Estávamos perto de completar dois anos de namoro.. E se me perguntassem, hoje, o que senti esse tempo todo, a resposta seria: confusão.

  Sempre fui uma pessoa decidia e centrada, mas muito perdida quando se diz respeito ao próprio coração.

  Nunca pensei que poderia me apaixonar perdidamente por uma pessoa, que não fosse meu próprio namorado.

 E o pior de tudo, é você ter plena, total e absoluta consciência de que o fator mais importante que te fez se perder de amor por outro, foi o dinheiro.

  Ah sim.. Todos dizem que dinheiro não traz felicidade. Mas eu lhes digo o contrário.

  É claro que traz! Felicidade quer dizer bem-estar, e não apenas de espírito.

  Felicidade, pra mim, quer dizer bem-estar financeiro, de preferência. Porque, com dinheiro, compra-se de tudo. E uma casa grande, um carro, jóias, a melhor comida da cidade e todas essas pequenas coisas que te trazem conforto, consequentemente, te deixam feliz.

 Não é?

 Ainda consigo me lembrar detalhadamente daquela noite. Eu sempre disse que as estrelas eram minhas melhores amigas, minhas guias e protetoras, e também nunca liguei para os que diziam que era besteira.

  E de certa forma eu me sentia um tanto quanto esquisito naquela noite.. Podia nitidamente ver as estrelas por detrás daquele pano escuro e grosso que as nuvens formavam sobre nossas cabeças.. E esse era mais um dos motivos pelo qual eu acreditava veemente naqueles pequenos pontinhos brilhantes.

 Eu podia vê-los! Então deveria seguí-los, certo?

  Errado.

 Fui descobrir isso um bom tempo depois.. Tempo suficiente para que meu corpo já não fosse o mesmo.

  Tempo suficiente para que toda a felicidade que os bens materiais me traziam fosse totalmente sugada pelo desespero que se apossava de mim a cada segundo passado. Tempo suficiente para que cada célula presente no meu corpo, viva ou morta, implorasse desesperadamente para que eu desse um basta naquela situação.

  Eu já não podia mais aguentar..

  Cada noite em que ele voltava do trabalho. Eu sofria.

 Tortura era o que eu mais sofria. Sabe, um hobby que adquiri nesse meio tempo foi calcular a frequência com que eu sofria algum tipo de mau trato.

  E cheguei a conclusão de que eram.. Todos os dias?

 Naquela noite, exatamente três meses, quatorze dias, onze horas, quarenta e cinco minutos e alguns segundos depois, eu havia chegado ao meu limite.

  Não por ter sido violentado duas vezes na mesma noite, muito menos por ter dois dedos quebrados por tentativa de fuga, passando longe de ter sido por ter um olho, agora, roxo.

  Mas sim porque faziam dias em que eu sentia uma nostalgia tremenda dos tempos em que eu era bem tratado.

 Sentia falta de saber que alguém me amava.

  Esse alguém? Ele.

 No meio da noite resolvi sumir, dando graças a todos os deuses que eu conhecia por saber que meu atual ''queridinho'' tinha o sono pior do que o de uma pedra.

  Sentia todos os meus músculos doerem apenas por andar até meu antigo apartamento.. E fui obrigado a chorar de felicidade por ter tido a confirmação de que seria bem recebido.

  Eu podia suspirar a noite inteira por receber aquele carinho gostoso, se não tivesse caído num sono profundo e tranquilo, como há muito tempo não tinha..

..E a melhor parte veio depois.

  Acordei pronto para tê-lo novamente, e a mesa de café estava linda.. Eu tinha quase certeza de que aquele coração enorme me receberia de braços abertos, assim como aquele corpo o fez.

  Mas.. Somente no caminho de volta pra casa que eu me percebi um completo fracassado.

  Não sabia que uma rejeição podia machucar tanto alguém..

Aliás.. Agora eu sabia. E como dói..

  Tive que inventar uma desculpa qualquer por não ter dormido em casa, e como de costume, acabei pagando por meu erro.

 Na verdade eu preferiria morrer pelo meu erro.

A propósito.. Aonde estão as estrelas agora?

''Don't want this here

Make it go away

No number of pills

Will fix my life today

Everyone out