Série Lobos I - Hogosha (O Guardião) escrita por M Schinder


Capítulo 5
Parte V: A Princesa


Notas iniciais do capítulo

Voltei, gente!
Sem muito tempo para deixar uma mensagem bonitinha aqui rs, mas saibam que estou muito feliz (tanto com a história quanto com os leitores)! :3

Espero que gostem do capítulo!
Boa leitura! :3



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Foi no final de uma tarde, depois de meus treinos habituais. Eu ainda era um menino franzino e magro, por mais que sentisse que algumas características minhas estavam diferentes. Uma coisa não mudara: minha personalidade relaxada. Sempre que eu podia, fugia dos treinos ou dava um jeito de enrolar o máximo possível. Ume me torturava cada vez que me pegava fazendo aquelas coisas, mas não importava, eu não conseguia mudar aquilo e, para todos os efeitos, nem mesmo queria estar ali.

Enfim, fui guiado pelo meu "mestre", não tenho certeza se devo considerá-lo um mestre, até o castelo da família real e não pude deixar de me surpreender com o tamanho do lugar. Era bem menor do que todos diziam, mas ainda era grande. Pelo que entendi, o imperador estava resolvendo assuntos de política, por isso eu não o conheceria naquele momento. E estava esperando a permissão para ver a princesa ao lado da única pessoa que conhecia ali quando uma mulher apareceu de repente e sussurrou alguma coisa para Ume.

— Nem pense em sair daqui – ele avisou e saiu correndo apressado.

Algo que me dizia que alguma coisa acontecera, mas eu estava feliz por ter algum tempo para descansar e não fazer nada sem correr o risco de represálias. Eu deitei no chão, já mais acostumado com minha forma humana, e estava quase cochilando quando senti duas cutucadas em minha bochecha. Irritado, abri os olhos.

Parada ao meu lado estava a garota que me ajudara na caverna, com o mesmo sorriso de quem sabia de tudo e os olhos ainda mais brilhantes que nunca. Sentei-me rapidamente.

— O que está fazendo aqui? – questionei surpreso. – Como entrou aqui?

— Bem, eu moro aqui – respondeu simples.

Minha boca caiu. Acho que fiz uma cara engraçada, pois a garota começou a rir como se eu tivesse contado a melhor piada do mundo.

— Qual a graça? – questionei irritado e parando de fazer a cara de pateta que eu sabia que estava mostrando.

— Você é engraçado. – ela deu de ombros.

— Se você é a princesa, o que estava fazendo dentro daquela caverna? – continuei sem ligar para sua resposta.

— Bem, como você salvou minha vida lá, acho que não tem problema explicar – respondeu me surpreendendo mais uma vez. – Na verdade, é bem simples, eu vivo trancada aqui e estava fugindo para dar uma voltinha.

Ela falou "voltinha" como se fosse a coisa mais normal do mundo e como se aquilo não fosse um risco para a própria vida, porém eu pude entender seu motivo. Eu passara a maior parte de minha vida livre, brincando e indo até onde queria, aquela menina provavelmente nunca poderia fazer isso em sua vida sem ser as escondidas.

— Qual o seu nome? – ela me perguntou vendo que eu me calara. – Quantos anos tem?

— Sou o Katsuo e tenho doze anos. E você?

— Eu sou a Ailee! Tenho dez anos.

Ela respondeu com o maior sorriso que eu a vira estampar até aquele momento; a menina que parecia mandona e irritada na caverna não tinha nada a ver com aquela que estava sentada ao meu lado. Além disso, ela parecia extremamente feliz por estar conversando com alguém.

— Ei – chamei quando voltamos a ficar em silêncio. Ela olhou-me curiosa. – Muito obrigada por ter me ajudado. Eu teria morrido se não fosse por você.

