CAPÍTULO 6

Amy acordou faminta na manhã de natal. Ela se demorou um pouco na cama, a preguiça e o frio a puxando para o colchão e pedindo que voltasse a dormir.

—Ta acordada? Vamos perder o café da manhã se demorarmos muito. -Hermione disse com uma voz meio tensa.

Amy se sentou na cama e olhou para amiga. Estavam apenas as duas no quarto, as outras garotas já tinham saído. Hermione  fechava e abria as mãos diversas vezes, o olhar distante e o rosto aflito. Ela olhava para o vestido do baile pendurado na cama, depois soltava o ar pesadamente.

—Não está nervosa de ir ao baile com Krum, está? -Amy perguntou.

—Eu…, bem estou. Muito nervosa. Todos vão olhar pra mim, Amy.- ela admitiu meio infeliz.

Amy se levantou e se sentou ao lado de Hermione.

—Então você é uma boba, Hermione. Sério, não tem com o que se preocupar. Você tem uma roupa linda, um par sensacional, tenho certeza que se divertirá muito hoje, e esquece que os outros vão olhar pra você. Vão estar morrendo de inveja, isso sim.

Hermione deu um sorriso agradecido para ela, depois sacudiu a cabeça e mandou Amy se arrumar para o café. Depois de um rápido banho, elas desceram para o salão principal.

Os elfos na cozinha estavam particularmente inspirados naquela manhã, pois havia uma diversidades maior de comida na mesa. Fred, Jorge e Rony comiam feito loucos como sempre, o que fazia Gina revirar os olhos de vez em quando. Harry recebeu uma carta de Sirius, parabenizando-o pelo sucesso na prova e pedindo que o mantivesse informado de qualquer anomalia em Hogwarts.

—Oi gente. Oi Amy -Cedrico passou ao lado deles e cumprimentou a todos, mas sorriu especificamente para a garota.

—Oi Cedrico. -disseram Hermione e Gina juntas.

—Oi, Diggory. -Amy disse e sorriu, pensando no dia em que o rapaz falou que eles poderiam se encontrar no baile.

—Oi Diggory! Oi Diggory! -Fred e Jorge ficaram falando com vozes fininhas e rindo, o que fez Amy revirar os olhos e corar um pouco.

Rony estava junto com Harry e os outros campeões, apenas esperando Amy chegar para entrar no salão.

Afinal de contas, Harry ia ao baile com Parvati, uma bonita garota da Grifinória, Cedrico com Cho Chang, que Rony sabia que era uma das meninas que Harry queria convidar para esta noite. Ele também sabia que ele cogitava, no fundo, ir com Amy, por isso ficou meio chateado quando a amiga falou que ia com Rony.

—Ah meu Deus, ela está tão linda! -disse Parvati de repente, olhando para as escadas.

O respiração de Harry parou por um momento. Era Amy que descia as escadas e ela estava… Harry não conseguiu achar a palavra certa, nenhuma parecia suficiente para descrevê-la. Estava com um vestido rosa bem claro, quase branco, que marcava sua cintura. Algumas pedras destacavam seus peitos medios e delicados. O cabelo estava meio solto, com os cachos maiores e mais definidos, a parte de cima desenhando uma trança. A maquiagem era leve, destacando os olhos e um pouco a boca. Os olhos dela correram pelo saguão, olhando quem estava, quando encontraram os olhos verdes de Harry e ela sorriu. Rony deu um passo à frente, e estendeu o braço para Amy. Nessa hora, Harry se arrependeu profundamente de não ter convidado a amiga para o baile. Ela pegou o braço de Rony e ergueu uma sobrancelha.

—Você tendo boas maneiras? -ela disse para Rony.

—Uau, Amy, você está incrível! Quase não te reconheci. -Rony disse.

—Obrigada, eu acho. Uma pena que você tentou competir comigo para ver quem tinha o melhor vestido. -Amy disse, analisando as roupas do amigo. Harry soltou um risinho.

A roupa de gala de Rony era um tanto quanto… antiquada. Parecia mesmo um velho vestido mal-feito. Rony pareceu envergonhado com a roupa, e ele tinha motivos, claro. Amy pegou sua varinha no meio do vestido e apontou para Rony. Com um movimento, o excesso de babados e rendas desapareceu, dando um ar mais moderno e menos brega à roupa.

—Bem melhor -ela disse e guardou a varinha. -Oi Harry. Oi Parvati.

—Olá. 

Os olhares de Harry se fixaram nos de Amy por algum segundo.

—Espero que não tropece. -Amy disse para Harry.

—É, eu também.

—Vamos, Rony? -Amy disse.

Antes de sair do saguão de entrada, Amy olhou para Krum e sussurrou um “ela já está descendo”, e deu um enorme sorriso quando passou por Cedrico Diggory.

