Um Ser mutante escrita por Tabatta Darrow


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Este primeiro capítulo é para ajudar a situar o contexto da história, mas no próximo já teremos o encontro com o nosso misterioso Ser...
Bom proveito, qualquer erro/problema é só me avisar nos comentários! ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700469/chapter/1

“(...) o gradual e contínuo aumento de Humanos apoiadores dos Seres desencadeou um processo de reformulação social para ambos os lados, escolas humanas passaram a ensinar sobre os Seres e suas escolas introduziram matérias de ensino humano e convívio em sua sociedade. Diversas escolas iniciaram os processos de matrícula para os seus diferentes permitindo que cada um estude e conviva onde se sente melhor. O contato próximo permitiu o nascimento de diversas novas espécies, resultado da mescla dos Seres com os Humanos, permitindo cada vez mais o aumento da aceitação da sociedade Humana. As guerras do passado, entretanto, ainda refletem nos problemas atuais, onde para uns a mescla das espécies é natural (devido ao termo “Seres” representar apenas a nomeação de um aglomerado de espécies consideradas diferentes da humana) e construtora de laços, para outros é uma mancha na espécie humana e a justificativa para o seu medo de extinção. Este pensamento arcaico aplicado no século atual ocorre devido...”

Este antropólogo Humano é um dos melhores escritores sobre essa temática, sem incluir os escritores Seres, é o que melhor retrata os acontecimentos e a realidade do convívio das espécies. Sou muito feliz de ter um pensador como ele espalhando um conhecimento real e embasado em meio ao caos preconceituoso que ainda ronda o senso comum dos Humanos.

Eu estou divagando novamente, que horas são afinal? Como não tenho as duas primeiras aulas hoje acabei me distraindo com a leitura... O que? 17:28h já? Meu deus vou me atrasar! Pego o meu livro e minha mochila e saio correndo para a sala.

A escola é enorme e os dormitórios ficam em um prédio separado das salas de aula então acabo chegando cinco minutos atrasada.

— Desculpa Val, me distraí com o livro e perdi o horário. – Falo para a minha professora (que também é a minha tia) assim que chego em frente a sala de aula, onde já está me esperando.

Sua matéria, “Desenvolvimento”, como o próprio nome já diz, é onde nos ensina a desenvolver nossas habilidades. Mas, como as minhas são interpretadas da forma errada (crê-se que eu “roubo” as capacidades, mas na verdade o que eu faço é “copiar”) ela acaba tendo que tirar um tempinho extra para me ajudar a parte dos outros. Tenho meu treinamento normalmente, só não o faço em conjunto com a turma... Para manter meu treinamento constante, toda aula traz um Ser novo para praticar, como tem aumentado o nível de dificuldade ultimamente, estou bastante curiosa com que tipo de Ser vou lidar hoje. Ela sorri para mim, me tirando de meus devaneios...

— Tudo bem, eu sei que você odeia atrasos, não preciso nem brigar, você vai ouvir seu próprio sermão mais tarde. – Ela tem razão, eu odeio me atrasar e fico ansiosa quando os outros não chegam no horário mas estava tão preocupada em não tropeçar e distraída pensando na aula que nem pensei tanto nisso, meu sermão fica para mais tarde mesmo. Que foi exatamente o que ela disse... As vezes a habilidade dela de me decifrar é assustadora, e com o convívio que temos, não sei nem mais se é devido a sua capacidade ou é porque me conhece desde sempre... Provavelmente os dois.

 – Mas por que você veio dos dormitórios? Não teve as duas primeiras aulas? – Tento me manter focada na conversa e sorrio para ela.

— As duas aulas eram de meditação, fui dispensada da matéria, lembra do caos da última vez que participei? Entrei tanto que aumentei meu poder e acabei ativando minha habilidade com a sala inteira, meu corpo não suportou e fiz o maior estrago... – Ela arregalou os olhos.

— Sim, sim, eu lembro. Não precisa mais falar disso, o desastre foi grande demais, não precisa ficar repetindo. Bom, eu trouxe uma Ninfa da floresta para você hoje. Decidi fazer uso do seu local de treinamento, assim podemos medir como se desenvolve com as habilidades de dentro do ambiente em que elas pertencem, espero grandes resultados, viu? – Acenei com a cabeça e a segui para dentro da sala.

O controle, desenvolvimento e absorção de habilidades que não são prioritariamente minhas nem sempre é fácil e nem sempre dá muito certo, por isso eu sempre faço uso da floresta da escola como “sala” para esta aula. Estou bastante animada para ver como vou me adaptar hoje já que sou grande fã de habilidades elementares.

