Aokigahara escrita por Yennefer de V


Capítulo 4
O lince e o aborto


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Temos menos ação e mais "revelações" aqui.
(mas eu já estou quase terminando o próximo e lá tem ação até o fim da vida) (inclusive estou chocada com um dos personagens)

Queria deixar duas notas bobas:

[1] Aokigahara sempre tem uns corpos espalhados por lá e um pessoal voluntario entra na floresta para procurar. Eu não quis descreve-los na fic pq não era relevante (já que são trouxas) e porque é extremamente incomodo. MAS agora achei um jeito de encaixar isso na fic sem ser eles achando essas coisas perturbadoras.

[2] Na capa, feita pelo Luc, são a Molly e o Lorcan. Não quer dizer que eles são mais especiais na fic. Foi aleatório mesmo, eu tinha acabado de escrever uma Lorc/Molly muito boa e a gente se empolgou. A fic não tem protagonista (pelo menos pra mim não, se você achar um mais importante, pode ter!)

Só isso! Boa aventura!



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Japão, ilha de Honshu (floresta Aokigahara)

 

Lorcan

 

O lugar virou um caos, mas Lorcan não prestou atenção. Seu antigo instinto de caçador de recompensas voltou e ele ficou em pé na cadeira em que esteve sentado. Sentiu uma enorme fúria por aquele farsante que tinha atacado Molly.

Expulso! – disparou enquanto a criatura descia em rasante.

O humanóide foi atirado contra a cozinha, batendo em Rosa, que foi levada também. Ela caiu para trás com a cadeira. Lorcan não prestou atenção.

Dominique foi socorrê-la. Lorcan correu para a cozinha, seguido de Ted e Lysander.

OPPUGNO! — berrou Lorcan e todos os objetos da cozinha se jogaram contra a criatura, entre facas, garfos, pratos e panelas.

O animal foi atingido com ferocidade por cacos, pontas afiadas e objetos pesados. Uma de suas asas parou de bater e ele pendeu para um lado. O ser alado ficou atordoado, pairando a dois metros do chão, com cortes, hematomas e ferimentos visíveis.

— Não o mate. – alguém falou perto de Lorcan.

Ele não reconheceu a voz e a ignorou.

A forma da criatura ficou desfocada, como se ela estivesse tentando desaparatar dali, mas voltou a ficar sólida.

Sectumsempra!— bradou a voz de Ted ao lado de Lorcan.

A criatura alada ganhou cortes por todo o corpo, como se uma espada a tivesse atingido.

— Não o mate. Deixe-o ir. Por favor. – pediu a voz novamente, suplicando.

Aquilo só irritou mais Lorcan.

BOMBARDA MAXIMA!

A criatura explodiu. Pedaços dela como sangue, pele, órgãos internos, membros e outros voaram em Lorcan, Ted e Lysander que estavam próximos, maculando toda a cozinha, a mesa e as cadeiras que eram os moveis mais próximos e parte da sala. Alguém gritou perto dos quartos, mas Lorcan não se interessou em saber quem.

Uma das asas caiu aos seus pés. Lorcan chutou-a para longe com frieza.

[...]

Dominique

 

Estava quase amanhecendo. Victorie vomitou depois de ver a criatura morta. Molly ainda estava desacordada na cama. Ted consertou a mesa e as cadeiras destruídas por Lorcan com feitiços. Rosa conseguiu isolar o cheiro da criatura morta com uma espécie de bolha. Só assim conseguiram se reunir na mesa novamente.

O Makura-Gaeshi antes petrificado na mesa conseguiu desaparecer com a bagunça. Lysander refez o feitiço animalis revelio para se certificar que ele não estava na barraca, invisível. Aparentemente, o youkai preferiu fugir para a floresta a correr o risco de ser azarado novamente.

Lorcan desapareceu no quarto de Molly e trancou a porta, batendo-a com ferocidade. Todos eles, menos Lys e Dominique, ficaram assombrados. Os dois sabiam que Lorcan era extremamente agressivo com criaturas das trevas. Era a primeira vez que uma delas atacava alguém que ele amava.

— Então... – começou Dominique tomando uma caneca de café preparada por Lys, com os pés apoiados na mesa. – Que inferno era aquilo?

Lysander, sentado na cadeira ao seu lado e tomando café também (a única coisa que conseguiu preparar na cozinha destruída e rapidamente) olhou feio para os pés dela na mesa.

Tengu.— respondeu.

Ted, que estava claramente cansado, se irritou.

