I'm trying my best
Not to blow it, to blow it
And I know everything will be fine
With me, myself, and time

Estou tentando o meu melhor
Para não explodi-lo, para fundi-lo
E eu sei que tudo vai ficar bem
Comigo, eu e tempo.

Me, myself, and time – Demi Lovato

Destiny acordou extremamente irritada, o que já estava se tornando costumeiro. Provavelmente fazia parte da etapa do luto. Havia lido em algum lugar que geralmente se passam por cinco fases de luto: a negação, a qual ela já havia passado graciosamente, após dias sem comer direito e sem falar com ninguém; a raiva, a qual ela se encontrava agora, e que sendo bem sincera, esperava que terminasse logo, porque já nem se aguentava mais; a negociação, que ela ainda não entendia bem como funcionava; a depressão, a qual ela temia, e muito; e a aceitação, a qual ela não sabia se era realmente possível, mas temia que não.

Perdida em pensamentos, continuava deitada, sem a menor vontade de levantar. Sabia que iria se atrasar para as aulas se demorasse mais um pouco, porém não se importava com isso. As cortinas da sua cama estavam fechadas, escurecendo o ambiente e a afastando do mundo exterior. Estava com um cansaço enorme, que não tinha explicação.

— Acorde, Destiny Selene. Vai chegar atrasada assim — sua melhor amiga, Charlotte, falou batendo numa das cortinas. Dest revirou os olhos, mesmo sabendo que a outra não veria.

— Já estou acordada — resmungou, ainda sem se levantar. — E não me chame de Selene, a menos que não queira manter a vida — ameaçou

— Então levante-se — mandou a outra, que era apenas um mês mais velha, mas agia como se fosse anos. Ultimamente essa atitude da amiga a deixava irritada, mas também, era difícil encontrar algo que não a deixasse assim. — E chamarei assim quantas vezes quiser, até que você pare com esse mal humor e volte a falar com seu primo. Suas ameaças não surgem efeito em mim.

Levantou-se, pois sabia que não seria deixada em paz até que o fizesse. Mas sentia uma enorme vontade de jogar algo na pessoa que deveria ser sua melhor amiga. Sentia também que Charlie não entendia o que ela passava. Afinal, como poderia? Quando ambos os pais dela estavam vivos e relativamente bem. Enquanto o seu pai morrera e sua mãe estava completamente descontrolada, pensou amargamente. Alguma parte profunda do seu cérebro sabia que Charlotte não tinha culpa de nada disso, mas em seu atual estado, ela empurrou essa informação mais para o fundo.

— Boa menina — elogiou Charlie. Dest controlou o impulso de revirar os olhos mais uma vez e foi direto ao banheiro, ignorando as coisas que poderia jogar na amiga.

— Cadê a Ginevra? — perguntou dando por falta da menina ruiva. As outras duas habitantes do quarto tinham o péssimo costume de levantarem cedo e já deveriam estar no café da manhã. E sinceramente, Dest não se importava com elas.

— Foi se encontrar com o Dino — respondeu Charlie. — E não deixe que ela te escute falando esse nome. Você sabe o quanto ela detesta.  Agora adiante, e pare de enrolar.

Destiny então trancou-se no banheiro, enquanto Charlotte a esperava, como já era o costume. Mesmo no presente humor da amiga, ela tentava manter as coisas as mais normais possível.

Charlie ficou pensando em como o trauma havia mudado a amiga. Sentia falta da antiga Destiny, e esperava que essa estranha e irritadiça Dest não demorasse muito mais por ali. Porque ela não sabia até quando teria a paciência de ignorar as grosserias dela.

...

Os dias de Destiny seguiram num ritmo habitual, apesar dela ter notado que alguns dos novos alunos pareciam bem interessados em sua rotina. Porém foi algo que ela resolveu ignorar, ao menos por enquanto, em nome da sua já fraca sanidade.

