Anjo escrita por Gabriel


Capítulo 6
Não confie nela


Notas iniciais do capítulo

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1

Olhar sem destino, visão turva. A cor amarela era predominante, entretanto, começara a escurecer, de amarela passou para uma tonalidade vermelha, vermelha e cremosa, como sangue. Gritou incessantemente apavorada, de tão fortes que eram suas dores de parto. Os gritos soaram durante alguns minutos. Logo, o único barulho que se ouvia era o choro rouco de seu bebê. Olhou para o filho que se mexia em meio a uma poça de sangue e desmaiou. No corredor, em frente á porta do quarto, um vizinho que tinha escutado os gritos, preparava-se para derrubá-la. Com apenas um chute derrubou-a. Ficou chocado. A frágil criança agonizava, seu choro ouvia-se, agora com dificuldade, como se estivesse engasgado. Aproximou-se ligeiramente de Anita e checou seu pulso. Estava bem. Foi até o telefone e ligou para que uma ambulância viesse fazer os primeiros socorros.

2

Benedito estava furioso. Coincidência ou destino? Não podia ser verdade. Por um triz venderia o próprio filho sem saber que este lhe era.

— Tu só podes estar... Eu sinceramente não posso acreditar!

— Eu ainda não entendi o porquê da importância por esta vadiazinha. Você a conhece é isso? – Rafael perguntou desconfiado de tal reação.

— Cancele a venda dela imediatamente.

— Não dá você esqueceu-se de com quem estamos lidando?

— Eu pago o quíntuplo da venda da garota, mais cancele imediatamente! É uma ordem! Chegarei ai em menos de vinte e quatro horas.

Desligou o telefone sem que Rafael tivesse direito a resposta. Regina, enfermeira do hospital, entrou em seu gabinete. Ao vê-la, Rafael tratou-a com rispidez, não estava de bom humor.

— Desculpe doutor Rafael. – A enfermeira falou um tanto desconcertada.

— Você deveria bater na porta antes de entrar. Sua mão não vai cair se você o fizer. Mas agora que já entrou diga o que quer.

— Uma moça chamada Anita deu a luz no apartamento que o senhor alugou para ela.

— Como assim deu a luz? Anita só está com sete meses!

— Não me pergunte. Eu não sei. Mas quando a vi na maca, saindo da ambulância percebi que ela não estava nada bem. Sua pele mais parecia um papel de tão branca. Isso é o que Jesus faz com as vadias malditas que não seguem seus mandamentos.

— Cala a boca!

— Você não concorda comigo? – Fez-se de espantada e cobrindo a boca com as mãos, ironizou. – Não me digas que você é o pai daquele feto?

Deu-lhe uma forte bofetada na face.

— Isto foi o cúmulo! Estás demitida!

— Bate de novo Rafael, bate! – Sorriu ela sentando na cadeira com as pernas abertas, insinuando-se para o médico. – Eu gosto.

Preferiu não mais discutir e rapidamente saiu dali. Foi saber o estado de Anita. Se algo acontecesse com ela ou a criança perderiam bastante dinheiro. Regina girou a cadeira para a porta para checar se Rafael realmente tinha saído. Levantou-se e foi até a mesa. Cautelosamente atenta a qualquer aproximação, tratou de procurar algo dentro das gavetas da mesa. Pela sua expressão facial havia encontrado o que queria. Escondeu o documento dentro do jaleco e saiu discretamente.

3

O movimento nos corredores era intenso, havia mais doentes do que médicos para atender. Rafael, atordoado com aquela confusão correu até o local onde Anita estava. Seu quadro era instável, entretanto ela ficaria bem. Quanto ao bebê, teria que passar algum tempo na incubadora. Aproximou-se dela e olhando-a maliciosamente segurou em sua mão.

— Anita, Anita. Eu não sei qual a sua ligação com o Benedito, entretanto nada nem ninguém vai me impedir de te vender. Nem a ti, nem ao teu bebê.

Voltou para o gabinete indo direto ao telefone.

— Ela está aqui. (...) Quero que venham hoje à noite. (...) Não temos tempo a perder. – Falou.

Do lado de fora, recostada a porta, Regina escutara a conversa. Foi ao vestuário e trocou-se. Tirou o jaleco, soltou o cabelo, retirou toda a maquiagem impregnada no rosto. Ficara irreconhecível. Olhava-se no espelho, determinada.

4

Chegou a delegacia, passos firmes anunciavam sua chegada. Foi até uma sala privada, onde Josué, delegado daquele distrito a esperava.

— Então Regina, alguma novidade? – Ele perguntou ao vê-la aquele horário, o que era típico.

— Temos uma bomba. Eu consegui papéis que provam o tráfico de pessoas para tortura. – retirou o envelope da bolsa e o entregou.

— Como assim para a tortura, eu nunca ouvi falar disso! – Respondeu abrindo o envelope.

