Era cinco horas da manhã eu acordei hoje. O sol nem tinha nascido ainda. Não tenho dormido bem esses dias, e cochilar durante a noite já virou costume. Os pesadelos ainda não acabaram. Era sempre a mesma coisa. Gina morrendo em meus braços. E parecia ficar cada vez mais real. Nem os remédios para dor me fizerem dormir essa noite. E assim que o sol começou as nascer eu me levantei. Vim direto para a varanda ver o sol tomar conta do céu. Nem me importei em trocar de roupa. Estava apenas com minha calça de moletom, como dormia todas as noites.

Me acomodo numa das cadeiras da varanda, olhando fixamente para o horizonte a minha frente. Eu tinha uma dádiva bem na frente da minha casa, e nunca tinha me dado conta disso. Em Nova Iorque, o máximo que eu conseguia ver era alguns raios de sol entrando em meu apartamento, mas os milhares de prédios ao meu redor roubavam uma grande parte dessa iluminação. Aqui era apenas eu e o sol, cercados por uma imensidão verde que parecia não ter fim. Eu deveria ter me mudado para cá a mais tempo.

Pego meu celular no bolso da calça de moletom e clico no botão do meio. A tela fica clara e eu posso apreciar a foto de descanso do meu celular. Essa era a minha favorita. Gina estava sentada na grama da nossa casa nos Hamptons, e assim como eu estou hoje, nós estávamos vendo o nascer do sol. Ela estava tão distraída, tão maravilhada com a cena que acontecia a sua frente. E eu estava completamente enfeitiçado por ela. Pela forma como o sol iluminava seu rosto e seus cabelos loiros. Ela era perfeita a meus olhos.

Naquele momento eu ainda não sabia de sua doença. Erámos apenas um casal normal. E eu mal sabia que estava curtindo um dos últimos momentos com ela. Eu queria registrar esse momento. Gina não gostava muito de fotos, mas eu tinha que guardar esse momento para sempre.

Uma sombra se faz na minha frente e rapidamente eu bloqueio meu celular. Pisco os olhos algumas vezes, estava acostumado com a luz do sol. Mas, para minha surpresa, era outra mulher tão linda quanto a minha. E como naquela foto que eu acabara de ver, o sol emoldurava os seus cabelos castanhos e ondulados, como se Kate fosse um quadro precioso.

— Era ela? – Ela pergunta com sua voz doce, já sentando ao meu lado.

— É... – Afirmo um pouco sem jeito. Não sei porque falar com a Kate sobre isso as vezes se torna algo embaraçoso.

— Ela era muito bonita.

— Era sim. – Eu sorrio e a olho. – Mas o que faz aqui tão cedo? Assim eu vou pensar que você é um zumbi. – Ela franze a testa e olha para o próprio corpo.

— Eu sou tão feia assim? – Eu ri.

— Não. Nem de longe. Você é linda, Kate. – Digo e olho em seus olhos, agora num tom de verde quase transparente por causa da luz do sol em seu rosto.

Kate cora com meu elogio, e eu acho isso lindo. Uma mulher adulta, forte e cheia de si, corando por causa de um simples elogio. Isso mostra o quanto ela é delicada por dentro.

— Eu vim porque não aguentava mais. Eu tinha que te falar que eu li seus livros. – Eu sorrio surpreso.

— Você nunca tinha lido nada?

— Não. Seu gênero não é exatamente o que eu mais gosto de ler antes de dormir.

— E o que você gosta de ler antes de dormir? – Me viro inteiramente para ela, querendo conhecer mais sobre a Kate.

— Romance. Drama. – Ela diz dando os ombros. – Mas o que importa é que eu li seus livros, e amei. Estou completamente apaixonada. – Ela diz com um sorriso no rosto. Eu a olho ainda mais surpreso, não sei o que faz ela ficar ainda mais corada, e com a voz menos empolgada que antes, ela completa. – Por seus livros, claro.

— Fico lisonjeado com isso.

— Não é nada demais, Castle. – Ela revira os olhos de novo. Eu amo quando ela faz isso. Gosto de implicar com ela.

— Claro que é. Você passou a noite inteira acordada lendo meus livros! – Ela sorrir com a língua presa entre os dentes fazendo uma cara de culpada. Linda!

— E como está o seu braço?

— Melhor... não sinto dor, mas meu ego ainda dói. – Ela rir.

— Relaxa. Eu prometo que quando você melhorar eu te dou mais algumas aulas.

— Eu vou cobrar. – Ela rir e concorda com a cabeça.

— Eu... queria te pedir uma coisa.

—  O que você quiser.

— Não faz nada com ele. – Desfaço meu sorriso e a olho séria. – Ele precisa desse emprego. Isso não vai mais acontecer.

— Como eu posso ter um funcionário que eu não confio? – Ela suspira.

