Querem Acabar Comigo! FINALIZADA escrita por Ana Beatriz
Notas iniciais do capítulo
italico lembranças
Encosto no batente da porta do quarto de meu primogênito, Enzo permanece lendo uma de suas muitas HQs do Homem de Ferro.
Dou uma rápida olhada para o corredor atrás de mim e noto Vargas fazendo alguns gestos com as mãos enquanto sussurra um "Vai que é sua." Reviro meus olhos.
Esse Vargas é muito louco.
—Mãe? -torno a olhar para Enzo.-está tudo bem?- sinto a preocupação no tom de sua voz e isto deixa-me ainda mais culpada.
Aproximo-me da cama, sentando ao lado de meu menino, sua atenção está toda em mim, ele me analisa a procura de mudanças.
Acaricio a bochecha direita de meu grande homenzinho, fitando fundos seus olhos tão verdes enquanto observo cada traço do lindo rosto de meu grande herói.
Pensamentos me invadem e trazem um aperto ao meu coração.
—Tomas... -sussurro.
—Vou perguntar mais uma vez: Por que você mudou as malditas regras desse inventário, Violetta? —sua voz está contida, mas seu rosto transformado em fúria me causa arrepios.
—Eeu estava pensando nos nossos filhos.
—Seus! Seus filhos. -Tomas aproxima-se de mim. - Eu já coloquei meu sobrenome naquelas duas pestes justamente para quando você morrer eu ficar com tudo isso. -gesticula ao redor.- mas não...você precisa dar uma de espertinha não é? —solto um grito mudo quando sinto um chute de meu marido acertar em cheio a lateral de minha perna.
Bem onde, anteriormente, cicatrizava mais um dos meus muitos hematomas.
—Tomas... Por-minha voz é interrompida ao sentir mais um chute acompanhado de muitos outros.
Me encolho ainda mais enquanto tento, inutilmente, proteger minha barriga.
—Tire a roupa!-Olho, aterrorizada, para Tomas.
De novo não!
—O quê?
—Você não me ouviu, vadia? Tire a droga das suas roupas.
—Eu... -por uma fração de segundos me descuido e olho rapidamente para meu ventre.
—Por que está protegendo a barriga? —droga, ele notou-Não me diga que... -os olhos de Tomas se arregalam,
Sua boca se abre em um perfeito O, a próxima coisa que sinto é ser arrastada, pelos cabelos, do cantinho em quem estou encolhida para o meio do quarto.
—Vadia- minha face esquerda arde com a intensidade do tapa que recebo.- eu disse pra você se cuidar.
—Me desculpa, eu... Você...
—O quê? Agora a culpa é minha? —facilmente, Tomas ergue meu corpo o jogando contra a parede. —Eu deveria ter acabado com você quando pude, não cometerei o mesmo erro- sua mão aperta minha traqueia, sinto o ar me faltar enquanto me debato suspensa no ar.
Enzo, Eliza... Eu não posso deixar meus filhos com esse monstro.
O que será deles? E esse bebê que carrego, preciso lutar por eles, por mim.
Todas as minhas tentativas de arranhar Tomas são falhas, ele é bem mais forte do que eu.
Estou sentindo a consciência me abandonar.
—Mamãe?-A voz temerosa de Enzo parece assustar Thomas, pois a próxima coisa que sinto é o chão, novamente, sobre meus pés.
Minha visão está embaçada, minha garganta arde, meus pulmões clamam por ar.
—Você machucou a mamãe!
Tento me mover, mas tudo que consigo é me arrastar.
Tomas me olha e logo depois a Enzo, já que este lhe deu um chute na perna.
—Enzo... -murmuro.
Tarde demais, meu filho é arremessado contra a parede lateral de meu quarto. Uma parte de seu pequeno corpinho colide contra minha penteadeira.
Quando percebo a aproximação de Thomas até Enzo, obrigo meu corpo a se levantar e corro até onde meu menino está me pondo em frente a ele bem a tempo de receber o soco de Tomas. Meu rosto dói, me dando a certeza de que algo se quebrou.
Algo maior que meus ossos foi o meu coração.
Thomas caminha, calmamente, até o closet.
Um calafrio percorre meu corpo.
Sei o que isso significa.
Ignorando todas as dores de meu ser, arrasto Enzo para fora do cômodo, correndo com ele até o quarto de Eliza.
Assim que entramos, tranco a porta e com a ajuda de meu filho arrasto a cômoda colocando—a bem em frente a esta.
Sento-me, no chão, encostada ao berço de Liza.
Fecho meus olhos, tentando me lembrar quando foi que minha vida perdeu o controle e se tornou esse inferno.
Sinto algo suave deslizar por meu rosto, assim que abro meus olhos vejo Enzo passar, delicadamente, lenços umedecidos pelo sangue que escorre por minhas bochechas.
