Um Ser mutante escrita por Tabatta Darrow


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde meus amores :3
O que vem com natal? Presentes! o/ Meu presente para vocês é este capítulo novinho em folha e a promessa que mesmo que eu demore para postar, nunca vou desistir da história. Muito obrigada Kashinabi Chan pelo apoio *3*
Desculpem a demora para postar... A faculdade estava uma loucura o.o'



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Como sempre, eu estava seguindo o pulso de energia através da floresta para encontrar a já tão conhecida rocha que esconde o caminho para aquele curioso Ser que agora já faz parte do meu dia-a-dia. Já faz pouco mais de duas semanas que o visito após treinar minhas habilidades copiadas na aula de Desenvolvimento. Ainda não consegui um desenho descente do seu rosto e nem pensar em outra coisa para fazer lá em baixo... Não que eu me importe, tentar passar seus belos traços para o papel já quase se tornou um vício. Entro no cômodo e o encontro, como sempre, encolhido no canto da Jaula observando a entrada como se soubesse que eu estava chegando. Sorrio para ele e me direciono para o meu canto, entre a mesa de escritório e a entrada.

— Espere. – Ele diz quando começo a me abaixar para sentar. Eu travo naquela posição. Sua voz rouca ecoa pelo ambiente e erriça cada pelo do meu corpo. – Não quer se sentar mais perto? – Fecho os olhos me deliciando com o som da sua voz. Percebo que ele fez uma pergunta, fico ereta e abro meus olhos encontrando aquele brilho que não consigo identificar. Raspo a garganta.

— Sim, claro. Me desculpe. – Avanço me sentando a meio metro da Jaula e espero que diga mais alguma coisa. Fico observando-o por um tempo até que percebo que provavelmente não irá dizer mais nada. – É isso? Estou vindo aqui a mais de duas semanas e você não dá um pio. Quando estou quase desistindo da possibilidade de ter uma conversa você me chama para me sentar mais perto e é só? Vou ter q esperar mais duas semanas para você falar outra coisa? – Pergunto levantando uma sobrancelha.

— Só queria vê-la melhor. – Sua expressão impassível está começando a me irritar, será que ele não pode pelo menos dar uma resposta completa? ...Ou uma que faça sentido?

— Por quê? – Elevo a sobrancelha de novo.

— Queria tentar entender porque vem aqui. – Ah, grande. Vai entender muita coisa só olhando para a minha cara. Poderia ter algo haver com uma habilidade dele mas eu poderia sentir isso e eu não sinto nada. Ou ele é humano ou é um Ser com habilidades físicas que no caso seriam os tradicionais mutantes, que se transformam em animais. Acho difícil que seja humano ou então não suportaria ficar naquela posição por tanto tempo, mas nunca se sabe.

— E conseguiu descobrir alguma coisa? – Ele apenas me encara com aquela porra daquela Poker Face, juro que se não fosse tão bonito eu tacaria alguma coisa nele. Reviro os olhos. – Sabe, tem uma forma mais fácil de descobrir quem eu sou, o que faço aqui e qualquer outra coisa que queira saber... Se chama perguntar. Uma pessoa fala o que quer saber e a outra responde, é quase mágico. – “Hnf” o lado direito do se lábio se repuxa um pouco para cima. Nossa gente, quase uma risada. Que progresso. Não sei se reviro os olhos ou se fico feliz por conseguir esta “grande” reação. Levanto a sobrancelha. – E aí?

— O que você fica fazendo sentada lá no canto? – Coro. De tudo, é isso que ele me pergunta? Suspiro.

— Eu estava tentando desenhar o seu rosto. – Digo ficando mais vermelha a cada palavra. Agora é ele que levanta a sobrancelha. – Não tem muito o que fazer aqui embaixo, tá. – Afasto o olhar e fico encarando o canto por um tempo.

— Como achou este lugar? – Ele retoma a minha atenção. Como imaginei, não é para ser um lugar fácil de achar... Será que tem algum tipo de proteção?

