Everest escrita por Odd Ellie, Florrie


Capítulo 3
3 - Bons amigos


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo e capa nova :)
Estão gostando?



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A foto acima mostra três integrantes da Everest, a banda que pode ou não estar voltando, juntos em uma saída de amigos. Nate, Jeremy e Kyle parecem estar se divertindo no café que todo fã que se preze sabe que era o lugar oficial dos garotos no inicio da carreira. O clima de camaradagem de antes (que todos nós sentimos falta) parece ter voltado, então podem comemorar moças e rapazes, mas um indicativo de que a banda vai voltar.

Agora, mudando um pouco o foco do assunto, alguém notou como o Nate parece tranqüilo e relaxado? E esse sorrisinho? Pelas fotos, ele pareceu estar com seu melhor comportamento, um verdadeiro bom menino. Bem, mas nos sabemos que o baterista da Everest pode ser muitas coisas, mas jamais será um bom menino. Ele é exatamente o tipo que sua mãe alerta contra, o rapaz alto, com um olhar charmoso e um sorriso mais charmoso ainda. Nate foi o garoto problema da banda, afinal, todo grupo precisa do seu bad boy. Que graça teria se não tivesse um, certo? Acho que todos concordam quando eu digo que um bom moço é ótimo, mas não existe nada mais delicioso do que um garoto mal (mas prove com moderação ou então não fique surpreso quando ele fizer algum ruim com você).

            Depois do fim da Everest, o rapaz participou de outras duas bandas, mas não ficou tempo suficiente para ser lembrado pela música. Em compensação, ele foi muito lembrado pelos escândalos e a ensaio fotográfico para a Calvin Klein de fazer brilhar os olhos e lamber os lábios. Na primeira banda ele foi chutado para fora depois de dormir com a esposa do vocalista (a internet tinha parado no dia em que um paparazzo publicou as fotos dos amantes em um quarto no mesmo resort que o resto da banda estava), na segunda a história foi ainda mais interessante, o rapaz dormiu não apenas com a vocalista, mas também com o guitarrista (o que acabou em uma briga épica na Hollywood Boulevard e uma entrevista reveladora da vocalista para a Vanity fair). Novamente Nathan Kowalski fez a internet tremer, a notícia da sua bissexualidade, que antes era apenas um rumor sem grande força, resultou em teorias sobre possíveis namorados e amantes, além de inspirar e dar esperança aos sonhos de muitos rapazes pelo mundo.

            Porque aproveitar apenas um lado da vida se você pode ter os dois?

            O destruidor de corações, relacionamento e reputações tem uma lista de histórias interessantes. Todo mundo se lembra do especial das groupies da Rolling Stone onde Nate foi descrito como um deus do sexo e possuidor de uma disposição inesgotável (entre outros apelidos carinhosos e atributos no mínimo interessantes), seu envolvimento com a queridinha não tão queridinha assim da America Gigi Bloom (todo mundo se lembra do escândalo que foi quase uma novela mexicana) e as festas sem controle patrocinadas por ele. O garoto problema de Los Angeles poderia escrever um livro apenas com suas aventuras.

            A volta da Everest não vai nos proporcionar apenas boas músicas e espetáculos incríveis, mas também teremos de volta o nosso bad boy predileto. Todo mundo com os dedos cruzados.

Isabella Barnes, Wonderland.com




**

 




Ele podia pensar em mil lugares em que desejava estar. Paris, Nova York, seu apartamento, a casa dos seus pais, na Disney acompanhando seus filhos. Qualquer um desses lugares seria melhor do que onde estava agora, na verdade, até mesmo uma fila de banco seria mais agradável que a tensão palpável impregnada no carro. Kyle estava do seu lado, com os olhos azuis cravados no teto, parecendo tão incomodado quanto ele; Brandon tinha a testa apoiada contra o vidro, olhava para fora sem dizer uma palavra.

                Estavam a caminho de uma batalha de bandas em uma casa de show conhecida. Isso trazia recordações do tempo antes da banda, quando eles participavam dessas mesmas batalhas. Foi na primeira que ele sentiu a sensação de tocar para um grande público pela primeira vez. Foi um dos melhores momentos da sua vida.