Ao entrar na sala, meu queixo cai, Ninfas são Seres magníficos, sua beleza hermafrodita é estonteante, nem um preconceituoso seria capaz de negar a beleza e julgar aquele ser. Os cabelos longos bagunçados de raiz branca fazendo um degrade descendo para as pontas esverdeadas, os olhos castanhos com a estrela mutando de uma cor para outra a cada vez que piscava, a pele clara, com sardas espalhadas por todo o corpo, pequenas e fofas, como se fosse lama espirrada. Procurei arrumar minha cara de tacho e sorri para o Ser, Val o apresentou mas como sempre, o nome não conseguiu se manter na minha memória por pouco mais de alguns segundos.

— É um prazer lhe conhecer. – Digo o mais natural possível e recebo um sorriso tímido em resposta. Val interrompe.

— Já está mais do que na hora, não está K? Já perdeu tempo suficiente de aula. – Respiro fundo, aceno com a cabeça e sigo em direção à Ninfa. Chegando perto, paro e percebo seu olhar nervoso ir de mim para Val e de volta para mim.

— Não se preocupe, vai ser rápido e não vai sentir nada. Só preciso tocar um pedaço da sua pele, onde se sentiria mais à vontade? – Tento acalmá-lo. Geralmente me incomodo quando tem este tipo de reação à mim, mas aquele ser parece tão indefeso que apenas desejo protegê-lo.

Estica as mão para mim lentamente, sorrio em incentivo e fecho os olhos para me concentrar. Sinto seu pulso de energia, foco toda a minha atenção na sensação e libero minhas mãos do bloqueio, desprendendo minha habilidade naquele local. Abro os olhos e faço o contato de minhas mão com as suas enquanto o olho nos olhos, estes que se arregalam surpreendidos. Sorrio imaginando que estaria vendo seus olhos mutantes nos meus. Solto minhas mãos reativando o bloqueio de minha habilidade.

— Prontinho. Muito obrigada por permitir este contato. – Digo sorrindo para a Ninfa que ainda me olha impressionada. Estica sua mão e toca meu rosto.

— Seus olhos... – Sorrio.

— São iguais aos seus por enquanto. – Pisca balançando a cabeça e retira a mão.

— Até mais ver. – Sai rapidamente cumprimentando Val no caminho.

É costumeiro sentir uma ligação entre mim e as pessoas em que aplico minha habilidade, alguns acabam se tornando meus amigos, outros não gostam de se sentirem expostos desta forma e acabam por me evitar. A Ninfa, imagino que tenha se acanhado devido ao pouco contato que sua espécie tem com os outros, mas seria divertido se me aceitasse e houvesse a possibilidade de nos encontrarmos mais vezes, é realmente uma criatura encantadora...

— Vamos, vamos. Você não tem mais tempo para perder, o intervalo vai acabar logo logo e então terei uma turma inteira com que lidar. – Suspiro.

— Estou indo, estou indo. – Dou um beijo em sua bochecha e sigo em direção a floresta.

Vou o mais fundo que o normal e paro no local onde imagino que seja o centro da floresta. Me sento no chão, fecho os olhos e libero a energia recém copiada. Sinto-a fluindo em direção a floresta e a energia da floresta fluindo em minha direção, respiro sem folego, indefesa eu tinha dito? Não sei aonde...

Meu contato com a floresta neste momento é tão grande que minha energia é dela e a dela é minha, estou servindo de condutor para melhor condução, a floresta nunca esteve mais viva. Coloco minhas mãos em contato com a terra e sinto sua enorme extensão, onde está cada árvore, cada galho caído, poça de água, tem um pequeno riacho do qual nem tinha conhecimento bem no final da floresta. Consigo sentir os animais andando pelo solo e pelas árvores a energia destes lugares fluindo através destes também, sinto a ligação do todo, e de mim com esse todo.

Nunca me senti tão parte de algo como neste momento, é realmente uma experiência inesquecível. Vim à floresta acreditando que moveria galhos, faria buracos e coisas do gênero, mas no final estou tendo uma experiência muito mais grandiosa. Ainda assim, olho curiosa em volta, procurando uma muda de árvore ou o botão de uma flor e logo encontro uma flor de Jasmim que ainda não havia desabrochado. Concentro uma quantidade de energia naquele lugar e logo vejo a flor se abrir, sorrio encantada procurando mais alguma e encontro uma semente no chão, será? Concentro toda minha energia na semente e uma Jatobá começa a crescer em uma velocidade impressionante, continuo procurando mais e mais lugares até que escuto meu celular tocando.

Abro os olhos e percebo que ainda estou sentada no mesmo lugar de quando cheguei, nenhuma das árvores e flores que ajudei a crescer por perto, me levanto ainda mais impressionada e sigo em direção à escola sabendo que não vou conseguir prestar nenhuma atenção às ultimas aulas...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler, comentem dizendo o que acharam até agora ^-^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Ser mutante" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.