Ela ficou com as bochechas rosadas, mas concordou mostrando que tinha entendido. Satisfeito por ter podido agradecer devidamente a ela, eu ia voltar a deitar para tentar dormir um pouco antes que Ume voltasse, mas eu não consegui. Ailee começou a contar sobre como eram as coisas dentro do palácio, como era sua família e a vontade de poder conhecer o povo a qual deveria proteger.

Eu já comentei que não sou uma pessoa de muitas palavras, mas com aquela menina era fácil de conversar e ajudava muito o fato de ela parecer gostar muito de mim. Dei a atenção que ela queria e ficamos ali, eu ouvindo e respondendo tudo que podia, tentando tirar um pouco da curiosidade dela, até que Ume voltou esbaforido e chocado.

— Senhorita Tsukiko, onde você esteve?

Ele parecia realmente preocupado e ela, de repente, ficou calada e retraída. Suas bochechas coraram e a animação sumiu. Fiquei triste por vê-la desanimar daquela maneira e resolvi que ela não merecia tomar uma bronca por não ter nem saído de dentro do palácio.

— Ela esteve o tempo todo aqui comigo, Ume – respondi bocejando. Sejamos sinceros, eu não fazia ideia de onde ela estava antes de chegar aqui, mas a maior parte do tempo ela estava comigo e era isso que importava. – Ailee passou o tempo dela conversando comigo.

Ume não pareceu acreditar na parte do conversando e ralhou comigo por tê-la chamado pelo primeiro nome e sem o honorífico certo, mas aceitou que ela não colocou os pés fora do palácio. Antes de sair, ele nos apresentou formalmente e disse que talvez ficássemos grudados por um longo tempo.

~000~

Fui informado por Ume que meu treinamento nunca acabaria e aquilo me deixou extremamente sem horizontes, ou sonhos e perspectivas... Tá, parei com o drama. Enfim, eu treinaria até ele ter certeza de que eu estava pronto para seguir sozinho. O que ele afirmara, veementemente, que não aconteceria por um longo tempo.

Então, depois de conhecer Ailee, minha rotina mudou. Enquanto eu treinava como humano, ela estudava; quando eu virava lobo, ela estava lá, tanto para aprender sobre a minha raça quanto para podermos passar algum tempo juntos. Ume também me avisou que eu deveria ser o melhor amigo dela, mas que nunca poderia ultrapassar barreiras. Eu não entendi a parte das barreiras, por isso resolvi ignorar.

Minhas coisas foram levadas para o palácio. Eu ganhei um quarto junto ao resto da alcateia e passei a ser respeitado e odiado pelo status que eu adquirira. Para a minha tranquilidade, trouxeram Issa junto, e como eu não podia ficar com ele, meu jovem amigo lobo passava seu tempo com Ailee, que fizera questão de me ajudar. Quando não estava comigo ou estudando, a princesa me contara que ia fazer visitas para Seiji também, mas que não gostava tanto assim do outro garoto. Minha infantilidade era tamanha que quando ouvi aquilo só consegui pensar "um a zero, gordinho!".

Eu não sei explicar bem como, mas acho que o fato de estarmos os dois trancados ali; de um ter que ajudar o outro com seus estudos; ou talvez apenas por nós dois sermos pessoas solitárias, acabamos nos tornando os melhores amigos.

Um dia, quando eu estava descansando, no Iro no Seiiki, em minha forma de lobo, Ailee lia um livro recostada contra minha barriga e Issa cochilava entre minhas patas, o próprio imperador, Tsukiko Koji, aproximou-se de nós com um sorriso gentil.

— Oras, eu finalmente te achei, minha querida – pronunciou-se o homem chamando nossa atenção.

Ailee pulou em pé e correu até ele, dando-lhe um abraço. Uma das coisas que fui obrigado a aprender era que ali eu seria um subordinado para qualquer um da família real, principalmente para o Rei. Então assumi minha forma humana e fiquei sobre um dos meus joelhos, de cabeça baixa.