— Nós queremos saber um pouco mais além do nome.

Lysander não se abateu pela agressividade na voz dele.

— Mudam de forma. De corvo para o demônio vermelho com asas. Conseguem aparatar. Habilidade de ventriloquismo. Ouvimos a voz dele implorando por piedade. Ele também tentou aparatar, mas não conseguiu porque ...

— É impossível aparatar em Aokigahara. – concluiu Ted. – Por que eu não aprendi sobre essas criaturas em meu treinamento para auror?

Lys pousou a caneca na mesa e ficou segurando-a com as duas mãos, tentando aquecê-las.

— Se vocês fossem aprender sobre todas as criaturas das trevas que existem, ficariam uma vida inteira em treinamento. Vocês devem aprender sobre as nativas em nosso território... – arriscou Lys.

— Apostos que os aurores japoneses aprendem sobre os Tengus. – Dominique concluiu, também com sono.

— Eles também inquietam os sonhos das pessoas. Causam pesadelos realistas. Ele deve ter feito isso com a Molly. Eu achei que Molly só tinha sido arrastada para fora da cama pelo Makura-Gaeshi. E que ele tinha colocado Lorcan pra dormir... Não desconfiei que... O corvo... Sempre soube que tinha algo de errado com o corvo. – Lysander desabafou cheio de culpa na voz.

Dominique se levantou e o abraçou pelas costas, enlaçando as mãos em seu pescoço.

Você não pode salvar todos nós.— sussurrou em seu ouvido. – Agora sabemos a origem dos pesadelos do Malfoy. No diário do colega dele. – anunciou em voz alta.

Lysander ficou olhando para um ponto indistinto da barraca. Ele já tinha pensado nisso.

[...]

Molly

— Ei. – a voz de Lorcan a acordou.

Molly estava se sentindo estranha. Teve vários pesadelos seguidos durante a primeira noite em Aokigahara. No primeiro deles Lorcan e Rosa eram amantes. Eles até dormiram juntos, fazendo Molly se contorcer com a lembrança. No segundo, ela tinha atacado Lorcan por isso, azarando-o enquanto ele dormia. Depois ouviu uma gritaria maluca, como se fosse a final de um campeonato de quadribol, mas a voz de Lorcan era a mais potente e ele estava com muita raiva, vociferando azarações.

A mão de Lorcan estava em sua testa. A boca dele estava inchada, mas ele não parecia se importar.

— Você está bem? – perguntou ele.

Os olhos de Molly se abriram completamente. Estava se sentindo fraca, como se não se movimentasse há muito tempo. Sua cabeça latejava.

— O que aconteceu com sua boca? – perguntou com a voz rouca e a boca seca.

Molly se sentou na cama lentamente. Lorcan estendeu um cantil de água para ela.

— Eu não me lembro. – ele riu. – Algo a ver com um demônio voador.

Molly fez uma careta.

— Como assim?

— Vou te contar assim que tiver certeza de que você está bem.

[...]

Rosa

A manhã já tinha chegado. A claridade em Aokigahara não era tão confortável, mas era bem-vinda. Os fantasmas e ecos continuavam pela floresta, Rosa percebeu. Só não eram tão visíveis durante o dia.

O grupo estava exausto. Ninguém tinha tomado café da manhã por causa da cozinha destruída.

A madrugada deles não tinha sido fácil.

Ted tinha sido enfeitiçado por um Hinkypunk e posteriormente estuporado por Dominique. Victorie havia passado mal a noite inteira pela visão e cheiro do Tengu morto. Lysander se meteu em todas as lutas contra as criaturas. Dominique estuporou Ted e o arrastou até a barraca. Lorcan batalhou contra os Hinkypunks com o irmão, foi enfeitiçado pelo Makura-Gaeshi, estuporado pela namorada e acabou praticamente sozinho com o Tengu. Molly foi enfeitiçada pelo Tengu, pelo Makura-Gaeshi e ficou a noite inteira desmaiada.

Nenhum deles tinha dormido (além de Molly). Alguns tiraram cochilos inquietos de duas ou três horas depois da morte do Tengu.

Rosa ficou se perguntando quais eram as chances de Escórpio se eles mal aguentaram uma noite.

Ela decidiu se focar em uma meta realizável. Depois resolveria as próximas questões. Eles precisavam continuar a caminhada durante o dia. Precisavam comer.

Mesmo sendo um tanto trabalhoso, ela arrastou Victorie e Dominique com ela para armar uma segunda barraca de emergência. A primeira ia ser abandonada.

