"Eu estava prestes a entrar naquela igreja. Faltava alguns passos até o topo da entrada. Eu nem sabia que estava me acompanhando daquele exato momento, e nem parecia fazer questão de saber. Meus olhos estavam atentos aqueles arranjos brancos e detalhes amarelos que realçavam na decoração. Sentia meu corpo rastejar pesadamente.

De longe, eu podia ver a quantidade enorme de pessoas que compareciam aquele grande dia. Eu não tinha certeza se estava me esforçando o suficiente para sorrir.

— É só mais um dia... - Alguém dizia ao meu lado, e finalmente eu pude olhar naquela direção. Oliver estava sorrindo. E era tão lindo quando o fazia, que me senti estranhamente tranquila. Ele estava me acompanhando no corredor enfeitado, e seus olhos ainda presos ao meu, continuou. - Não se preocupe!

A marcha inciou, anunciando  chegada da noiva. Olhei para mim mesma, percebendo que esta noiva era eu. Oliver e Ray estavam cada um do meu lado e sorriam, pedindo atenção. Um grito, de repente, cessou todo o fundo musical. Era Cooper que corria em minha direção dizendo: "Não faça isso, Felicity!"

"Não faça isso, Felicity..."

De repente eu acordei, percebendo que eu mesma gritava a frase, de forma assustada. Olhei para meu celular, repousado em cima do criado mudo, e ele tocava incansavelmente uma marcha nupcial.

— Porcaria, Oliver! - Xinguei mentalmente o meu amigo por isso. Ele tinha colocado uma marcha nupcial como toque no meu despertador.

No momento em que me levantei, de mal humor, pra variar. Resolvi fazer a higiene matinal logo antes de descer e encontrar Oliver. Lembrei que iriamos no TripCoffe antes de ir na casa da minha mãe.

— Só pra constar, eu ouvi o xingamento daqui. - Ele estava jogado no sofá, confortavelmente. Tinha aquele maldito sorriso presunçoso no rosto.

Lembrei do sonho. Bufei.

— Que bom, porque não vou precisar repetir na sua cara. - Caminhei até a cozinha. Nem havia percebido que estava com sede. Ele ria ao me acompanhar.

— Está pronta pra ir? Porque estou morrendo de fome. - Disse, se apoiando no balcão, logo a minha frente.

Deixei o copo na pia. Peguei as chaves do carro e balancei na sua frente.

— Dessa vez, vamos de carro! - Avisei, não deixando nem mesmo ele responder, e me dirigindo até a porta. Sua risada me acompanhava escada a baixo.

     ***

— (...) Não, não! Eu lembro muito bem da sua fase gótica emo. - Oliver provocava. - Ainda tenho trauma daquela brincadeira sem graça no cemitério da cidade.  

— Você ficou uma semana sem olhar pra minha cara. - Lembrei. Riamos. 

Estávamos aproveitando tão bem aquela manhã juntos, que por algumas horas pude esquecer todo o compromisso em que estávamos metidos. Em algum momento naquela conversa, eu quis compartilhar o sonho, mas decidi que seria uma enorme bobagem o fazer.

— Eu gostava do seu cabelo preto. - Oliver soltou de repente. Ele não me encarou quando disse e isso, e levou alguns segundos para eu processar. Quando finalmente olhou pra mim. Sorri.

— Eu sinto saudades dele também. - Expressei. - Mas acho que loiras chamam bem mais atenção. - Brinquei. Ele soltou um riso anasalado.

— Como se você fosse o tipo que gostasse de chamar atenção. - Observou.

— Pois fique o senhor sabendo, que eu estou gostando dessa fase de solteira e de chamar atenção. - Ergui a sobrancelha, provocando. Oliver deu um sorriso de lado, mas não parecia querer entrar na conversa.

— Me desculpe de verdade, Felicity. - Pediu.

— Pelo que?

— Por te fazer passar por tudo isso. - Explicou. Suspirei, tocando em sua mão, já próxima mim.

— Tudo bem, Oliver. - Tentei expressar tranquilidade. É claro que eu não gostava de está presa a um compromisso que eu não queria, mas se estava na chuva, era para se molhar. - Vamos contornar tudo isso sem maiores problemas. - Motivei. Ele sorriu.

— Você é maravilhosa, Smoak. - Soltou. Pela primeira vez, eu ouvi Oliver me elogiar daquela forma. Não que ele já não tenha elogiado antes, mas nunca daquela forma tão doce e intensa.