Eles trocaram algumas palavras e Ailee puxou-o para perto de mim. Issa continuava ressonando em um canto. O soberano se aproximou, alguns passos atrás da filha, e parou quando ela se abaixou para bagunçar meus cabelos, como se fazia com um mascote.

— Katsuo, levante a cabeça, é só meu pai.

Eu olhei para ela como se ela fosse louca e o senhor Tsukiko deu uma leve risada do comentário da própria filha. Fiquei sem saber se deveria ou não me levantar, mas continuei onde estava. Preferia não levar uma bronca por falta de respeito. Notando que eu ficaria ali, o imperador resolveu se pronunciar.

— Não tem problema se erguer, jovem lobo. Levante sua cabeça.

Sua voz era como a de Ailee, só que muito mais firme e séria. Eu me ergui mantendo uma distância respeitosa dos dois. Quando eu estava sozinho com a princesa, eu podia me portar como um lobo pré-adolescente qualquer; mas estar na presença do imperador lembrava-me de quem eu era e o porquê de ter sido levado até ali.

— É um prazer conhecê-lo, meu senhor – pronunciei-me. Eu continuava com a mesma voz e não conseguia, por mais que Ume gritasse comigo, perder o tom irônico e brincalhão. Todavia, o lorde pareceu não se importar.

— O prazer é meu, Katsuo – devolveu surpreendendo-me por chamar-me pelo primeiro nome. – Ailee anda falando muito de você e seu pai também.

Ouvi-lo mencionar meu pai lembrou-me de quem era o Hogosha do imperador Tsukiko. Eu sabia que uma hora seria comparado a ele, mas ficar perto de Ailee parecia ter feito eu me esquecer daquele detalhe. Eu acenei de maneira educada, mas sem sorrir. Não fazia ideia do que eles haviam falado sobre mim, mas era melhor esperar pelo pior – mesmo não acreditando que a garota falaria mal de ninguém.

— Querida, procure uma das empregadas e peça para que elas nos tragam chá – pediu olhando para a filha, que ainda estava parada a meu lado.

Ailee concordou feliz e saiu correndo em direção ao palácio. Eu e o imperador ficamos sozinhos e ele me surpreendeu mais uma vez ao se sentar no chão e apontar para seu lado.

— Acompanhe-me, rapaz.

Sentei sem que ele pudesse pensar em pedir uma segunda vez. Issa acordara e estava escondido atrás de mim, analisando o estranho que se ajeitava tranquilamente contra a árvore que antes eu ocupava com meus dois amigos.

— Katsuo, eu sei que você e Ailee são muito amigos e tenho que te agradecer por fazer essa companhia a ela – disse sorrindo de uma forma diferente. Eu sentia como se ele estivesse triste e houvesse algo errado, mas sabia que seria indelicado perguntar. – E é por isso que eu fico muito mais tranquilo em saber que você será o próximo Guardião.

— Senhor, ainda tem o Seijo – murmurei um pouco confuso. Era comum que no final dos testes sobrassem apenas dois escolhidos pelos lobos para serem treinados e depois de um tempo pré-determinado seria escolhido quem seria melhor para o cargo. Porém, o senhor Tsukiko olhava para mim como se soubesse de coisas que eu nunca adivinharia. – O Hogosha ainda não foi escolhido...

— Katsuo, minha filha é mesmo sua amiga? – perguntou fazendo com que eu olhasse para ele ainda mais sério. – Você a protegeria de qualquer coisa?

Aquele "qualquer" saiu com um timbre quase sombrio, mas eu não senti nada além de indignação com a pergunta e inflei o peito.

— Eu a protegeria até mesmo se custasse a minha vida – respondi com um rosnado.

Ailee chegou naquele instante, impedindo que aquela conversa continuasse por mais tempo. Tomamos chá juntos, mas eu logo pedi para me retirar, com a desculpa de que precisava estudar algumas coisas. Algo no imperador me perturbara e eu não sabia o quê.


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Notas finais do capítulo

E então, o que estão achando? Deixem seus reviews! :3