Victorie e Rosa prepararam café da manhã. Todos eles, esfomeados (mesmo Victorie que estava nauseada), comeram agradecidos.

Lysander desfez a barraca com alguns feitiços. Ele a guardou em sua mochila e o grupo se preparou para continuar.

Ted pegou o mapa e os liderou, com Victorie ao seu lado, usando a câmera para registrar a floresta, não tão animada quanto no dia anterior.

— Faça anotações. – pediu Ted. – Os relatos de Clifton Cooper nos ajudaram muito.

Sem energia, Victorie tirou o pergaminho da mochila, que ficou pairando ao seu lado, enquanto ela ditava algumas frases.

Caminharam por quatro horas. Se não fosse Ted com o mapa e utilizando o Feitiço dos Quatro Pontos para guiá-los, Rosa tinha certeza de que já estariam perdidos.

Os fantasmas não eram tão numerosos quanto ela pensou, nem os ecos. Eles apareciam vez ou outra e Victorie tentava conversar com alguns. Não obteve sucesso.

Rosa já sentia as pernas reclamando pelo movimento repetitivo da caminhada. Bruxos estavam acostumados aos meios de locomoção mágicos. Só Lorcan era ativo em esforço físico pelos constantes combates.

Estranhamente Rosa lembrou-se de Henry, o marido inmágico de Roxanne, que trabalhava como personal trainer.

— Pessoal. – chamou a voz de Ted indicando algo no chão.

Rosa prestou atenção ao que ele estava apontando. Havia claros indícios de um acampamento recente ali. A terra estava remexida. Ela percebeu que era um espaço desprovido de arvores. Havia dois borrões no chão, cada um do tamanho de uma cama de casal. Pegadas por todos os lados. Um par de pegadas que ia floresta afora solitária.

Outros resquícios de acampamento foram apagados como sujeira, objetos ou lixo eventual.

— Trouxas? – perguntou Victorie.

Foi Rosa quem balançou a cabeça negativamente.

— Trouxas não conseguiriam limpar a área tão bem, sem deixar resíduos materiais para trás. Foram utilizados feitiços aqui.

Ted concordou.

— Trouxas só entram aqui para... Vocês sabem. Os que estão hesitantes sobre a decisão que tomaram são os que acampam. E eles sempre deixam tudo para trás, caso tenham feito a... Tenham prosseguido para a morte ou voltado para casa. Eles sempre deixam tudo para trás. Barracas, anotações, mapas, bebidas, objetos... – explicou Ted.

— Você fez uma boa pesquisa. – elogiou Lysander impressionado.

— Não é hora para afetações. – grunhiu Lorcan, tão colado em Molly que parecia tentado a não sair mais de perto dela. – Foi o Malfoy? – perguntou.

— “Zac desapareceu na floresta. Foi como se ela tivesse o devorado. Ele estava na barraca com Escórpio e Jack. Quando acordamos, nem sinal dele. Apenas passos pelo chão em direção a floresta voluntariamente.” – Lysander recitou o diário de Clifton Cooper.

— Como esses passos! – animou-se Rosa, apontando para o par de pegadas que saia da clareira e ia mais fundo na floresta.

 — Foi aqui que Zac sumiu. – Ted concordou. – A Expedição Sinistro acampou aqui.

— Olhem. – Victorie apontou para um ponto além se remexendo nas arvores.

Iluminado pela luz fria que chegava à floresta estava um felino de orelhas pontiagudas, de cor acinzentada e pintas negras pelo corpo. Seu tamanho era mediano, maior que um gato comum. Os olhos eram azuis.

— Tengu? – perguntou Lorcan empunhando a varinha com destreza, já que Lysander informou que os Tengus mudavam de forma.

Ele desatou a correr na direção do felino.

— Não! – Rosa gritou correndo atrás dele. – PARE!

O felino tentou subir em uma arvore claramente fraco. Ele não conseguiu. Tombou para trás como se tivesse perdido o equilíbrio.

Cofrin... – começou Lorcan.

IMPEDIMENTA!— berrou Rosa para o amigo.

Lorcan parou de repente batendo num campo de força invisível. Seu nariz começou a sangrar pelo impacto.

— Maldi...!

Rosa o alcançou em sua ágil corrida e passou por ele em direção ao felino.

— ESCÓRPIO! – berrou.

