Todos os sonhos do mundo escrita por Marcia Litman


Capítulo 6
Capítulo VI




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Marina fechou a porta atrás de si, encostando-se a ela e fechando os olhos. Quem a observasse daquela forma acharia que ela estava fugindo de alguma autoridade ou até uma ameaça saída de um filme de terror. Mas não se tratava de nada disso, ela apenas buscava refúgio em seu apartamento, o lugar seguro que a abraçava naquele momento, mantendo todas as outras coisas e pessoas lá fora.

Ela odiava aquela sensação de insegurança. Detestava ter que se esconder, mesmo que nada estivesse atrás dela. Ela sabia que eram apenas os fantasmas de sua mente, que a faziam relembrar as sensações que preferia manter esquecidas, num canto escuro, onde não pudessem ganhar a luz do dia. Mas reencontrar Pedro tinha libertado tudo o que tinha levado tanto tempo para aprisionar.

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Marina fechou os olhos ao ouvir o som da porta sendo destrancada. O coração disparou e ela apertou o braço do sofá com uma das mãos. Cláudia estava ao seu lado e segurou a outra mão. Então Marina tentou se tranquilizar, respirando com calma. Tinha que ir até o fim, não importando o que aconteceria quando dissesse o que tinha ensaiado. Ela se levantou quando Pedro atravessou a entrada, olhando diretamente para ele.

— Ei, você já está em casa?

Ela viu quando o sorriso dele se desmanchou ao ver que Cláudia estava ao seu lado. Então os olhos dele desceram para a mala feita perto da porta.

— O que ela está fazendo aqui? — Pedro quis saber. — E essa mala?

— Cheguei mais cedo pra poder arrumar suas coisas. Não esqueci nada.

Pedro se aproximou dois passos e fez com que Marina recuasse. Cláudia se levantou, segurando sua mão.

— O que ‘tá acontecendo?

Marina suspirou, apertando os lábios,

— Não me fala que você ‘tá feliz nesse relacionamento, Pedro. Eu não estou.

O rapaz passou a mão pelos cabelos.

— Você ainda não me respondeu o que está acontecendo, Marina.

Marina não conseguia acreditar no que estava ouvindo e apertou a mão de Cláudia, como se aquele gesto pudesse protegê-la e dar as forças necessárias.

— O que aconteceu é que finalmente tive coragem de falar que estou infeliz há meses. Não consigo mais acordar ao seu lado e sentir satisfação, na verdade… — ela respirou fundo. — Na verdade me sinto sufocada ao seu lado, como se eu estivesse presa. Não consigo mais ouvir suas acusações, suas crises de ciúmes, mas, principalmente, o que me tornei depois que começamos esse relacionamento.

Pedro soltou uma risada e Marina reconheceu o tom de deboche com o qual estava familiarizada.

— ‘Tá vendo? Por isso eu disse que ela não era boa amizade pra você. Bastou algumas horas para que ela fizesse a sua cabeça contra mim.

A mão de Cláudia tencionou e Marina apertou mais forte, impedindo que a amiga se precipitasse na direção de Pedro.

— Pois saiba que ela me ligou pedindo ajuda. Já tinha resolvido tudo. Só queria que eu estivesse aqui na hora que você chegasse. Pra… pra garantir que tudo desse certo.

— Você acha mesmo que eu ia agredir minha namorada, Cláudia? — Pedro bufou, colocando as mãos na cintura.

— Não duvido de mais nada que venha de você.

Marina se virou para a amiga, apenas erguendo a sobrancelha, esperando que Cláudia entendesse que ela retomaria as coisas dali. Então virou para Pedro novamente.

— Ela tem razão, eu já tinha tudo resolvido. É melhor que a gente termine por aqui. Suas coisas estão todas nessa mala, você pode ir pro seu apartamento sem preocupação de voltar.

Houve mais um recuo da parte de Marina quando Pedro tentou dizer algo. Então ela apenas observou quando o rapaz pegou a mala do chão e disse um “ok, estou indo”, antes de sair pela porta. Depois disso, ela apenas olhou para Cláudia, que a abraçou por um longo tempo, oferecendo todo o apoio necessário.

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Marina respirou fundo, tirou o celular do bolso de trás da calça e andou até o meio da sala e sentando-se na ponta do sofá. Olhou para a tela do aparelho, procurando um número em meio aos seus contatos. Quando achou, selecionou a opção de discar e colocou o celular perto do ouvido, contando os toques até que a pessoa do outro lado atendesse a ligação.

