Série Lobos I - Hogosha (O Guardião) escrita por M Schinder


Capítulo 4
Parte IV: Ume Hidetaka


Notas iniciais do capítulo

Olá, como prometido, voltei com mais um! :3
Espero que estejam gostando!

Boa leitura!



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Ao chegar ao ponto de onde vinham os berros, encontrei os três garotos e dois lobos gigantescos enfrentando uma cobra com três vezes o comprimento da que eu enfrentara. A mão de um dos garotos sumira, o segundo tentava se arrastar para longe do animal selvagem, seu tornozelo sangrando, e o gordinho gritava correndo de um lado para o outro, ele parecia preso entre a forma humana e lupina, mas não possuía nenhum ferimento aparente. Eu não julguei o gordinho, momentos antes eu estava no lugar dele, mas em vez de gritar, chorava.

Tentando voltar a focar na luta que se desenrolava a minha frente, a única coisa que consegui entender foi que o maior lobo rosnou alto e saltou quase no mesmo lugar que eu acertara a outra. O outro lobo grudou na calda, impedindo que o monstro tentasse derrubar seu companheiro. Em segundos, a cobra fora dominado pelos dois.

Fomos guiados para fora pelo lobo com uma pelagem muito mais parecida com o azul do que com qualquer outra cor que eu já vira. Ele assumiu sua forma humana assim que cruzou a entrada da caverna e, como eu acreditara, era o recrutador. A primeira coisa que fez foi dar assistência ao menino que perdera a mão e depois correu para ajudar o "tornozelo sangrento". Eu senti pena dos garotos, um lobo sem pata não era considerado grande coisa dentro da matilha.

Algumas horas depois, ele voltara. Eu tivera tempo para tirar o laço que a menina fizera e guardara-o dentro de meu casaco, restando apenas o dente entre minhas mãos e o gordinho a meu lado.

— Vocês dois, sigam-me – ele ordenou sem parar para conversar. Eu não tive certeza se ele notara o dente, mas também não comentei nada.

Por outro lado, o gordinho tentara conversar comigo. Eu descobrira que seu nome era Hiroíto Seiji e que ele era o filho de um dos melhores amigos do imperador da Lua. O menino tinha posição e reconhecimento por suas habilidades de caça, coisas que ele afirmara para mim. Entretanto, eu permaneci calado enquanto estávamos esperando e depois, quando seguimos o recrutador até o que parecia ser uma entrada. Outro homem, menor que o recrutador, mas tão animalesco quanto, nos esperava lá.

— Ume, quanto tempo – falou o homem que esperava na porta.

— Sim, já faz algum tempo, Hiroshi – respondeu esticando seu braço na direção do outro. Como eu já vira muitos fazendo, os dois seguraram o cotovelo do outro, um gesto de "olá" comum entre os membros da matilha. – Por favor, leve o senhor Hiroíto para dentro.

Hiroshi olhou em nossa direção e arqueou suas sobrancelhas na direção do meu dente. Eu o puxei mais contra o corpo, como se protegendo a prova de que eu poderia ser um guerreiro, mesmo não querendo, e a única coisa que provava que aquela garota estivera lá para me salvar. Ele sorriu gentil e voltou sua atenção para meu companheiro gordinho.

— Senhor Hiroíto, por favor, acompanhe-me.

Seiji sorriu levantando o nariz e foi com o homem, recebendo um leve tapinha no ombro e um bom trabalho por ter chegado até ali. Vocês querem saber? Eu já odiava aquele gordinho sortudo. Além de ter saído ileso, ainda tinha ficado com o homem mais educado e que parecia ser o mais legal. Além do mais, ele parecia saber onde era ali. Coisa que eu não fazia ideia.

— Vamos logo, Toshio.

Eu corri para acompanhá-lo, não queria ser deixado para trás em um lugar que eu nem sabia o que era. Colocando o dente dentro do bolso do meu casaco, eu resolvi acabar com aquele silêncio todo.

— Para onde estamos indo? – questionei.