                Era esperando usar essas memórias que Diana escolheu justamente esse evento (os fãs e a mídia certamente lembrariam-se disso). Sorriam e tirem muitas fotos, disse ela enquanto despachava os três para o carro. Jeremy olhou para os acompanhantes, seria difícil manter (ou fingir) o bom humor com esse clima. Esperava que as habilidades de atuação de Brandon e Kyle fossem melhores do que isso, senão estavam todos ferrados.

                Eles fizeram uma entrada discreta, o que foi uma boa surpresa. Fizeram seu caminho para o camarote, que nada mais era do que o primeiro andar onde se podia ter uma boa vista na bancada. O show estava perto de começar, um homem barbudo apareceu no palco, pegou o microfone e anunciou o evento. Brandon suspirou, apoiando os cotovelos no parapeito. Ele bagunçou os cabelos escuros com uma das mãos e olhou ao redor como se procurasse por algo ou alguém. A primeira banda foi chamada, quatro garotos e uma menina, foram aplaudidos e começaram a tocar.

                – Eles são bons. – Kyle comentou com um meio sorriso.

                Jeremy apenas maneou a cabeça para concordar. Eles de fato tinham uma música boa e a voz da vocalista era agradável, ainda assim, eles estavam um pouco brutos, talvez com um pouco mais de preparo... Ele riu de si mesmo, estava pensando exatamente como Chris. Sua risada pareceu surpreender os outros dois, pois eles o olharam curioso. Kyle sacou o celular e tirou uma foto sua.

                – A primeira da noite. – disse. – Poste na sua conta. – ele estendeu o celular para que ele pegasse. – Você também devia tentar um sorriso Brandon, ninguém gosta de um mau humorado.

                A resposta do moreno foi um revirar de olhos.

                Jeremy pegou o celular e olhou para o seu rosto sorridente. Entrou no seu Instagram e enquanto escrevia a legenda que dizia “a batalha começou” e marcava o lugar, ele quase riu. Como era fácil escrever uma história em que o mundo inteiro acreditaria. Ele saiu da sua conta e entregou o celular.

                Com a segunda banda veio a segunda foto. Eles começaram a beber (apenas ele e Kyle, Brandon não podia beber), Kyle levantou o celular e tirou uma foto onde os três apareciam sorrindo. O sorriso de Brandon foi mais discreto, mas quem olhasse a foto diria que ele estava feliz e relaxado ao lado dos amigos. Uma história devia ser contada... Uma história sobre reconciliação, sobre um grupo de amigos que se perdoavam pelos erros do passado e seguiam em frente juntos.

                Uma pena que, como a maioria das outras histórias da indústria de entretenimento, não passava de ilusão.

                Quando a terceira banda subiu o relógio já marcava duas e meia da manhã. A banda era formada apenas por garotas, cada uma com uma cor de cabelo diferente. A vocalista tinha o cabelo lilás e vestia roupas que pareciam ter saídas do guarda roupa de um sobrevivente de um apocalipse zumbi. Jeremy gostou, nessa altura já estava mais animado por causa da bebida, sinal de que devia parar (o que era um pouco difícil, considerando que as garrafas apareciam magicamente na sua mão sempre que ele terminava). A letra da música era sobre uma cidade abandonada onde um casal de amantes passava seus últimos minutos, era bonita e a voz da garota muito boa. A batida vibrante o fez começar a pular, logo estava cantando alto e abraçando os ombros de Brandon com um dos braços.

                Caso o moreno tenha ficado muito desconfortável, Jeremy não conseguiu notar. Ele parecia mesmo estar gostando da música e até arriscou alguns versos em uma voz baixa. Kyle comentou alguma coisa que foi abafado pelo barulho. Estava tão entretido que quase não notou que um grupo de garotas o reconheceu, estavam tirando foto deles (e falhando em serem discretas). Não eram as únicas, outras pessoas tiravam fotos, pessoas que Jeremy não notou, mas que Kyle sim e ele comentaria isso depois. Devem ter sido fotos boas, com ele abraçando Brandon cantando, Kyle rindo, com a luz fazendo seus cabelos loiros ficarem ainda mais amarelos e o moreno deixando a mascara de gelo cair um pouco e parecendo mais com o garoto que tinha sido seu amigo.

                Houve uma parada e Jeremy, que já se encontrava tonto, resolveu que seria uma boa idéia sentar no sofá de couro verde no fundo do camarote. Havia um casal se beijando de forma nada discreta ao seu lado, e uma menina andando na frente do sofá piscou para ele. No parapeito Kyle oferecia pela quinta vez sua cerveja a Brandon que recusou. O loiro continuava a esquecer que os remédios do outro não combinavam muito bem com álcool (Kyle conseguia ser bastante esquecido).