Acordava de mal humor e brigava um pouco com as amigas; seguia para o café, onde acabava brigando um pouco com Nico — seu melhor amigo, e implicava um pouco com Charlie e seu namorado, Logan; então ia para as aulas, onde tentava não morrer de tédio; no almoço brigava um pouco mais; e no jantar, se ainda houvesse alguém por perto dela, a mesma coisa. Sinceramente, estava cansada de tanta briga. Mas parecia que todos sabiam da vida dela mais que a própria. Enquanto isso, a única pessoa que ela realmente queria que viesse falar com ela — mesmo que fosse para brigar —, parecia estar a ignorando. Devido há projetos pessoais. Era algo que ela já esperava, devido a volta do grande senhor das trevas, aquele que ninguém fala o nome, ou sei lá como estavam o chamando ultimamente.

Os lados já estavam decididos. E Dest duvidava que ele mudasse de lado por ela.

...

Quase no final da semana, ela se viu olhando saudosamente para onde Harry Potter sentava-se com seus amigos para o café da manhã. Querendo ou não, eles haviam se aproximado no último ano, quando ela descobriu a verdade sobre a sua origem.

Já que perdera o pai, não era justo perder também seu único parente de sangue são vivo. Talvez finalmente ela estivesse deixando a fase da raiva, e entrando na negociação. Abaixou a cabeça, olhando distraidamente para a sua comida novamente não tocada. Será que valia a pena engolir a porcaria do seu enorme orgulho? Era uma pergunta que ela teria que responder logo logo.

— O que aconteceu para você estar tão calada? — perguntou Nico, notando que a amiga não encrencava com ninguém há cinco minutos, o que era quase um recorde, considerando o histórico recente dela.
Dest levantou o rosto para encarar o amigo. — Só estou pensando na vida.

— Ah, por isso o cheiro de caldeirão queimado — ele brincou. Sem conseguir segurar, e mesmo não achando graça na fala dele — que sinceramente, não tinha — ela não conseguiu deixar de sorrir, devido ao sorriso dele. Nicolas era o tipo de pessoa que poderia fazer você rir sem esforço ou mesmo sem a intenção. Por isso era muito difícil para ela conseguir brigar com ele — mas ela conseguia ultimamente.

— Eles não se cansam disso não? — Dest desviou o assunto, apontando “discretamente” para Charlie e Logan, que estavam quase se beijando na mesa, sentados lado a lado, olhando-se intensamente e conversando baixinho.

Destiny não sabia se havia ficado muito amarga ultimamente ou o que, mas a visão do casal apaixonado fazia embrulhos em sua barriga. Mas provavelmente era só a falta de alguém para chamar de seu mesmo.

— Imagino que isso é o que acontece quando se está namorando — ele respondeu dando de ombros. — Não posso responder direito, já que essa é uma área em que não tenho muita experiência.

— Não entendo como você ainda não arrumou uma namorada.

— As garotas daqui simplesmente não entendem a minha personalidade... ah, digamos assim, única — falou sorrindo abertamente, mas que foi diminuindo gradativamente, enquanto ele encarava a amiga.

— Simplificando, as garotas daqui não aceitam sua loucura — ela provocou. — Mas não se preocupe. Se eu me acostumei com ela, tenho quase 50% de certeza que alguma outra louca também vai.

Nico não soube o que responder, então eles passaram algum tempo em silencio. Até que Dest voltou a falar. — Você acha que devo falar com ele?

Ela não precisou falar quem era, nem apontar. Nico sabia de quem ela falava. — É claro, Tiny. Você no fundo sabe que ele não teve culpa nenhuma. Foi simplesmente um acidente. E ele sofreu tanto quanto você, ou até mais, porque também se culpou pelo ocorrido. E depois com você gritando para Merlin e o mundo que era, não ajudou muito.

