Os olhos negros dele continuavam tão intensos quanto se lembrava, mas havia algo diferente. Uma melancolia, talvez ela sempre estivesse lá, mas uma garotinha deslumbrada de quatorze anos nunca se deu o trabalho de perceber. – Você sabe que nós não estamos mais vivendo aqui, certo?

            – Sim, eu sei agora. Seu irmão me informou hoje mais cedo.

            – Como ele estava?

            – Irritado.

            Ela deu um meio sorriso.

            – Eu não levaria pro lado pessoal, Matt precisou acordar muito cedo e ele sempre fica difícil quando não dorme bem.

            – Eu tenho certeza que ele estaria irritado comigo do mesmo jeito caso tivesse tido às oito horas de sono completa. – Brandon deu um riso, mas não havia qualquer humor ou alegria na ação. Ele voltou a olhar para frente e Karen notou que seu rosto parecia o mesmo, tirando por uma pequena cicatriz do lado direito do seu queixo, quase imperceptível. – De qualquer maneira, obrigado por dizer.

           Os dois ficaram em silêncio. Karen olhou para os próprios pés, sem saber direito o que devia fazer. Ficar ou ir embora? Seu irmão gostaria da segunda opção, mas... Mas Brandon parecia tão sozinho. Era como se houvesse essa áurea negra ao seu redor e por algum motivo, Karen desejou poder afastá-la. Decidiu sentar ao lado dele no ponto e olhou fixamente para sua antiga casa. Não era gigante, mas grande o suficiente para eles. Olhou para a janela do seu antigo quarto, na esquerda, agora coberto por uma cortina cor-de-rosa, mas que no seu tempo era branco com várias flores amarelas bordadas. Sorriu de leve ao lembrar-se disso.

        – Você não devia estar no colégio há essa hora? – Brandon perguntou depois de quase um minuto de silêncio.

            – Não. Eu me graduei no ano passado.

            – E a faculdade?

            – Decidi tirar um ano de folga. Bem, mais ou menos de folga, eu trabalho as tardes em uma livraria perto de casa.

            Brandon lhe olhou um pouco surpreso. Ela sentiu-se sem fôlego por alguns instantes.

            – Eu imagino como Matt ficou quando você disse a ele sobre seus planos.

            – Bem, ele não reagiu muito bem. – respondeu rindo.

            – Ele fez aquela expressão meio estranha em que fica com os olhos meio semicerrados e depois junta as sobrancelhas fazendo um monte de rugas aparecerem na testa dele. – Brandon falou e fez sua melhor imitação da expressão que tinha acabado de descrever. Dessa vez ela gargalhou.

            – Sim, exatamente isso.

            – Diana tentou muito fazer essa expressão desaparecer de vez, ela tinha o hábito de jogar amendoins e balinhas nele no backstage, mas não funcionou. Toda vez que alguém da banda ou jornalista em uma entrevista dizia algo que o indignava, lá estava Matt parecendo um velhinho rabugento no corpo de um cara de vinte e poucos anos. – os dois riram juntos dessa vez. – Fico feliz por ela ter falhado. As circunstancias que eu costumo vê-la são sempre desagradáveis, mas a expressão em si eu adoro. Uma das mais divertidas que ele tem.

            – Eu também gosto. – disse. – Embora, nesse caso, eu considerei um pouco de hipocrisia, ele mesmo resolveu tirar um ano de folga depois do ensino médio, bem, dez anos de folga agora.

            – Eu acho que é esse o medo dele, que você acabe do mesmo jeito.

            – O que? Famosa e tendo ganhado mais dinheiro aos vinte e cinco do que a maioria tem em uma vida inteira? – seu tom beirou ao irônico.

           – Você quer ser famosa também?

           – Não, só to dando um exemplo, mas eu gosto da parte da riqueza.

           – Homens tendem a morrer mais cedo e o Matt provavelmente vai te deixar tudo.

          Ela o olhou fingindo falsa indignação e então deu uma tapa no ombro dele.

