No caminho ao castelo, eu comprei um guarda chuva descente pra ela, assim que eu a entreguei o novo, ela perguntou:

—o que eu faço com esse velho? Jogar no chão não seria certo e não estou achando algum outro lugar pra jogar.

Eu olhei pra ela e respondi:

—me de ele aqui.

Ela me entregou o guarda chuva improvisado, eu segurei ele com as duas mãos e só girei, o guarda chuva saiu rodando mais que pião do baú enquanto subia, nisso eu já estava falando:

—pronto, agora não nos precisamos mais nos preocupar em-

Eu escutei alguns berros, olhei pra trás e vi que meu guarda chuva estava perseguindo as pessoas com possíveis intenções assassinas, eu fiz uma careta de quem vê o melhor amigo tendo um fracasso inacreditável na vida que chegava a dar vergonha e disse:

—isso sempre acontece comigo... pelo menos não tem nenhuma escada por aqui.

Eu fui andando até o guarda chuva, saquei a espada e coloquei ela no meio do guarda chuva, ele se despedaçou em vários pedaços, e eu acabei levanto um headshot de um pedaço de galho.

Depois guardei a espada, voltei pro lado da Snow e falei com a marca de uma vareta no meio do rosto:

—nem foi tão difícil.

Nisso eu peguei o celular que ainda estava na minha cabeça e olhei a carga... já estava nos 100%, eu guardei o celular no bolso e segui até o castelo com a Snow.

É cara, aqui no ano 2174 as coisas funcionam diferente.

Eu estava sentindo alguma coisa estanha daquele livro, acho que era a curiosidade de ler o resto dele. Mas sabe como é, até ir, pegar o livro, abrir na pagina e passar os olhos é mó role, vou deixar isso pra quando a preguiça me permitir.

Dark side: é só um inútil.

Eu: Esse cara tá pedindo uma surra.

Dark side: eu sou você seu idiota, vai ser a mesma coisa que socar um espelho.

Eu: Maldição... tanto faz, quem decide o que eu faço sou eu, e se não dá vontade de pegar uma coisa, não é problema seu.

Snow: está falando com quem?

Eu: atualmente, com uma voz que está na minha cabeça me enchendo o saco, mas vou ignora-la por um tempo.

Dark side: me ignorar? Eu te conheço, você não consegue-

Eu: Snow, devemos estar na metade do caminho, mas já está escurecendo. Melhor acharmos um hotel ou coisa assim pra dormir.

Snow: concordo. Minhas costas ainda estão doendo por causa do chão.

Eu: você podia ter se encostado em mim pra ficar mais confortável.

Snow: na verdade não, existe o calor corporal, é possível que eu fosse derreter se ficasse muito em contato com você.

Eu: então por que me deixou dormir no seu colo antes?

Snow: você caiu apagado no chão, eu não sabia o que fazer!

Dark side: VOCÊ ESTÁ ME IGNORANDO SEU BOSTA?!

Eu: mas voltando ao assunto principal, vamos logo achar um hotel. Eu dou essa maça pro ministro depois.

Estava escurecendo mesmo (voz de fundo do Dark side: PARE DE ME IGNORAR SEU FILHA DA PU-), eu fui procurar um hotel, e quando achei um bom, eu e a Snow entramos, reservamos um quarto por umas 6 semanas com uma moeda de 2 centavos, subimos até o quarto e quando eu abri a porta, era uma puta suíte.

Eu passei o dedão rápido na boca e disse em um ar superior:

—isso sim vai dar uma SUITEconfortabilidade pra passar a noite

Dark side: EU VOU TE MATAR POR FALAR ALGO DESSE CALIBRE SEU VERME MISERÁVEL!

Nem ele nem a Snow acharam graça, mas essa foi tão ruim que nem eu consegui rir, eu apenas respirei fundo, fechei a porta e fui dormir sem dizer uma só palavra.

Já a Snow abriu a janela e tirou os cobertores da cama dela, apagou as luzes e foi dormir.

Eu devo ter acordado lá pela madrugada quando eu senti algo gelado passando pelo meu corpo, mas eu já estava muito puto só pelo fato de ter acordado no meio da madrugada, eu joguei o cobertor pro lado e levantei a camisa, então vi uma cobra toda preta com os olhos totalmente brancos e com os dentes da mesma cor que a pele, eu olhei assim pra ela, abaixei a camisa, me cobri com o cobertor de novo e encostei a cabeça no travesseiro enquanto falava:

—ah foda-se

A cobra subiu até o meu pescoço, saiu de dentro da minha camisa e me deu uma cabeçada dizendo com uma voz familiar:

—como assim “foda-se” pra uma cobra? Por acaso você é retardado?

