Entre Pedras e Rótulos escrita por Menthal Vellasco


Capítulo 1
Capitulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! E que entendam a mensagem, repito.
Isso está no meu coração dês de que eu comecei a ver queixas no grupo do face a respeito de homofobia e culpando, muitas vezes, os cristãos.
Essa fic mostra que não é bem assim...



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O sol estava brilhando naquele dia. Sem dúvidas, um verão maravilhoso para Kaio apenas caminhar pela rua. Estava correndo distraído ouvindo Michael Jackson e vendo fotos com seu ex namorado: Riã, que felizmente estava viajando naquele feriado. 

O ar livre era tudo o que Brenda precisava. Ouvia as músicas da banda Jesus Culture em um de seus playlist's favoritos. Em seguida, viria uma de Oficina G3 e levantaria seu humor mais do que já estava, com gratidão à Deus pelo feriado e o dia de sol. 

Uma pancada. Brenda e Kaio se quer viram o que o atingiram, até trocarem um olhar assustado. Vendo a morena caída no chão, o ruivo estende a mão e ajuda a jovem a se levantar. 

— Ah, não! Mil perdões! Eu não o vi! - ela dizia. 

— Não se preocupe. Tenho tanta culpa quanto você. - falou simpático. 

Ela se senta e respira fundo, e ele a acompanha. 

— "O dia está lindo!", disse a mamãe, "Vá caminhar um pouco!". Claro, aliás, eu não sou nem um pouquinho desastrada. - se queixou. 

— Bem vinda à minha vida. - respondeu. 

Ela ri e estende a mão. 

— Brenda. 

— Kaio. 

Ele a aperta e logo eles voltam a conversas. 

— Está ouvindo o que? - ela perguntou. 

— Ah, Michael Jackson. Aliás, minha música favorita, Bad. 

— Oficina G3. - apontou para um dos fones de ouvido – Humanos. 

— Não conheço. 

— Uma ótima banda de rock. Também curto muito Hillsong. 

— Também fora do meu repertório. - ele riu. 

— Ah, imagino. 

— Não são muito famosas, certo? 

— São famosíssimas... para um tipo específico de pessoa. 

— Jura?! - perguntou incrédulo. 

— Sim! É gospel! 

— Ah, gospel! - ele riu, mas depois olhou confuso - Não disse que era ro... pera aí, você é cristã?! 

— Não pareço? - perguntou assustada. 

— Quer dizer, você não usa blusa de manga comprida, saia longa e nem está tacando pedras em mim! Além disso, está ouvindo rock! 

— Em primeiro lugar, você tem uma convicção muito estereotipada do que é ser um cristão. Outra coisa, é que o rock é uma forma de adorar a Deus também, assim como o jazz, o rap ou o samba! Mas por que eu tacaria pedras em você?! - perguntou confusa. 

— É bom você não... - seu celular toca. 

Tão curiosa quanto desastrada, Brenda observa a tela de bloqueio de celular do ruivo: ele beijava a bochecha de outro homem. Ela arqueou a sobrancelha e voltou. Observou a forma como ele falava com uma amiga: sua voz era grave e seu jeito de falar claramente masculino. Parou de prestar atenção e observou os pássaros. O dia estava maravilhoso. Mas algo desfocou sua atenção. 

— Sandra, eu já disse: fui eu quem terminei com ele. Não sinto falta do Riã, e estou longe de sentir. Me sinto livre até! 

"Espere, ele terminou um relacionamento... com outro homem?!" Agora tudo fazia sentido para Brenda! Por isso Kaio disse que ela lhe tacaria pedras! Ele era gay! E meia dúzia de pessoas que diziam-se crentes apelavam para a agressão e o preconceito. Por isso ele ficou tão assustado! 

— Depois falamos sobre isso, tá? Até. 

O mesmo desligou o celular e bufou. Kaio estava frustrado com tudo aquilo. Já havia terminado com Riã há tempos e sua amiga Sandra ainda achava que ele não havia superado. Ele já estava cansado. 