— Passei sete meses investigando o Rafael Viana, que por sinal nem se chama Rafael e sim Alonso Villaça. Consegui uma cópia da chave do apartamento dele e fui até o local. Juro tive que me segurar para não matar esse monstro. Por trás de um quadro eu... Eu descobri um cofre e dentro dele, fitas de vídeo de crianças e jovens grávidas sendo estupradas  servindo de cobaias para experiências doentias. As imagens são ruins, preto e branco, datam de mil novecentos e trinta e nove. Esse documento que eu peguei mostra claramente a transição de contas de diferentes locais do mundo para a conta dele que fica na Eslováquia. Provavelmente este dinheiro veio do tráfico humano e temos pessoas muito influentes no meio desse mercado negro.

— Você sabe que para prendermos o tal do Alonso precisamos de provas.

— Quer mais provas que isso? Basta ir ao apartamento dele e verificar o cofre.

— Okay, irei expedir um mandado. Mais alguma coisa?

— Agora me lembrei. O Alonso estava ao telefone a pouco e ele combinava com outra pessoa de levarem uma garota hoje à noite. Buscasse o mais rápido possível antes que fosse tarde. Se chegássemos a tempo, conseguiríamos pegá-lo em flagrante. – Pôs a bolsa novamente no ombro e foi em direção a saída.

— Aonde vai?

— Ficarei na cola do Alonso. Hoje nós prenderemos essa quadrilha de uma vez por todas, mesmo que seja só uma parte dela. Vai ser o inicio do fim do tráfico internacional de pessoas. – Disse com determinação.

5

Regina estava super confiante. Havia esperado muito para acabar com as monstruosidades dos traficantes de pessoas. Pelo menos, com uma parte dela. Pequena, mais essencial para se chegar ao resto, aos manda chuvas. Homens milionários que pagavam fortunas apenas para satisfazer seus desejos pervertidos.

6

De malas prontas, Benedito descia a escada. Estava sério. Zaíra, ouvindo os passos do marido foi esperá-lo ao pé do corrimão. Ele pôs as malas no chão e a abraçou.

— Vai com Deus! – Disse em lágrimas, pois não queria ficar longe do marido. – Sentirei muito a sua falta.

— Eu também. – Respondeu Benedito dando-lhe um beijo.

Afastaram-se um do outro. Ela o acompanhou até o carro onde o motorista o aguardava para levá-lo ao aeroporto. Ele colocou as malas na traseira e beijou Zaíra uma ultima vez. Após a despedida, entrou no carro e foi embora. Zaíra observava o carro que se distanciava cada vez mais, até que desapareceu ao passar pelo enorme portão. Voltou para dentro da mansão e fez uma ligação.

7

Anoitecera. Estacionou o veiculo do outro lado da rua e caminhou por entre as árvores até que parou. Aquele era o campo de visão perfeito para vigiar os últimos passos de Alonso, do qual havia dedicado dez anos de sua vida investigando. Alguns minutos após sua chegada pode testemunhar Rafael/Alonso, carregando Anita em seus braços para dentro de uma ambulância que estava do lado de fora. Outro homem, trajado de enfermeiro, carregava o pequeno bebê. Assistia a tudo pasmada. Como podiam fazer aquilo, como ficavam impunes? Era hora de agir. A arma estava em punho, deu um passo a frente e antes que pudesse seguir Josué a impediu.

— Você tinha razão. – Revelou. – Fomos até o apartamento, tivemos que arrombar, pois ele não estava. Encontramos as provas que precisávamos para sua prisão. Nossa equipe já esta a postos.

— E quando vamos agir? Veja, eles estão com o filho daquela moça.

Josué explicou o plano para Regina.

8

O falso enfermeiro que estava com o bebê entrou na ambulância e sentou-se na cadeira, colocando o cinto. Depois que prendeu Anita na maca dentro do veículo, Alonso fechou a porta e voltou para o hospital. Em seu gabinete tirou a peruca que usava, o bigode e trocou de roupa. Quando estava para sair, ouviu passos que se aproximavam. Deduziu ser uma mulher pelo som que seus sapatos produziam. Virou-se e deu de cara com Regina.

— Sua vadia, o que ainda faz aqui? – Perguntou em voz baixa puxando o braço dela com força.

— Nossa, que mudança. – Referiu-se ao visual de Rafael. – Onde pensa que vai... ALONSO!

Olhou para ela, quase não conseguia dizer nada. Regina se desvencilhou dele e ligeiramente o prendeu com algemas escondidas dentro do jaleco.

— Acabou! Você está preso por tráfico internacional de pessoas. – Regina revelou deixando-o surpreso.

Confiança. É a segunda atitude pior que amar. A confiança iludi, engana, manipula, destrói. É falsa e se há algo a ser aconselhado sobre a confiança, esse algo é: NÃO CONFIE NELA.

 

 


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Notas finais do capítulo

Repetindo, se gostou, favoritem e deixem comentários. Será muito importante. Obrigado.