                Brandon parecia estar bem. Esse pensamento acabou fazendo com que se lembrasse de algo que aconteceu no nascimento de Jim.

                Seu filho nasceu prematuro durante a turnê de seu terceiro álbum: Eris Rising. Ele e o resto da banda pegaram um vôo de Atlanta para Nova York e depois foram direto para o hospital. Na frente do berçário ficaram discutindo nomes para o menino, foi sugerido Axl como Axl Rose, Elvis como Elvis Pressley, John como John Lennon, o menino acabou sendo nomeado Jim como Jim Morrison, o vocalista de The Doors, mas só na tarde seguinte, porque Brandon pediu para falar com ele a sós.

                Ele tinha um sentimento que algo ruim estava vindo, Brandon ficou muito quieto no avião e ele não fizera nenhuma sugestão na conversa sobre nomes. Quando estavam longe o suficiente dos outros, Brandon disse que se ele visse Jeremy usando drogas de novo iria usar o seu peso na gravadora para que ele fosse expulso da banda. Jeremy já tinha ouvido aquela ameaça antes assim como todos os membros da banda exceto por Matt, basicamente todas as vezes que o moreno ficava puto com ele por alguma besteira qualquer, e essas aconteciam com freqüência (especialmente nos últimos meses). A ameaça não era nova, mas o tom era, ele não estava nervoso e suando ou com suas mãos tremendo de raiva. Ele estava calmo e focado, era o que Matt costumava se referir como o Brandon de verdade. A conversa logo acabou se tornando uma discussão culminando com Jeremy dizendo que Brandon estava projetando os seus “daddy issues” nele e com Brandon dizendo eu era culpa dele e de Tessa o seu filho ter nascido prematuro e doente, porque ele sabia que Tessa ainda estava usando nos primeiros meses da gravidez. A partir daí eles pararam de brigar com palavras para começar com os socos e chutes. Na manhã seguinte havia uma foto no site da TMZ deles dois sendo escoltados para fora do hospital por um segurança.

                Na época tinha ficado furioso por Brandon se meter em assuntos que não eram da sua conta, mas pensando agora, ele estava certo e aquela foi uma das vezes em que o outro mostrou que se importava de verdade com mais alguém do que ele (e Matt). Quando o bebê teve alta e todo mundo foi visitá-lo, Brandon até o pegou no colo sorrindo e fez comentários elogiosos sobre o bebê ter os traços bonitos de Tessa.

                Como se adivinhasse que pensava nele, o moreno virou o rosto e o olhou. Uma nova banda começou a tocar, a batida era forte e ensurdecedora. O casal ao seu lado começou a produzir barulhos suspeitos o que levou Jeremy a levantar e voltar para os dois rapazes.

                – Achei que ia ficar e se oferecer para um threesome.

                – Muito engraçado Kyle. – respondeu. – mas você pode ir, não acho que vão recusar.

                – Estou bem onde estou, obrigado.

                Em certo momento do show (quando uma banda não muito boa estava tocando), Jeremy aproveitou para checar seu newsfeeds no celular e a primeira noticia era “Membros da banda Everest vistos discutindo em Boston nessa noite”, Kyle que devia estar lendo a tela por cima do seu ombro disse:

                – Deve ser uma montagem, certo? Ou algo fora do contexto. Eu tomei bastante cuidado para não parecer irritado em nenhum ponto.

                Jeremy rolou a tela para baixo e viu uma foto de Matt e Nate na frente da baía parecendo bem irritado. Brandon arqueou a sobrancelha do seu lado parecendo curioso.

                – Matt brigando? Essa é boa. – disse. – Pelo menos eu vou poder dizer que não fui eu que fiz a primeira burrada.

                – Nós não sabemos o que realmente aconteceu. – retrucou Jeremy.

                – Não importa o que realmente aconteceu, o que importa é o que está ai. – respondeu o outro. – Nathan não me surpreende, mas Matt sim. Imagino o que foi que o Kowalski disse.

                – E porque tem que ser o Nate que falou alguma coisa? – respondeu começando a ficar irritado. Brigar com Brandon nunca era uma boa idéia, mas o álcool o ajudou a se esquecer disso.