— Sei como é. - comentou Brenda – Ano passado, meu namorado me traiu e todos pensaram que eu queria me afundar na fortaleza da solidão e nunca mais sair. Sabe que eu superei rápido! 

— É terrível quando todos te colocam como vítima indefesa. 

— Pra mim, pior ainda ser vítima de estereótipos. Nós cristãos somos muito incompreendidos as vezes. - ela se defende divertida. 

— Claro! Vocês dão motivo! 

— O que? - ela pergunta confusa. 

— Ah, você sabe! Vocês não podem ver alguém que não concorda com sua forma de pensar sem julgar, tacar pedras ou dizer que essa pessoa vai para o inferno. 

— Kaio, isso é balela da mídia. Eu nunca faria uma coisa dessas! - ela diz horrorizada. 

—Todos vocês vêm com essa de "amar o próximo como Jesus amou", mas na primeira oportunidade, jogam todos os nossos pecados na nossa cara. Eu não me importo com para onde eu vou no juízo final, tá?! Eu quero ser feliz. 

— Então seja! Sim, eu sou contra qualquer relacionamento homossexual, mas não é motivo para agredir alguém. Meu pecado não é pior ou mais leve que o seu! 

— Ah, então não é cristã? 

— Ma... mas eu já disse mil vezes que sou! - percebendo que ergueu seu tom de voz, ela respira fundo e continua com mais calma – Todo ser humano comete erros, faz parte. Eu sou humana. Sendo assim, não sou perfeita. Sou tão pecadora quanto você. 

— Corta esse papo furado, tá? Sempre que eu paro para falar com um cristão, ele fica tagarelando sobre Jesus... 

— Quando conhecemos Jesus, não conseguimos mais guardar isso para nós. É maravilhoso! Mas se você não concordar, eu vou fazer uma coisa muito mais eficaz do que agredir ou ameaçar. 

— O que? 

— Vou orar por você. É a maior prova de amor ao próximo. 

— Não preciso das sua orações. 

— Entendo. Sério. 

— 'Pera aí... - ele a encarou confuso – Você entende?! 

— Claro! Tem gente que não se sente confortável com isso. 

— Não vai ficar insistindo que eu sou um pecador e tenho que me arrepender ou vou para o inferno? 

— Olha, por mais que essa seja a verdade, não tenho o poder de te mandar para o inferno. Sabe quem tem? 

— Me deixe adivinhar: o seu Deus bondoso e misericordioso é quem vai me mandar para queimar no inferno pela eternidade? 

— Não. Você. 

— Se eu escolhesse, acho que iria para o Céu. 

— Se você não escolhe servir a Deus aqui na terra, vai servir fora dela? Se não quer a presença de Deus aqui, por que vai querer pela eternidade? 

— Bom, isso faz sentido. - respondeu, apoiando os cotovelos nas pernas. 

— Né?! - disse a morena empolgada – Mas e aí, fala mais de você. 

— Curiosa? 

— Demais. - Brenda sorri divertida. 

— Tenho uma amiga umbandista. Ou, na sua língua, "macumbeira". 

— Ah, legal! Dizem que os espíritas são gente boa. 

— E meu pai é ateu. 

— Meio orgulhosos, mas na maioria das vezes, muito inteligentes. 

— E meu irmão é satanista. 

— Hey! Está me testando? - questionou. 

— Eu? Imagina! - brincou Kaio rindo – E meu primeiro namorado foi preso por assassinato. 

— Vou orar por ele. 

— Você tem essa mania de orar por todo mundo? 

— É... coisa minha. - riu Brenda – Cada um tem sua mania doida! 

Os olhos verdes e brilhantes da jovem impressionavam Kaio. Ele não conseguia acreditar que uma garota tão engraçada fosse também de uma religião que ele julgava tão antiquada. Mas era? 

— Você é crente! Não devia zoar. 

A garota respondeu com uma gargalhada. Uma gargalhada divertida e animada que o deixa confuso, mas quase o faz rir. 

— Você precisa de uma boa dose de Filipenses 4:4. 

