Pov. Mikuo

Vi Meiko Sakine acenar sorrindo enquanto entrava na quadra vôlei. Acenei de volta, por educação.

O que elas veem em mim?

Desde o ano passado algumas garotas começaram (do nada) a se apaixonar por mim.  Não entendo o porquê disso. Não me considero bonito.  Sou apenas um garoto de quase dezesseis qualquer. Não sou alto, muito menos forte, na verdade, sou até muito magro se comparar com os outros meninos da minha idade.

— Ei — Ouvi certo rosado falar — Por que não a chama para sair? Meiko é bem gata... E ela parece ser bem legal.

Imagine uma facada no peito, isso que senti. Pense no garoto que você é apaixonado desde seus onze anos de idade te incentivando a sair com alguém.  Miku diz que isso se chama friendzone.

— Sei lá... Ela não faz muito meu tipo... — Falo olhando para baixo e diminuindo a velocidade de minha corrida, ofegante. Nunca gostei de educação física.

— E quem faz então? Deixa eu ver... — Luki para pra pensar um segundo, acompanhando meu ritmo de caminhada — Yukari?

Faço que não com a cabeça.

— Ia?  — Repito meu gesto.

— Mayu? Rin? Neru?

— Não...  — Digo para as três.

— Teto? Miki? Gumi?  — Ele vai mesmo continuar com isso?

— Tá longe...

— Aoki?  Luka? Se magoar minha prima...

Eu rio.

— Fique tranquilo.

— Hum...  — Ele para pra pensar — Já falei todas as garotas da classe? Ah é! Lily?

— Ela acabou de chegar! Como que eu já ia gostar dela? — Franzi minha testa.

— Vai saber... Mas me conta, não importa quem for, sou seu melhor amigo, não vou te zoar...

É você, baka.

Como queria ter coragem para dizer isso...

— Uma atriz coreana. — Minto.

— Hum... — Luki olha desconfiado.

— PAREM DE MOLEZA E VOLTEM A CORRER! — Ouvimos professora Haku gritar. Não somos loucos de desobedecer a professora mais brava da escola, a única que consegue botar ordem em todas as salas.

~~*~~

  Eu e Luki esperávamos minha irmã em frente ao portão, para nós três irmos para casa. Sim, além de ser meu melhor amigo, ele também é meu vizinho. Vi Miku se despedir de suas amigas e vir em nossa direção.

— Vamos? — Apenas disse em tom esnobe.

  Miku e eu não somos gêmeos. Em pouquíssimo tempo depois de ela nascer, nossa mãe engravidou de mim. Uma gravidez de risco, por sorte, minha família tinha dinheiro para contratar os melhores médicos de Tóquio e garantir nossa saúde.

 No momento em que ela entrou no carro do motorista parecia ter virado outra pessoa:

— Ototo-chan! Luki-kun! Como foi a aula de vocês?  — Ela diz sorridente.

— Cansativa — Disse Luki — Haku-sensei queria matar a gente!

— Tenho medo do que ela vai fazer com as meninas na semana que vem... — Miku disse fazendo uma careta.

  Luki riu. Kami-sama. Como ele é lindo.

Nós três fomos conversando até chegarmos em casa. Uma grande mansão de três andares em um dos bairros mais chiques da cidade. Eu acho um exagero. Somos apenas quatro pessoas, para que uma casa tão grande? Ao lado, ficava um imóvel, um pouco menor, mais tão bonito quanto. A casa de Luki.

— Tchau! Até mais! — O mesmo disse indo para sua casa.

— Ei, Luki, por que não almoça com a gente? — Digo.

Senti o olhar malicioso de Miku sobre nós.

— Claro! — Ele sorri.

— Tadaima! — Digo ao abrir a porta.

— Okaerinasai, crianças! — Ouvi a fina voz de minha mãe exclamar. — Como foram na escola?

— Bem!  — A Onee-chan responde.

— Crianças, vocês se importam de almoçar sem mim hoje? Vou ter que sair um pouco...

— Não, — Digo — Fique tranquila, Okaa-san.

Ela vem em nossa direção e dá um beijo em nossas testas e logo saiu. Mães, sempre iguais.

~~*~~

Após o almoço eu e Luki fomos até meu quarto e ligamos um filme qualquer na netflix para assistir. O filme era uma bosta. Não demorou muito até que Luki tivesse dormido. Espera.

E-ele estava em m-meu colo? C-com a c-cabeça bem próxima a “aquele lugar” específico?

Corei com o pensamento.

Se bem que ele poderia ficar com a boca mais perto de lá... Não é?

Pare com esses pensamentos, seu trouxa pervertido!

Ele dormia tão docemente que não dava vontade nenhuma de acorda-lo para avisar que minhas pernas tinham virado seu travesseiro. Nenhuma. Ele era tão tentador que logo me vi aproximando meus lábios de seus.

Estava cada vez mais próximo, à centímetros de distância. Foi quando ele se mexeu, me afastei bruscamente.