— Um forte pulso de energia me atraiu para cá na primeira vez. Imaginei que era a seu mas não tenho tanta certeza já que se desfez quando te vi. Agora não o sinto mais tão forte, mas se fecho os olhos e me concentro, consigo encontrar o caminho. – Seus olhos se abrem em surpresa por alguns segundos mas logo ele retoma sua inexpressão original. Eu sabia. Não é que ele não consegue expressar o que sente, ele que força para não. Agora sim estou irritada. – Só você vai perguntar ou vou poder ter respostas também? – Ele apenas me olha. Grr. É bom isto ser um sim. – Existe algum motivo especial para você ficar forçando essa Poker Face ou é só para me irritar mesmo? – Não consigo evitar estreitar os olhos.

— Então minha expressão te incomoda? – A ponta da seus lábios treme enquanto ele tenta segurar um sorriso. Reviro os olhos.

— Está mais para falta de. – Ele sorri de leve, argh. Tem como esse homem ficar mais bonito?

— Eu tinha que ficar focado e me assegurar que você não representa nenhum perigo. – Argh. Tem sim. Um meio sorriso... Minha perdição. Inspiro fundo.

— Nossa tenho me mostrado muito perigosa mesmo. – Suspiro e me arrasto mais perto da Jaula onde me encosto.

— Não tem medo? – Pergunta surpreso. O olho e ele está com os olhos semicerrados, maxilar travado e mãos apertadas em punhos. Franzo as sobrancelhas. Medo do que? ...Dele? Será que é por isso...

— É por isso que se espreme aí no canto? Porque não quer me assustar? – Ele desvia o olhar. Sorrio. – Não se preocupe, não tenho medo de você. Não precisa ficar nesta posição desconfortável. – Franzo as sobrancelhas e inclino a cabeça. – Por favor, fique a vontade. – Ele me encara por um tempo e levanta uma sobrancelha.

— Não se importa? – Ué. Franzo as sobrancelhas e sorrio um pouco.

— É claro que não. – Ele lentamente sai da sua posição e percebo como realmente estava espremido, sinto dor no corpo só de olhar. Aos poucos consigo ver seu corpo, ele vai abaixando as pernas e consigo ver seus ombros largos e peitoral. Bem diferente do que imaginei. Tem um corpo forte, músculos definidos sob sua pele morena... Seguro a respiração. Com certeza está sendo bem alimentado. Bem é pouco. O que estão colocando nessa comida? Arregalo os olhos quando se levanta e tento o mais rápido possível desviar os olhos. Viro de costas para a jaula e encaro o chão a minha frente tentando igualar minha respiração enquanto ouço ele se aproximar. Agora entendi o que quis dizer com “Não se importa?” ele está nu! Fiquei tão chocada que não consegui desviar a tempo... O vi por inteiro. Abdômen definido, coxas grossas e Argh! Não vou descrever. Espremo os olhos. Não é que eu nunca tenha visto um. Eu tenho idade, já tive relações sexuais, não muitas porque a minha habilidade... Não importa. Eu não tenho culpa, não estava esperando por isso neste momento. E ele é... Argh. É bem dotado. Coro. Ouço ele se sentando e sinto o calor de seu corpo atrás de mim. Ta, ok, Katia respira. Respira e disfarça. Pego a minha bolsa e suspiro aliviada quando encontro meu casaco ali dentro. O pego e estico através das barras da Jaula sem olhar. – Por favor se cubra.

— De que parte específica estamos falando? – Estreito os olhos e viro a cabeça lentamente, fuzilando-o. Está sentado ainda a uma certa distância de mim os olhos brilhando e com um sorriso bobo nos lábios. Cara de pau. Desvio rapidamente o olhar, merda de visão periférica.

— Muito engraçado. – Digo jogando o casaco mirando e com sorte acertando-o no seu colo. Ele ri descaradamente. Me arrepio, espremo os olhos. Escuto o som de tecido sendo ajeitado.

— Pronto, pronto. Já estou coberto. – Lentamente me viro até ficar novamente de lado para a Jaula. E lá está ele, sorrindo com aquela cara de pau. Deve mesmo ser divertido para ele. Reviro os olhos. Pelo menos agora ele está... Bom, o mais decente possível.

— Podia pelo menos ter avisado. – Encaro-o brava. Pelo menos não estou mais corada.