O lince foi em passos trôpegos até ela. Rosa o abraçou, chorando. De repente o lince ganhou tronco, braços, pernas e uma cabeça alourada com olhos tão azuis quanto o céu friorento de Aokigahara. Escórpio Malfoy, o animago, estava pálido, magro, fraco. O corpo tremia de frio, batendo os dentes e ele estava totalmente nu.

[...]

Escórpio

— Alguém me ajude! – pediu a voz de Rosa, desesperada.

Ele estava alucinando. Só podia estar. Sua cabeça estava pousada nos braços da namorada. Era assim que era a Morte? Transformava-se nas pessoas amadas? Foi isso que o amigo Clifton viu antes de morrer? A filha Grace... A esposa Jessica...

Alguém o cobriu. Ficou mais quente. Estava numa maca agora. Foi Molly, com quem trabalhou por pouco tempo no St. Mungus quando a mãe faleceu.

Foram os olhos de Rosa, cheios de lágrimas de alívio, que Escórpio  registrou antes de apagar totalmente.

Acordou em uma cama. Estava vestido. Com calças, camiseta, um suéter, um agasalho e meias. Além disso, estava coberto. A cama que o sustentava era dura, mas confortável o suficiente para quem tinha dormido como lince nos últimos dias, assombrado por criaturas, fantasmas e ecos.

Havia uma cômoda ao lado da cama. Era mínima. A porta fina de madeira estava aberta. Ele reconheceu a voz de Molly retrucar para alguém em uma discussão:

— Ele não pode sair daqui. Nem em macas que levitam! – ela argumentou, exasperada. – Vocês não me requisitaram para cuidar de feridos?! Estou dizendo que não.

— Não podemos ficar um dia inteiro parados. - resmungou o lobisomem Lorcan, com quem Rosa trabalhava.

— Podemos. – a voz de Ted respondeu. – Viemos achá-los. Temos que voltar com ele vivo.

Lorcan ainda resmungou algo. Molly respondeu. Então adentrou o quarto. Ela sorriu quando o viu acordado.

— Você despertou. Está com fome? Consegue engolir algo? – perguntou Molly em sua voz de medibruxa, que era infinitamente mais paciente que sua voz normal.

Escórpio tentou sentir o estrago causado em seu corpo. Os músculos tinham perdido força.  Estava sem apetite. Ele sabia que sua penugem de lince tinha caído drasticamente em sua estadia na floresta. Mesmo agasalhado, estava tremendo e com frio. Não tinha forças para mover os membros. Sentia-se dormente. Respirava com dificuldade. Estava tonto.

Ele balançou a cabeça negativamente sem conseguir falar.

— Tudo bem. – respondeu Molly naquela mesma voz. – Ninguém vai te tirar daqui. Vou chamar a Rosa.

Molly saiu, deixando-o sozinho por um momento. Lágrimas escorreram pelo rosto de Escórpio involuntariamente e ele não conseguiu mover as mãos para enxugá-las.

Rosa trazia uma cadeira nas mãos. Pousou ao seu lado.

— Oi. – disse ela gentilmente, baixinho. – Eu estava preocupada com você.

Ela passou uma mão por baixo do cobertor e apertou a dele com delicadeza. Escórpio fechou os olhos.

— Você está bem. Está seguro. – prometeu ela.

Ele continuou de olhos fechados, ainda chorando.

[...]

Victorie

Durante toda a tarde Molly foi expressamente contra a partida deles. E pelo que Victorie conhecia da prima, ela os manteria lá até Escórpio poder jogar uma partida de quadribol.

Graças a experiência da noite anterior, Lysander, Lorcan e Ted fizeram os feitiços de proteção em torno da barraca e se precaveram de não haver nenhuma criatura invisível dentro dela. Estavam mais tranquilos.

A maioria conseguiu almoçar e dormir. Apenas Molly, atuando como medibruxa, e Rosa, extremamente aliviada pelo retorno do namorado, ficaram acordadas. Victorie as entendia.

Ela almoçou, lançou um feitiço para limpar a sujeira do pessoal na mesa e na cozinha e foi para fora da barraca munida de suas anotações, fotos, o dossiê sobre Cole Coward em que esteve trabalhando por alguns meses, pergaminho, a Pena de Repetição Rápida e o Onióculos.

Ela ajustou o Onióculos no rosto. Com toda a caminhada, os ataques das criaturas das trevas e o encontro de Escórpio, foi difícil para Victorie repassar informações que ela tinha coletado.

Ficou um tempo relendo pergaminhos. Viu algumas fotos recentes de Aokigahara ainda na câmera, não reveladas, o que impedia uma melhor inspeção.

