Um Ser mutante escrita por Tabatta Darrow


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o segundo capítulo o/ Demorou um pouco mais do que eu queria mas aqui está ^~^
Aproveite :3



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Estou quase terminando meus últimos exercícios da aula de “Feitiços e poções” com quase meia hora de antecedência. E não, não é uma matéria só para bruxos, até porque estes não existem em nosso mundo. “Todos tem a capacidade de transformar” Fabrina, a professora da matéria, sempre diz, e ela tem razão, até humanos tem esta capacidade, se não, o que que seria então a ciência? Mas no caso dos Seres, o processo de transformação dos “feitiços” e poções envolvem o uso da energia própria concentrada. Quem consegue compreender o fluxo de sua energia consegue facilmente controla-la e realizar os exercícios. Como sou obrigada a conhecer a mutabilidade da minha energia a dos outros e como uma interfere na outra eu a conheço bem, e consigo realizar os exercícios com rapidez.

Me concentro enquanto guio um pouco da minha energia para fora de minha mão em direção ao frasco com a poção, lentamente a guio em direção ao líquido e misturo cuidadosamente. Quando minha energia colorida se mistura ao líquido a mistura está pronta, tenho uma poção purificadora. Me levanto e entrego o resultado para Fabrina, ela sorri para mim e eu sigo rapidamente para a saída.

Preciso encontrar Lio antes que sua aula de Desenvolvimento II acabe, é um dos poucos momentos, além do seu intervalo, em que é possível encontra-lo sem que esteja em sala, que é território proibido quando as portas estão fechadas.

Lio é meu único amigo dentre os alunos do colégio e mesmo sendo um ano mais velho, sempre nos demos bem. Ele até mesmo voluntariou-se para que eu o copiasse, coisa que não deu muito certo, infelizmente. Lio é um anjo e como nossas energias são muito compatíveis acabei por replicar até sua singular estrutura corporal, no caso suas asas, mas como não estava preparada para isso, fiquei os próximos dois dias agoniando com seu crescimento.

Depois deste episódio nos distanciamos um pouco, ele nunca deixou de se culpar pelo que ocorreu, acabou até por entrar em um estado de depressão onde não desejava nem “abrir” suas próprias asas. Isto causou outro problema, seu namorado Isoces, dadas as circunstâncias, acreditou que eu havia roubado a habilidade de Lio magoando-o, e agora não me deixa ficar próximo a Lio sem que esteja por perto o que dificulta minha vida pois ele é um vampiro, e tudo o que eu consigo pensar com ele por perto é no meu interior berrando incompatível.

A energia vampiresca é completamente incompatível com a minha, sem contar que tem o efeito colateral da “sede”, o conflito é tão grande que não suporto muito mais que alguns minutos em sua presença. Mas hoje vou precisar, vou ter que dar um jeito. É aniversário do Lio e não tem nada que vai me impedir de parabenizá-lo e entregar o presente que demorei tanto tempo para fazer. Coloquei meus dotes artísticos em uso e pintei um quadro para ele, desejava mesmo desenhá-lo mas como minhas habilidades não se aplicam à faces acabei por desenhar suas asas, da forma mais majestosa que consegui, mantendo em mente durante todo o processo a beleza que transmitia quando as expunha. Espero para que isto ajude a nos reaproximar e que ele esqueça do incidente e pare de se culpar pela minha falta de preparação.

Chego ao grande gramado, que se estende em frente a área de alimentação, onde seria a aula de Desenvolvimento II dos veteranos naquele dia e já o localizo. Seus curtos cabelos brancos em contraste com a pele morena são inconfundíveis não importa a distância. Vou em sua direção respirando aliviado ao não encontrar Isoces por perto.

Lio observa o céu tão azul quanto seus olhos sem me perceber até que eu já esteja ao seu lado. Quando me vê abre um grande sorriso.

— Feliz aniversário!!! - Berro “discretamente” e pulo em seus braços quase o derrubando no chão.

— Oobrigado - ele diz tentando se equilibrar.

Me afasto um pouco e percebo que está levemente corado, não resisto e lhe dou um beijinho na ponta do nariz o vendo ficar mais um pouco vermelho. Começo a rir quando sua expressão muda para algo que eu chamo de “hamster emburrado”, ele enche as bochechas de ar, faz um biquinho e junta as sobrancelhas tentando fazer cara de bravo, tem como ficar mais fofo? Já não estou mais me aguentando de tanto rir quando me sinto ser brutalmente afastada.

— Larga o meu namorado! - Vejo que Isoces chegou e está abraçando Lio protetoramente. Reviro os olhos, além de tudo é ciumento.

Mas é claro que o vampiro ia ouvir sua risada escandalosa, Katia, muito esperta. Digo para mim mesma tentando ignorar a ânsia de correr o mais longe do vampiro e os berros de incompatível que já estão ficando cada vez mais altos. Me solto do seu aperto torcendo para que isto me acalme um pouco internamente e ainda mantendo o sorriso no rosto volto minha atenção de volta para Lio.