— Eu perguntei se não se importava. Achei que tinha entendido.

— Ah. Dava para entender muito fácil mesmo. Como se desse para saber se estava vestido ou não naquele aperto que você estava. É claro que assumi que estaria de roupa. – Suspiro. – Está mais confortável agora pelo menos.

— Sim. – Ele responde mesmo não sendo uma pergunta. – Ainda não entendo como está tão calma. Imaginei que agora de certo iria fugir.

— Então sabia que eu não tinha entendido. – Estreito os olhos. Ele sorri minimamente. Suspiro. – Não vou me fazer de boba. Sei o que quer dizer. Encontro um homem nu espremido em uma Jaula e ajo naturalmente, nem ofereço para libertá-lo. – Dou um pequeno sorriso. – Pelo que lembro da loucura do primeiro dia, apesar de se sentir solitário, não se sente preso. Pode sair quando desejar ou está aqui porque quer. Não vou questionar seus motivos se não quiser me contar mas vou respeitar a sua situação.

— Você é estranha. – Ele diz brincalhão e dá um meio sorriso. Meu coração escapa uma batida. Será que eu digo para ele não fazer isso? ...Melhor não, é capaz de fazer mais só para provocar. Suspiro.

— Eu sei – Sorrio em resposta.

— Posso perguntar o que você é e sobre suas habilidades? Fiquei um curioso de como justificou a sua atitude do primeiro dia.

— Claro. Pode perguntar o que quiser... Se tiver algo que eu não queira responder eu aviso. – Sorrio para ele. É estranho que eu sinta tanta liberdade de falar com ele e contar as coisas sendo que esta é a nossa primeira conversa real... Mas eu me sinto estranhamente conectada a ele, não consigo explicar. – Não tem uma nomeação muito específica para o que eu sou... Geralmente me refiro a mim como Mutante, mesmo que não tenha nada a ver com os mutantes animais, ainda é o que melhor me descreve. A minha habilidade gira em torno da cópia, consigo copiar as habilidades de quase qualquer Ser através do toque. Depende um pouco da compatibilidade com o meu corpo, esta, depende dos efeitos colaterais da espécie, se os efeitos são perigosos para mim, a compatibilidade não é boa. Por exemplo o vampiro é extremamente incompatível porque eu teria o efeito colateral da sede e o sangue não é bem aceito pelo meu estomago. – Rio. – Sereias são outra espécie que não funcionariam bem porque, assim como elas, eu estaria dependente de entrar em contato com água de tempos em tempos para sobreviver. Enfim. Eu preciso me manter com as espécies mais anatomicamente compatíveis. O perigoso é quando são compatíveis demais e sua anatomia é estendida de alguma forma... A energia da habilidade que copiei ficaria presa em meu corpo até que eu desenvolva a anatomia também...

— Lembro de ter ouvido lendas de algo parecido com o que descreve quando mais novo... Mas não lembro dos detalhes. Só fiquei mais curioso – Ri. Me arrepio. Como o som de uma risada pode ser tão deliciosa? – Então você não pode tocar em ninguém sem copiar a habilidade?

— Eu não tenho mais esse problema. No início, quando cheguei na idade que as minhas habilidades se ativaram, foi assim. Tanto que no começo acharam que eu era como a minha mãe, porque acabava sempre copiando ela. Depois de bastante tempo de treinamento consegui criar um bloqueio entre a minha pele e habilidade, foi difícil no começo mas agora tenho controle completo sobre o bloqueio... Bom quase. Se algo me distrair o bastante como se eu estiver com muita raiva ou qualquer sentimento forte. – Coro um pouco. É por isso que é difícil me envolver intimamente. Raspo a garganta. – Ou se eu me desprender como em uma meditação. – Suspiro. Aquela aula vai me perseguir para sempre... – Eu posso perder o controle e absorver tudo em volta. Este é um dos problemas do bloqueio, toda a minha energia fica presa dentro de mim quando naturalmente ela seria livre... Mas respondendo a sua pergunta, não. A não ser que eu desbloqueie alguma região do meu corpo minha habilidade não se ativará. – Ele me observa completamente entretido.