—Onde está Hermione? Não está mal por não conseguir um par para o baile, está? -perguntou Rony.

Amy ia responder, mas preferiu não estragar a surpresa. Os dois ficaram bem na frente da roda de alunos para que ninguém atrapalhe-se sua visão para os campeões. Amy avistou Malfoy, que a encarava, do outro lado da roda de alunos. Sua roupa preta com gola alta o fazia parecer um padre. Depois que todos os alunos estrangeiros entraram, foi a vez dos campeões. Quando Victor Krum entrou, uma série de cabeças se viraram para sussurrar nos ouvidos dos parceiros. Hermione estava magnífica, com um vestido azul claro e o cabelo liso preso num coque.

—Ela está maravilhosa, não está? -Amy sussurrou no ouvido de Rony e apontou para Hermione e Krum.

O queixo de Rony caiu e seus olhos quase saltaram do rosto. Ele observou Hermione de baixo a cima, abismado com sua aparência.

—Ela… ela e Krum… como…?  -ele não conseguiu formar a frase direito, de tão chocado.

Assim que os campeões se sentaram à mesa principal, Amy e Rony se sentaram com Fred, Jorge e seus pares, Neville e Gina. Rony não parava de olhar para Hermione e sua expressão de surpresa se alterava para algo parecido com bravo. Eles se deliciaram no banquete, Amy rindo de Jorge e Fred como sempre. Apenas Rony parecia meio chateado mesmo. Após o maravilhoso banquete, foi a hora dos campeões iniciarem a valsa. Amy assistiu Harry dançar desajeitado, o que rendeu algumas risadinhas com Rony, Fred e Jorge.

—Vamos Ron! -Amy disse a Rony e o puxou para o centro.

O amigo tentou protestar, mas quando viu já estava valsando com Amy. Ela o guiava, e dançava extremamente bem para a surpresa dele. Foi um dos poucos momentos que Rony deu um sorriso na noite. Em segundos, o salão estava cheio de alunos e professores valsando. Com a troca de música, alguns casais trocaram de pares e Cedrico se aproximou timidamente dos dois.

—Amy, me daria a honra? -ele perguntou e estendeu a mão para Amy.

Ela corou levemente e Rony deu um sorrisinho meio sacana.

—Claro. -Amy disse e pegou a mão do rapaz.

Cedrico a puxou para perto e a valsa começou. Eles dançavam sincronizadamente, sem pisar um no pé do outro e sem irem para lados diferentes. Amy sorriu e desviou o olhar daqueles olhos cinzas encantadores e soltou uma risada.

—O que foi? -Cedrico perguntou, ainda sorrindo.  

—Eu não sei. Acho que seu fã clube deve estar com raiva de mim, agora.

—Acho que elas só estão admirando como você está linda esta noite.

Amy riu sem jeito.

—É, acho que não tem nada a ver com elas quererem me matar para estar no meu lugar.  

—Não se preocupe, isso não vai acontecer. Você venceria todas elas, nem precisaria da minha ajuda.

—É, eu venceria. -Amy admitiu.

A música parou e todos começaram a aplaudir. Uma banda subiu ao palco e começou a tocar músicas mais animadas. Cedrico começou a girar Amy e os dois se divertiram muito dançando. Após um tempo, encontraram Hermione e Victor na pista e os quatro começaram a dançar. Hermione parecia muito feliz, o que deixou a Amy mais contente ainda.

—Vamos tomar um ar. -Cedrico sussurrou no ouvido de Amy quando já estavam ofegantes.  

Ele a pegou pela mão e a conduziu para fora do salão, até o espaço aberto da entrada. A noite estava especialmente linda, clara e com estrelas no céu, apesar do vento frio da época.

—Nossa, fazia tempos que eu não dançava assim. -Amy disse, se encostando na parede para se recompor. -Meu cabelo deve estar todo bagunçado já.

—Continua lindo. E você é uma verdadeira pé de valsa, não sabia disso. -Cedrico disse.

—Damon me ensinou. -ela disse.

—Vocês parecem ter uma relação ótima.

—A melhor que irmãos poderiam ter. -Amy disse com orgulho.

—Ele tem sorte de ter você como irmã. Mas eu me considero mais sortudo ainda.

—Porque?

Cedrico deu dois passos e acabou com a distância entre os dois. Ele segurou o rosto de Amy com uma mão e olhou em seus olhos. Ela prendeu a respiração involuntariamente.

—Por que eu posso te beijar. -ele disse devagar.

Amy fechou os olhos e sentiu os lábios delicados dele colarem nos seus. Cedrico segurou seu quadril e Amy abraçou seu pescoço e seus lábios acharam um ritmo. Amy não sabia se ele desconfiava que aquele era seu primeiro beijo, mas, de qualquer forma, menino foi gentil em seus movimentos. Devagar, os dois foram diminuindo o ritmo, até que o beijo se transformou em selinhos e eles se afastaram.