          – Não seja tão mórbido. – disse e depois continuou: – Mas ele ainda pode se casar com o Jared e um esposo vem na frente de uma irmã nas questões de herança até onde sei.

            – E eu estou sendo o mórbido.

            – Sim, você está.

            Os dois riram e se olharam. Karen sentiu o rosto esquentar e virou a cara, não precisava encarnar a menina patética de quatorze anos agora. Brandon pareceu não perceber, ele direcionou os olhos para o céu e deixou a cabeça trombar contra a armação de vidro atrás dos bancos.

            – Então é sério com esse cara?

            – Eu acho que sim, ele está vivendo com a gente e os dois estão juntos há quase dois anos agora.

            – Dois anos? – ele pareceu surpreso. – O máximo de tempo que eu o vi ficar com o mesmo cara foi três meses, bem, pelo menos em termos sérios, com o Nate era só algo estilo “amigos de transa”, bem esporadicamente.

            Karen arregalou os olhos e deu um sorrisinho malicioso.

            – Meu deus...

            – Você não sabia? – Brandon ajeitou a postura e a olhou um tanto preocupado.

            – Não.

         – Por favor, não diga a ele que eu te falei, foi estúpido da minha parte, eu devia saber que ele nunca teria te contado.

            – Por que não? – não admitiria, mas ficou um pouco ofendida.

          – Ele se importa muito de ser um bom exemplo para você Karen, sempre se importou, mesmo quando você era uma criança e todos os garotos da nossa idade se referiam as suas irmãs mais novas como chatas e fardos. A pessoa que ele quer ser nos seus olhos não era o tipo de pessoa que tem um “amigo de transa”. – Brandon pareceu desconfortável. – Eu falando transa na sua frente, parece tão errado.

            Karen rolou os olhos.

            – Eu posso entender o Matt, mas ainda acho meio estúpido que ele pense que isso mudaria como o vejo. – depois acrescentou, – E eu não tenho quatorze anos, eu sei muito bem o que é transa e como se faz.

            – Da última vez que eu te vi você tinha quatorze anos.

            – É, e eu já sabia o que era isso naquela época. Ou você acha que eu vivia em um convento distante enquanto vocês estavam nos seus shows?

            – Podemos encerrar o assunto?

        – Se ele é muito pesado para você Brandon, claro. – respondeu fazendo piada.

            Ele acabou rindo.

          – Eu nem consigo me lembrar da última vez em que ri conversando com alguém.

            – Jura? Você devia rir mais, faz bem para a saúde.

          – Eu não tive muitas oportunidades para isso. – disse fechando o rosto. – Eu mereci.

            Karen olhou para os pés novamente, sua mente lutava entre ficar calada e falar. Ela respirou fundo e disse:

            – Matt não me fala muito sobre tudo o que aconteceu, mas eu sei o suficiente para saber que você pisou feio na bola. – apertou os dedos tomando coragem. – Mas eu acredito que todo mundo tem uma chance de melhorar e de se redimir. Você está mesmo arrependido?

            Ele ficou quieto alguns instantes e então falou:

            – Muito.

         – Então você tem a chance de fazer diferente dessa vez. Com o tempo as coisas vão acabar de ajeitado. Todo mundo merece uma segunda chance.

            Ele soltou um riso amargo.

            – Eu já tive uma segunda chance Karen... Você não devia acreditar tanto em mim, eu tendo a desapontar bastante.

            – Não sei não Brandon, quem sabe não acaba se surpreendendo?

        – Eu raramente me surpreendo Karen. – ele a olhou ainda mais intensamente do que antes. – Não se esqueça disso.



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Notas finais do capítulo

Alguém querendo falar? A gente não morde - prometo ;) ... Comentários enchem o coração de alegria e a alma de inspiração ~falhando em ser profunda.
Espero que tenham gostado, se encontrarem algum erro que fugiu ao nossos olhos nos digam por favor.
Beijos ;*