Colocou o Onióculos no rosto.

Ela registrou a presença de fantasmas e ecos. Não demonstrou grande interesse neles. Ao contrário dos fantasmas de Hogwarts, aqueles não pareciam sociáveis.

Então, sem querer, ela viu uma espécie de construção no horizonte, como se fosse uma habitação lá pra frente. Curiosa, deu zoom in no Onióculos.

Não era uma “casa”. Era uma construção enorme e retangular, do tamanho de um estádio de quadribol (talvez dois) e parecia quebrada e abandonada. Suas paredes cinzentas estavam esburacadas e o telhado era praticamente inexistente. Victorie distinguiu manchas pretas na tintura gasta. Parte da construção tinha cedido ao chão, deixando escombros visíveis. Ela gravou as imagens que estava descobrindo. Não identificou a distancia em dias de caminhada que o lugar estava. Ted saberia dizer.

Eufórica com a descoberta e distraída, deu zoom out na lente do Onióculos para guardá-lo. O objeto focou mais uma vez nos fantasmas e ecos, mas Victorie não prestou atenção.

Até reconhecer o rosto. Deixou o Onióculos cair.

Não, Victorie pensou. O que ele estava fazendo ali?

Ela, que sempre reclamou da desorganização de Ted, fez uma bagunça em seu dossiê tentando achar a foto.

Virou página por página, alucinada. Parou em uma delas. Era uma noticia d’O Profeta Diário anunciando a nomeação de Cole Coward ao posto de chefe na Divisão de Feras do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, pouco tempo depois de fracassar nos exames para auror.

A foto era antiga, de Coward com os pais e o irmão mais velho. O irmão que morreu jovem, Nicholas Coward. Um rapaz franzino, de olhos furiosos, corpo encolhido e cabelos maltratados. Ele não parecia à vontade na foto. Victorie não conseguiu mais informações sobre Nicholas ou sobre a morte dele.

Mas, com certeza, aquele fantasma ou eco à frente era Nicholas, o irmão do Ministro da Magia interino. Ela o filmou.

[...]

Molly

Molly não conseguiu dormir durante o dia. Ela ficou desmaiada a noite inteira. Pelo que Lorcan explicou, foi a única que fez isso.

Tentou se acomodar ao lado do namorado por alguns minutos, mas percebeu que não ia adormecer, ainda mais naquela cama de solteiro minúscula, com um Lorcan agitado ao seu lado, que se remexia sem parar.

Até Rosa conseguiu se acomodar no sofá de dois lugares da sala. Molly achou que ela estava tentando ficar desperta por Escórpio, mas a falta de sono e o cansaço da caminhada lhe abateram.

Victorie também ficou um tempo fora da barraca, fuçando seus pergaminhos, entrou e tentou acordar Ted sem sucesso. Trocou algumas palavras com Molly e fechou a porta de madeira, adormecendo com o marido.

Molly ficou acordada e sozinha.

Aproveitou para vigiar Escórpio de perto. Estava confusa sobre as acusações que fez sobre Rosa para Lorcan. Não gostou de ter demonstrado ciúmes. Ela tinha seus próprios amigos no St. Mungus e às vezes ficava doze horas seguidas no hospital. Era inevitável criar laços com colegas de trabalho, como aconteceu com Rosa e Lorcan. Isso não queria dizer que eles estavam apaixonados.

Ela mesma tinha desenvolvido certo sentimento protetor por Escórpio quando ele, de luto pela mãe falecida há pouco tempo, tentou uma carreira em medibruxaria para consertar algo que se quebrou em seu coração.

Molly, que era sua residente, lhe disse em pessoa que aquela não era a carreira para ele. Escórpio entendeu e desistiu da profissão, melancólico. Eles só se encontraram novamente quando ele e Rosa começaram a namorar. Mas Molly ainda o via como um irmão mais novo, como Lucy era.

Ela teria um dialogo franco com Rosa quando tudo melhorasse. Acendeu pequenas chamas azuis dentro de vidros no quarto de Escórpio para ajudá-lo a se aquecer. Quando ele perdeu os pelos como lince, teve sintomas de hipotermia na gelada Aokigahara. Também sofreu com desnutrição, estresse, leves ferimentos e Molly desconfiava de depressão (doença que ele já tinha tido anteriormente). Nenhuma doença de bruxos.  Porque Aokigahara não era povoada por bruxos.

Depois de acender as chamas no quarto do amigo, Molly pegou café na cozinha e foi para fora da barraca.