Amy olhou para baixo envergonhada, uma sensação incrivelmente boa dentro dela, antes de olhar ele nos olhos.

—O que foi? -ele perguntou.

—Ah… é que foi… - ela desviou o olhar novamente.

—Seu primeiro beijo?  -ele perguntou.

Ela acenou com a cabeça, e ele não pareceu surpreso, apenas sorriu.

—Você foi extremamente bem, se está se perguntando isso.

—Acho que preciso de alguns treinos extras. -ela disse e sorriu para ele.

Cedrico riu do jeitinho dela e a beijou de novo, dessa vez levemente mais forte.

Ela não soube dizer quanto tempo ficaram ali, “treinando”, até que voltaram a conversar sobre coisas do baile, e finalmente se tocaram que seria bom voltarem para os seus pares. A gravidade parecia não estar agindo direito naquela noite, a garota pensou que, se não tomasse cuidado, seu corpo subiria aos céus de tão feliz que se sentia.  Ela estava entrando no saguão, com Cedrico um pouco atrás dela para não darem na cara que estavam juntos, quando esbarrou com Rony e Harry. Rony parecia realmente chateado com algo, e Harry parecia um pouco infeliz.

—Hey, tudo bom? -Amy perguntou, animada demais.  

Nessa hora, Cedrico passou e não olhou para eles, o que Amy agradeceu mentalmente.

—Tudo. Estamos indo dar uma volta. -Harry disse.

—Ótimo. Vou com vocês. -disse a garota.

—Amy, seu cabelo está meio bagunçado aqui. - disse Rony e apontou para o cabelo dela.

—Ah, deve ter desarrumado enquanto eu dançava. -ela mentiu e tentou arrumar o cabelo.

Eles seguiram pelo caminho que levava ao roseiral. A vibe entre os dois estava realmente péssima e Amy ia perguntar se tinha acontecido alguma coisa quando ouviram uma voz conhecida e desagradável.

—...não vejo com o que tem que se preocupar, Igor. -disse Severo Snape.

—Severo, você não pode fingir que não está acontecendo!  Está cada vez mais nítida nos últimos meses, estou começando a ficar realmente preocupado… -ouviram a voz de Karkaroff, mais ansiosa que o normal.

—Então fuja! Fuja e apresentarei suas desculpas, mas eu continuarei em Hogwarts!

Então os professores avistaram os três e Karkaroff pareceu extremamente desconfortável. Snape apenas demonstrou seu desprezo, como sempre.

—O que os três fazem aqui? -perguntou Snape.

—Estamos passeando. Não é contra a lei, é? -Amy perguntou secamente, olhando para Snape.

—Então continuem passeando! -rosnou e Snape e passou pelos três, a capa voando atrás dele, seguido por Karkaroff.

—Dois idiotas. -Rony murmurou quando os professores se afastaram.

—Do que acham que estavam falando? Do que Karkaroff fugiria? -Amy perguntou.

—E desde quando eles se tratam pelo primeiro nome? -Harry perguntou.

—Venham, vamo voltar ao baile. -Rony disse e os três voltaram.

Eles passaram por Cedrico, que agora estava acompanhado por Cho. Amy talvez pensou que ela estivesse chateado por Amy roubar o seu par por algumas horas, mas quando passou por ela, Cho só lhe lançou um sorriso cúmplice cheio de significados. A banda ainda tocava e Amy chamou Fred para dançar, já que Harry e Rony não pareciam estar no clima. Os dois encontraram com Hermione e Victor novamente, e dessa vez, a amiga parecia menos feliz do que da última vez. Amy se aproximou dos dois e sorriu.

—Sinto muito, Victor, mas é minha vez de dançar com essa bela moça. -Amy disse e estendeu a mão para Hermione.

Hermione pegou a mão da amiga, ela e Victor rindo, quando Fred se aproximou de Krum e lhe estendeu a mão.

—Acho que essa é a nossa deixa, Krum! Vamos mostrar para elas quem dança melhor! -Fred disse e começou a dançar desajeitadamente ao lado de Krum, fazendo os três rirem e Victor ficar meio vermelho.  

—Está tudo bem? -Amy perguntou à amiga, vendo um pontinho de tristeza em seus olhos.

—Não, mas… não vamos conversar sobre isso agora, não quero estragar o baile.

—Tem certeza, Mione? -Insistiu a amiga, preocupada.

—Tenho. Minha noite está muito divertida com Victor. E a sua?

—Bem, talvez eu tenha me divertido um pouco com Cedrico. -Amy disse e corou fortemente.

Hermione precisou de um segundos para processar a informação.