— Eu sei que confiança é tudo, mas... faz isso por mim. Por favor.

Não tinha como negar alguma coisa a ela. Principalmente quando ela me olha desse jeito, com uma carinha de cachorro perdido. Eu não resisto. Ninguém resiste.

— Ok. Mas é por você. – Ela abre um sorrio de orelha a orelha.

— Obrigada.

Kate se volta para o sol, que agora já tinha saído totalmente de onde se escondia. Eu não consigo mais olhar para frente, apenas para a mulher ao meu lado. Ela tem um jeito de me enfeitiçar que ninguém mais tem. O sol contra seu rosto deixava sua pele mais linda, mais brilhosa. Seus olhos num ver tão claro que me faziam duvidar se eram mesmo verdes. Eu tinha que registrar esse momento. Eu adoro tirar fotos, e essa foi a foto mais linda que eu tirei em meses. Ela estava linda, e tudo a sua volta favoreceu para a foto. Kate não percebeu o que eu fiz, e eu iria fazer uma surpresa em breve. Guardo meu celular no bolso da calça e me levanto, sob o olhar atento de Kate.

— Eu vou vestir uma roupa. – Ela me olha de cima a baixo. Parece que só agora tinha reparado que eu estava sem camisa. Kate não tira seus olhos de mim, do meu peitoral. Ela parece gostar do que ver, e eu fico feliz com isso. – Já volto. – Sorrio e saio andando para dentro da casa. Pela sombra da porta de vidro eu vejo ela se virar e acompanhar casa passo meu. Não consigo deixar de sorrir com isso. Se fosse eu no seu lugar, também apreciaria seu corpo da melhor forma possível.

Depois de um banho rápido eu desço novamente. Dessa vez devidamente vestido. Passo pela sala e todas as cortinas estão abertas. O cheiro do café faz minha barriga se manifestar. Olho para a varanda, mas Kate não está mais lá. Sigo o cheiro do café, esperando entrar a Jenny por lá, mas me depara com outra pessoa totalmente diferente.

Uma morena, de cabelos castanhos claro, ondulados nas pontas, corpo magro, mas com curvas, vestindo sua típica calça jeans e sua camisa social de mangas longas. Kate estava preparando o meu café da manhã.

— Você fez isso tudo enquanto eu fui tomar banho? – Digo me aproximando e olhando para a mesa farta. Kate sorrir ao me ver, mas logo volta sua atenção para o café que ela estava coando.

— Não. A Jenny precisou ir até a casa dela e eu resolvi ajuda-la. – Ela se aproxima com a garrafa de café nas mãos.

— Ah, bom. Pensei que você tinha feito o café.

— Não. Eu bem que gostaria, mas não sei fazer café. Pelo menos não um que saia bom. – Ela faz uma cara feia e eu rio.

— Café é minha especialidade, sabia?

— Mesmo? Pensei que sua especialidade fosse escrever.

— Também. Mas desenvolvi uma técnica especial de fazer café. É preciso quando se passa noites e mais noites escrevendo.

— Hmm... então você é um homem prendado, Senhor Castle.

— Bom, eu sei fazer algumas coisas – dou os ombros.

— Senhor Castle, já desceu. – Diz Jenny quando volta para a cozinha. – Está servido?

— Sim. Sua assistente é muito boa. – Ela sorrir e Kate revira os olhos. – Só coloca mais um lugar na mesa, essa bela senhorita vai tomar café comigo hoje. – Digo puxando uma cadeira para Kate sentar.

— Não. Não precisa. Eu já estava indo ver os cavalos.

— Kate, deixa de besteira e senta. Você chegou cedo, aposto que nem comeu nada em casa.

— É... eu estava animada demais. – Ela faz um cara de culpada.

Eu indico mais uma vez a cadeira e ela senta. Me sento ao seu lado e começo a servir nosso café.

— Experimenta. – Sirvo um pedaço de bolo para ela. – Você vai amar.

— É o bolo de milho da Jenny? – Ela diz quando babando pelo bolo.

— Você já conhece? – Não sei porque isso me surpreende.

— Claro! – Ela diz animada, me olhando com seu sorriso encantador. – Eu amo esse bolo.

— Eu pensei que eu fosse especial, Jenny. – Digo alto e escuto sua risada vindo da cozinha.

— Acredite, você é. – Kate diz, massageando meu ego. – Ela quase nunca faz esse bolo. – Eu abro um sorriso e começo a comer.

Vejo Kate se servir mais uma vez. Ela não parece ficar nenhum pouco preocupada com a quantidade, ou se iria engordar se comesse demais. Lembro que a Gina não comia muito para não engordar, mesmo que ela não precisasse se preocupar com isso. Kate era diferente. É por isso que eu gosto tanto dela.