Era tão silenciosa e perturbadora. Ouviu gemidos de fantasmas, os únicos conscientes além deles, atormentando a pureza da natureza. Sentada no chão de pernas cruzadas, deu um longo gole na caneca.

Alguém roncava alto dentro da barraca. Provavelmente Ted ou Lorcan. Ted estava demais preocupado e Lorcan demais agressivo.

Ela olhou para cima, tentando ver o céu. Foi difícil, mas distinguiu pontos azuis entre o mar de verde que eram as junções das arvores. Baixou os olhos de novo.

Então o viu. Reconheceu-o imediatamente. Morava com ele.

O que você está fazendo aqui?, foi seu único pensamento.

Depois entrou para acordar Lorcan. Aokigahara era perigosa demais e Molly não daria conta de nenhuma das criaturas que eles tinham encontrado sozinha.

[...]

Lorcan

— LORC!

Lorcan pulou da cama e apontou a varinha para o rosto de Molly. Dormia sempre alerta, acostumado ao perigo iminente, mesmo que agora trabalhasse no Ministério.

Ela se assustou e deu dois passos para trás.

— Henry. Na floresta. – ela resumiu. – HENRY.

Normalmente Lorcan pediria mais detalhes. Talvez não entendesse na primeira vez. Mas ali era Aokigahara e não havia tempo para perguntas. Ele correu porta afora e bateu no quarto em que sabia que Lysander e Dominique estavam entocados. Molly gritou por Ted em seu cubículo.

Logo ele estava fora da barraca, mas não viu nada.

— Molly...? – perguntou, quando o grupo se juntava a ele sem compreender também.

— Ele estava ali! – Molly apontou para um conjunto de arvores a uns dez metros deles.

Victorie foi rápida e elevou seu Onióculos. Deu zoom in no meio da floresta, no sentido em que Molly tinha apontado.

— Lá! – berrou. – Subindo na arvore. Ah meu Merlin... – ela deu-se conta. – O que ele está fazen...?

Nem Lorcan, Lysander, Ted, Dominique ou Molly esperaram ela terminar a frase. Lorcan era muito mais rápido que os outros quatro. Correu na direção do amigo, descalço.

— HENRY! – berrou, se aproximando. – O que você está fazendo?

Henry, que estava num galho alto, amarrava uma corda na arvore, sentado no galho como se ela fosse uma vassoura, com as duas pernas jogadas para baixo.

Na ponta da corda havia um laço espaçoso o suficiente para um pescoço.

— Aqui é onde tudo termina. – anunciou Henry com a voz conformada. - É melhor não ter vida nenhuma do que viver uma vida abortada.

— Quanta besteira! – Dominique praguejou, chegando perto de Lorcan com Lys, Molly e Ted. – ESTUPEFAÇA!  - azarou Henry, que caiu da arvore.

Aresto Momentum! — Lysander aparou a queda de seu corpo.

Henry bateu no chão suavemente. A corda ficou pendurada no galho.

— Você ficou maluca? – exclamou Molly. – Você ia matá-lo!

— Ele ia se matar. – argumentou Dominique. – Não tenho paciência para esse inferno sem explicação dessa floresta.

Um Tengu sobrevoou a cabeça deles, aparentemente muito irritado em sua forma vermelha, corpo humanóide e asas brancas.

Lorcan bufou. Odiava aqueles monstros.

Molly fez uma maca se materializar no ar e levitou Henry até ela.

— Vocês podem... – deixou a frase morrer e foi para a barraca, levando o inconsciente Henry com ela.

Confundus! — Ted atacou a criatura alada.

O Tengu ficou com rosto confuso e pousou com as duas pernas no chão.

— Esse é o máximo que você vai fazer com ele? – perguntou um desdenhoso Lorcan.

Ted fez uma careta.

— Minha profissão não é cruel...

— Calem a boca. – Lysander falou rispidamente.

 E com um confringo explodiu o Tengu, exatamente como Lorcan teria feito.

Até Lorcan se assombrou. Dominique não.

Henry era um dos melhores amigos de Lys.


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Notas finais do capítulo

Só quero dizer que:

[1] Fiquei feliz com a volta do soldado Malfoy!
[2] Estou feliz de ter conseguido dar finalmente a visibilidade pra Vic (demorou, mas foi).
[3] Nas minhas antigas fics de ação, todo mundo era super poderoso e conhecia todos os feitiços de azaração e proteção. Tb fico satisfeita que aqui eu consigo mostrar que não é bem assim na vida.

No mais, e vocês? What's up?