—Amy! -Hermione quase gritou e as duas riram. -Quero saber tudo depois.

—Você vai, mas agora, divirta-se com seu par!

Amy puxou Fred para outra dança, e depois finalmente o baile parecia estar acabando. Ela, Fred, Jorge e as duas garotas que os acompanhavam estavam subindo para o salão da Grifinória quando Amy viu Cedrico e Harry conversando alguns degraus acima. Ela olhou curiosa, se perguntando sobre o que estavam conversando, quando Cedrico continuou seu caminho e Harry esperou que os amigos o alcançassem. Ele parecia um pouco confuso, e Amy só não perguntou o que tinha acontecido porque Fred e Jorge estavam ali. Quando passaram pelo buraco do retrato, viram Rony e Hermione tendo uma briga daquelas.

—Ora, se você não gosta, sabe qual é a solução, não é mesmo? -gritou Hermione para Rony, a cara vermelha de raiva.

—Ah é? Qual? -gritou Rony.

—Da próxima vez, me convite antes que outro garoto faça isso, e não como última opção! -ela gritou e subiu furiosa as escadas.

Rony se virou para os amigos, a boca tremendo, sem saber o que falar. Depois bateu o pé e subiu para o dormitório. Fred e Jorge se olharam apreensivos e seguiram o irmão para o dormitório.

—O que aconteceu? -Amy perguntou chocada para Harry.

—Rony ficou com ciúmes de Hermione ir ao baile com Krum -disse Harry e contou tudo o que o amigo tinha dito.

Amy ficou furiosa com Rony.

—Como ele ousa falar isso! Hermione tem toda a razão de estar chateada e brava! Eu vou socar a cara dele. -Amy disse.  

Amy se sentou no sofá, cruzando os braços. Já era tarde e a maioria dos alunos foram deitar depois do baile, deviam estar cansados da festa, de forma que só Amy e Harry estavam no salão.

—Então.. como foi sua noite? -Harry perguntou se sentando ao lado dela.

—Divertida. Dancei bastante. E a sua?

—Foi ótima. Eu e Rony ficamos sentados e deprimidos a noite toda.

Amy riu da tragédia dos dois.

—O que Cedrico estava te falando aquela hora? -ela perguntou.

—Ele me disse para abrir o ovo enquanto estiver no banho. -Harry respondeu e deu de ombros.

—Ah. Muito legal da parte dele. -Amy disse e Harry concordou. -Você até que dançou bem hoje, Potter. Estou orgulhosa.

Harry olhou para ela e sorriu, entendendo o sarcasmo na voz da amiga. Então se levantou e estendeu a mão para ela.

—Faltou uma dança.

Amy riu e segurou a mão dele.

—Só não estrague os meus sapatos. -ela disse.

Harry foi até o radinho que ficava em cima de umas mesas e a música O’Children estava passando. Ele a puxou para perto e os dois dançaram desajeitadamente.

—Você é péssimo. -Amy disse rindo, olhando para os pés confusos dele.

—Estou tentando! -ele respondeu, tentando coordenar os pés.

—Está estragando uma das minhas músicas preferidas! -Amy riu e Harry revirou os olhos.

Algumas tentativas depois, com Amy guiando o amigo, eles conseguiram sincronizar os pés e se movimentar de uma forma menos constrangedora. O conjunto instrumental crescia na música, de forma que quando chegou ao seu ápice, Harry conseguiu girar a amiga, mas quando ela girou de volta para ele, Harry pisou em seus pés. Os dois riram do fracasso daquela dança.

—Eu retiro o que disse sobre você ter ido bem. -Amy disse, os dois ainda dançando.

—Você que não consegue acompanhar minha genialidade na dança! -Harry disse.

—Ah, com certeza.

A música foi diminuindo e os dois foram parando. Apenas olhavam um para o outro. Era incrível como Amy era conectada aos amigos, mas principalmente à Harry. Sua presença sempre lhe trazia calma e segurança, sem contar a preocupação, porque, afinal, ele era Harry Potter e estava sempre envolto de problemas. Ao longo desse ano, mesmo nas semanas que não estava pensando nas tarefas do torneio, Amy percebia que no fundo, ele estava preocupado com toda a situação. Afinal, alguém depositou seu nome no cálice não para que ele ganhasse mil galeões, mas sim para vê-lo morto. Ela olhou em seus olhos e viu que ele pensava a mesma coisa. Amy soltou a mão dele e o abraçou, respirando fundo o seu cheiro e afundando a mão nos seus cabelos macios e rebeldes.  

—Você não está sozinho, nunca estará. Sempre estarei com você, Harry. Eu prometo. -ela disse, com a voz abafada nas roupas dele.  

—Eu sei. -ele disse e apertou mais o corpo dela contra o dele.