— Chara, acorde. — Uma voz suave me chamou. Aquele era o... 

— Asriel, deixe-o dormir, ele deve estar cansado. — Sussurrou uma voz feminina. Mamãe...? 

Abro meus olhos devagar, o quarto tinha pouca iluminação, provavelmente porque Toriel queria que eu dormisse melhor.  

— Você finalmente acordou! — Asriel exclamou, com um enorme sorriso no rosto. — Pensei que não fosse mais acor... 

— Asry... — Murmurei arregalando os olhos. — É... você?  

— Claro que sou eu! Quem mais eu seria?  

— Meu filho, não seja ignorante! — Toriel exclamou, dando um cascudo na cabeça de Asriel. — Ele está confuso, em um mundo que não é dele, seja gentil.  

Toriel saiu do quarto, senti um cheiro agradável, nostálgico... para ser específico, era o cheiro daquela deliciosa torta que só ela sabe preparar.  

— Então... você é um humano, né? O que os humanos fazem? — Asriel perguntou, curioso. 

— Além de estragar sua vida? Destroem tudo o que veem pela frente. 

— Isso... É ruim. 

— Mas eu não sou assim, certo? Vamos ser amigos pra sempre, né? 

— Claro que sim! — Ele exclama, me puxando para fora da cama. — Vou te levar pra conhecer tudo assim que você comer a torta da minha mãe, é muito boa! 

Saímos do quarto e passamos pelo corredor, havia um grande espelho lá e parei por alguns segundos na frente dele. Eu voltei a ser... Criança? Usava uma blusa preta de manga curta com gola e alguns botões, uma preta e botas marrons. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo, isso poderia ser um sonho mas... É tão real. 

Assim que chegamos na cozinha, vimos Toriel acabando de tirar uma torta do forno e colocando em cima da mesa. O cheiro estava realmente bom, então, ela nos encarou e sorriu.  

— A torta está quente ainda. — Disse ela. — Asriel, meu amor, por que não leva Chara para conhecer a casa?  

— Claro, mãe! — Ele exclamou enquanto me puxava para uma sala e abria a porta. — Esse aqui é o lugar que... 

— ...passa mais tempo? — Respondi, completando sua frase.  

Morei nesta casa por um bom e longo tempo, por mais que seja apenas um sonho, está tudo no lugar.  

— Sim! Como adivinhou?  

— Tenho meus  truques. — Disse enquanto sorria. 

Entramos na sala e havia diversos brinquedos, caixas e até alguns desenhos na parede. Exatamente do jeito que eu lembrava.  

— Tenho uma coisa aqui que você vai gostar! — Ele exclamou enquanto revirava uma caixa e retirava uma câmera de vídeo. — Aposto que os humanos não têm uma dessas. 

— Pode apostar que não.  

— Vou fazer um vídeo seu, assim quando crescer, vai ter boas memórias. — Disse enquanto ligava a câmera. — Faça uma careta bem assustadora. 

— Asry, você não tirou a tampa da lente. — Falei reprimindo uma risada. 

— Ah, claro, como pude esquecer? — Retirou a tampa e sorriu. — Agora, faça algo bem assustador! 

Aquela cena já havia acontecido anos atrás, não sabia o que aquele demônio estava tentando fazer, mas resolvi apenas aproveitar o tempo com meu irmão de uma forma melhor.  

Coloquei uma mão na cintura e outra no queixo, sorri e pisquei o olho para Asriel.  

— Que tal? — Perguntei, jogando um beijinho logo em seguida. 

— Isso não é nada assustador! — Exclamou, enquanto desligava a câmera.  

— Isso é um terror para as garotas.  

— Você conhece garotas? Que legal. As garotas não falam comigo quando falo com elas.  

— Quando você crescer, vou te dar umas dicas. — Disse enquanto piscava o olho.  

— Sério? — Perguntou com um sorriso no rosto. — Mal posso esperar para crescer então.  

Logo, o sorriso que eu tinha sumiu, era triste saber que, além daquele vasto momento ser um sonho, Asriel não teria a chance de "aprender a falar com garotas". Algumas lágrimas escorreram por meu rosto, então, ele me olhou preocupado.  

— Saudade de casa? — Perguntou, aproximando-se de mim e colocando sua mão em meu ombro. — Não chore, você pode ficar com a gente, vamos ser uma família perfeita.  

Não disse nada, apenas o abracei com todas as minhas forças e chorei ainda mais. Eu não queria acordar! Não queria perder Asriel! Não queria... 

— Minhas crianças? Está tudo bem? — Toriel perguntou, entrando na sala segurando um suéter verde. — Oh, Chara, não chore, meu anjo.  

Ela apenas me abraçou, enxugando minhas lágrimas e me encarando.  

— Tome, enquanto você dormia, fiz este suéter. — Disse, me entregando a roupa. — Espero que goste.  

— Obrigado... — Vesti por cima da blusa e me olhei no espelho. Realmente, do jeitinho que lembrava, um suéter verde com uma única listra amarela no meio.  

— Mamãe costura muito bem, não é? — Asriel perguntou abraçando sua mãe.  

— Só fala isso porque quer ganhar torta. — Toriel disse, então, saiu da sala e ficou parada no corredor. — Vamos comer, crianças?