A essa altura um de meus olhos já deve estar com um hematoma enorme e o outro começando a inchar.
Sem pronunciar uma única palavra, meu filho se levanta e caminha até o banheiro, minutos depois ele retorna, mas dessa vez, os lenços cobertos de sangue já não estão mais em suas mãozinhas. Enzo me olha por alguns segundos e então, com um pouco de força, consegue pegar a cartela de remédio que deixo bem embaixo do trocador de sua irmã.
Ele me estende a cartela de analgésicos, tomo um e guardo o restante no bolso de minha calça jeans.
Enzo se senta entre minhas pernas, com dificuldade, passo meus braços ao redor de seu corpinho.
O silêncio do quarto é interrompido outra vez pelos soluços de Enzo. Sei que ele não está chorando por ter sido jogado contra a parede, muito menos por estar sentindo dor. Seu choro é por me ver, mais uma vez, nesta situação.
Antes que eu possa pronunciar algo, um chute na porta me faz dar um leve pulo. Liza acorda assustada e como consequência, seu choro invade o cômodo, Enzo se levanta, abaixa a grade do berço da irmã e a pega no colo.
Imediatamente ela para de chorar, meu menino anda até o closet. Ele sabe o que fazer.
Me levanto e o sigo fechando a porta, de material mais resistente, a trancando bem a tempo de ouvir a porta do quarto de Liza vir ao chão. Acendo a luz do ambiente, Enzo está deitado no tapete felpudo que cobre todo o chão do lugar.
A cada xingamento, murro, chute na porta, meu filho fala ainda mais alto com a irmã, somente para distraí-la.
Percorro o local, tirando de um canto uma bolsa que serve exatamente para essa situação. Já a deixo arrumada para isso.
—Está com fome, filho? —ele nega.
Algumas horas mais tarde os murros e chutes cessam.
Liza já embarcou em um sono leve e sem medo, me deito ao lado de Enzo que passa a me encarar. Sua mãozinha esquerda acaricia minha bochecha.
—Quando eu for gandão não vou deixa ninguém te machuca, mamãe.
—Eu sei amor. -engulo o nó que se forma em minha garganta. —Você merece mais do que isso.
E amanhã, Tomas virá me pedir perdão.
Dirá que tudo isso foi efeito das drogas e do álcool.
Ele implorará por misericórdia, irá usar todos os argumentos possíveis. Eu vou perdoá-lo.
Ele passará quatro, com sorte, cinco dias bem, depois tudo isso voltará a acontecer. Como um ciclo vicioso.
Enzo está certo, eu... Nós merecemos mais.
Volto a mim, quando sinto ambas as mãos de Enzo nas laterais de meu rosto, secando as lágrimas que insistem em cair.
—Mamãe...
Não o deixo terminar a frase, puxo para meus braços.
O barulho de nosso choro se mistura, ecoando pelo ambiente. Aperto meu herói ainda mais forte contra mim.
—Me perdoa Enzo... eu deveria ter feito algo.
—você era a vítima mamãe. -sussurra entre soluços.
Balanço a cabeça, discordando.
—Não amor, você era a vítima. A mamãe deveria ter te protegido e não te afastado. -levanto seu rostinho, fazendo-o me olhar. - você é meu maior tesouro, Enzo.-distribuo beijos por seu rosto.- e eu te amo tanto, meu anjo
—Eu também te amo- limpa as próprias lágrimas
—Eu devia ter ido embora aquele dia...ter feito o que você mandou, mas eu não podia mamãe...seu choro retorna,
Sei bem do que ele fala.
—eu não podia te deixar sozinha.
—Eu sei. -dou um singelo sorriso. -está tudo bem, já passou.-volto a abraça-lo, sentindo todo o peso da culpa que carrego em meus ombros diminuir.
Ela jamais irá embora, não depois do que aconteceu, mas pelo menos sinto que tenho de volta meu filho.
A criança mais espetacular desse mundo.
Não faço a mínima ideia de quanto tempo fico ali, só sei que agora me encontro deitada ao lado de meu garoto. Enzo dorme totalmente aconchegado a mim. Sua respiração calma, ele não tem pesadelos com o que houve.
Não mais. Levanto a manga do pijama de Enzo.
Meus dedos traçam uma das cicatrizes de seu corpinho, consequência daquela noite.
Eu deveria ter feito mais por meu filho, mais por todos eles e por mim. E, apesar de tudo, agora meu coração se encontra um pouco mais leve.
Preciso agradecer ao Leon por me contar sua conversa com Enzo, preciso agradecê-lo por incentivar minha reaproximação com meus filhos preciso agradecê-lo por entrar na vida de meus pequenos e na minha. O babá mais maluco e perfeito que eu poderia arranjar.
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