                – Ok pessoal, vamos parar por aqui e voltar a nos divertimos? Estávamos quase sendo autênticos! – Kyle apontou para o palco onde a banda tinha acabado sua música. – Além do mais, é melhor não começarmos outra briga aqui ou Chris, Travis e Olivia vão arrancar nossas peles para fabricarem casacos e venderem no ebay.




**




Nate veio lhe procurar quando já tinha anoitecido. Matt estava sentado no sofá, quando ouviu as batidas na porta pensou que se tratasse de Jared (que talvez tivesse deixado a irritação de lado e decido sair do seu apartamento e vir falar com ele), mas quando Karen abriu a porta, viu que estava errado. Nate foi simpático com Karen, comentando o quanto ela tinha crescido e ficado bonita (o último comentário lhe despertou certa apreensão, considerando o histórico do homem), depois o chamou para dar uma caminhada. Nada planejado, apenas para conversar.

            Foram para a baía, onde caminharam lado a lado sem chamar muita atenção. Aquele início de noite, calmo e fresco, foi como a calmaria que antecedia a tempestade. Sentaram em um banco e observaram as pessoas passarem alheias aos dois, Matt ajeitou o boné na cabeça, escondendo os cabelos castanhos e olhou para o rapaz ao seu lado, que tinha deitado a cabeça nas costas do banco e mirava o céu.

            – Jem disse que nós tínhamos que nos entender. – Nate começou a falar, – e eu achei que valia a pena conversar um pouco, sem ninguém controlando as nossas palavras, faz tempo que não conversamos de verdade.

            – Eu concordo. – respondeu encarando as mãos cruzadas no colo.  – Vai ser um longo tempo juntos, não será bom começar com um clima ruim.

            Nate riu como se tivesse ouvido uma piada e disse:

            – Sabe, eu fiquei um tanto surpreso quando você aceitou. Não pensei que viveria o bastante para vê você voltar a trabalhar com Brandon. – nem ele cogitava aquela opção, mas a vida gostava de tomar rumos inesperados e dificilmente ligava para o que ele tinha a dizer. – Diabos, eu não pensei que viveria para me vê voltar a trabalhar com aquele cara.

            – Vamos permanecer profissionais e então tudo dará certo. – respondeu Matt para desviar o tópico da conversa, estava começando a ficar desconfortável.

            – Profissionais... Eu lembro quando a gente se divertia fazendo isso. O trabalho era duro para cacete, mas era gratificante. – Nate falou coçando o queixo, roçando os dedos pela a barba mal feita. – Me pergunto toda hora se vai continuar sendo assim.

            Ele levantou o rosto e olhou para Matt. Os olhos cor de mel encararam os seus com uma intensidade quase assustadora.  

            – Sabe, nós temos ressentimentos demais dentro do grupo, não apenas contra Brandon. – aquilo lhe trouxe uma lembrança do fim da banda, quando Nathan o chamou de hipócrita e covarde. Ele não guardou raiva por isso, pelo menos não por muito tempo, o outro estava bêbado quando falou aquilo, mas mesmo assim, Matt se pegava pensando a mesma coisa algumas vezes. Estaria Nate certo?

            Ele bem sabia que o outro não havia mudando muito sua última opinião sobre ele. Nate continuou:

            – Não vou mentir ou florear nada, eu ainda acho que você usou a morte dos seus pais e depois o fato de ter que cuidar da Karen para fugir do barco. Uma desculpa para manter a sua pose de bom moço e a consciência limpa. A morte deles foi barra, mas você podia ter trazido Karen para LA e a sua tia se ofereceu para morar com vocês, e vamos lembrar que Karen não era nenhuma criancinha quando aconteceu. – Nate deu uma pausa e prosseguiu. – E não me venha dizer que sua tia era uma mulher má e sem condições para olhar sua irmã enquanto você estava fora. Eu lembro muito bem dela, a mulher era incrível e Karen ficaria mais do que bem.

            – Eu não vou insistir nesse assunto Nathan, eu precisava ficar com a minha irmã, cuidar para que ela ficasse bem depois da morte dos nossos pais. Foi a decisão certa.

            – Não digo que foi errada, mas não era tão necessário quanto você faz parecer, minha raiva sempre foi que você nunca teve a decência de admitir. – respondeu. – Assim como você não vai se assumir por um longo tempo.

            Matt suspirou pesadamente. Aquilo estava caminhando novamente para um terreno perigoso.

