Anjo escrita por Gabriel


Capítulo 3
O inesperado sempre acontece


Notas iniciais do capítulo

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1

Olhou para os lados e discretamente puxou Jadi pelo braço, até um determinado ponto onde não havia tanto movimento.
— Não se atreva a repetir o que disse. Alguém pode escutar! – Zaíra alertou, preocupada, sempre, com sua reputação. O medo de aquele segredo acabar sendo descoberto havia empalidecido sua pele. 
— Fique calma maninha. Ninguém vai descobrir que somos irmãs. Ao menos não pela minha boca. Eu só vim aqui para te dar os parabéns.
—E eu te trouxe aqui para te pedir, aliás, implorar que não publique nada negativo sobre o meu casamento.
— Lamento. Isso não posso fazer. Até porque se eu não publicar, outros jornalistas irão.
— Afinal, o que tu sentes quando vens me procurar, apenas para colocar-me contra a parede? É prazer? O que tu ganhas com isto? – Zaíra tentou comover a irmã com seu drama.
— Não se trata do que eu ganho, entretanto do que vocês ganham. Vocês que tem mais conforto do que as outras pessoas. Que esbanjam milhões com futilidades! No íntimo, a vida de ninguém é perfeita, independente de ser rico ou pobre. E este casamento é a prova disso. Agora eu me pergunto... Onde é que o noivo estava? Você quer que eu responda? – Provocou Anita, com um sínico sorriso estampado no rosto. 
— Chega! Chega de me comparar com essa gente pobre que não tem a mínima decência! 
— Podem ser pobres, mas são ricas em espírito. 
— Vai embora daqui! – Ordenou. – Não te quero ver mais, nem pintada a ouro!
— Eu vou embora sim. Entretanto não prometo que não vou voltar.
Jadi tinha conseguido aquilo que queria: Provocar a irmã. Virou-se e caminhou em direção a saída. Benedito, percebendo o sumiço de Zaíra foi a sua procura. Ao ver o marido se aproximar, limpou as lágrimas, recompondo-se. 
— Querida, o que faz aqui sozinha? Eu vim uma moça saindo daqui, aconteceu alguma coisa?
— Não, era apenas uma repórter querendo saber sobre a lua de mel. 
— Percebo... – Benedito não era tolo. Poderia até ser uma jornalista, mas a informação que ela queria, dizia respeito a outro assunto. – Bom, temos de ir! – Ele tentou animar a esposa, beijando-lhe o rosto. 
Deram-se as mãos e voltaram para o salão. Do lado de fora, todos aguardavam a saída do casal, que fora recebido com chuva de arroz pelos convidados. A limusine os esperava com uma placa ao lado que anunciava que eram recém casados. Ao som de aplausos, partiram.

2

A terra gira e em meio a esse processo, o tempo vai escapando pelos nossos dedos como a água corrente. Após passarem dias em Paris, Benedito e Zaíra voltaram para o Brasil. Não ficaram mais porque Zaíra não havia se sentido bem. Chegando ao aeroporto, ela sentiu-se mal e desmaiou. Acordou horas depois no hospital, recebendo soro na veia. Vendo que a esposa tinha acordado, Benedito apertou sua mão. Ele a olhava com uma expressão de alivio e felicidade. Zaíra só entendeu o que estava acontecendo, quando ele acariciou sua barriga. Seus olhos brilhavam de felicidade. Naquele mesmo instante, o médico entrou, confirmando para eles o que já suspeitavam: Zaíra estava grávida! Assim, dois meses se passaram.