Estávamos um do lado do outro na caffeteria. Naquele silêncio constrangedor, podíamos apenas ouvir o barulho que vinha de dentro e fora daquele ambiente. Ele parecia está tão próximo de mim, que mil e um pensamentos brotaram em minha mente. Um deles e o mais desejável, era que ele estava prestes a me beijar.

Um pouquinho mais...

— Ei! - Alguém nos interrompeu.

Droga!

— Aquele Nissan vermelho é de vocês? - Um homem perguntou. Estava com uma farda branca com o simbolo de alguma empresa do ramo de sorvete.

— O que aconteceu? - Perguntei, me afastando um pouco de Oliver.

— É que precisamos descarregar um caminhão e o carro ta atrapalhando um pouco a passagem, moça. - Ele dizia.

Mesmo a contra gosta. Eu e Oliver nos levantamos, sem dizer mais nada. Pagamos o café e decidimos ir embora. O caminho todo estávamos em silêncio, e temia que ele estivesse arrependido do que ira fazer.

Mas o que eu estava pensando? Oliver e eu? Isso nunca daria certo. Aquele momento não deveria ter acontecido. Foi algo impensável e irresponsável. Afinal, ele gosta de Laurel. Era certo que ele estava pensando o mesmo que eu e logo voltaríamos a lidar normalmente com a situação.

— Será que Laurel está lá? - Oliver perguntou, me deixando surpresa.

Ela sabia realmente superar uma situação. E eu não sabia porque isso havia me deixado decepcionada.

***

Pov. Oliver

Eu quase beijei a Felicity. Foi por muito pouco. Pra ser honesto, eu estava determinado a isso. Mas lembrei que talvez não esteja fazendo coisa certa. Felicity merecia bem mais que isso, e eu não poderia dar a ela. Quer dizer... Eu gostava demais daquela loira. Até mais do que eu deveria, mas o bom senso me impedia de transbordar tal sentimento.

Ela talvez nem me veja dessa forma. Eu só precisava fingir que nada daquilo havia acontecido, e fazê-la perceber que eu não levaria nada disso a sério. Eu não podia magoá-la.

— (...) Felicity, meu amor! - Donna abraçou a filha, animadamente. - Oliver! - E me abraçou em seguida. - Chegarem em uma boa hora. Estávamos falando sobre a data do casamento de vocês, que inda não marcram, não é, seus pombinhos. 

— Mãe! - Felicity se esquivou do aperto de bochecha de Donna. Eu realmente me esforçava para não rir daquilo. - Nós vamos resolver isso depois. Primeiro, vamos casar a senhora! - Disse. 

— Oh, céus, nem acredito que já é amanhã! - Donna finalmente parecia cair na realidade. 

Meus pais já estavam presentes e nos cumprimentaram. Em meio a tanto barulho e festejo, meu pai me chamou lá fora da casa.

— O senhor está se sentindo bem? - perguntei, preocupado.

— Oh.. sim sim! - Disse, lançando-me um sorriso treloso de sempre. - Eu preciso entregar algo a você e não quero que Felicity veja agora.

Ergui a sobrancelha, incerto. Meu pai vasculhava em seu casco algo, e quando o achou, estendeu a mão, abrindo a pequena caixinha.

— Percebi que Felicity ainda não tem um anel de noivado. - Disse, e me senti um estúpido por isso. De fato, Felicity não tinha um e eu nem ao menos me preocupei com isso. - Esse era da sua avó. Guardei todos esses anos para repassar para você. Quando encontrasse a mulher da sua vida. - Afirmou. Olhei para meu pai, agradecendo, e sentindo que estava fazendo a coisa mais errada deste mundo.

— Eu estava procurando algo perfeito para ela, mas este é bem mais do que eu esperava. - Eu sabia que estava mentindo em parte, mas quando olhei para o anel, uma imagem de Felicity o usando era muito fácil de ser processada. Esse anel ficaria perfeito em suas mãos.

Ainda sim, eu não podia deixar de lembrar que seria por pouco tempo, e isso, de alguma forma, me incomodava.

— Faça-a feliz, meu filho! - Meu pai disse, e em seus olhos, estava claro todo o sentimento de carinho que tinha por nós e toda a carga de sabedoria. Eu odiava ter que mentir, mas estava fazendo isso por uma boa causa.

"Por uma boa causa..."