Eu recebi um rosnado em troca, mas ele parou de andar e sentou-se sobre uma rocha. Nós tínhamos chegado a um lago, com várias pedras ao seu redor e umas árvores espalhadas entre jardins de flores coloridas. Era um jardim extremamente bonito e eu finalmente percebi onde estávamos.

— Este é o Iro no Seiiki (*Santuário das Cores)? – perguntei olhando para os lados chocado. Dali eu podia enxergar o céu com clareza e, se aquele fosse mesmo o lugar certo, poderia ter uma visão privilegiada da Lua quando ela estivesse no céu.

— Sim, o mesmo – respondeu apontando para uma das pedras. – Vamos, sente-se. Nós precisamos conversar.

Agitado por estar em um lugar sagrado e onde as lendas diziam ser o lugar favorito de Tsukuyomi, sentei-me e encarei o homem a minha frente com curiosidade.

— Toshio Katsuo, foi uma surpresa para todos que você tenha ganhado de uma Serpente, mesmo que jovem. E maior ainda para seus pais, que já estão sabendo de seu feito – começou sério. Aquilo foi como um tapa em minha cara, mas eu não fiquei surpreso. Nem mesmo eu esperaria algo aquilo de mim. – Mas não para mim. Eu possuo um grande respeito pelos lobos que sabem a importância de sua forma original e não se deixaram levar pelas facilidades da forma humana – explicou me olhando com aprovação. Por algum motivo, eu resolvi que era melhor manter minha cabeça erguida e continuar encarando-o. – E você conquistou, sem sombra de dúvidas, o direito de ser treinado.

Ele parou de falar, como se aquilo fosse tudo. E eu arqueei minhas próprias sobrancelhas como um questionamento. Eu não era um homem de várias palavras, mas não podia perder a oportunidade de descobrir o que conseguisse.

— Direito de ser treinado para quê?!

Minha voz saiu mais esganiçada do que eu pretendia e ele rosnou baixinho. Eu fiz a expressão mais séria que consegui, mas ainda estava com vergonha por ter deixado minha voz tão fina.

— Para ser o próximo Hogosha, oras.

~000~

Ser o Hogosha significava ser o mais poderoso, capaz e corajoso lobo da alcateia. Além disso, ele precisava saber utilizar com soberania todos os sentidos e habilidades que nosso ser animal possuía.

Resumindo: eu passei sete meses dentro do Iro no Seiiki com Ume Hidetaka, que descobri ser um dos mais antigos Hogosha e o responsável, escolhido a dedo pelo próprio deus, pelo recrutamento dos melhores e mais capacitados lobos para a matilha. Por vezes questionei-me se ele era imortal, mas nunca tive coragem suficiente para perguntar.

Revezamo-nos dentro do santuário e da montanha, com treinamentos árduos e torturantes. Durante esse eu odiei o mundo, minha sorte, minha descendência e tudo que eu podia ligar a minha situação. Tive que caçar de ratos até monstros como a Serpente; fui obrigado a caminhar pela escuridão da floresta e da montanha com os olhos vendados, utilizando apenas meu olfato e audição para sair; fizemos circuitos e eu tive que correr tanto quanto Ume – tudo isso como lobo, minha forma original. Depois de três meses e quando ele achou que eu já era um lobo muito mais capaz, Ume me fez assumir a forma humana e revezar o treinamento humano com o lupino. Aprendi a lutar como humano – foi horrível, eu nunca apanhei tanto na minha vida como naqueles dias – fiz exercícios para aumentar minha resistência e fui obrigado a estudar várias coisas diferentes – desde estratégias de guerra até línguas diferentes.

Vocês podem ter certeza, sete meses não chegou nem perto de ser o suficiente para eu desenvolver todas as habilidades que um Hogosha precisava, mas foi o suficiente para que eu ganhasse a honra de conhecer quem seria meu protegido. O próximo herdeiro da Lua.


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Notas finais do capítulo

Leitores do meu coração, o que estão achando?
Não sei se estão gostando tanto que estão sem palavras ou está tão besta que estão sem palavras! >



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