— Bom, o que são aniversários sem presentes? Trouxe uma coisinha para você - Digo piscando o olho para ele e entregando o quadro embrulhado. Ele o pega olhando para mim surpreso e olha de volta ao embrulho como se não soubesse o que fazer. – Vamos, abra. - Digo o mais animada possível, ficar ali está mais difícil do que eu imaginava.

— Ok, ok já estou abrindo. - Lentamente Lio rasga o papel de embrulho revelando a pintura, quando terminou não teve nenhuma reação ficou apenas encarando-a. Olho insegura para Isoces tentando entender a situação mas este está apenas me olhando desconfiado, ótimo, agora ele acha que sou obcecada pelas asas. Reviro os olhos voltando minha atenção para Lio que agora está com a cabeça abaixada. – Lio? Está tudo bem? O que que foi, não gostou? - Pergunto preocupada. Ele levanta a cabeça e percebo que está chorando, ele se solta do namorado e pula sobre mim, desta vez é ele que quase me derruba.

— Está brincando? É claro que eu gostei. Não, espera, eu não gostei, eu amei! É incrível, obrigado. - Fala soluçando em meus braços. Acaricio seus cabelos sorrindo.

— Não há de que. Mas agora vocês precisam voltar a aula, já estou sendo fuzilada com os olhos. - Olho para Val extremamente irritada não andando mas marchando em nossa direção. Ops.

— Sim, sim, já vou fazer isso. Isozinho? Leva isto para o quarto por favor? - Entrega a pintura para o namorado enquanto eu rio baixinho do apelido bobo. Ele me olha feio. – Ei, com cuidado viu? - Fala chamando sua atenção. Ele acena com a cabeça e logo não está mais ali.

Val chega até mim ao mesmo tempo que Isoces, mas não tem nem tempo de começar seu discurso pois logo é distraída por Lio que se afastava de nós e com um sorriso no rosto abrindo suas asas e se elevando do chão. Magnífico como sempre, sorrio com a visão. Olhando em volta os outros pareciam mais é chocados e quando perguntei o que aconteceu me explicaram que Lio estava novamente se negando a abri-las. É, o que as lembranças não fazem, três semanas atrás fez um ano desde o incidente, não tinha percebido que isso o havia afetado tanto... Bom, pelo menos agora está tudo certo de novo. Dou um grande sorriso para ele e recebo outro enorme de volta.

— Bom, com isso, a aula está oficialmente encerrada. Retornem as suas salas, e até amanhã. - Val faz o aviso para turma. Suspiro, agora é a minha vez. Mas nem foi preciso voltar a sala de aula, aquele dia Val tinha preparado uma surpresa, seria ela mesma que eu estaria copiando.

Fui logo fazer minha caminhada através da floresta, não tenho muitos conhecimentos sobre as habilidades de minha tia mas já consigo sentir que vai me afetar de forma diferente. Enquanto tentava avaliar que efeitos que poderia causar em mim fui arrancada de meus devaneios quando senti um pulso de energia que não fui capaz de reconhecer. Provavelmente estava muito longe para identifica-lo. Que energia curiosa, mística, forte... Sinto uma atração tão forte, quase brutal de segui-la e conhecer sua fonte.

Antes que eu me desse conta já estava em sua trilha. Sigo a floresta até encontrar uma grande rocha, tão alta e larga que até parece o pedaço de uma parede, contorno-a e encontro uma escada escondida por trás de várias arvores grossas, como não senti aquele local no dia anterior? Tinha mapeado toda a floresta quando senti sua energia, deveria ter percebido uma falha aqui, que estranho... Me pergunto se eu teria encontrado esta entrada de outra forma se não com esta energia me puxando e chamando... Desço devagar tentando identificar um terceiro pulso por perto, mas não, só havia um ser além de mim ali embaixo, e era o da energia misteriosa.

Continuei a descer encontrando no final da escada um corredor estreito e bastante escuro, qualquer pessoa teria retornado devido á claustrofobia causada por aquele local, mas a visão felina que copiei da minha mãe me permitiu perceber que o longo corredor se alargava alguns metros à frente. Consigo identificar também, um pouco de claridade adiante. Com atenção, fui seguindo lentamente o corredor e estava certa, realmente, pouco tempo depois o corredor começou a aumentar de tamanho e logo já podia esticar os braços sem encostar nas laterais. Continuei devagar, vendo a claridade aumentando até que consigo identificar que a fonte de luz vem de um cômodo ao lado direito do corredor.

Vou diminuindo o meu ritmo e me aproximo devagar da entrada, lentamente adentro o local, tentando encontrar sinais de perigo enquanto espero meus olhos se readaptarem. Demoro apenas alguns segundos para retornar a minha visão normal, mas é o suficiente para que o Ser me note também.