— Tenho que te perguntar uma coisa. – Ela diz entre um gole e outro de café.

— Manda. – Paro de comer e deixo minha atenção inteiramente para ela.

— Você não vai mais escrever nenhum livro?

— Não sei. – Dou os ombros. – Não tenho tido muita vontade de escrever ultimamente.

— Eu entendo.... Mas você tem um dom, Castle. – Ela se vira para mim e segura minha mão na mesa. – Não deveria desistir de escrever. Você precisa mostrar seu dom para as pessoas. Você precisa ajudar pessoas com seus livros. Permitir que elas viagem num mundo paralelo enquanto suas vidas reais está um caus. – eu sorrio.

— Agradeço você pensar assim, mas eu não desisti. Eu só... eu só não me sinto preparado para escrever novamente. – Olho nossas mãos juntas, e depois volto a olha-la. – Gina foi minha inspiração por anos. Agora eu não tenho mais nada.

— Você tem tudo, Castle. Você só não sabe disso. – Ela sorrir. – E eu sei que quando você for escrever novamente, nem que seja um texto simples, você vai escrever divinamente bem, como sempre.

— Você só conhece meu livros a... seis horas? – Pergunto debochando dela, que rir.

— Mas eu já sou sua fã, Senhor Castle. – Dessa vez eu rio.

— Bom dia. – ao escutar a voz de Esposito eu me viro e vejo ele se aproximar. Com os olhos fixos em Kate e uma cara de poucos amigos.

Fecho minha cara na hora. Apenas Jenny responde. Kate abaixa o olhar e fica mexendo seu café lentamente.

— Não sabia que você já havia chegado, Kate. – Ele para ao seu lado na mesa. – Dormiu aqui?

Kate levanta seu olhar para fita-lo. Eu conheço esse olhar. Ela está com raiva. Muita raiva. Eu também começo a me sentir incomodado com a presença desse cara aqui. Respiro fundo para não tomar nenhuma iniciativa.

— Não, eu não dormi aqui. Mas se tivesse você não teria nada a ver com isso. – Ela levanta e o encara de cima.

— Esposito eu quero você no meu escritório no final do dia. – eu digo com a voz firme. Me levanto e encaro ele, e logo depois a Kate. – Te espero no celeiro, Kate.

Saio a passos firmes de dentro da minha casa. Eu podia parecer tranquilo por fora, mas por dentro, eu estava ponto de bater naquele cara. Como ele ousa falar assim com a Kate? Ela não era uma qualquer para ele trata-la assim. Ainda escuto Kate falar alguma coisa, mas não compreendo muito bem, estou perdido xingando o Esposito em pensamentos. Minha cabeça ferve. Escuto gritos vindo de dentro da casa. Eles estavam discutindo feio. Quando me viro para voltar lá e tirar Kate de lá, me deparo com um carro totalmente desconhecido que estacionava perto de onde eu estava.

Não conheço esse carro. Ninguém nunca vem aqui. Minha mãe não sabe onde eu estou. Então não faço a mínima ideia de quem seja. Observo o veículo preto de vidro fumê e vejo um homem muito bem arrumado descer. Paro e o encaro enquanto ele se aproxima.

— Senhor Castle, eu presumo? – Ele me pergunta enquanto se aproxima de mim.

Ele tinha aproximadamente a minha idade. Bem vestido. Mais alto e mais forte que eu. Tenho que admitir que era um cara bonito. Mas eu não estava gostando nem um pouco de sua presença aqui. Não sei porque, mas sinto que ele não vai me trazer boas notícias.

— Sim. E você é...? – Ele sorrir e tirar os óculos, deixando a mostra seus olhos claros.

— Josh. – ele estende a mão e eu aperto firme. – Soube que o senhor está vendendo alguns cavalos. Pelo o que me informaram, eles são valiosos.

— Ehh.... – Eu não consigo terminar de falar, a voz de Kate me interrompe.

— Josh! – Ela diz num tom alegre. Nem de longe parece aquela Kate brava que eu vi a um minuto atrás.

Eu me viro em sua direção a ponto de vê-la com um sorriso enorme no rosto e correr na direção do homem a meu lado. Ele abre os braços e a captura, apertando-a forte e rodando-a no ar. Não posso negar que algo mudou dentro de mim. Minha vontade é de ir até lá e tira-la de seus braços.

Fico observando os dois. Eles estão a tempo demais se abraçando. Com certeza eles se conhecem a muito tempo. Mas mais que isso, eles parecem ser íntimos, mas íntimos do que eu gostaria. E a certeza dessa intimidade vem quando vejo ele plantar um beijo nos lábios dela.

Ele envolve sua cintura possessivamente com seu braço e me encara com um sorriso vitorioso nos lábios. Sim, ele era um homem vitorioso apenas por ter Kate ao seu lado.