Um Ser mutante escrita por Tabatta Darrow


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oilá!
Trago mais um capítulo fresquinho para vocês...
Aproveitem e não se esqueçam de comentar. ;*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700469/chapter/3

Acordo antes do horário normal, me espreguiço e viro para o outro lado. Ia tirar mais uma soneca antes de dar o horário de levantar quando sou atingida pelas lembranças do dia anterior. Merda! Aquela não era eu, super louca e retardada. Parecia até que eu estava bêbada ou sob o efeito de alguma droga... Só pode ser efeito colateral de copiar as habilidades da Val, não só adquiri a capacidade de ler os outros e perceber seus sentimentos como os meus próprios ficaram expostos. Não é a toa que agi daquele jeito. Eu estava pensando que ele era estranho mas imagina o que está pensando de mim! Ha. Eu é que não vou voltar lá tão cedo.

Olho no relógio, meia hora adiantada, suspiro, não vou conseguir dormir mais mesmo, vou me arrumando, fazer o que. Indo até meu armário, escolho a primeira blusa e visto junto com a calça que estava ontem. Vou até o espelho e observo a combinação enquanto penteio os meus cabelos, é uma blusa simples verde que junto com a calça gasta me faz parecer uma adolescente normal, mas se “normal” se refere a um adolescente Humano então estou sendo preconceituosa comigo mesma... Suspiro. Bom, de forma geral pareço com qualquer adolescente, Humano ou Ser, mas a energia que transmito afasta até um Humano qualquer.

Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo, pego minha mochila, uma tangerina da minha cesta de frutas e sigo para o laboratório da Fabrina, a professora de feitiços e poções. Todos os alunos são obrigados a fazer duas aulas semanais, 1h40min de hora extra como complemento para as aulas, e, como a professora é uma das poucas que me aceita sem medo, sem contar que é uma amiga de muito tempo, uso minhas horas extras para ajudar no seu projeto. Seu projeto requer o uso de energia, que eu estou fornecendo pois a minha é mutável, encaixando perfeitamente no que ela necessita. A intenção é transformar essa energia em algo como uma célula, um pequeno ser vivo que possa se adaptar à diversas funções como combater mutações malignas, ajudar na cura ou desenvolvimento de partes do corpo ou de mutações benignas, combate a doenças, etc. Como é mutante, serve tanto para Seres quanto para Humanos.

Considero inspirador que esteja dedicando todo seu tempo livre para o desenvolvimento deste projeto. Ainda está longe de ficar pronto, porém devagar e sempre estamos seguindo em direção ao objetivo. Teoricamente não seria tão difícil, pois a energia já é algo praticamente vivo, mas da mesma forma que a natureza mutante da minha energia é perfeita para o resultado esperado, é exatamente isso que dificulta o processo de transformá-la em algo específico que seja mutável apenas dentro daquele “corpo”. Mas sei que na velocidade que estamos, logo teremos um progresso real conseguindo assim mais fundos para continuar o projeto.

Fabrina trabalha incansavelmente, dia e noite, dia de semana, final de semana e feriado. Já brigamos e discutimos várias vezes sobre isso, ela deixa sua saúde em terceiro plano e apenas foca em desenvolver o projeto e termina-lo. Mas não a culpo, seus pais morreram com ela muito jovem de problemas que seriam facilmente curados talvez até mesmo com o material que desenvolvemos até agora, e desde então não pensa em mais nada que desenvolver essa esperança para que ninguém mais passe pelo que ela passou. Realmente nobre, fico feliz em poder participar deste projeto e ajudar tantas pessoas... Estou dando literalmente um pedaço de mim para ele dar certo.

Chego no laboratório e entro sem bater, já estou trabalhando ali há tanto tempo que sinto a vontade como se estivesse em casa. Logo vejo Fabina grudada na mesa de projetos, guardando uma seringa na gaveta e tirando outra, fechando a gaveta.

— Bom dia, não consegui mais dormir então já vim mais cedo, tem problema? – Observo-a liberar a seringa da proteção de plástico e puxar um pouco do líquido de um frasco colocando-o em uma lâmina para observá-lo no microscópio, concentrada ela olha a substância do vidro antes de se virar para mim radiante.

— Mas é claro que não tem problema! Hoje estou sentindo que vai ser um bom dia! Rápido, dê uma olhada na lâmina.

Me aproximo olhando o que me pediu, e lá estavam, em meio à energia espalhada, alguns núcleos pequenos se movimentando.

— É fantástico! - Digo enquanto aumento o zoom, as bordas do serzinho tremem quando se movimenta, e ele se desfez... – Pena que não está durando tanto tempo... - ela suspira cansada mas com os olhos brilhando.