— Marina? Tudo bem com você?

Essa era a pergunta do momento e Cláudia era uma das únicas pessoas para quem ela tinha coragem de dizer a resposta correta. Marina respirou fundo, antes de prosseguir:

— Você pode passar a noite aqui? Preciso da minha amiga.

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Marina caminhou a passos lentos para a cozinha, os olhos semicerrados e vontade quase nula de começar aquele dia. Mas ela tinha algumas coisas a fazer e arrumar coragem para tomar café da manhã parecia um bom começo. Cláudia estava à pia e se virou quando viu sua aproximação.

— Bom dia.

Cláudia sorriu e Marina tentou retribuir, embora ainda não estivesse no ápice da disposição.

— Obrigada. E pede desculpas pro seu marido depois, por te chamar tão do nada.

Cláudia deu de ombros, virando de volta para sua tarefa na pia.

— Ele ‘tá viajando a trabalho, não se preocupe. Foi até bom pra não passar a noite sozinha.

Marina apertou os lábios, indo se sentar à mesa da cozinha. Cláudia terminou de servir a mesa um tempo depois, sentando perto da amiga.

— Afinal, o que o Pedro queria com você? — Cláudia colocava frios em seu pão recém fatiado. — Vocês não tinham perdido o contato?

Suspirando, Marina fechou os olhos. Tinha medo da bronca que levaria pelo que diria a seguir.

— Eu liguei e pedi ajuda pra ele.

Houve um longo silêncio e Marina abriu apenas o olho esquerdo, encarando a face congelada da amiga.

— Você…?

— Era pra Luciana, ok? — Marina abriu o outro olho, tratando de se defender. — Plagiaram uma história dela.

Cláudia largou o sanduíche intocado sobre a mesa.

— Pelo menos ele ajudou?

Marina apenas assentiu, vendo Cláudia pegar o sanduíche e dar uma mordida nele.

— Se ele não tivesse feito você largar a faculdade de Direito, não teríamos esse problema agora.

— Ele não me fez largar a faculdade de Direito.

— Não? E o que foram todos aqueles momentos em que ele ficava bravo por suas notas que eram maiores que as dele? Ou que menosprezava a especialização em Direito Trabalhista que você queria fazer? E os ataques de ciúmes quando você ia fazer trabalho em grupos em que ele não estava? Claro que eu não vou começar a falar de como ele detestava todos os seus amigos e amigas, com medo de que você o traísse e te humilhando por ser bi…

— Ok! — Marina aumentou o tom de voz para que a amiga parasse de falar. — Você tem razão.

Cláudia segurou a mão da amiga sobre a mesa.

— Desculpa, eu não queria piorar o que você ‘tá sentindo — Cláudia suspirou antes de continuar. — Eu… só fico com tanta raiva do que ele fez com você. E ultimamente ‘tava vendo você tão feliz com essa amizade com a Luciana que achei…

Marina levantou uma sobrancelha para ela.

— O quê?

— Nada, só ‘tava bem feliz por ver você sorrir.

Marina suspirou.

— Talvez eu deva seguir a sua sugestão de procurar ajuda profissional. Ainda tem o telefone daquele psicólogo?

— Jonas? Sim, tenho — Cláudia disse, pegando o celular no bolso da calça. — Só preciso achar aqui.

— Ótimo. Vou pegar meu celular no quarto pra anotar.

Marina levantou e foi para o quarto, procurando pelo aparelho móvel na bolsa, que estava jogada em uma cadeira no canto. Ao encontrar o celular, viu que ele tinha uma mensagem: era de Luciana.

“Espero que tenha acordado bem hoje. Mande uma mensagem se precisar sorrir.”

Nem era preciso responder, já que aquelas duas frases tinham colocado um sorriso no rosto de Marina. Mesmo assim, quis mandar uma resposta:

“Aceito a proposta de me fazer sorrir.”

Um tempo depois veio a nova mensagem:

“Te espero na cafeteria de sempre então.”

Marina ainda sorria quando Cláudia entrou no quarto.

— Achei o telefone. Quer anotar?

Ela virou para Cláudia, o sorriso ainda nos lábios.

— Pode passar.

Cláudia se contagiou com o sorriso da amiga.

— É a Luciana quem te mandou mensagem?

— Como você sabe?

Cláudia deu de ombros.

— Palpite.


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