— Você disse que a energia da cópia se esvai do seu corpo... Depois disso não consegue fazer mais nada? Sem copiar ninguém você é como uma humana?

— Corporalmente sim, sou como uma humana sem copiar ninguém. Não é indicado, nem para mim nem para os outros, mas em uma emergência ainda posso usar minha energia como arma... Como sou bastante familiar com a minha energia e o seu fluxo, posso usá-la para atacar alguém se necessário. Mas quanto mais energia libero do meu corpo, mais fraca eu fico e para repor é uma tristeza... Sem contar que é difícil dizer o que fará no outro, dependendo de sua espécie. Fico humana então, mas não indefesa.

— Nunca conheci ninguém que tivesse tamanho controle sob sua própria energia. – Diz surpreso. – Mas o que quis dizer é... Você não consegue acessar de novo a habilidade que já se desfez?

— Até consigo... Mas é complicado. Eu preciso copiar muitas vezes a energia do Ser. Minha mãe por exemplo, eu a copiei incontáveis vezes, então consigo utilizar as habilidades dela naturalmente, quase como se fossem minhas próprias. Mas é praticamente impossível replicar o que ocorreu com ela, foram vezes demais que eu a copiei. Teoricamente consigo acessar qualquer cópia pois algo sempre fica para trás, gravado em mim. Mas eu precisaria de muita concentração para isso, seria quase uma meditação... Ainda preciso desenvolver um controle maior da minha habilidade antes de conseguir fazer qualquer coisa do gênero. Mas... – Meu celular começa a tocar. Está na hora de voltar. Suspiro. – Preciso ir. – Pego as minhas coisas e começo a levantar.

— Te vejo na segunda de novo? – Ele pergunta. No final de semana não tenho muito tempo livre e nem desculpa para entrar na floresta e visita-lo então só faço isso durante a semana mesmo.

— Com certeza. – Digo sorrindo – Até. – Me viro para ir.

— Ei. Seu casaco. – Eu travo no meio de um passo. Suspiro. Estico meu braço para trás sem olhar e espero até que ele coloque o casaco na minha mão.

— Será que eu posso trazer alguma coisa pra você vestir? – Isso facilitaria MUITO as coisas.

— No máximo uma bermuda. E precisa lembrar de levar em bora toda vez. Posso não ser prisioneiro aqui. Mas isto não significa que você deveria estar aqui. – Suspiro.

— Tá. Já é um começo. Vou ver o que eu consigo arranjar. E me avise se eu incomodar ou se for melhor não visitar. – Digo me apressando para a abertura da “porta”. Neste ritmo vou me atrasar.

— Nunca vai me incomodar. – Sorrio. Olha. Ele consegue ser fofo quando quer. – Mais uma coisa. – Paro um pouco antes de sair. – Obrigado por me fazer companhia e confiar em mim para contar tanta coisa. – Viro em sua direção, com os olhos fechados, sorrio acenando que sim e vou para a escola.

xxx

Em uma floresta tarde da noite, na fronteira do acampamento da Alcateia Lobos do Sul, alguém observa os que estão fazendo a guarda do local. Algo chama atenção de um dos guardas que pede para os outros lhe darem cobertura enquanto vai conferir. Um pouco afastado dos outros encontra o que lhe chamou a atenção. Uma pedra azul brilha através da neve, ele transforma seu corpo para a forma humana e estende a mão em direção à pedra. O “Observador” aproveita seu momento de distração para pular do galho onde se escondia e acertar o lobo que desmaiou sem conseguir ver seu atacante. Este coloca um pano com uma substância desconhecida sobre a boca e nariz do lobo e levanta suas roupas expondo a barriga. Com uma adaga faz três cortes no abdômen e fica observando. O homem desmaiado começa a assumir sua forma de lobo e, completamente transformado, os cortes curam rapidamente. Como demorou, dois lobos começaram a seguir em sua direção. Ao perceber isso, o “Observador” recolhe seus pertences e se afasta rapidamente. A neve lhe cobre o rastro e ao longe murmura algo sobre impedir a transformação...


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Notas finais do capítulo

Quem é este "Observador"? O que ele quer? o.o
Não esqueçam de comentar o que acharam do capítulo ^~^



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