Destiny suspirou. — Bem, espero que você esteja certo. Porque se eu figurativamente quebrar a minha cara, eu literalmente quebrarei a sua — ameaçou com toda a “gentiliza” possível e se levantou. — Agora vamos, porque se depender do casalzinho ali, — apontou para os dois — só chegaremos na aula amanhã.

Nicolas levantou-se sorrindo. Possivelmente e esperançosamente, Dest estava voltando a ser aquela menina que ele conhecera. E de quem passara a gostar, um pouco demais até.

...

Ela pensava que merecia um prêmio. Aguentara quieta durante praticamente quase toda a semana, com aqueles lunáticos dos alunos novos quase a perseguindo diariamente. E ela calada, como uma lady que não era. Não entendia qual era a do comportamento obsessivo deles em relação a ela. E na sexta, durante o almoço, finalmente explodiu.

Havia sentando-se com sua turma habitual — faltando Gina, que estava com seu namorado, o que estava se tornando normal. Até que os novatos se espremeram para sentar perto dela.

— Vocês querem algo de mim? — perguntou curta e grossa, passando o olhar pelo rosto de cada um. Boa parte deles ficaram vermelhos, com vergonha de terem sido notados.

— O que lhe levou a pensar isso? — retrucou um belo garoto de olhos incrivelmente azuis — bem parecidos com os seus, ela pensou. E cabelos curtos num castanho claro.

— Só o fato de vocês estarem me seguindo há dias! Se querem algo, só falem logo! — exclamou irritada. Uma das meninas de cabelos castanhos claros, com mechas coloridas e olhos também azuis — “afinal, por que todo mundo parece ter olho claro aqui?!”, pensou aleatoriamente —, parecia tentada a falar algo, fechando e abrindo a boca algumas vezes. Após um tempo nisso, Dest sacou que não ganharia respostas hoje. Levantou-se soltando um suspiro de irritação. — Por favor, parem com isso, antes que eu faça vocês pararem.

Seguiu então em direção ao primo, que chegará quase agora no Salão Principal e sentara-se perto da porta. Ignorando os amigos dele, o puxou pela capa.

— Ei, calma — ele reclamou, pois ela quase o derrubara do banco. — Me deixe pelo menos levantar — pediu ficando de pé. A menina continuava o puxando em direção a saída.

— Posso ficar com a sua comida então, Harry? — eles escutaram Rony Weasley gritando a fundo, mas Harry não teve tempo de responder. Pois não teve tempo de realmente notar o que acontecia.

Por algum milagre, fora tomada de uma coragem inesperada. Talvez fosse por causa do ocorrido há pouco, ela não saberia dizer. Mas ela resolvera aproveitar o momento e ter uma seria conversa com o senhor Harry James Potter, mais conhecido como seu primo ignorado.

Arrastou para o primeiro corredor deserto que encontrou, o que foi um pouco difícil por causa do horário.

— Será que você pode me explicar o que está acontecendo, Destiny? — ele perguntou um pouco irritado. — E resolveu parar de me ignorar?

Ignorando ao impulso de revirar os olhos, coisa que ela parecia estar fazendo muito ultimamente, resolveu tentar resolver as coisas com calma.

— Estou querendo falar com você. E sim, pelo menos por enquanto, não faça com que eu me arrependa disso — respondeu malcriadamente.

— Certo então, vá em frente. Fale.

E então, a coragem foi embora. Encarando os olhos verdes dele, — mais um com olhos claros — ela ficou sem palavras e as lágrimas chegaram com tudo, caindo antes que ela conseguisse impedir. Quando voltou a si, estava chorando nos braços do primo, sendo consolada por aquele que até hoje ignorava.

— Me desculpa, fui completamente idiota — implorava, em meio ao choro. Harry não sabia bem como agir, e tentava acalmar a garota acariciando seus cabelos.

— É claro que perdoo você. Você é minha prima. Você é tudo que me resta — ele respondeu carinhosamente. E então caiu a ficha para Dest, ela fora uma tremenda vadia egoísta e estava resolvida a mudar isso.