Série Lobos I - Hogosha (O Guardião) escrita por M Schinder


Capítulo 6
Parte VI: Marcas


Notas iniciais do capítulo

Onde vocês foram parar? O que estão achando? Saudades de vocês, leitores! Participem mais, deem dicas para eu poder melhorar ;3

Enfim, boa leitura! o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700334/chapter/6

Foi no meu aniversário de quatorze anos que eu voltei a encontrar Seiji e descobri qual seria o último desafio para me tornar o Hogosha. Há muito eu me acostumara a morar naquele lugar e me desagradava a ideia de ter que me separar de Ailee e Ume, se tornar ganhar a posição se tornara algo muito maior que apenas prestígio e reconhecimento para mim. Eu já não via Ailee há dias e naquele instante descobri o porquê.

— Vocês deverão cruzar a Hikari no Mori (*Floresta da Luz) para encontrar a jovem princesa – anunciou um homem que eu nunca vira em minha vida. Ume estava parado atrás de mim enquanto Hiroshi passava suas últimas instruções para Seiji. – Ela precisa ser trazida em segurança. Sem nenhum arranhão. Vocês poderão encontrar monstros no caminho de ida ou de volta, como também poderão seguir por um caminho tranquilo. Entretanto, nenhuma pista será dada a vocês ou receberão qualquer dica. Só o melhor vai conquistar esse posto.

Ume Hidetaka conversara comigo na noite anterior. Ele afirmara que eu já possuía todo o necessário para ganhar o lugar que, na opinião dele, já era meu. Saber que Ailee estava presa em uma cabana no meio da floresta me irritou. Colocar a menina em perigo por causa de uma competição não entrava em minha cabeça. Naquele instante, a única coisa em que eu conseguia pensar era em trazê-la sã e salva, sem me importar com quem ganharia o lugar.

Um uivo soou como o sinal para que saíssemos e eu voltei a ser um lobo logo que comecei a correr. As árvores eram mais espaçadas do que em uma floresta comum, mas ainda eram muitas e podiam surgir em qualquer lugar. Eu brincava naquela floresta desde que nascera e nada parecia ter mudado, com a exceção, é claro, de mim.

Nesses dois anos e depois de tantas horas treinando eu crescera quase dez centímetros e desenvolvera uma musculatura atlética – já não era nem franzino ou pequeno. Minha forma animal também ficar muito mais musculosa, minhas patas conseguiam atingir velocidades altíssimas em comparação a qualquer garoto da minha idade e minha mordida ficava cada vez mais forte. Ume afirmara que estava apenas começando a me transformar no poderoso lobo que poderia vir a ser, mas precisava passar por aquela etapa. Precisava ganhar do outro lobo.

Seiji também já não era o mesmo de antes. Emagrecera muito, por mais que não chegasse perto do meu peso, e parecia mais forte e tão decidido quanto eu a ganhar. Ele me seguia mantendo um ritmo bom atrás de mim; parecia saber que eu estava indo pelo caminho certo.

E eu estava. O cheiro de lavanda entrava por minhas narinas muito fraco, mas conforme eu corria mais eu chegava perto e o cheiro se tornava mais forte. Eu podia ouvir a respiração pesada de Seiji atrás de mim, lutando para me acompanhar. Sempre tive a noção que nossos objetivos eram diferentes e naquele momento, enquanto eu era guiado por minha vontade de salvar minha amiga; ele seguia pelo status.

Por alguma benção divina, cheguei à cabana sem nenhum incidente perigoso. Ailee estava sentada na varanda, sobre as escadas. Ela sorriu quando me viu e correu até mim, saindo da proteção da cabana. Algo me dizia que não era nem um pouco seguro que ela pisasse fora da casa, mas fiquei feliz por vê-la inteira. A princesa enrolou seus braços ao redor do meu pescoço. Ela já não era maior que eu em nenhuma de minhas formas, e a única coisa que mudara em si fora o tamanho de seu cabelo, que crescia aos poucos.

— Eu sabia que você me acharia logo! – exclamou satisfeita. Ela passava sua mão por meu pelo, como sempre fazia quando eu estava em minha forma original. – Que bom que foi você quem veio.

Ela murmurara aquela frase me deixando confuso, mas um barulho de patas foi o suficiente para atrair minha atenção e empurrar Ailee com o focinho para trás de mim. Seiji saltou do meio das árvores para o centro da clareira em que se encontrava a cabana. Com um rosnado irritado, ele assumiu sua forma humana.