            – Você está vivendo com um cara, não é? Estou surpreso por nenhum paparazzo ter tirado fotos de vocês dois se pegando ainda.

            – As janelas do apartamento são todas cobertas com fumê, e tecnicamente, ele vive no apartamento ao lado, eu aluguei no nome dele. Além do mais, os paparazzi não me seguem tanto quanto antigamente, não sou mais tão interessante. – explicou sem muita emoção. – Nós somos discretos e cuidadosos.

            – Meu deus Matt.

            – O que?

            – Você nunca fica cansado de viver desse jeito?

            – Ele é professor em uma escola católica e pouquíssima gente sabe sobre a sexualidade dele. – disse. – Além do mais, com a banda voltando, não seria muito bom, não quando você já se assumiu bi. Você sabe como é a mentalidade das pessoas, um cara ficando com outros caras? Ok, mas dois? Já é demais.

            Nate riu.

            – Essa é sua desculpa? Sério? Eu preciso dizer quantos famosos já saíram do armário e ficaram muito bem? Gente estúpida existe em todos os lugares Matt, mas eu lhe garanto que os futuros shows do Everest não estarão vazios se você se assumir.

            – Como eu já lhe expliquei, não é só por mim, tem o Jared...

            – Professor em escola católica, eu sei. Você é sempre cheio de boas razões para se justificar.

            Matt sentiu o sangue ferver, mas respirou fundo e se acalmou. Não podiam brigar, não agora e não neste lugar.

            – Vamos mudar de assunto?

            – Certo... – Nate pareceu pensar um pouco e então disse: – Sabe, a Karen está bastante crescida.

            O comentário não foi nenhum um pouco bem recebido por ele.

            – Não, nem pense nisso.

            – O que?

            – Não. – repetiu, dessa vez com o rosto duro e sendo mais enfático.

            – Eu estava apenas comentando que ela parece crescida, não tava pensando em dar em cima dela ou coisa do tipo. Você acha que eu não consigo elogiar uma pessoa sem estar secretamente planejando colocar o pênis nela? – os olhos dele faiscaram de irritação, Nate apertou os punhos e parecia travar uma luta interna sobre se deveria socá-lo ou não.

            – Eu não sei Nate, você é capaz? – Matt continuou, ignorando os sinais de perigo.

            – Quer saber? Vai se ferrar Matt.

            Brigar não é uma boa ideia. Brigar não é uma boa ideia. Repetiu para si mesmo.

            – Vamos falar de outra coisa. – qualquer outra coisa.

            – Certo... – concordou o outro, ainda com o semblante irritado, mas parecendo se esforçar para se acalmar. – Você já viu uma foto recente de Jim e Patti?

            Aliviado, Matt mexeu a cabeça respondendo que não. Nate tirou o celular do bolso e começou a mexer na tela. Seu rosto agora estava mais suave e tinha até um sorriso dos seus lábios.

            – Olha aqui. – disse lhe dando o celular onde duas crianças sorriam. – Faz tempo desde a última vez que eu os vi pessoalmente, Tessa... Bem, o relacionamento dela com Jeremy não está nos seus melhores dias. Ele está longe das crianças por enquanto, mas pelo menos ela manda fotos. Esse foi do aniversário de Patti, três anos.

            – Jeremy não foi?

            Aquela foi a primeira vez que viu Nate próximo a estar desconcertado. Ele coçou a cabeça e pareceu escolher com cuidado suas palavras.

            – Ele estava doente e não conseguiu ir.

            Matt sabia muito bem que tipo de doença Jeremy tinha. Muito provavelmente esteve em uma festa e exagerou demais no álcool e drogas. Não admirava que Tessa o tivesse mandado ficar longe. Nate tornou a guardar o celular.

            – Jeremy está melhor agora. – falou o outro. – Muito melhor.

            – Fico feliz em ouvir.

            – Ele não vai ferrar as coisas, bem, acho que a pessoa que tem mais probabilidade de fazer isso é Brandon, de qualquer maneira – Nate comentou como se estivesse fazendo uma piada.

            – Eu não sei, Brandon me pareceu melhor e perguntei a Olivia, ele está mais focado no tratamento dessa vez, mas próximo do Brandon de verdade.

            – Brandon de verdade... – riu sem nenhum pouco de humor. – Você está mesmo defendendo esse cara?