3

Anita estava preocupada. A barriga de dois meses e cinco dias fez com que ela modificasse suas vestes. Agora só usava vestidos longos, que a escondiam das vistas alheias e principalmente, de seus pais. Entretanto, por mais atenta que estivesse não poderia esconder a verdade por muito mais tempo. Aproveitou que o pai havia ido ao mercado e foi até a cozinha, onde a mãe preparava o almoço. Relutava em lágrimas, escondida atrás da porta, tomando coragem para contar seu maior segredo. Metros dali, aproximando-se, João dirigia sua caminhonete. Parando de frente a casa, estacionou.
— Mãe, - Seus olhos, vermelhos de tanto chorar, expressavam seu medo e aflição. – eu tenho um segredo terrível.
João entrou, sem chamar atenção. Carregando as sacolas da feira, foi em direção a cozinha. Estava satisfeito, pois não tivera mais problemas com a filha. Notava-se o sorriso em seu rosto.
— O que é Anita? – O coração de Josiete gelou, temendo sobre o que a filha iria dizer. 
Anita ficou em silêncio durante alguns segundos. Momento de grande apreensão. João chegara de frente a Anita, que por sua vez estava de costas, na entrada da cozinha. Foi interrompido antes que pudesse pronunciar uma só palavra.
— Aconteceu há alguns meses trás... Eu conheci um rapaz! – Anita iniciou e não se contendo, tornou a chorar. – Eu o amava... Amo ainda, muito.
— Vá direto ao ponto garota! – Josiete ordenou trêmula. 
— Mãe... Eu estou grávida.
Em choque, João soltou as sacolas no chão. Seus olhos, arregalados, deixavam cair uma única lágrima. Lágrima de tristeza e decepção, convertida á ódio. O coração de Anita disparara. Virou-se de costas e o medo tomou conta de sua alma.
— Pa-Pai? – Ela gaguejou. 
— Eu acho que não escutei direito. – Falou João, furioso. As lágrimas agora eram constantes. 
— Desculpa pai, - Exclamou Anita, chorando mais do que antes. – Eu o amava... Ainda o amo, e... – Foi interrompida. 
João não se conteve. Violentamente, deu uma forte bofetada no rosto da filha, que se desequilibrou caindo no chão. Ele enxugou a face, molhada pelas lágrimas e sem pensar duas vezes, puxou-a pelos cabelos até o lado de fora. 
— Pai, por favor, perdoe-me... – Implorava ela, arrasada. De sua boca escorria sangue devido o impacto da agressão. 
— Cala a boca, sua, sua... VAGABUNDA! Eu não te quero ver mais! Some da minha frente. Some de minha vida. – Impulsivamente, chutou a barriga de Anita, que retorceu-se de dor. 
Foi na direção da porta e parou. Voltou-se para a filha. Um sentimento no fundo de seu coração a queria ajudar. Mas o orgulho o impedia. Virou-se de costas e seguiu, sem olhar para trás. A porta se fechou.
— PAAAAI! – Anita gritou uma ultima vez, clamando por ajuda. O eco podia ser ouvido a metros dali.
Não obteve resposta. Sentada em um canto da cozinha, aos prantos Josiete, sentia-se culpada. Tampava os ouvidos com as mãos, pois não queria escutar a voz da filha humilhando-se para nada. Um estrondo iluminou o céu nublado, dando inicio a uma forte chuva. Fragilizada, Anita, ainda deitada no chão, tocou o pé da barriga. Olhou e constatou o sangue que estava perdendo sangue. Não só isso. Estava perdendo seu bebê! Não podia perder aquela criança. Ela era a única lembrança de seu único e verdadeiro amor. Como uma faca perfurando-a, sentiu uma forte pontada em seu útero. Gritou, gemeu, até que seus olhos foram fechando. Um vulto se aproximou e depois, nada mais viu.

4

Despertou. Lentamente virou a cabeça para o lado e quem lá estava era Julia. Com dificuldade abriu a boca, tentando chamar pela amiga, adormecida no sofá. Fraca, recebendo um forte sedativo na veia, retornou a dormir.

São Paulo

A porta da enorme Mansão Alcantara foi aberta. Parecia mais um castelo de tão imponente. Por dentro o luxo se destacava. O motorista levava as malas para o terceiro andar, onde ficavam os quartos. Estava impressionado, não soube como disfarçar. Guilherme ainda era jovem, só tinha dezoito nos. Deu sorte, pois foi escolhido entre milhares para trabalhar para o poderoso Benedito Alcantara.
— Feche a boca rapaz. P Brincou Benedito ao ver a reação do motorista. – Se uma mosca entrar, você pode morrer engasgado e eu ainda vou precisar muito dos seus serviços. 
Zaíra também ficara maravilhada com o tamanho do castle. Não pronunciou uma só palavra desde que tinha entrado na mansão. 
— Gostou querida? – Sorriu ele, aproximando suas mãos delicadamente do rosto da esposa.
— Eu estou em um livro de contos de fadas, pois não? Este lugar é fantástico! Sinto-me uma verdadeira rainha.
— Sim, sim, tu és uma rainha. Minha rainha. – Então se afastou da esposa, ficando de costas. Sua expressão era de desânimo. 
— Então, meu amor. – Ela se aproximou preocupada. – O que foi?
— Eu gostava de falar contigo. 
— Pois, podes dizer.
—Tu sabes que sou um homem de negócios, não sabes?
— Sim, eu sei. Entretanto o que isso tem haver? – Questionou sem entender.
— Eu vou precisar fazer uma viagem...
— Não te preocupes. – Zaíra abriu um largo sorriso. – Não tenho problemas em fazer viagens constantes. Antes de me casar contigo eu era modelo, esqueceste?

Benedito afastou-se e virou para Zaíra. Direto, sem poupar palavras.
— É que você não virá comigo. Eu viajarei sozinho. – Ele avisou sério. 

Não existe felicidade na vida real, a história é bem clara. E por mais que o sorriso dure, é momentâneo: Se desfaz rápido e é logo substituído por lágrimas. No fim, o inesperado sempre acontece.


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Notas finais do capítulo

Repetindo, se gostou, favoritem e deixem comentários. Será muito importante. Obrigado.