Luki não tinha acordado. Ufa!

Ouvi meu celular tocar:

—  Moshi Moshi? - pergunto.

— Mikuo-kun! É a Meiko! Tudo bem?

—  Tudo... E você?

Luki acordou, ao perceber que eu falava com alguém e deu um sorriso malicioso ao perceber que esse "alguém" era uma garota.

—  Tudo bem! - respondeu ela. - Então... Mikuo-kun, você está livre no sábado? É que eu e uma amiga minha, iríamos sair e queríamos te convidar... Se você quiser levar aquele seu amigo, o Luki-kun, vai ser mais legal - Entendi, ela queria sair comigo e não queria que a tal amiga ficasse de vela.

—  Olha Meiko-san... Esse Sábado? Eu não sei se vai dar... - inventava uma desculpa. Meu melhor amigo murmurou...

— Aceita, cara, por mim - Ele forçou uma cara fofa.

Como iria dizer não para essa carinha?

Ri um pouco e disse para Meiko-san.

—Pensando bem, não era nada importante... Nós vamos sair com vocês!

O encontro duplo estava marcado. Bom... Contra minha vontade, mas estava.

~~*~~

Ficamos um tempo conversando até que ele foi para sua casa. Eu via um programa qualquer na sala de televisão e logo Miku apareceu do meu lado. Ela parecia estressada e aliviada ao mesmo tempo. Estranho.

— Finalmente Neru e Teto me deixaram em paz! Aquelas duas não me deixaram quieta o dia todo!

— Ser a abelha rainha é difícil, não é? — Eu rio. — Mas falando sério, se não gosta delas por que continua andando com elas?

Ela fica em silêncio por um tempo e suspira.

— Sinto que se elas não gostarem de mim, eu vou voltar a ser aquela excluída de antes. ..

Isso era verdade. Até alguns anos atrás, na nossa escola, ela era sempre chamada de coisas como "nerd" "esquisita", ou até nomes piores, tudo por que, na época ela era a melhor da turma, usar óculos e aparelho incrivelmente gigante.

Ela não tinha amigos além de mim, mas eu não andava muito com a onee-chan naquela época, nem agora, na verdade. Papai, cansado de todos os dias ver Miku chorar na volta de casa, resolveu nos mudar de escola, em um lugar com mais alunos, mais possibilidades dela fazer amigos. Daí nós fomos parar na Vocaloid High school. Foi quando eu realmente conheci Luki, quer dizer, já éramos vizinhos, mas só viramos melhores amigos ao ficarmos na mesma sala.

—  Bom, mas não sou eu quem interessa - Miku da um sorriso maroto — E aí? Falou pra ele?

— Sim, nos casamos, adotamos duas menininhas, a Kyome e a Iroha. Elas estão meio difíceis de lidar, estão naquela faze rebelde... Kyome só quer saber do namorado.

Minha irmã revirou os olhos.

— Por que não disse logo! Você sabe que a qualquer momento ele pode arranjar uma namorada e você vai perder sua chance!

Não respondo.

— É tão simples, só dizer "Eu gosto de você" — Ela continua.

— Fale por você! Não sou amado pela maioria dos garotos do colégio, igual a você.

— Eles gostam de verdade de mim... Gostam da minha aparência, do meu corpo. Como eu queria um namorado que realmente me amasse... — Ela sorri ao imaginar essa pessoa. — Mas não diga não gostam de você! E as meninas? Teto é apaixonadinha por você!

— Isso que eu não entendo! Eu não gosto delas. Eu gosto é de Luki! — Digo.

— Entendi, Romeu — Ela fala rindo. — Mas se eu fizesse uma lista das garotas que já me perguntaram sobre você... Teto, Aoki, Yukari, Ia e Meiko. Deve ter mais, só que eu me esqueci.

Eu rio.

— Provavelmente a Neru, tinha uma época que ela sempre tentava dar encima de mim...

— Neru? Não. — Miku faz uma careta. — Acho que ela só queria ficar com você pra provar que todos gostam dela! Mas, não, ela me contou que gosta do Len Kagamine, sabe? O loiro que tem a irmã gêmea...

— Sei... — Ficamos um pouco em silêncio — Mas, onee-chan, quando elas te perguntam sobre mim, você não diz que sou gay não é? Não quero que todos saibam disso... Imagina se o papai descobre? Ele ia me matar...

— Claro que não! Além disso, isso é decisão sua, se assumir ou não! Eu só faço o papel da irmã mais velha ciumenta! Você é muito novo pra namorar! — Ela diz em um tom exagerado, como se eu tivesse dez anos de idade.

— Pensei que era o irmão que fizesse isso. — Falo rindo.

— Não! Eu sou a mais velha! Tenho que ter ciúmes do meu irmão pirralho!

 Ela aperta minhas bochechas. Não gosto disso.

— Para! — Falo vermelho.

— Awnt! Que fofo! Pra se tornar um uke perfeito agora só falta virar tsundere!

Fiquei confuso. O que diabos é um uke?