— Sim, mas progresso é progresso. - diz piscando um olho para mim. – O máximo que aguentou até agora foi de cinco minutos, mas agora que conseguimos a forma é muito mais fácil. Só precisamos estabilizar e fortalecer. - fala animada enquanto coloca a lâmina e o frasco no tanque e joga a seringa no lixo. – Até chegar à máxima de cinco minutos, gastei uma grande parte de energia, vou precisar refazer o estoque.

— Todo o estoque? - Pergunto chocada. Eu estaria deixando mais da metade da minha energia ali hoje se esse fosse o caso.

— Perdão, eu me empolguei e só sobrou aquilo... - Ela sorri um pouco se desculpando e aponta para um frasco que deve dar no máximo para mais três experimentos.

— Ok, enfim. Não tem problema. Vou só dar uma ligada para a Val avisando que não poderei usar as minhas habilidades na aula de Desenvolvimento hoje. - Digo piscando um olho para ela, que me olha em desculpas e começa a preparar o local para reabastecer o estoque.

Saio da sala e ligo o meu celular. Qualquer onda pode comprometer o experimento então sempre o deixo desligado.

— Val? Oi. Eu estou com a Fabrina fazendo minhas horas extras e conseguimos dar mais um passo em direção ao resultado mas quase toda a energia foi usada... Vou ter que repor o estoque então não acho bom usar as minhas habilidades hoje...

— K, oi, como assim o estoque inteiro?

— A Fabi se empolgou, sobrou um frasquinho só... Mas não se preocupa, não vai tanto assim.

— Não vai tanto assim? Que eu me lembre o estoque constitui um pouco mais da metade do que você tem armazenado no corpo e é por isso que você sempre tira em partes.

— Eu sei Val, mas você sabe que em outras situações já fiquei com bem menos energia... Vamos precisar dela e assim é bom que aí não preciso deixar tão logo de novo.

— Tá bom, tudo bem, tudo bem. - Diz suspirando – Mas vai passar no Bryan depois para dar uma olhada no seu estado, ok? Eu sei que já passou por piores mas aquilo foi em outra época Katia, não precisa se forçar mais tanto, e nem pode. Então quero você no Bryan mais tarde, sem discussão.

— Ok, fazer o que. Depois dou uma passadinha lá. - Me despeço e desligo de novo o celular.

Quando entro na sala já está tudo montado para eu começar o armazenamento. Passo o resto da manhã fazendo isso só tendo uma pausa de dez minutos do intervalo. Fabi até falou para eu ir mais devagar e estender um pouco mais no tempo mas isso significaria ter que continuar amanhã e isto eu não queria. Já chega o ataque de bêbada ontem, só suporto ficar de lombeira por um dia.

Assim que termino, pego um lanche na cantina e vou direto para a enfermaria onde Bryan, já informado pela Val me espera. Ele é um curador e está portanto com a função de médico/enfermeiro da nossa escola. Os curadores geralmente possuem a aparência suave e angelical, em sintonia com suas habilidades, mas no caso do Bryan, ele puxou a aparência em maior parte por sua mãe que é uma caçadora. Esta combinação é fatal para muitos dos alunos do colégio que são apaixonados pelo doutor. Com o corpo definido, pele clara, cabelos pretos e olhos hipnotizantemente azuis (única característica herdada do pai) juntamente com as habilidades de cura, que para eles o define como um homem bondoso, cuidadoso e “puro” de espírito, é considerado um deus por todo o colégio, até os professores o colocam neste patamar, tanto que evitam contato pois não se consideram “dignos” o suficiente para interagir com ele.

Rio divertida, coitados. Se soubessem... Entro na sala e logo me sinto mais forte. Sua própria presença já ajuda a recuperar as minhas energias, mas onde ele está? Me sinto ser abraçada por trás, dois fortes braços me seguram pela cintura.

— Sentiu minha falta? Não aguentava mais esperar para te ver de novo... - Diz baixo em minha orelha e depois desce pelo meu pescoço esfregando o nariz na pele exposta.

Rio me soltando dele. Ele é sempre assim, provocando a tudo e todos. As vezes até brinco dizendo que deve ter algum parentesco Succubos já que não consegue pensar em outra coisa e por ter um efeito tão grande nos outros que depois até esquecem o que acontece entre quatro paredes... Ainda bem que eu não sou afetada, já entrei sem querer na enfermaria quando ele estava dando seus “serviços especiais” e não foi bonito. Podem ficar felizes por esquecer porque da minha memória aquilo não saiu nunca mais.

