Anjo escrita por Gabriel


Capítulo 5
Carinhoso


Notas iniciais do capítulo

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1

A enfermeira verificava os batimentos cardíacos de Anita quando a mesma abriu os olhos. Apalpou sua barriga, para ver se a mesma sentia ainda alguma dor. Saiu do quarto e voltou com o médico que portava em mãos o resultado dos seus exames.
— Podemos dizer que essa criança é uma guerreira. – Disse ele sentando-se do seu lado, a beira da cama. – Você teve uma hemorragia interna devido à agressão que sofreu. Felizmente, o sangue não afetou o útero. O seu filho, ou filha está bem. 
— Isso quer dizer que eu estou recebendo alta e já posso ir embora doutor? – Perguntou em desalento.
O médico estranhou a pergunta da paciente. Já havia notado sua aparência jovem, desde o momento que a tinha visto. Hesitou em fazer a pergunta, mas precisava fazê-la para responder a feita por ela.
— Quantos anos você tem Anita?
— Por que não respondeu minha pergunta? – Anita rebateu assustada.
— Por que preciso saber. Você está sozinha e eu quero ajudá-la. Responda. Quantos anos você tem? 
— Dezesseis. – Abaixou a cabeça, envergonhada. 
— Eu já deveria desconfiar. Onde estão os teus pais, teu marido?
— Não tenho mais família. Também não tenho marido. 
— Ao menos tens algum lugar para ficar?
— Eu me viro.
— Tudo bem. – Sorriu o médico, encantado com a determinação e ousadia de uma jovem com apenas dezesseis anos. – Eu vou te ajudar. Até porque se você ficar nas ruas, provavelmente o teu bebê não vai sobreviver.
— Eu vou me virar! Recuso-me a aceitar a ajuda de um estranho. 
— Olha só, você não está podendo recusar ajuda. Está com uma mão na frente e outra atrás. Se não fosse sua amiga pagar sua entrada neste hospital...
— Espera, espera. – Anita o interrompeu, boque aberta. – A Julia pagou um hospital particular pra mim?
— Sim. Eu não sei se o nome dela é este, entretanto foi uma moça, aparentava ter a mesma idade que tu. Ela quem pagou.
Percebeu o erro que havia cometido. Não deveria ter tratado Julia daquele jeito. Mas agora era tarde para arrependimentos. 
— Olha só, alugarei um quarto de hotel para que você fique até que seu bebê nasça. Você vai ter de tudo, comida, roupa. Nada ira te faltar.
— Não, eu já falei! Agradeço a boa intenção, se é que tu tens alguma, mas não vou aceitar e espero estar sendo bem clara com você, doutor... 
— Rafael. O meu nome é Rafael. – O médico pegou em suas mãos, com delicadeza. – Eu não sei que idéias você tem de mim, mas não sou o tipo de homem que compra mulheres. 
— Então porque queres me ajudar, ajudar a uma estranha? Porque faz tanta questão?
Rafael abaixou a cabeça. Pensou, pensou e decidiu falar.
— Faz muito tempo. Eu era jovem, inconseqüente. Acabei me envolvendo com uma garota e ela engravidou. Minha mãe fez a minha cabeça para que eu não assumisse a criança e eu a obedeci. A guria foi expulsa de casa pelos pais e perdeu o bebê, como também perdeu a própria vida por minha culpa. – Emocionado por relembrar tudo aquilo, Rafael caiu em lágrimas. – Vendo a sua situação, lembrei-me dela. 
— Mas eu não sou ela. – Tentou não ser tão dura com ele. - Seja compreensivo, por favor. 
— Sei que não temos nada em comum, acabamos de nos conhecer, - enxugou as lágrimas que escorria do rosto. – entretanto aceite, eu imploro. 
Por um momento, sentia que tinha que aceitar. Suas mãos suavam, um frio tomou conta de sua barriga. De fato, não conseguia atinar o porquê daquela atitude. Aquele homem nem a conhecia e havia lhe estendido a mão, uma nova oportunidade de recomeçar. Mas uma pulga atrás de sua orelha a deixava alerta quanto ao médico. Alguns segundos pensando e tomou uma decisão. 
— Só até o meu... O pai do meu filho voltar. Ele estará aqui na cidade em breve.
— Está bem. O que importa é que eu vou poder te ajudar. Creio que só assim, poderei me redimir a minha doce Clara por tudo que a fiz passar. 
— Agora se não se importa, eu preciso ficar sozinha.
— Com certeza, até logo.
E saiu, com um sorriso de alegria no rosto. Sorriso de alegria, por conseguir convencê-la. Caminhando pelo corredor, foi até o seu gabinete. Lá, pegou o telefone e fez uma ligação.
— Já fiz. (...) A instalarei em um hotel, como com as outras e esperar. – Disse.

2

Milésimos, segundos, minutos, horas, dias, meses. Durante esse tempo, muitas coisas mudaram. Fazia cinco meses que Anita estava morando no hotel alugado por Rafael. Sua desconfiança com relação a ele havia diminuído por completo enquanto que sua gratidão só aumentava. Todos os dias ele a visitava, conversavam, riam. Mas Anita tinha razão desde o inicio, só não sabia ainda. De seu escritório Rafael fez uma ligação. 
— A garota está com sete meses. – Falou ele. – É só uma questão de tempo até levarmos ela para a Áustria. 
— Já resolvi alguns problemas por aqui e estarei ai em alguns dias. – A voz por trás do telefone falou. – Onde fica está cidade mesmo? 
— Interior. Valinhos. 
A face do homem revela-se pálida, como se tivesse visto um fantasma. Benedito levanta-se. Estava no quarto. Aproveitou a ausência de Zaíra para ligar para o médico.
— Rafael. Diga-me o nome dela, o nome! – Insistiu, amedrontado.
— Isso realmente é importante? 
— Se eu estou perguntando é por que é lógico que sim! 
Naquele mesmo instante, longe dali, Anita acariciava sua barriga, enquanto se balançava em uma cadeira de balanço de frente a janela. Durante todos aqueles meses não saíra daquele quarto por medo de que alguém a condenasse. Flutuava em esperança. Esperança de um futuro melhor. Seu olhar por entre as cortinas entre abertas ficavam em transe, paralisados. Ainda sonhava com o dia em que Benedito viria buscá-la. Começou a cantar a música “Carinhoso” de Elis Regina, pensando em tudo que vivera com o amor de sua vida. Amor esse que provavelmente nunca mais voltaria. Ao terminar de entoar o refrão sentiu algo diferente. Líquido amniótico escorria pelas suas pernas, seguida por uma vasta quantidade de sangue. Em pânico, caiu no chão. Olhos abertos. 
— Fala logo de uma vez por todas! – Benedito ordenou impaciente.
— O nome da moça é Anita. – Respondeu Rafael sem nada entender.

Benedito abaixou o telefone. Estava em choque.

O nascimento pode ser o inicio de uma nova vida. E do inicio dessa vida, nasce também à esperança de um futuro melhor, carinhoso. Completamente, FELIZ...?


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Notas finais do capítulo

Repetindo, se gostou, favoritem e deixem comentários. Será muito importante. Obrigado.