Eu olhei pra cobra puto da vida por ter sido acordado pela 2° vez e retruquei:

—simplesmente não te interessa, agora cale a boca antes que eu te pendure na janela pra secar depois que for cortado ao meio.

Eu virei pro outro lado de novo e voltei a dormir.

Visão: Cobra

Esse retardado está precisando perder um pedaço de carne pra parar de ser trouxa, mas eu tenho uma ideia melhor.*claramente irritado*

Eu deslizei pelos cobertores até a cintura desse imbecil, enrolei meu corpo em um formato de mola e me impulsionei pra cima, bati no teto e repeti o processo lá, voltando com muito embalo pra acertar “aquela área”, se é que vocês, mortais, me entendem.

O que eu não esperava era ser pego no ar pelo Saito, ele botou a mão na frente e me segurou pelo pescoço, depois falou olhando pra mim:

—essa foi a 3° vez.

Visão: Saito

Eu: queima no inferno cobra desgraçada!

Era o que eu estava falando enquanto arremessava a cobra pela janela, mas ela, com aqueles 5 metros de cobra, se segurou na parede e a usou de impulso pra voltar a minha direção respondendo:

—e você acha que eu simplesmente vou atravessar uma janela com essa coisinha que você chama de força braçal como fonte de impulso!?

Ela se enrolou na minha cara e caímos no chão enquanto trocávamos palavrões, esquecendo completamente da Snow.

Quando eu e aquela cobra nos esgotamos, ficamos os dois estirados no chão, suados e com a respiração forte. A Snow, que obviamente foi acordada pelos nossos palavrões igual o resto do prédio, chegou perto e perguntou com um tom de voz que demonstrava que ela estava furiosa:

—Saito, qual o motivo de trocar palavrões com essa minhoca superdesenvolvida no meio da noite?

Eu segurei a risada enquanto aquela cobra levantava falando:

—quem você está chamando de minhoca superdesenvolvida seu picolé ambulante?

A cobra foi dar um bote na Snow, mas ela só socou umas 5 bolas de neve na boca da cobra de uma vez, depois olhou pra nós dois e disse com um olhar pegando fogo e com a mão fechada em forma de punho, com as veias aparecendo:

—eu fiz uma pergunta, então tratem de responder antes que não consigam mais.

No dia seguinte...

Se vocês acharam que eu tomei uma surra, acharam errado.

FOI UM ESCULACHO.

Eu e o Dark, que era aquela cobra e a manifestação do meu lado negro, levamos uma surra linda da Snow, e agora, estamos sussurrando sobre o combinado de nunca mais acordar ela no meio da noite...

Mas eu estava com um problema mais serio ainda, enquanto continuávamos andando até o castelo, o Dark perguntou sussurrando:

—seus batimentos cardíacos estão lentos e sua pressão baixando, a surra que a garota de deu foi tão pesada assim pro seu corpinho frágil?

Eu retruquei:

—não quero escutar isso de uma cobra que engoliu neve o bastante pra fazer um bloco.

Ele ficou irritado e perguntou:

—você quer arrumar uma briga aqui e agora?

Eu respondi com uma pergunta:

—você é idiota?

Ele não entendeu na hora, ele estava esperando um “sim” ou um “cai dentro seu lixo”, mas como foi pego desprevenido, falou:

—que?

Eu completei:

—e apanhar pra ela de novo aqui no meio da rua? Vamos deixar isso pra depois.

O Dark olhou pra Snow, olhou pros lados e disse:

—tem razão. É preciso saber a hora de atacar e a hora de aguardar. Mas se não foi a surra, por que você está com os sinais vitais tão ruins assim?

Eu respondi:

—tedio

Dark: tedio?

Eu: tedio.

Dark: bom, foda-se.

Eu: você mesmo perguntou o motivo, não adianta dizer foda-se.

Dark: por mais que eu tenha perguntado, não é nada que vá me prejudicar de alguma maneira.

Eu: então foda-se.

Dark: você mesmo falou, não adianta dizer foda-se.

Eu: não cara, você perguntou e eu respondi, mas dessa vez, não tem nenhum ponto de interrogação na minha fala, então a situação do foda-se cabe certinho aqui.

Dark: foda-se

Esse filho da mãe é mesmo o meu outro lado.