— Eu sabia! Você trapaceou, Katsuo! – ele gritava apontando para mim. Ailee segurou meus pelos com força, puxando-os. Eu segurei para não reclamar de dor e continue voltado para Seiji. – O senhor Kobayashi me avisou de que você se aproveitaria da senhorita Tsukiko para ganhar o posto!

Três motivos me fizeram parar: 1) Eu não acreditei que o "senhor" Kobayashi tinha tido a coragem de dizer aquilo; 2) Eu fiquei ainda mais petrificado ao perceber que as pessoas achavam que EU estava usando Ailee para ganhar o posto, quando era totalmente o contrário e 3) um urso pardo gigantesco se aproximava pelas costas de Seiji e ele continuava apontando para mim e me acusando de coisas que nunca seriam verdade. Eu comecei a rosnar baixo, um aviso claro para o animal se afastar, mas ele estava completamente focado no outro.

— Cuidado! – gritou Ailee quando o urso avançou.

Seiji rolou para o lado em sua forma humana e levantou já transformado em lobo. Seus rosnados se juntaram os meus, mas eu percebi que aquele não era um urso normal. Ele possuía garras muito mais alongadas e baba escorria de sua boca. Era óbvio que ele estava nos caçando e não estava nem aí para quem fosse seu alvo e eu sabia que criaturas naquele estado sempre procurariam o alvo mais fraco.

Eu rosnei com mais força quando ele deu um passo para frente. Surpreendi-me que Seiji não saíra correndo, mas era óbvio que ele torcia para que não houvesse nenhum confronto. Outra coisa que eu sabia que seria impossível evitar.

Como eu previra, o urso atacou Seijo primeiro que desviou e correu parando ao meu lado. Ele me olhou esperando ordens e eu não acreditei que aquele prepotente esperava que eu resolvesse tudo – e como sempre, eu estava muito certo.

O urso urrou e se colocou sobre as duas patas traseiras. Eu nunca conseguiria lutar sabendo que Ailee corria perigo e então tomei a decisão mais estúpida, mas a mais certa de meus curtos quatorze anos: empurrei-a na direção de Seiji. O lobo entendeu a mensagem, mas a princesa não pareceu nem um pouco satisfeita com aquilo. Ela tentou se afastar do outro lobo, mas ele puxou-a pelas roupas com brusquidão e a jogou sobre suas costas.

Eu ouvi Ailee gritar meu nome, mas não ousei desviar minha atenção do urso. Ele me atacou no momento em que Seiji começou a correr. Eu bloquei seu caminho e saltei na direção de sua garganta. Errei por centímetros e uma de suas patas livres acertou minhas costelas. Fui lançado longe, mas girei meu corpo e cai sobre minhas patas.

Um rosnado baixo escapava por minha garganta. Eu estava muito irritado por não saber como Ailee estava e por ter sido tão irresponsável em meu primeiro ataque. Voltei a flexionar as patas dianteiras, pronto para pular na menor abertura que ele me desse, em qualquer parte de seu corpo, e foi exatamente isso que eu fiz quando ele avançou sem pensar e desleixadamente. Sua pata se ergueu mirando meu pescoço, eu saltei para o lado e voltei com tudo grudando meus dentes em seu flanco esquerdo. Senti o sangue escorrer e com satisfação me afastei.

Ele urrou com dor e se preparou para atacar de novo. Seus movimentos estavam mais lentos, mas eu não podia prever o futuro, o que teria sido bastante útil. Ailee surgiu do meio das árvores, de um lado completamente diferente pelo qual Seiji fugira, e chamou pelo meu nome.

Um segundo. Um segundo da minha distração foi o suficiente para que o urso se lançasse a correr na direção dela. Um desespero subiu pela minha espinha e eu me joguei em uma corrida alucinada para chegar antes dele.

Por um instante, eu achei que não daria tempo. Que Ailee morreria ali e graças a isso uma onda de adrenalina desceu por meu corpo e eu consegui me atirar entre os dois quando ele descia a pata na direção da cabeça dela. Meu olho ardeu e eu só conseguia enxergar do lado direito, mas aquilo não me impediu de me atirar para cima dele, fazendo-o rolar para longe de Ailee comigo, enquanto eu grudava meus dentes em sua garganta.

Ali, no chão, foi uma luta de força. Ele tentava me empurrar para longe enquanto eu pressionava com cada vez mais força minha mandíbula e afundava minhas garras da melhor maneira que podia. Senti-o arranhar meu peito e o sangue jorrava cada vez com mais força, só que eu não sabia se era meu ou dele. Então, uma última mordida mais poderosa fechou-se e eu senti meus dentes encostaram uns nos outros. A última coisa que eu senti foi o corpo do urso desfalecer e eu cair no chão com força.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Digam-me, eu não mordo rsrs :3