— Até que senti um pouco da sua falta sim. Só não da forma que você quer. - Falei piscando um olho, o provocando também. Nossa relação sempre foi assim, uma amizade bem zoeira. – Mas o que aconteceu para estar tão atirado hoje? - Digo apontando para a camisa aberta. Ele sempre tem o cuidado de manter a imagem que todos tem de si já que isso permite que ele se relacione apenas com quem ele quer porque ele é meio antissocial assim mesmo. Sempre mantem sua aparência impecável, mesmo depois de seus “serviços”. Sendo assim, a imagem de seu peitoral exposto é algo bem fora do comum. – Está tendo problemas em achar parceiros ou o que?

— Fui abandonado depois de alguns amassos, estou frustrado. Não tenho vontade de ficar apresentável.

Pfff Bryan foi abandonado na metade do caminho? Essa é nova. Queria muito ver essa cena, a expressão dele com certeza foi impagável. Racho o bico e quando recebo uma cara feia em resposta eu só rio mais. Até que fico tonta e tenho que me apoiar na parede. Bryan vem até mim, agora com a expressão de “em serviço”. É como se ativasse um botão, modo médico, modo normal e modo médico safado. Por sorte o ultimo só vi uma vez, aquela vez, e foi o suficiente. Ele me acompanha até a maca e me faz deitar.

— Tirou um pouco demais desta vez, hein? - Diz após me examinar, perceber que está tudo certo e ativar o modo normal novamente.

Fui obrigada a ficar naquela maca o resto do dia, o único momento em que pude levantar foi na hora do almoço e eu nem pude buscar a minha comida, Bryan foi por mim, sem mesmo se deixar “apresentável” imagino só a cara de todo mundo babando para ver mais um pedacinho daquele peitoral. Fiquei entre sessões de energização, de circulação da minha energia, de sono e de bate papo. Quando eu já estava com vontade de gritar de tédio ele me liberou. Já estava na hora da aula de Desenvolvimento. Eu decidi que passaria de novo para ver o cara de ontem, quero me desculpar pelo comportamento horroroso de ontem e eu não teria nada melhor para fazer agora. Sem contar que se a Val me pega andando de boa por aí esperando as últimas aulas, vai me fazer trabalhar mesmo tendo combinado que a aula estava cancelada para mim. Como eu pretendo me mostrar bastante sã realmente preciso de algo para me distrair se não vou ficar louca de novo, mas como não dá tempo de voltar pro quarto, se não posso ser pega pela Val, só peguei algumas folhas e um lápis e fui em direção à floresta.

Ok, estou definitivamente perdida. Não acredito que não consigo achar a entrada, já andei pela floresta inteira umas duas vezes e ainda não achei a entrada. Será que eu estava certa ontem quando pensei que não acharia a entrada sem o pulso? Bom, espero que não. Estou bastante comprometida em me mostrar sã para esse ser. Suspiro, eu conheço essa floresta por inteiro, como é que eu não consigo achar? Fecho os olhos e me concentro, é bem difícil fazer qualquer coisa com o estado da minha energia mas no mínimo consigo localizar um pulso de energia, não?

Percebo algo ao longe, não sei ainda se é o que estou procurando mas me deixo guiar até lá. Abro os olhos e me encontro em frente a pedra/parede, é só com o pulso mesmo pelo jeito. Mesmo fraca de energia como estou consegui localizá-lo, incrível. Bom, vamos lá desço em direção ao corredor e como já conheço o ambiente nem espero a adaptação de meus olhos. Logo me localizo em frente a abertura do cômodo. Entro lentamente e dou de cara um belo par de olhos negros, dou um sorriso tímido.

— Olá. Desculpe por ontem, eu estava sob o efeito de uma habilidade de sentidos, conseguia entender o que você estava sentindo mas também estava com meus sentimentos expostos... - raspei a garganta retornando ao foco. – Enfim, não quis me intrometer ou ser grossa. Eu... Eu só vou sentar aqui, não se incomode comigo se quiser que eu vá é só avisar, se quiser interagir, o mesmo.

Me sento no canto ao lado da abertura, entre ela e a mesa de escritório, pego minhas folhas e começo a rabiscar. Nada me chamava mais a atenção naquele cômodo do que o ser então aproveitei como desculpa para ficar olhando ele e decidi desenhá-lo, mas logo desisti de desenhar seu corpo pois está encolhido de uma forma que não consigo identificar, tão de longe não dá nem de ver as roupas dele nesse ângulo. Começo a desenhar seu rosto então, o que eu sou péssima, mas pelo menos me manteve entretida pelo tempo em que fiquei ali. Logo meu celular tocou me avisando que estava na hora, me despedi e segui de volta à escola.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá. Obrigada por ler mais um capítulo!
Sei que a cena da Katia com o moço do belo rosto (selvagem mas impassível) foi bastante curta, mas no próximo capítulo terá mais interação, prometo. ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Ser mutante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.