O cômodo era um quadrado de cimento, com poucos móveis ocupando o espaço, à esquerda da entrada tinha uma mesa e cadeira de escritório encostadas à parede, o resto do espaço estava ocupado com estantes e cadeiras, haviam livros espalhados por todo o lugar, o único espaço livre deles era o centro, ocupado por uma grande Jaula de ferro, onde o Ser se localizava. Logo que o vi, a atração se esvai e retomo a liberdade de meus movimentos, o ser, aparentemente do sexo masculino, se encontra encolhido ao fundo do canto esquerdo da Jaula, o mais longe possível da entrada.

Não parece surpreso ao me ver, talvez tenha me percebido chegando antes de adentrar o quarto. Observo seus olhos, escuros como a noite e não sou capaz de perceber o que está sentindo, estão completamente livres de qualquer emoção, o mesmo acontece com a expressão em seu rosto, belo admito. Os olhos negros são adornados por grossos cílios da mesma cor, assim como seus cabelos ondulados na altura dos ombros emoldurando seu rosto moreno sujo de pó. Eu não sou muito fã de barbas mas a sua, por fazer, junto aos seus lábios carnudos cria um contraste interessante, dando-lhe uma aparência selvagem. Mas, ainda que sua feição traga esse ar, sua expressão permanece impassível.

Fico sem saber o que fazer, cheguei até aqui, mas e agora? Sem conseguir me conter, começo andar agoniada de um lado para outro. Como ele está... Ele se sente solitário, não sei porque está encolhido no canto mas medo não é o motivo, não consigo identificar nenhum traço deste... Pera, o que? Como? Paro de andar em choque. Como que estou entendendo o que sente? Ah, minha tia e suas habilidades de ler as pessoas identificar seus sentimentos. Ok, tá vou me adaptando com isto então.

Bom, hum, ele não se incomoda com a minha presença e está se sentindo solitário então vou fazer companhia para ele. Me aproximo sorrindo.

— Você está se sentindo solitário aqui, não está? Não precisa estranhar, eu simplesmente sei dessas coisas, e decidi que vou te fazer companhia, ok? - Digo sorrindo e me aproximo sentando a alguns passos da Jaula e o encaro. – Bem interessante esse lugar, tantos livros... – Levanto em um pulo e começo a os observar mais de perto. Alguns parecem ter pelo menos uns cem anos de idade. Percebo sua mudança de humor, será que não gostou que eu esteja xeretando? Yep, é isso mesmo. – Ok, ok. Não precisa se emburrar, já parei de bisbilhotar. - Digo me largando de volta ao lugar que estava.

Quando retorno meu olhar para ele, percebo um brilho em seus olhos, não consigo identificar o que é mas me perco em sua imensidão negra. Ficamos algum tempo apenas nos observando até que eu fico com uma incomoda dor nas costas. – Ai, que dor. Não dá de ficar tanto tempo assim não. Se você não quer conversar vou me deitar aqui então. - Me largo no chão batendo de leve a cabeça. – Merda. - E ele está achando graça! – Pode parar de rir! Não estou achando graça nenhuma. - Seu rosto continua impassível, sinto que estou conversando comigo mesma, suspiro, que cara estranho. Assim que a habilidade se dissolver de meu corpo não vou ser capaz de entender mais nada neste ser. Faço bico, se assim está difícil imagina se eu não puder analisá-lo.

Fecho os olhos, aproveitando o silêncio logo quebrado pelo meu celular tocando. Pega sinal aqui em baixo? Pego o meu celular e suspiro, é meu despertador me avisando que está na hora de voltar, se não perco as últimas aulas. – Droga, agora que eu tinha ficado confortável... Bom, mais ou menos, não sei quem acha chão duro confortável, sem ofensa... Preciso ir. – Olho para o ser. – E já que você não está afim de interagir comigo, vou trazer algo para fazer amanhã. – Me levanto, pego a minha bolsa e vou indo em direção à porta. – Tchau, até mais, espere por mim. Tá deixa quieto, piada péssima. – Saio acenando para ele e me dirijo à saída.

O caminho de volta é mais tenso, a parede vai se estreitando, e mesmo sabendo que não vai ficar tão apertada assim, a minha respiração acelera e fico com medo de ficar presa entre as paredes. Acabo acelerando o ritmo e chego quase correndo à escada. Suspiro, lentamente subo os degraus, recuperando o fôlego. Caramba, vou ter que me acostumar com isso. Retorno a escola pensando no que que poderia levar para me distrair amanhã.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler mais um capítulo, logo estarei postando mais!
Me conte o que achou da história até então nos comentários ^~^
Sugestões são bem vindas e se encontrou algum erro é só falar! ;)



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