            – Eu não estou defendendo ninguém! – seu rosto ficou vermelho de raiva e Matt ficou de pé, voltando a encarar o outro com severidade. – Só estou dizendo que ele parece um pouco melhor, o que será bom para nós, apenas isso.

            – Apenas isso... – disse Nate se levantando, ironia pingava da sua voz.

            – Como você pode achar que eu ficaria ao lado dele depois de tudo?

            – Porque eu conheço você. Ele faz merdas e você fica indignado, mas ai ele parece triste por um momento e você se derrete. Você o trata como se ele fosse essa mistura estranha entre o seu namorado, o seu paciente e o seu bebê. E você não liga que ele trate todo mundo como merda desde que ele continue te olhando como se você fosse um maldito príncipe encantado.

            – Ele me machucou também, na verdade, ele provavelmente me machucou mais do que a qualquer um. – Matt bateu a palma da mão no peito.

            – Você realmente acha que largar a banda e passar a te ignorar se compara as coisas que ele fez comigo, Jeremy e Kyle? Ou mesmo com a Gigi? – o tom dele aumentou, provavelmente, os dois, tinham começado a chamar atenção ao redor.

            – Por que está falando nela? Isso não é sobre ela.

            – Talvez devesse ser. – Nate apontou o dedo no seu rosto, os olhos queimavam com uma raiva acumulada. – Ninguém se ferrou mais nisso tudo do que ela. Aquele período foi um inferno para ela e para mim também. Todo mundo ficou falando que nós dois tínhamos um caso desde que o Brandon e ela começaram o namoro, que nós éramos a causa do fim da banda... Teve gente que até me acusou de ter sido o responsável pelas fotos e nós dois sabemos muito bem quem foi que fez aquilo. Não me importa se ele se arrependeu, se queria voltar atrás e fazer diferente... Ele não pode voltar no tempo e eu não vou perdoá-lo.

            – Não estou dizendo que você tem que perdoar e nem estou defendendo ninguém! – respondeu Matt com a voz alta. – O que ele fez foi desprezível e um monte de coisa aconteceu. Jeremy com as drogas, eu e Kyle com as brigas constantes contra Brandon, você dormindo com a Gigi...

            – Eu dormindo com a Gigi?!

            – Ora Nate, você não vai admitir que isso contribuiu bastante para as coisas terminarem do jeito que terminaram?

            Ele o empurrou forte, quase o fazendo cair para trás.

            – Gisele tava em um momento difícil com aquele idiota, ok? E eu também. Acabou acontecendo. Para sua informação, eu sempre tive muito carinho e respeito por ela e a Gigi sentia o mesmo por mim. O Brandon não a mereceria nem se renascesse mil vezes.

            – Você gostava dela? É isso? Ela não foi mais uma conquista para a sua grande lista? – a ironia na sua voz deixava claro que ele não acreditava nisso. – Ah, você estava de coração partido porque a Amy fez a escolha certa e continuou com o Jonah ao invés de largar tudo e ficar com você.

            – Seu...

            – Não satisfeito em ficar com a namorada de um amigo seu, você precisou ficar com a do outro. Bem, as duas foram embora logo depois, não foi? Você nunca foi o tipo de se manter.

            Um início de remorso se instalou dentro dele quando viu os olhos de Nate e percebeu que não exibiam apenas raiva, havia outro tipo de sentimento, como se tivesse sido machucado. Logo depois um punho fechado lhe acertou o rosto e o fez cair no chão. Matt levantou, batendo no peito do outro e o empurrado. Outro soco quase o atingiu e quando Nate armou o braço para a terceira tentativa, dois homens apareceram para apartar. A brigar já tinha platéia e algumas pessoas o haviam reconhecido, podia perceber pelos cochichos surpresos e pelo modo como o olhavam (e apontavam seus celulares). Registrou um homem com uma câmera mais para frente, Matt sentiu o corpo gelar.

            Nate se livrou de quem o segurava e apontou o dedo na sua direção, o rosto estava deformado com a raiva, ele abriu a boca para dizer algo e então desistiu; depois lhe deu as costas e saiu andando sem olhar para trás. Matt foi logo depois.

            Ele não queria nem ver o inferno que se instalaria no seu celular, então, por isso, desligou o aparelho e rumou em direção de casa.



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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Comentários, duvidas, anseios? XD
Obrigada por ler.
Beijos.