— Ah, acho que nunca li a Bíblia. - admitiu o jovem de olhos castanhos. 

— Bom, um grande missionário chamado Paulo disse em uma carta para sermos felizes e nos alegrarmos na presença de Deus. 

— Olha só! Não é tão careta quanto pensei. 

— E você não é tão afeminado quanto parecem alguns homos. Até que você parece hetero! 

— Você não é a primeira que diz isso. - ele ri - Já recebi cantadas de muitas garotas diferentes. 

— Bonitas? - perguntou divertida. 

— Não tanto quanto você. - pensou alto. 

— Isso foi seu lado hetero? - brincou. 

— Não. Acho que meu lado bi. 

Os dois gargalharam. Uma terceira pessoa cruza pela praça e diminui o passo até os dois. Kaio encara a negra com finos e coloridos colares, enquanto ela o encara de volta, perguntando surpresa: 

— Kaio, você tá aqui?! 

— Não, Sandra. Sou um holograma. - respondeu sarcástico. 

— E quem é ela? 

— Brenda. - respondeu por si mesma a morena, estendendo a mão. 

— Sou Sandra, amiga dele. 

— Acho que o Kaio falou de você. 

— Sim, eu falei. - confirmou o ruivo – A... do tambor. 

— E sobre o que conversavam para levar minha religião em conta? - questionou confusa, mas com um ar do riso. 

— Parece que algumas pessoas têm convicções bem estereotipadas sobre o que é de verdade ser um cristão. - Brenda finge criticar, cutucando o braço de Kaio. 

— Tá bem, mas tem aqueles que... 

— Mas são poucos e não são cristãos de verdade! - insiste, enquanto Sandra permanece escutando – Somos ensinados a amar o próximo, independente do estilo de vida. 

— Na, você... é cristã. - deduziu Sandra decepcionada. 

— Sim! - disse sorrindo. 

— Sou devota de São Jorge. - a espirita respondeu, cruzando os braços. 

— E eu de Jesus Cristo. - Brenda sorri mais. 

— Ela não é preconceituosa, Sandra. - respondeu Kaio. 

— Pois é, né?! 

— Uau, essa é nova! 

— Não tão nova, na verdade. - Brenda deu de ombros – Pessoalmente, acho que não conheço evangélicos tão... preconceituosos. Até porque, Jesus nos mandou não ser assim. 

— Então por que... 

Uma nota de violão 
 
"Chega de tropeços 
Quero direção 
Quero Tua palavra 
Seja 'sim' ou 'não'..." 

— Meu celular. - disse Brenda, atendendo – Oi?... Ah, o que foi agora?... Mas não ia ser aquela música?!... Noss?! Ele está bem?!... E está muito encima da hora pra trocar... - Brenda falou preocupada – Pode ser. "Pela Graça" é mesmo muito boa, mas a igreja toda já conhece!... É o Congresso dos Jovens! Merece uma coisa nova!... é, tem razão, isso deixa a gente sem escolha. Mas e "Fogo Santo"?... Ah, é. Não tem a ver com o tema. Não! Tudo bem! Se não dá, não dá! Pode ser! Deixamos "Maravilhosa Graça" pra próxima!... tá bem, tô indo. Te vejo aí. - desligou o celular e se levantou, o guardando no bolço. 

— Aconteceu alguma coisa? - perguntou Kaio. 

— Problemas com a música tema do congresso. Tenho que ir. 

— É quando? - perguntou Sandra. 

— Hoje. Encima da hora, o baterista que sabia tocar a música tema ficou doente e não vai poder tocar. E eu toco guitarra, e vou tocar hoje, então tenho que ir e ensaiar a outra. - sorriu e disse – Foi legal conversar com vocês! 

— Igualmente. - sorriu Kaio. 

— Hey, me passa seu WhatzApp! - pediu Sandra – Você é maneira. 

— Sabe que eu ia pedir? - disse Kaio surpreso. 

Os três riram. E a amizade não parou ali. Ela seguiu por anos. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Comentem, favoritem, recomendem, ou apenas entendam a mensagem que eu quis passar.
Bjs!